tag:blogger.com,1999:blog-370655502024-03-13T11:53:31.884+00:00ALGUNS TEXTOS DE LEITURA OBRIGATÓRIAAo longo destes dois últimos anos temos assistido em Timor-Leste a completas manipulações da opinião pública, sobretudo daqueles que não estão no terreno. Ficam aqui alguns textos, para meditarem sobre eles. Boa leitura e já como noutras alturas - sigam os acontecimentos até ao seu final! RESISTIR É VENCER!Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comBlogger16125tag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-36642484664228581022008-10-11T13:30:00.000+00:002008-10-17T13:06:13.412+00:00São leituras a não perder<span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">Este blog serve apenas para ter concentrados alguns textos que teimam em se manterem dispersos ou quiçá inexistentes noutras paragens... </span><br /><ul style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/06/o-guerrilheiro-voltou.html"></a><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/08/discurso-do-primeiro-ministro-na-tomada.html"><span style="font-family:trebuchet ms;">DISCURSO DE XANANA GUSMÃO NA TOMADA DE POSSE COMO PRIMEIRO-MINISTROI DO IV GOVERNO</span></a><span style="font-family:trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/08/discurso-do-primeiro-ministro-na-tomada.html"> CONSTITUCIONAL DE TIMOR-LESTE - 08 Agosto 2007</a><br /></span></li></ul><ul style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/06/o-guerrilheiro-voltou.html">"O guerrilheiro voltou" - por Henrique Botequilha Visão nº 747 28 Jun. 2007</a><br /></li></ul><ul style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/06/no-sou-o-heri-que-pintam.html">"Não sou o herói que pintam" - entrevista de Xanana Gusmão à Visão nº 746 21 Jun. 2007</a></li></ul><ul><li><a style="font-weight: bold;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/03/alocuo-de-xanana-gusmo-7-aniversrio-da.html"><span style="font-family:trebuchet ms;">Alocução de Xanana Gusmão no 7º Aniversário da PNTL - 27 Março 2007</span></a><br /></li></ul><ul face="trebuchet ms" style="text-align: justify;"><li face="trebuchet ms"><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://www.cavr-timorleste.org/po/home.htm"><span style="font-weight: bold;">CHEGA!</span> Final Report of the Commission<span style="font-weight: bold;"> </span>for Reception, Truth and Reconciliation in East Timor (CAVR)</a> - <span style="font-size:85%;">(<a href="http://www.cavr-timorleste.org/te/Home.htm">tetum</a>) - (<a href="http://www.cavr-timorleste.org/po/Relatorio%20Chega%21.htm">português</a>) - (<a href="http://www.cavr-timorleste.org/in/LaporanChega%21.htm">bahasa</a>) - (<a href="http://www.cavr-timorleste.org/en/chegaReport.htm">inglês</a>)</span></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><li style="font-family: trebuchet ms;"><a style="font-weight: bold;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/mensagem-de-s.html">Mensagem de Xanana Gusmão - 22 Junho 2006</a><span style="font-weight: bold;"> </span>(<span style="font-size:85%;">português</span>)</li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li style="font-family: trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes.html">"A teoria das conspirações" - Parte I - 03 Novembro 2006</a></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li style="font-family: trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-ii.html">"A teoria das conspirações" - Parte II - 11 Novembro 2006</a></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li style="font-family: trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html">"A teoria das conspirações" - Parte III - 18 Novembro 2006</a></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><li><a style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iv.html">"A teoria das conspirações" - Parte IV - 25 Novembro 2006</a><br /></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><li><a style="font-weight: bold;" href="http://www.ohchr.org/english/docs/ColReport-Portuguese.pdf">Relatório da Comissão Especial Independente de Inquérito para Timor-Leste - Genebra, 02 Outubro 2006</a> (<span style="font-weight: bold;font-size:85%;" ><a href="http://www.ohchr.org/english/docs/ColReport-Portuguese.pdf">português</a></span>) (<span style="font-weight: bold;font-size:85%;" ><a href="http://www.ohchr.org/english/docs/ColReport-Tetum.pdf">tetum</a></span>) (<span style="font-weight: bold;font-size:85%;" ><a href="http://www.ohchr.org/english/docs/ColReport-English.pdf">inglês</a></span>)<br /></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;" face="trebuchet ms"><li><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2007/11/mensagem-nao-sobre-as-f-fdtl-23-maro.html">Mensagem à Nação sobre as F-FDTL - 23 Março 2006</a></li></ul><ul style="text-align: justify; font-weight: bold;"><li><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/mensagem-de-xanana-gusmo-de-7-de.html"><span style="font-family:trebuchet ms;">Xanana Gusmão por ocasião das cerimónias oficiais para a comemoração do 28 de Novembro de 2002</span></a></li></ul><ul style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><li><span><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/constituio-da-rdtl.html">Constituição da República Democrática de Timor-Leste</a></span></li></ul><ul style="font-weight: bold;"><li><span><span style="font-family:trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/carta-aberta-todos-os-timorenses-05.html">Carta aberta a todos os timorenses 05 Dezembro 2000</a> (<span style="font-size:85%;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/carta-aberta-todos-os-timorenses-05.html">português</a></span>) (<span style="font-size:85%;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/letter-to-east-timorese-05-december.html">inglês</a></span>)</span></span></li></ul><ul style="font-family: trebuchet ms; text-align: justify; font-weight: bold;"><li><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/mensagem-de-xanana-gusmo-de-7-de.html">Mensagem de Xanana Gusmão de 07 de Dezembro de 1987</a></li></ul><br /><a href="http://pascal.iseg.utl.pt/%7Ecesa/PresidentXananaMessagetotheNationonF-FDTL.doc"></a>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-15804564734398975492007-08-11T12:00:00.000+00:002007-08-11T13:28:54.020+00:00DISCURSO DO PRIMEIRO-MINISTRO NA TOMADA DE POSSE DO IV GOVERNO CONSTITUCIONAL - 8 de Agosto de 2007<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://4.bp.blogspot.com/_NLQMWBG6Dh0/Rr246N_UuiI/AAAAAAAAAAc/ST-S2Gh3PGo/s1600-h/XananaGusmao.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="http://4.bp.blogspot.com/_NLQMWBG6Dh0/Rr246N_UuiI/AAAAAAAAAAc/ST-S2Gh3PGo/s400/XananaGusmao.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5097433663580453410" border="0" /></a><span style="font-family: trebuchet ms;font-size:130%;" >DISCURSO DO PRIMEIRO-MINISTRO NA TOMADA DE POSSE DO IV GOVERNO CONSTITUCIONAL </span><br /></div><div face="trebuchet ms" style="text-align: center;">( 8 de Agosto de 2007 )<br /><br /></div><div style="text-align: justify;"> <span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Sua Excelência, Senhor Presidente da República</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Sua Excelência, Senhor Presidente do Parlamento Nacional</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Sua Excelência, Senhor Presidente do Tribunal de Recurso</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Sua Excelência, o Representante Especial do Secretário-Geral da ONU</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências Reverendíssimas, os Bispos da Diocese de Díli e Baucau</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhores Membros do Parlamento e do Governo</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhor Brigadeiro-General, Comandante das F-FDTL</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhor Comandante-Geral Interino, da PNTL</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências, Membros do Corpo Diplomático e Consular,</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Representantes das Agências Internacionais</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhores Membros da Sociedade Civil e da Imprensa</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores</span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O dia de hoje é mais um marco importante para a jovem democracia timorense, porque culmina um longo processo que se iniciou no princípio deste ano com as eleições presidenciais, logo seguidas das legislativas. Estas últimas especialmente, tendo em conta os seus resultados, foram um verdadeiro teste à Constituição da República Democrática de Timor-Leste e à maturidade democrática dos timorenses. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Essa maturidade esteve presente naqueles que apresentaram e defenderam as suas candidaturas, naqueles que empenhadamente tornaram possível o processo eleitoral, naqueles que acorreram às urnas para endossar a sua confiança política através do seu voto, naqueles que ao longo deste mês participaram e contribuíram para um diálogo verdadeiramente democrático na procura da melhor solução de estabilidade para o país – todos fomos neste processo, agentes activos da democracia. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Os resultados da eleição do passado dia 30 de Junho são absolutamente inequívocos, abrindo um novo ciclo na vida política do país. Os timorenses elegeram os seus representantes ao Parlamento Nacional, consagrando uma maioria parlamentar, maioria esta que recebe um mandato claro para formar um Governo estável. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este mandato revela a vontade política de mudança dos timorenses, um sinal de confiança, mas também de exigência e por isso dedico-o a todos os timorenses, desde Lospalos a Oé-Cusse. Foi, por todos os timorenses e para os timorenses, que recebo o desafio de chefiar o IV Governo Constitucional, que Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, aceitou nomear com a legitimidade democrática e constitucional de que está investido. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Represento, hoje, como Primeiro-Ministro empossado, a conjugação dos esforços de quatro partidos, unidos numa Aliança para uma Maioria Parlamentar, que encaram a redefinição do caminho que o país irá percorrer, como uma oportunidade única para transformar Timor-Leste numa comunidade nacional estável, solidária, unida e voltada para o futuro. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É, portanto, a vontade dos timorenses, a vontade de mudança, a vontade de um novo projecto político reformador, que hoje toma posse. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Agradecemos a confiança depositada em nós e estamos convictos de que não iremos defraudar as expectativas de todos, porque o que nos uniu para formar este Governo foi tão-somente o superior interesse deste povo. Foi esta a razão porque vários partidos se uniram e entrosaram um conjunto diverso de ideias e projectos para cumprir a nobre missão de garantir ao país e, sobretudo, às futuras gerações a esperança de um futuro onde o respeito pelos outros e a tolerância andem a par com o desenvolvimento social e económico do país. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" >Olhando para o nosso passado histórico, concluímos facilmente que todos os timorenses carregam um pesado fardo de dor e sofrimento. Após centenas de anos do colonialismo português e de 24 anos de ocupação indonésia, conseguimos, por fim e com muito sacrifício, libertar a nossa Pátria! </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O povo tem vindo a provar que a política de intimidações e de violência não o desencoraja, no momento crucial de dar o sim ou o não, ao seu próprio futuro. Fê-lo em Agosto de 1999, fê-lo em Agosto de 2001 e fê-lo, sem hesitação, em Junho de 2007. O povo soube sempre ultrapassar as dificuldades para afirmar o seu desejo. E, em eleições, a esperança é de que o seu voto seja percebido como um voto para melhorar as condições, políticas e socioeconómicas, que rodeiam a sua vida no dia-a-dia. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O desejo maior do nosso Povo é viver em sossego, livre de perseguições políticas, livre de insegurança quanto à sua vida, livre da ameaça ou violação dos direitos humanos! O Povo de Timor-Leste quer viver em paz, sem tiros, sem guerra, seja entre timorenses seja com qualquer outro povo. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A construção do Estado é difícil e todos percebemos isso, desde há 5 anos. A construção do Estado passa necessariamente pelo respeito pela Constituição e pelos valores universais a que também aderimos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Sem a base nos princípios democráticos, plasmados na nossa Constituição, a construção do Estado será sempre frágil. Os mais sagrados interesses nacionais são os consagrados na Constituição da República. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > No ano passado, fomos todos intervenientes e espectadores da história de violência, que continua como um pesadelo pelo nosso passado longínquo e recente. Assistimos decepcionados ao reabrir de feridas que afinal não tinham sido cicatrizadas e ao desabrochar de novas mais profundas. Viveu-se um clima político difícil, onde a tolerância deu lugar à corrosão social, a harmonia rendeu-se à violência, onde a paz de espírito cedeu às tentativas de corrupção de mentalidades, onde a dignidade humana ficou sujeita a manipulações políticas, intimidações e ameaças. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É imperativo reflectir sobre estes acontecimentos, apurar responsabilidades e resolver os estigmas da crise, por isso, parece-me óbvio prosseguir com as recomendações do Relatório da Comissão Especial Independente de Inquérito, para que o povo entenda o que aconteceu e para que deixem de pairar desconfianças entre os timorenses. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Também o relatório exaustivo da CAVR sobre a nossa experiência colectiva ao longo de 25 anos, tem de ser bem digerido. Essa experiência comum ajuda-nos a perceber donde viemos, a conhecer o que somos, e por isso não podemos ignorar os ensinamentos do passado para compreender as crises na actualidade e sobretudo, precaver as futuras. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Compreendido o nosso passado histórico comum, o que o Governo da AMP vos propõe hoje, é libertarmo-nos das amarras do passado, dignificando os nossos heróis da libertação, e alicerçados na força da nossa cultura e do sentimento de pertença a uma comunidade, construir para todos nós um Timor-Leste melhor. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O processo democrático de Timor-Leste está no seu estádio de crescimento e é, portanto, ainda muito frágil. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Recebemos da UNTAET, em Maio de 2002, um esboço daquilo que seria um Estado moderno, democrático e funcional. Coube ao Dr. Mari Alkatiri e ao seu governo a notável missão de construir a partir do zero as bases de um sistema democrático, edificar as instituições do Estado e desenvolver a Administração Pública. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É inquestionável que desenhar as linhas mestras do desenvolvimento sustentado e do progresso, é uma tarefa árdua para quem herda um País com uma situação económica deficitária, com a maioria das infra-estruturas destruídas e uma Administração Pública inexistente, para não falar de uma série de indicadores característicos de um país subdesenvolvido pós-conflito. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Justamente por isso, quero manifestar o meu reconhecimento pelos esforços desenvolvidos e pelo sucesso conseguido em várias areas fundamentais para o desenvolvimento do país. Muitas das prioridades políticas delineadas pelo Dr. Mari Alkatiri, e reforçadas depois pelos seus sucessores, Dr. Ramos-Horta e Eng. Estanislau da Silva, serão tidas em conta pelo Governo da AMP. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Temos, no entanto, forte desejo de corrigir aquilo em que os nossos antecessores falharam, com a humildade de quem recebe um testemunho precioso mas com a determinação de quem quer a transformação total do sistema, com o objectivo de avançar para uma verdadeira e drástica Reforma da Gestão do Estado. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O compromisso que assumo hoje perante Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, e perante o Povo, é de que nenhuma força política, nenhum sujeito institucional, nenhum representante da sociedade civil, nenhum cidadão, ficará excluído do processo democrático, porque todos serão chamados a participar consciente e activamente na construção do nosso país, salvaguardando os melhores valores da doutrina democrática. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É, portanto, com a participação de todos, envolvendo uma sociedade civil activa e uma oposição responsável que um Governo pode honrar os seus compromissos, respeitando o projecto político que recolheu apoio maioritário dos eleitores - no nosso caso, a fusão de 4 projectos num só. Um programa aberto às propostas de todos, mas orientado pelas suas próprias ideias, pelos seus próprios projectos, pela sua própria agenda. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Deveis ter reparado que a formação deste Governo carece de uma presença mais significativa de mulheres, e isso, não é porque a Mulher timorense tivesse sido menosprezada. Aceitaremos toda a crítica neste sentido, mas o nosso pensamento foi mais orientado para a eficácia da implementação dos nossos programas de Reforma. Este Governo acolhe uma percentagem significativa de profissionais independentes, no intuito de criar as bases sólidas de crescimento. Tendo a AMP um bom número de mulheres no Parlamento Nacional, este Governo vai também projectar uma estratégia mais coerente de formação do potencial feminino nos vários sectores da vida nacional, para que no futuro haja espaço de representação feminina, capaz, nos destinos do País. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo que hoje assume funções, tem uma visão e um programa que irá cumprir. O Governo da Aliança para uma Maioria Parlamentar, está estruturado de forma a corresponder a um objectivo concreto de reforma, suportado por um quadro de princípios e de valores sistematizados que orientarão o comportamento político, promovendo: </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > i) os valores dos direitos cívicos e humanos</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > ii) os valores da tolerância e de respeito</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > iii) a solução pacífica dos problemas</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > iv) os princípios de boa governação, assegurada pela existência de mecanismos fortes e eficazes de combate à corrupção, conluio e nepotismo</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > v) a participação de todos para responder eficientemente às necessidades básicas da população</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > vi) o princípio fundamental de que todos devem obediência à lei. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A acção governamental considerada prioritária e, por isso, a ser implementada até ao final deste ano, passa em primeiro lugar por recuperar a confiança nos órgãos e instituições do Estado. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Para cumprir este objectivo, comprometemo- nos no curto prazo, a: </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - consolidar a segurança em Díli e em todo o País, garantindo o regresso aos seus lares, daqueles que se encontram a viver numa situação de character humanitário grave, em campos de acolhimento, proporcionando por isso os meios necessários para que possam refazer as suas vidas;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - solucionar o problema dos peticionários, analisando e implementando as recomendações do Relatório da Comissão dos Notáveis, promovendo o diálogo com as F-FDTL e aplicando medidas de justiça social;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - solucionar, no âmbito dos esforços já desenvolvidos, o problema do Alfredo Reinado e do seu grupo, garantindo desde já que este será um exemplo de que, no nosso país, a justiça poderá tardar mas não falha;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - contribuir para o desenvolvimento comunitário, através dos fundos distribuídos recentemente pelo anterior governo aos chefes do suco, garantindo a sua eficaz aplicação no desenvolvimento das comunidades e criando centros comunitários, sobretudo para ocupar os jovens;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - activar auditorias aos organismos públicos para promover uma gestão de transparência;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - aprovar um Orçamento de Transição, que corresponda às necessidades prioritárias e de bens e serviços, até 31 de Dezembro de 2007;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > - preparar um Orçamento Geral do Estado, para o Ano Fiscal de 2008, ajustado às necessidades reais do país, com vista à prossecução de um plano de desenvolvimento nacional integrado, que possibilite a transformação radical das condições de vida das populações, alterando desde já o Ano Fiscal para o Ano Civil. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo foi concebido a pensar em alterar o presente e o futuro próximo de Timor-Leste, através de reformas radicais que mobilizem todos os timorenses para o desígnio nacional de desenvolvimento, como condição para a melhoria da vida das populações. Queremos descentralizar o poder, dividindo administrativamente o país, para que o processo de tomada de decisões seja entregue a governos locais, para que o povo sinta que a capacidade de tomada de decisões não é monopólio do topo do poder. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A recuperação da confiança do Povo passa por lançar uma dinâmica de crescimento progressivo, capaz de combater o desemprego e as desigualdades sociais. Só com um Plano Estratégico de Desenvolvimento Económico, o povo poderá perceber e acompanhar as fases e as etapas do processo de Reconstrução Nacional, no qual, ele mesmo, o povo, será o actor fundamental. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Nenhum Plano de Desenvolvimento será objectivo e realista, se oferecer a opção de industrializaçã o do país. Neste sentido, a agricultura, a pesca e a pecuária são prioridades ao desenvolvimento nacional. Timor-Leste continua no estádio rudimentar de agricultura de subsistência e há que ultrapassar, com firmeza, esta situação. Tem que se passar da fase de agricultura de subsistência para a agricultura de mercado e tem que se passar do estádio de dispersão da pequena produção, para a especialização regional de produtos. Tem que se passar do ciclo constante de secas para a infra-estruturaçã o de reservas de água e canais de irrigação, garantindo a produção e impulsionando assim de forma irreversível, o desenvolvimento da agricultura. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo pretende, com a divisão administrativa do país, concretizar o plano de diversificação e intensificação de produção agrícola, para se poder estabelecer um mercado interno, que garanta o escoamento dos produtos e, como objectivo, a auto-suficiência alimentar. Sendo também possível, equacionar a médio prazo, ‘nichos de mercado’ externos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Da mesma forma, a pesca vai ser melhor apoiada para que, no interior do país, as populações possam consumir peixe. O desenvolvimento de pequenas e médias indústrias, neste sector e outros produtos do mar, será não só uma fonte de emprego como fonte de divisas para o país. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo defende que a pecuária deve ser apoiada e incentivada, de forma a garantir também as bases de desenvolvimento de pequenas e medias indústrias de carne, leite, manteiga e queijo, para o consumo interno ou, no futuro, para exportação. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo irá ainda desenvolver esforços no sentido de melhorar de forma sustentada a qualidade de vida de todos os timorenses, o que passa por acções políticas que tenham em vista a habitação e as obras públicas, transportes e comunicações, água, electricidade e saneamento básico em todo o País, visando a melhoria das condições de vida dos mais carenciados. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo assume desde já o compromisso de desenvolver uma política ambiental, orientada pelos princípios de desenvolvimento durável, integrando harmoniosamente a componente ambiental, económica e sociocultural. Tendo em conta que esta meia-ilha é afortunada em termos de recursos naturais, enfrentamos o desafio de os valorizar e de promover uma gestão e um ordenamento do território que não desvirtue a nossa paisagem natural. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Promoveremos uma política clara de protecção à vida marítima, e especialmente aos corais, de forma a evitar a sua destruição, para os tornar no futuro, centros de atracção turística. A reflorestação também é urgente, é necessário educar as populações para evitar a contínua destruição do meioambiente e incutir valores de protecção à terra e à natureza. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo no seu plano de desenvolvimento nacional, propõe-se a efectuar estudos para a preservação das bolsas florestais, de forma a incentivar uma cultura sistemática e ordenada das madeiras autóctones de valor commercial e estudos de introdução de novas madeiras, no sentido de se criar autosuficiência, reduzindo ao máximo a importação deste bem. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Não é novidade que o sector privado é um parceiro essencial no desenvolvimento nacional, porque gera riqueza e emprego auto-sustentado, fora do quadro das actividades e emprego do Estado. É por isso necessário garantir que os investidores conheçam as oportunidades de investimento, e que invistam de acordo com os interesses do país. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Rever a política de investimento para fomentar o investimento externo, será um dos motores de desenvolvimento e de criação de emprego para os nossos jovens, sendo portanto necessário corrigir os erros do passado e alimentar um clima de verdadeira tolerância e respeito pelos outros, para tornar Timor-Leste num pólo de atracção do investimento estrangeiro. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo aposta na criação de uma Agência Especializada de Investimento, com maior autonomia em relação ao poder político, porque uma Agência desta natureza garante mais e melhor transparência, tão necessária e fundamental ao desenvolvimento deste tipo de actividades. O Governo compromete-se a corrigir e eliminar o sistema de favoritismos que ficou estabelecido, e que tem vindo a criar uma péssima imagem ao país, em benefício das elites políticas instaladas no poder. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Também e essencialmente, o sector privado nacional vai merecer especial atenção deste Governo. Vai ser exigido a todos o cumprimento das regras elementares de formação de empresas, a fim de que as suas actividades se consolidem, progressivamente, para que possam participar activamente no desenvolvimento. Para isso, o sector privado nacional deverá receber mais apoio do Estado, sem discriminações, subordinado apenas a critérios de competência, valor do projecto, honestidade profissional e capacidade técnica, combatendo os clientelismos políticos que só prejudicam o processo de construção do país e a capacitação do empresariado nacional. A transparência na concessão de projectos e a transparência de contas anuais de cada empresa será o indicador do crescimento deste sector. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo compromete-se a dar todo o apoio necessário à criação de pequenas e médias empresas, não só para valorizar os produtos nacionais mas igualmente para incentivar as actividades produtivas, criando-se dessa forma mais emprego junto das populações. O Governo também está empenhado a incentivar as cooperativas, para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos pequenos produtores individuais. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Para tudo isto, também o Governo está empenhado em criar um Banco Nacional de Desenvolvimento, para oferecer créditos que impulsionem o sector privado nacional. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A curto prazo, Timor-Leste terá que corrigir alguns factores que impedem o seu desenvolvimento económico, e subscrevemos por isso a proposta apresentada pelo Dr. Ramos-Horta, enquanto Primeiro Ministro do II Governo Constitucional, de criar um novo sistema fiscal simplificado a favor dos pobres e que incentive o sector privado, o investimento estrangeiro e a criação de emprego. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Também as finanças públicas são condição necessária para o desenvolvimento económico e por isso, uma gestão com transparência, rigor e verdade, é fundamental no domínio das contas públicas. Transparência e rigor na despesa, é a única forma de garantir a sustentabilidade das contas públicas a longo prazo, assegurar uma economia competitiva, bem como dar credibilidade ao Estado, perante o povo e perante a comunidade internacional. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo está apostado em criar uma Comissão Anti-Corrupção, com poderes reais de intervenção, em conjugação com o Ministério Público, para se criar a cultura de integridade, zelo e profissionalismo na Administração. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Para a aplicação de medidas políticas arrojadas, é necessário que em primeiro lugar, o próprio Estado sofra uma transformação radical que denuncie o partidarismo existente na Administração Pública, centralista, pesada e ineficiente, que corrompe as mentalidades. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É dever deste Governo, que assumiu o compromisso político de não pactuar com esquemas e favoritismos, supervisionar os membros do Governo para que nunca coloquem os seus interesses individuais acima dos interesses colectivos e promover um ambiente de responsabilidade e integridade no Conselho de Ministros, para que seja um modelo exemplar a ser seguido por todos os agentes públicos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A recuperação da confiança no futuro está associada ao prestígio das instituições democráticas, e a sua dignificação aos olhos dos timorenses, exige credibilidade ao sistema político, implicando reformas na sua estruturação e também no respectivo modo de agir. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > O Governo vai acelerar a política de formação profissional dos servidores do Estado e o seu devido enquadramento que vele pelo sistema de carreira e promoção, com efeitos para a reforma. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Investir na Educação é, em primeira análise, investir no futuro do país. O Governo irá destacar áreas prioritárias de intervenção na área de educação. O nosso plano de acção será orientado pela necessidade de reforma do sistema de ensino. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Iremos combater a proliferação de universidades privadas, sem padrões de qualidade de ensino e apostar, em alternativa, na Formação Profissional Orientada, que capacite de facto os jovens. Só assim, eles possuirão os instrumentos necessários à sua participação no desenvolvimento do país, nas áreas que são de facto essenciais e onde certamente será mais fácil a integração no mundo de trabalho, combatendo assim o problema de desemprego dos jovens. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo considera que as escolas e universidades não são só transmissoras de conhecimentos científicos e técnicos, servem também para ampliar os horizontes, desenvolver a capacidade de raciocínio, moldar actos e comportamentos. As escolas e universidades deverão, assim, ser um espaço natural para a criação de condições básicas de educação cívica, para que as crianças e jovens também possam disseminar o respeito pela dignidade humana, de praticar o bem comum e contribuir para a construção do Estado, regulado por valores democráticos e direitos cívicos e humanos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Consideramos não menos importante o desenvolvimento físico dos jovens e, por isso, construiremos infra-estruturas de desporto em todas as escolas, para que as crianças cresçam sadias, de corpo e espírito, e progressivamente, em todos os distritos e sub-distritos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo vai considerar seriamente uma educação primária capaz e gratuita a todas as crianças de Timor-Leste, aliviando o fardo de dezenas de milhares de famílias. O Governo vai incentivar, cada ano, prémios aos melhores alunos, em todo o País e implementar uma política rigorosa e transparente de bolsas de estudo, para elevar a capacidade intelectual da nova geração. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Em relação à saúde, devo saudar o Dr. António Maria de Araújo, pelo magnífico trabalho desenvolvido neste sector. Este Governo vai prosseguir a política definida anteriormente, mas dedicará especial atenção ao desenvolvimento de um sistema nacional de saúde que garanta a prestação de melhores cuidados de saúde à população. Procurará conjugar este objective com um sistema também preventivo da doença e uma educação sanitária e alimentar, crucial sobretudo nas áreas mais remotas do país. Somos um país de pequena dimensão e não há justificação para que a nossa população continue a viver em núcleos isolados, à margem dos serviços básicos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Elevar a qualidade do sistema democrático em Timor-Leste, implica necessariamente fazer dos sistemas de justiça e segurança, instrumentos de sucesso para uma plena cidadania. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A Justiça constitui um dos fins essenciais do Estado, pela sua indeclinável função. Promover uma cultura de justiça, credível, independente e imparcial, no sistema judicial timorense, implica uma melhoria na administração da Justiça e uma magistratura mais activa. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A democracia, o desenvolvimento e o bem-estar das populações, dependem essencialmente de uma Justiça que funcione. A aprovação de diplomas legislativos essenciais, como é o caso do Código Penal, vai merecer imediata atenção. Mas isto só não chegará, porque se torna uma prioridade dar uma capacidade de intervenção permanente nos Tribunais Distritais, que carecem ainda de instalações, equipamentos e administração. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo propõe-se a criar um Tribunal de contas, a fim de responsabilizar qualquer Governo, hoje e no futuro, dos actos praticados na gestão dos dinheiros públicos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A Segurança é também uma área fundamental, um dos pilares do Estado, pois este tem a obrigação de zelar pela dignidade e bem-estar dos cidadãos, assim como pela segurança das pessoas e dos seus bens. Iremos, enquanto Governo, prosseguir com a política de inovação para a Polícia Nacional de Timor-Leste, tornando-a verdadeiramente profissional, apartidária e merecedora da confiança das pessoas e das comunidades </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Estaremos empenhados na revisão do sector da segurança e implementaremos mecanismos que capacitem a PNTL com recursos humanos e materiais necessários ao cumprimento da sua missão. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Na área da Defesa, este Governo estará empenhado em rever uma política para as Forças Armadas, tornando os militares, exemplo nos seus comportamentos profissionais e nos seus actos, não só para que tomem parte activa na reconstrução do país, como para participarem com dignidade nas missões internacionais, contribuindo para a Paz Mundial, que é o anseio de todos os Povos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Iremos, para isso, reforçar o papel das Forças Armadas, criando diplomas adequados à melhoria do desempenho das Forças, nomeadamente a Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas, de forma a desenhar uma estrutura e estabelecer uma metodologia que defina o Sistema de Forças Nacional e o seu dispositivo, assim como os meios humanos e materiais necessários para o cumprimento das missões. Torna-se urgente também implementar as reformas que se aproximam decorrentes do Grupo de Estudo da Força 2020, para a edificação da capacidade institucional das F-FDTL. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Uma política concertada na área da Defesa e na área de Segurança é fundamental para garantir a liberdade e soberania do país e a consolidação de um Estado de Direito Democrático, por isso, não é por mero acaso que estas duas áreas prioritárias estarão afectas ao Gabinete do Primeiro-Ministro. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É parte integrante de um Estado de Direito Democrático, o direito à informação e é neste sentido que assumimos o compromisso de garantir a liberdade de imprensa e a independência dos órgãos públicos de comunicação social perante o poder político e económico. Queremos ainda contribuir para um serviço público de rádio e televisão que proteja e divulgue a cultura e as tradições timorenses, e garantir que haja expressão do pluralismo de opinião, de forma a desenvolver uma massa crítica e responsável no nosso país. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Consideramos ainda que os Órgãos de Comunicação Social poderão ser um veículo importante para desenvolver acções de educação cívica e de promoção de boa cidadania e, de forma inovadora, contribuir para a compreensão do processo político nacional, contando para isso com o apoio dos Órgãos de Soberania. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Nenhum projecto político poderá ter sucesso sem tomar em consideração outras áreas fundamentais ao processo de estabilização nacional.</span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Empenhar-nos- emos em políticas sociais de luta contra a pobreza e contra as desigualdades sociais, pois não podemos fechar os olhos àquilo que vemos, cada vez que circulamos pelo país, onde grande parte da população, em especial as crianças, não têm ainda acesso a bens e serviços essenciais, chegando a tocar o desrespeito pela condição humana. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Não descansaremos enquanto os nossos idosos, depois de 24 anos de sacrifícios, continuam a padecer de fome, de frio, de doença e de isolamento nos seu últimos anos de vida. Estes, assim como os aleijados, as viúvas e órfãos da nossa liberdade, serão alvo de projectos concretos que assegurem a sua protecção. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Na continuação dos esforços já desenvolvidos, e que eu impulsionei na medida que constitucionalmente me foi possível, garanto desde já, que não iremos descurar aquilo que é devido aos veteranos. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo propõe-se a: </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > a) acelerar o processo de pensões de subsistência e sobrevivência, previstas na Lei nº 3/2006 do Estatuto dos Combatentes de Libertação Nacional;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > b) acelerar o processo de desmobilização dos membros das FALINTIL, com vista à concessão do direito à pensão especial de reforma, com efeito retroactivo desde Janeiro de 2000;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > c) Rever a Lei nº 3/2006 do Estatuto dos Combatentes de Libertação Nacional, relativamente aos Quadros da organização clandestina, para terem o direito também a uma pensão especial de reforma, com efeito retroactivo desde Janeiro de 2000;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > d) Proceder à concessão de um subsídio mensal permanente aos Chefes de Suco e Aldeia, a fim de os libertar de outras actividades para o sustento da família;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > e) Fazer imediata revisão dos salários das F-FDTL e PNTL;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > f) Fazer um estudo sobre subsídios de isolamento aos funcionários que prestam serviço em áreas isoladas e com precárias condições de manutenção da família;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > g) Proceder a uma avaliação efectiva das ONG’s nacionais, que tenham demonstrado um perfil exemplar de independência, dedicação e boa prestação de contas. Este será um passo para o Governo estudar a forma de apoio concreto, para as capacitar como parceiros no desenvolvimento cívico, social e económico, com deveres para com toda a comunidade. Estabelecer- se-á um mecanismo de responsabilizaçã o e transparência de contas;</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > h) Estabelecer um MOU com a Igreja, tornando-a recipiente de um subsídio anual, que corresponda às suas próprias actividades, designadamente na educação e formação profissional e na área socioeconómico e cultural. Haverá um mecanismo de responsabilizaçã o e transparência de contas. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Somos a prova viva de que a estabilidade de um país não se limita aos seus esforços internos. Temos, desde o início de nossa existência como Estado soberano, cultivado uma política de amizade e de cooperação com vários países e em especial com aqueles que estão mais próximos, em termos físicos e históricos, e refiro-me naturalmente à Austrália, Indonésia e Portugal. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo irá reforçar estes laços de amizade e promover uma cooperação ainda mais estreita com estes governos e também promover laços de cooperação com todos os países do mundo, guiados pelos princípios de respeito mútuo e de não ingerência nos assuntos internos de cada Estado. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Comprometemo- nos ainda a passar à prática os princípios universais dos direitos humanos a que aderimos, consagrados nas Convenções Internacionais, e a participar da melhor forma nas decisões da ONU, que levem a reforçar os valores democráticos do diálogo, da tolerância e da paz, dignificando assim a presença de Timor-Leste nesta Organização Mundial. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Vamos continuar o processo de adesão à ASEAN e a participar no Fórum do Pacífico Sul, na ACP e APEC, para alargar as oportunidades de cooperação, especialmente económica, em benefício do povo de Timor-Leste. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Manteremos as relações já existentes com o espaço da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que detém uma expressão de universalismo, já que por esse modo nos relacionamos com África, com a América e com a Europa. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Este Governo conta com todos os parceiros da Sociedade Civil para levar a bom termo todos estes objectivos a que nos comprometemos, não apenas através do diálogo mas também visando a intervenção da Sociedade Civil na capacitação do Estado, exigindo deste a sua melhor actuação. Para efectuar as mudanças necessárias, contamos ainda com a participação imprescindível da Igreja Católica, instituição secular, sólida e conciliadora no seio da sociedade timorense. Este Governo convida a Igreja Católica a ser parte activa na mudança das mentalidades para uma cultura de paz, tolerância e igualdade, assumindo um papel ainda mais preponderante na educação e formação dos timorenses, no desenvolvimento humano e no tão almejado combate à pobreza. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Reforçar a cooperação com outras confissões religiosas, é também um dos objectivos deste Governo, convictos de que poderão dar contributos valiosos ao desenvolvimento da pessoa humana e por consequência a toda a sociedade timorense. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > As ONG’s Nacionais e Internacionais têm tido sempre um papel activo no desenvolvimento do país e queremos reiterar o convite para participarem neste grande projecto de transformação de Timor-Leste, e para isso, convidamo-las desde já a apresentarem propostas e sugestões ao Governo para melhor resolver os problemas comunitários, pois estas organizações são um interlocutor privilegiado com as comunidades. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Não posso concluir sem agradecer às Nações Unidas o apoio com que tem privilegiado o povo de Timor-Leste. Também quero agradecer aos Governos dos quatro países amigos, Austrália, Malásia, Nova Zelândia e Portugal, que responderam sem hesitação ao nosso primeiro apelo durante a crise e se têm mantido, em território nacional, de molde a garantir a ordem pública e a repor a normalidade e segurança em todo o país. A presença da comunidade internacional, através da ONU, possibilitou que o povo pudesse exercer tranquilamente o direito de voto e escolher, democraticamente, os seus representantes. Para todos esses homens e mulheres, a nossa gratidão mais profunda. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Suas Excelências</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Senhoras e Senhores </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A AMP está ciente da responsabilidade que está a assumir perante aqueles que depositaram em nós a sua confiança política e também perante o eleitorado de Baucau, Cova Lima, Lautém e Viqueque e todos aqueles que não votaram em nós. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Para as almas mais inquietas, gostaria de deixar bem claro que o Governo da AMP não vai ser um governo de interesses partidários, nem nunca poderia ser. Isso trairia o espírito de solidariedade que assumimos perante o povo, pois este é o início, o motor e o fim último da nossa missão. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Para os que votaram na FRETILIN, a AMP quer deixar aqui uma palavra de conforto e um compromisso político: as vossas aspirações e as vossas necessidades serão para este governo, encaradas com a seriedade que elas merecem. Também me dirijo a todos os funcionários, administradores e membros da PNTL, que têm vindo a actuar como membros activos da FRETILIN, afirmando que o Governo da AMP não exercerá nenhuma perseguição política a quem quer que seja. Contudo, a nossa política é de correcção e reforma das instituições e das mentalidades, sob critérios justos e transparentes. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > A AMP compromete-se a fazer reformas em prol da melhoria da governação no nosso país e estamos cientes que o governo sozinho não poderá assumir cabalmente esta prioridade de interesse nacional, sem a séria e honesta solidariedade institucional de todos os órgãos de soberania, na sua relação estreita com Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, e Vossa Excelência, Senhor Presidente do Parlamento Nacional. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Os órgãos de soberania que recentemente tomaram posse, assumiram planos ambiciosos para o desenvolvimento e estabilidade do país. Refiro como exemplo, o plano de acção de Vossa Excelência, Senhor Presidente da República, de combate à pobreza, no âmbito do exercício de uma presidência aberta para os pobres. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > É obrigação do Parlamento Nacional e do Governo apoiar incondicionalmente este plano, porque não há planos do Presidente, do Parlamento e do Governo, é todo um povo que precisa de ser servido e é aos órgãos de soberania que cabe executar esta missão. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Para terminar, apelo ao Povo para nunca diminuir o grau de exigência com os seus representantes nos órgãos de soberania e em especial no governo. </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Cabe-nos a nós conduzir e executar a política geral do país, cabe ao Povo chamar-nos à responsabilidade sempre que falharmos. O projecto que apresentei é ambicioso e só chegaremos à meta final, se todos trabalharmos juntos, vencendo desafios e obstáculos em diálogo permanente – se, por alguma razão, sentirem que as vossas vozes não têm eco, experimentem gritar! </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Mas não se calem! </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Contudo, todos juntos digamos, de uma vez para sempre: Não, à violência! </span><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" > Viva Timor-Leste! </span><br /><br /><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" >por Kay Rala Xanana Gusmão</span><br /><span style=";font-family:Arial;font-size:85%;" >Primeiro-Ministro de Timor-Leste</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">in </span><span style="color: rgb(255, 255, 255);font-family:trebuchet ms;font-size:100%;" >FORUM HAKSESUK</span><span style="font-family:trebuchet ms;">: <a href="http://www.freewebs.com/forum-haksesuk/discurso_pm_xanana_gusmao.htm">http://www.freewebs.com/forum-haksesuk/discurso_pm_xanana_gusmao.htm</a></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"></span></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-9613137280945712582007-06-28T21:00:00.000+00:002007-06-29T08:01:12.297+00:00O guerrilheiro voltou<div style="font-family: trebuchet ms; text-align: justify;" class="def_cptxt_lead"><br />""Onde o país é mesmo profundo, a VISÃO acompanhou a campanha de Xanana Gusmão. Uma viagem que foi um bilhete de ida e de volta aos tempos da resistência, com galos coxos e lagartos cantantes, em busca de um sonho representando por um foguetão. Chegará o carisma do comandante para ganhar as eleições?<br /><br /></div><div style="font-family: trebuchet ms; text-align: justify;" class="def_cptxt_dt">Henrique Botequilha 28 Jun. 2007<br /><br /></div><div class="def_cptxt_text"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family:trebuchet ms;">Se pudesse, Xanana Gusmão visitaria todos cemitérios que guardam os mártires de Timor-Leste. Em Tumim: o ex-guerrilheiro contempla os túmulos de 74 pessoas massacradas, em 1999, pela milícia local - Sacunar (escorpião) -, que se espraiam pelo morro em socalcos, nos prados de altitude de Oecusse-Ambeno. «Ajudar as famílias destas vítimas é dar um sentido ao seu sacrifício.» O enclave, no lado ocidental da ilha, está cercado pela enorme Indonésia, que se vislumbra na outra encosta do vale. Mas esse já não é o inimigo. Recordar estes mortos é gritar pelos vivos, em nome de uma nova causa, escrita em letra de forma no slogan «libertada a pátria, libertemos o povo.» Esta é a crónica da campanha de um candidato ao poder que um dia jurou aos camaradas de luta, muitos deles entretanto caídos, a rejeição do exercício de cargos políticos. Um mandato presidencial depois, ele está na corrida para ser o próximo primeiro-ministro de Timor-Leste, numa «luta de galos» com Mari Alkatiri, líder do partido histórico, Fretilin. Jurou também que, expulso o ocupante, o sangue não voltaria a correr neste território de destinos fatais. Kay Rala Xanana Gusmão, 61 anos, presidente do recém-criado CNRT (Congresso Nacional da Reconstrução Timorense), não conseguiu manter nenhuma das promessas. Viqueque, 3 de Junho, Lorosa'e (Leste): Afonso Kudalai, segurança civil da sua caravana partidária, é abatido a tiro, num homicídio à margem da campanha, embora tenha ganho relevância política já que o suspeito do crime é um polícia apoiante da Fretilin. Maubara, Loromonu (Oeste), dia 19: o candidato distribui pétalas de flores por 20 campas viradas para o mar turquesa e abraça Florindo de Jesus Brites, 25 anos, a quem falta um pedaço do antebraço. As suas costas estão vincadas por uma cicatriz brutal: «Golpe de samurai (sabre).» A imagem do mutilado, em resultado de um massacre da milícia Aitarak (espinho), no pré-referendo de 1999, já fez a capa do diário Jakarta Post, e foi alvo de atenção da Comissão Verdade e Amizade, composta por representantes timorenses e indonésios. Internacionalizou-se a história de um homem que continua desempregado. Ele conhece, uma por uma, as vítimas que repousam sob os seus pés, debaixo da terra vermelha, entre elas um irmão. Seis anos após a extinção do Conselho Nacional da Resistência Timorense (antiga coligação dos partidos nacionalistas), a sigla CNRT voltou ao país. Perante os mortos, Xanana compromete-se com um novo juramento: «Servir o povo e dar atenção aos que fizeram a luta.»As campas e a o mutilado, afirma, «são a ligação entre o velho CNRT e o novo.»</span><br /><br /></div><div style="font-family: trebuchet ms; text-align: justify;" class="def_cptxt_text"><b>Mobilização geral</b><br /><br />Passaram-se cinco anos sobre a independência e o povo continua miserável, as infra-estruturas não se vêem, as estradas mantêm-se esburacadas, há 20 mil deslocados internos, o investimento privado é pouco mais do que nulo, o país está de novo «ocupado» por militares internacionais, em resultado de uma crise política - entre o Governo Fretilin e o Presidente Xanana -, apimentada por 600 homens que desertaram das forças armadas em protesto contra o Executivo: os peticionários. A violência saiu outra vez à rua e o sangue voltou a correr. O tempo congelou na meia-ilha tropical. As legislativas, de 30 de Junho podem marcar o momento que separa um estado viável e um estado falhado. Jogam-se também nas urnas 20 anos de atritos entre o comandante guerrilheiro e o partido que esteve historicamente associado à resistência. Na ressaca da crise, o Presidente que não o queria ser achou que tinha de voltar ao comando do povo, num lugar em que pudesse, efectivamente, mandar: «Dantes, pedi às pessoas sacrifícios, agora vou tomar conta delas», afirmou numa entrevista exclusiva, publicada na última edição da VISÃO (disponível integralmente na página online da revista). As cadeiras dançaram. O independente Ramos-Horta, que chefiou o Governo, em substituição de Mari Alkatiri, no segundo Governo Constitucional (em cinco anos, já houve três), transitou para o Palácio das Cinzas (Presidência). E o ex-chefe de Estado corre pelo poder executivo - o guerrilheiro despertou. Maliana, capital do distrito de Bobonaro: numa sala branca, Xanana senta-se numa cadeira de plástico, aquecendo a voz para o comício que não tarda. Está lá Mahuno, o comandante das Falintil (braço armado da resistência), que sucedeu a Xanana, após a sua prisão em 1992, e que foi também capturado nos meses seguintes. Apesar de um AVC, que lhe afecta a fala e a coordenação motora, ocupa um dos lugares cimeiros da lista do CNRT. Estão lá Bissoi e Bilou, duas guerrilheiras que fizeram o pleno de 24 anos na montanha. Veteranos do mato ou actores da duplicidade timorense - trabalhando com o inimigo, atraiçoando-o pelas costas - e activistas na diáspora. Cada rosto, um passado, cada passado uma matriz comum: a resistência de novo, às ordens do seu comandante: o maun bo'ot (irmão maior). «Temos gente da luta armada, da rede clandestina, da frente diplomática (os três ramos da Resistência), só podemos ganhar», afirma um apoiante. «A não ser que matem o katuas (velhote venerável)» Onde a esperança média de vida é de 55 anos, não se estranha o tratamento? Está lá ainda a Fretilin-Mudança, com a sua legião de ex-governantes, que disputa a liderança do partido contra Mari Alkatiri e que, nestas eleições, se enfiou debaixo do guarda-chuva do CNRT, afrontando «os abusos de poder« do Governo: «Num país pós-conflito teria sido importante incluir a oposição», afirma o coordenador desta facção partidária e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, José Luís Guterres. «Mas [o Executivo] não ouviu ninguém, não conseguiu resolver a crise das forças de defesa e por causa disso teve de chamar tropas estrangeiras, pondo em causa a própria soberania nacional» Este grupo acredita que, depois de a Fretilin ter perdido quase 30% de votos, entre as legislativas de 2001 e a primeira volta das presidenciais, há um mês e meio, será responsável por um autêntico desastre nas próximas legislativas, altura em que fará o cerco final à liderança de Alkatiri. Quanto a Xanana, o motor auxiliar desta luta interna, exibe um optimismo em crescendo: «Não espero menos do que 51 por cento»<br /><br /><b>O presságio do galo coxo</b><br /><br />O comandante que voltou a sê-lo nunca perdeu certas rotinas adquiridas no mato. Ainda o sol não se levantou e Xanana já está a pé. Poucas horas atrás, teve de esclarecer, naquela quintal de Maubara, uma mulher que pretendia saber se ele só queria os votos do povo. Bebe um café e fuma o primeiro cigarro, que lhe agrava a tosse. Toma um xarope e um rebuçado para a voz, que enfraquece a cada dia, e, à medida que os colegas de partido se levantam, começa o recital de histórias. Mahuno ri como um pirata. Na longa jornada de campanha, que começou no fim de Maio, na ponta Leste, Xanana vai dormindo em casas de apoiantes, tão pobres como pobre é Timor, humildes mas sempre dignas nas suas paredes de cores sumidas, sofás coçados e mobiliário velho. A electricidade vai falhando, a água acumula-se em recipientes baços, o banho toma-se com uma concha pela cabeça abaixo. Ninguém se queixa - são veteranos, acostumaram-se a muito pior. Acompanhar Xanana em campanha é também mergulhar nas profundezas de Timor-Leste. Antes de cada comício, o candidato é vestido com preparos tradicionais, dando um significado visual ao «liurai dos liurais« (régulos). À chegada a cada localidade, os anciãos cantam o hamulak, um ritual de boas-vindas para os notáveis, e uma criança envolve o seu pescoço com um tais (pano timorense). Estão sempre presentes os lianain, os velhos que comunicam com os espíritos, e toda a sorte de coreografias: meninas ululantes em Pune, em Oecusse-Ambeno, dançarinos que chocalham trajes em moedas centenárias, em Pasabe, no mesmo distrito, cânticos ancestrais em Ataúro. Tapetes de flores, efeitos em palapa - orgias de cor. Nitibe, ainda em Oecusse, Xanana discursa para uma multidão de camponeses, na alta montanha que perfila os confins do enclave. Um gondoeiro abriga todo o comício e os políticos acomodam-se sobre as raízes desta árvore colossal. A copa é tão frondosa que ensombra toda a assistência. No tronco, há caveiras de animais abatidos em rituais de sacrifício, cujo sangue tingiu de vermelho as pedras na base. Este é o Timor místico que não se revela apenas nas terras do fim do mundo. Ele também influencia campanhas e testa a racionalidade das elites. Na crise de há um ano, reuniões em baixa voz eram conduzidas por um toké (um lagarto cantante). Se ele cantava, era a confirmação de uma boa ideia. Se ficava mudo, mudava-se a estratégia. «Que país é este, entregue à voz de um toké?«, questionava um actual apoiante do CNRT, que não quer aparecer como alguém metido em crenças no tempo dos seus avós. Em Laleia, terra natal do ex-guerrilheiro, um galo velho e coxo desceu a montanha depois de prolongada ausência: bom presságio. Alguns dos seus inimigos, diz o mesmo apoiante, acreditam que os espíritos dos antepassados confiaram em Xanana a missão de guiar o povo: «Isso mete-lhes medo, muito medo».<br /><br /><b>O sonho que vai de foguetão </b><br /><br />Em palanques improvisados, nos alpendres dos mercados ou sob telas do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Xanana projecta a voz e o carisma. O CNRT pôs a logística a funcionar e camiões a transportar gente em todos os distritos. As crianças descalças ocupam as primeiras linhas, os rapazes efusivos estão na segunda, junto de velhos que queimam as gengivas com a bua (fruto de palmeira mascado com cal). Xanana e Mahuno também a provam. O material de campanha compõe o espaço e a mensagem - faixas representando o guerrilheiro e o estadista; cartazes futuristas, partilhando o sonho na forma de estruturas aeroportuárias, arranha-céus ou o delírio criativo (que não terá passado no crivo do chefe), de caças de combate e foguetões. O culto do homem está em toda a parte. Mas Xanana está noutra. Em palco, possui uma energia diabólica. Irrequieto, transmite em tétum a ira contra o Executivo da Fretilin. Imita os ministros, cobrindo-os de ridículo, ressona para ilustrar a ineficiência dos deputados, finge que enche um balão para falar de um poder que «enche, enche, enche e, depois? bum! «Está imparável: «Se o Governo não desenvolve, sai!!!! Não serve o povo, sai! É corrupto, sai!» A assistência, em cada canto do país, concorda em uníssono: «Sai!» A sequência do «sai!», proferida num grito de revolta, incendeia qualquer público. Nunca falha. Excepto em Oecusse, por causa de uma traição linguística. No dialecto local (vaiqueno), sair diz-se «poe». Parece «põe». O orador pensa que o homem que faz a tradução está a sabotar o discurso. Até que, desfeito o mal-entendido, se desfaz em riso e remata, triunfal: «O Governo não faz nada, poe!» Uma coincidência tão tramada como ali perto existir uma terra com o nome de Xanane. Entre o festival Xanana, a lavagem de roupa suja da Fretilin contra a «Fretilin radical», sobra ainda Anito Matos, humorista e cantor, que faz Timor rir há mais de 20 anos e aquece os corações com as suas baladas românticas ou canções populares. Em campanha, ele põe o povo a dançar, embalado pelos acordes pesados da banda de punkrock Smith Brothers, de Lahane. O artista está orgulhoso: «Esta gente não tem muito com que se divertir» Em Pune, a farra estende-se até ao raiar do sol, com muita música e tuasabo (aguardente) derramado. Mas Xanana prefere trocar impressões com veteranos da rede clandestina.<br /><br /><b>'Está no papo' </b><br /><br />Xanana, «o Deus vivo», católico - não há comício nem ataque ao almoço que não seja precedido por uma oração - é também um mortal. Há muito poder de fogo à solta em Timor, e o polémico Railós (o homem que denunciou a recepção de armas fornecidas pelo Governo para eliminar adversários políticos) lembra isso mesmo nas iniciativas do partido em Liquiçá. A polícia, com espingardas automáticas, segue o candidato para cada lugar, os snipers têm a função gravada nas camisolas, a segurança civil envolve-o nas multidões, há muitos camuflados na comitiva, e, a cada hora, alguém recebe um SMS alertando para movimentações suspeitas ou um novo rumor para eliminar o ex-Presidente, na próxima estação. No outro lado da barricada, o presidente da Fretilin, Lu Olo, afirma em comunicado que há um plano para matar o secretário-geral deste partido, Mari Alkatiri. Nos dias de brasa, durante a crise, lá vinha o Timor místico pedir ao ex-primeiro-ministro que aceitasse a injecção de uma substância de uma raiz que o tornaria imune às balas. Mas o político, cerebral, nunca deixou que lhe tocassem nas veias. Cruzam-se as ameaças de morte, dando corda ao boato. No país, tem força de instituição. Em Railaco (Ermera), suspeita-se da presença de um homem armado entre os populares que assistem ao comício do CNRT. Xanana não se deixa impressionar. Afinal, enquanto foi guerrilheiro, teve sempre a cabeça a prémio. Terminado o evento, força o regresso ao palco para enfrentar uma ameaça invisível: «Não tenho medo!» - tão mortal como terminar um bife de búfalo e improvisar um palito de uma folha de palmeira, aos olhos do povo. Eis Xanana, o carismático - fita os eleitores, passa em revista a luta de libertação, os cinco anos de independência, os amanhãs que ainda não cantaram. Plano de desenvolvimento, auditoria aos rendimentos dos políticos, pensões para os veteranos - sempre eles -, justiça para todos «e não apenas para os do partido», saúde também, educação, muita. Olha para as cores do logo do partido: «CNT, cor de ouro, R, cor do crude» O dinheiro do petróleo, afirma, é para investir já: «Guardar até quando?» Promessas, promessas, nunca menos de meia-hora de oratória, às vezes o dobro, e a assistência vidrada. Um ou outro entra em transe. Também há sempre uns fanáticos, ou quem bebeu demais? No final, descola o «Se'e se'e los» («Quem, quem é?«), uma das canções mais populares da ilha, que coloca a salvação do povo nos «jovens de Timor«. Deve ser verdade, mas a geração da Resistência ainda não se calou e continua a encher campos de futebol: «Isto está no papo», comenta um dirigente da Fretilin Mudança.<br /><br /><b>Fretilin contra todos </b><br /><br />Com uma população maioritariamente analfabeta, os números fazem a diferença. Mal o CNRT foi sorteado na segunda posição nos boletins de voto, nasceu logo o slogan: «Vota ba rua« (vota no segundo). Na caravana, cruzando as estradas lunares de Timor-Leste, o povo saúda o candidato com dois dedos, que também são de vitória. Tão estranho, diz Xanana, passar por uma casa decrépita e ver um retrato seu numa parede. «Como se fosse um santo?» Tanta gente fez dinheiro nos mercados, transaccionado imagens do guerrilheiro, após 1999, quando já se podiam exibir esse tipo de símbolos: «Se alguém ganhou dinheiro com isso, até fico feliz?« Mas entretanto emergiram outras forças e o país dividiu-se noutras representações? a própria resistência separou-se. E, em 30 de Junho, concorrem às legislativas 14 partidos. Vão a votos o Undertim (de L7, outro ex-guerrilheiro), o Partido Democrata Cristão, embora a Igreja apoie o Partido de Unidade Nacional (do padre Filomeno Jacó), o Partido Democrata (de La Sama, ex-líder da resistência dos estudantes, que quase venceu Ramos-Horta na primeira volta das presidenciais), a Associação Social Democrata Timorense (de Xavier do Amaral, ex-presidente da Fretilin) em coligação com o Partido Social Democrata (de Mário Carrascalão), a histórica UDT (de João, outro Carrascalão) ? um monárquico (Jacó Xavier) que se julga descendente da coroa timorense e? portuguesa; republicanos e nacionalistas com residência em Lisboa? E a Fretilin sempre só e sempre a acreditar que ganha. A última cartada do partido no poder foi a promessa da transferência de 25 mil a 100 mil dólares anuais do Governo para cada suco (freguesia), num contrato a assinar com o presidente do partido, Lu Olo. Há mais de 400 sucos em Timor e o orçamento de Estado é de cerca de 360 milhões de dólares. Também nestas hostes a confiança abunda. Um dia depois de o CNRT ter composto o estádio de Díli, a Fretilin respondeu, quarta-feira, 27, com mais gente ainda - embora tenha recorrido a umas dezenas de camiões para transportar apoiantes da ponta leste da ilha. Foi perante uma multidão ondulante que Mari Alkatiri pediu a maioria absoluta. Se os resultados da primeira volta das presidenciais servirem de guia para a eleição que se avizinha, o partido de Alkatiri e Lu Olo vence. Mas é provável que Xanana valha mais votos do que Ramos-Horta, actual Presidente, e que a dinâmica do CNRT, empurrada pela Fretilin Mudança, equilibre o jogo. Mesmo que alcance a maioria simples, o partido no poder arrisca-se a receber um país ingovernável, porque o Parlamento ficaria controlado pelos movimentos rivais. Nesse cenário, Alkatiri admite passar para a oposição, embora deixe no ar a hipótese de uma coligação. Gusmão, La Sama, Carrascalão (Mário) - os três líderes dos maiores partidos de oposição não têm feito segredo de que partem separados nas eleições e de que estão juntos depois delas. Em Maubara, o presidente do CNRT irrompeu por um comício do PD que estava a decorrer. Aceitou o tais e tabaco de enrolar e, acabou por se «apoderar» do evento, discursando para os democratas que, por fim, o aclamaram: «Viva Xanana» Há alianças menos subtis? Mas, num momento em que Díli fervilha em negociações políticas, para que lado cairá na verdade La Sama se ele for o fiel da balança?<br /><br /><b>No ninho do comandante</b><br /><br />Entre discursos, Xanana nunca passa despercebido. Tem sempre uma piada fisgada: «Esta mar não tem buracos, aqui não posso dizer mal do Governo?«, afirma para a tripulação indonésia do Nakroma, o ferry que liga, em dez horas de viagem, Díli a Oecusse. Na mesma embarcação, os passageiros estrangeiros espantam-se ao vê-lo a tagarelar, bem-disposto, com o irmão de Alkatiri, um homem que o CNRT acusa de ser beneficiário da «corrupção do Governo«, e que, por coincidência - mais uma -, seguia a bordo no trajecto final (ilha de Ataúro-Díli). O país é uma aldeia. É preciso transportar uma criança que ardia em febre no Nakroma e, atracado o navio, liga-se para o número de emergência. Mas ninguém atende. Telefona-se para o director do hospital e este não está. Alguém tem o número privado do motorista de uma ambulância e esta aparece, num ápice, nas instalações portuárias da capital, onde um frenético Xanana comanda a operação de transporte do doente. Logo depois, ele já está a partilhar com observadores estrangeiros, destacados pela União Europeia para acompanhar estas legislativas, o seu optimismo quanto ao resultado eleitoral, e, finda a conversa, à frente dos malay (estrangeiros) e do seu povo, ajuda um homem a puxar pela trela um porco renitente a embarcar para a viagem seguinte. Só os guinchos do suíno abafam a risada geral. Eis um Xanana que Nito e Zenilda Gusmão, filhos do primeiro casamento, só conheceram já adultos. Privados, no crescimento, da presença do pai, eles seguem agora a maioria dos seus passos na corrida para o Governo. A actual mulher, Kirsty Sword, e os três meninos (Alexandre, Kay Olo e Daniel) estiveram na Austrália estes dias todos. Manuel (Anô), o oitavo de dez irmãos, também é presença assídua na campanha, recordando os tempos da meninice em que a «generosidade» do mano José Alexandre (que mudou oficialmente o nome para Kay Rala Xanana Gusmão) distribuía os dividendos do jogo Monopólio pelos vencidos: «Ele foi sempre um conciliador» Numa pausa na campanha, a família junta-se em Balibar para celebrar os 61 anos do candidato (em 20 de Junho). É convidada uma imensa maioria de companheiros da luta, além do séquito da caravana partidária. A Fretilin Mudança está lá em peso, Railós também - e Ramos-Horta, membros do corpo diplomático e empresários estrangeiros, mais o inevitável Anito Matos, que vai animar esta reunião de umas 300 pessoas. Xanana é o herói da festa, sempre ligado à corrente, sempre a falar, distribuindo comes e bebes, com a piada seguinte na ponta da língua e a paciência para mais uma fotografia. É ele o show e os comensais simplesmente adoram-no. O lar dos Gusmão foi erguido em terrenos de Abílio Osório Soares (ex-governador, pró-indonésio, de Timor, falecido em vésperas desta festa de aniversário). Eram rivais mas negociaram a transacção sem dramas. Mesmo a calhar para quem não tinha dinheiro para comprar uma propriedade aos especuladores imobiliários do centro de Díli. Nesta casa dormiu Jorge Sampaio, apenas umas horas, na noite da independência timorense. Segundo explica Xanana, as poupanças da família, incluindo um prémio em dinheiro da Unesco, foram estoiradas em dádivas a pessoas pobres e nas despesas da Presidência que o Governo se recusou pagar (um diferendo no valor de 28 mil dólares, que se tornou num caso sério da política timorense). Fora destas guerras, Kirsty Sword abriu uma conta bancária em seu nome e dos meninos e o chefe do clã está proibido de lhe deitar a mão. «Talvez assim se consiga pagar a casa?», brinca. A residência está situada a meia encosta das montanhas que cercam a cidade e é servida por cinco fontes de água, que alimentam cedros, ciprestes, muita relva, flores por todo o lado, com destaque para uma: a rosa porcelana. Tem ainda um campo de básquete, que serve de sede ao seu Sport Laulara e Benfica. Vive a uma cota que o mantém longe da realidade precária da capital e seus podres - os tiros nocturnos e os arraiais de pancadaria nos bairros problemáticos, os deslocados que dormem em tendas no centro da cidade - e até acima dos blackhawks australianos que vigiam os céus, como se estivéssemos em 1999 novamente. Na festa, em surdina, comentam-se os propósitos eleitorais de Xanana. «Para um guerrilheiro sobreviver não basta comida, água e balas, é preciso também amar o povo e ser amado por ele», comenta José Luís Guterres, da Fretilin Mudança. «Esse é o amor que o faz correr de novo e rejuvenescer o homem do mato» É o segundo tempo da Resistência. A conclusão é unânime: «O guerrilheiro voltou»<br />""<br /><br />in <a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333829">Revista VISÃO nº 747 - 28 Junho 2007</a><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-3620825330378661902007-06-21T14:44:00.000+00:002007-06-30T00:44:53.723+00:00"Não sou o herói que pintam" - VISÃO 746<div style="TEXT-ALIGN: center"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://1.bp.blogspot.com/_NLQMWBG6Dh0/RoS-rIFix3I/AAAAAAAAAAU/tqQcMI7I-_8/s1600-h/Foto+captura+Xanana.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5081395927695148914" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: pointer; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="http://1.bp.blogspot.com/_NLQMWBG6Dh0/RoS-rIFix3I/AAAAAAAAAAU/tqQcMI7I-_8/s400/Foto+captura+Xanana.jpg" border="0" /> foto inédita da captura de Xanana pelos indonésios em Novembro de 1992</a><br />esta imagem saiu na edição impressa da revista VISÃO nº 746 de 21 Junho 2007 pág. 88<br /></div><table cellspacing="0" cellpadding="0" width="100%" border="0"><tbody><tr align="justify" style="font-family:trebuchet ms;"><td valign="top" width="100%"><br /><div class="def_cptxt_lead">""O guerrilheiro que chorou debaixo de uma árvore porque não queria ser Presidente tem agora a certeza de que vai ser o próximo primeiro-ministro de Timor-Leste. O que faz correr Xanana Gusmão? Entrevista exclusiva com o estadista que acredita em anjos da guarda e nas forças da Natureza. E numa conspiração para o assassinar. <b><span style="COLOR: rgb(236,0,20)"><br /><br /></span></b></div><div class="def_cptxt_dt">Henrique Botequilha, em Timor-Leste / VISÃO nº 746 21 Jun. 2007<br /><br /></div><div class="def_cptxt_text">Numa longa conversa com a VISÃO, decorrida na casa do pároco de Liquiçá, em plena campanha eleitoral, Xanana Gusmão revela que o político nunca deixou de ser guerrilheiro. Ele continua a trazer a farda «na pele», ao assumir-se como o principal opositor ao Governo Fretilin.<br /><br />Foi essa oposição que motivou a criação do CNRT - um partido inspirado na antiga coligação Conselho Nacional da Resistência Timorense . Trocou-lhe o R, que agora é de Reconstrução, e vai disputar as legislativas em Timor-Leste, no próximo dia 30 de Junho.<br /><br />Não é apenas o poder que está em causa. É o tira-teimas de três décadas de atritos ideológicos e pessoais, que atingiram o seu auge na crise institucional de há um ano, com a violência à solta nas ruas. Depois do seu país, o ex-Presidente propõe-se libertar o seu povo e ele próprio: «Não sou livre.» Aos 61 anos (desde ontem, dia 20), Xanana explica Xanana e outros mistérios.</div></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_text"><br /><p class="MsoNormal"></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size:85%;"></span></p></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><table style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px; TEXT-ALIGN: left" cellspacing="0" cellpadding="0" width="1" border="0"><tbody><tr><td><img height="300" src="http://visao.clix.pt/upload/Conteudos/xanana2.jpg" width="397" border="0" /></td></tr></tbody></table><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="Candidato ao poder">CANDIDATO AO PODER</a></div><div class="def_cptxt_subtitle" style="TEXT-ALIGN: left">«Podia viver lindamente de conferências»<br /><br /></div><div class="def_cptxt_text"><div style="TEXT-ALIGN: left"><b>VISÃO: Disse Mário Carrascalão [ex-governador de Timor e actual líder do PSD] há poucos dias que o senhor é bom de mais para governar. Tem razão?</b><br /><b>XANANA GUSMÃO:</b> É um bom comentário, que agradeço imenso. Não é fácil passar-se de traidor para bom. Alguns já me chamaram de traidor, outros de bom, portanto eu estou no meio.<br /></div><br /><b>Ele já lhe chamou de traidor alguma vez?<br /></b>O Mário não. Mas, numa sociedade em que até as crianças me apontam o dedo e me chamam de traidor, se um homem mais velho e mais experimentado na administração diz isso, fico agradecido. O conceito de governar não é Xanana governar. Tenho vindo a bater na mesma tecla na minha campanha: vamos mudar o sistema de governo. Vamos acabar com o poder centralista em que o poder está na mão de dois ou três.<br /><br /><b>Creio que aquelas palavras vão mais no sentido de o senhor ser uma figura de unidade nacional - o maun bo’ot [irmão maior] -, que não se devia meter em questões partidárias:</b><br />Em certa parte, acho que ele não tem razão. Posso dizer que, como estive fora dos partidos durante cinco anos, como Presidente da República, eu conheço a correlação de forças políticas. Envolvi-me na criação de um partido para aumentar a capacidade da oposição ao actual Governo. Não foi por interesses pessoais. Senti que havia uma brecha que devia preencher. O CNRT é um partido situacional, não é um partido tradicional.<br /><br /><b>Vai durar quanto tempo?<br /></b>Cinco ou dez anos.<br /><br /><b>Recorda-se de chorar debaixo de uma árvore num congresso do antigo CNRT quando, depois da libertação de Timor, percebeu que tinha mesmo de lider?<br /></b>Muito bem. Lembrei-me de um amigo chamado Prakash, um empresário moçambicano que me acompanhou desde a prisão de Salemba até aqui a Timor, tentando ajudar-me a mim e a todos os companheiros a fazer um plano para apresentar às Nações Unidas. Houve um momento em que ele pediu que aceitasse a liderança, no congresso do [antigo] CNRT. Mas o maior problema era a Fretilin que ia abandonar a CNRT. De modo que chorei de tristeza porque queria deixar a liderança para os outros e por sentir que, na hora de tomada de decisões em prol do povo, existiam já divisões.<br /><br /><b>Era assim tão complicado receber a liderança?</b><br />Ainda hoje continuo a ter em mente o juramento feito aos guerrilheiros, várias vezes, entre 1985 e 1989, de não assumir nenhuma posição de poder.<br /><br /><b>Acha que quebrou esse juramento?</b><br />Acho que sim. Em Agosto de 2000, quando saí das Falintil, fiz a mesma coisa. O brigadeiro Taur [Matan Ruak] disse, no discurso de resposta, que eles representavam os guerrilheiros tombados e sobreviventes. E pediram-me para quebrar o juramento. Isto é válido, mas, em termos de princípios, sinto que tenho uma dívida impagável.<br /><br /><b>Por que aceitou ser Presidente da República. Foi empurrado?</b><br />Fui empurrado mas não pelo povo. Falei com a população em 2000 e 2001 e disse-lhes que não queria, porque a situação tinha mudado. Era tempo de governar, não de lutar. Mas algumas entidades internacionais pressionaram-me muito: Koffi Annan, Colin Powell, Jorge Sampaio, e o actual presidente indonésio [Susilo Bambang], em representação de toda a TNI [exército indonésio] e e em nome da então Presidente Megawati [Sukarnoputri]. Mas também o primeiro-ministro japonês e australiano, só para falar dos mais importantes.<br /><br /><b>Isso foi tudo mais forte do que o juramento?</b><br />Foi. O problema não era só ser Presidente de Timor-Leste. O actual Presidente indonésio [Bambang] disse: «Por favor, vá cinco anos porque só assim é que nós confiamos que as relações entre Timor e Indonésia podem ir pelo bom caminho.»<br /><br /><b>Eles não confiavam em mais ninguém?</b><br />A mim disseram-me isso. Pelo menos, cinco anos. Colin Powell disse-me o mesmo. Em 2005, já ele tinha saído das suas funções [de secretário de estado norte-americano], encontrámo-nos na Tailândia e tivemos uma conversa de amigos. Disse-lhe que estava a cumprir o que me pediram, mas só aqueles cinco anos. Para não tentarem interferir de novo?<br /><br /><b>Agora aparece a disputar o poder executivo. O que mudou neste tempo?</b><br />O poder não serviu o povo e eu não me sentia bem. Muita gente ia bater-me à porta na Presidência e dizia-me: «Ainda te lembras de mim?» Quando fazia visitas ao interior, aparecia sempre alguém: «Presidente, hoje tens casa, salário, carro, segurança - já estás bem.» Eu não devia pedir desculpa pelos benefícios que tinha, só que depois havia mais ainda: «Não te invejamos, só te pedimos que não te esqueças de nós.» Esta governação trouxe um desastre para o País. Depois da crise no ano passado, achei que devia avançar e incutir um novo sistema e um novo espírito de governar. O que existe falhou.<br /><br /><b>O lema do seu partido («Libertada a pátria, libertemos o povo») indicia que a luta ainda não acabou</b><br />Ainda não. Tenho tido diálogos com os veteranos da organização clandestina e eles perguntam por que estou a fazer isto. Eu digo-lhes que, mesmo antes de ser Presidente, já me convidavam de fora para ir a conferências. Pagavam-me o avião, o hotel e davam-me um honorário. Podia viver lindamente com isso. Mas eu sinto-me sempre em dívida com eles. Também recebo muitas cartas.<br /><br /><b>Lê todas?</b><br />Tenho de ler. Sabe o que dizia uma delas? «Você diz isto e aquilo, mas quem nos garante que, quando ganhar, não vai ser igual aos outros?» No outro dia, uma senhora perguntou-me se «isto era só para ganhar votos».<br /><br /><b>Será que o ex-comandante é hoje um político que suscita a dúvida?</b><br />Pode ser visto assim. Mas se não houvesse confiança, ninguém dizia nada, ninguém aparecia. Nesta longa viagem [de campanha, durante um mês, no país inteiro], tenho constatado que as pessoas estão fartas desta situação e à espera desta oportunidade. Elas só estão a lembrar-me que não querem a repetição dos mesmos erros.<br /><br /><b>Dorme bem?</b><br />Bem... devo dizer que, com a experiência do mato, durmo sempre apenas quatro horas e meia. Mas tudo isto afecta-me muito. A minha experiência como Presidente tornou-me num bom analista: os partidos de oposição não lidam com o Governo e o Parlamento também não fiscaliza [o Executivo], porque a maioria Fretilin não deixa que se mude um ponto ou uma vírgula.<br /><br /><b>O Parlamento foi inútil?</b><br />Foi mais ou menos isso. [A maioria Fretilin] muda as leis conforme quer, tudo em seu benefício.<br /><br /><b>Era a única pessoa que podia fazer oposição?</b><br />Não era bem uma oposição ao Governo. Mas era a única pessoa que podia mobilizar a população para se opor ao Governo. Em 2005, houve as grandes manifestações da Igreja. Quase um ano antes da crise. O que se estava a gritar naqueles 19 dias e 19 noites era a frustração geral do país. Queriam que Mari [Alkatiri, primeiro-ministro] deixasse o Governo. Claro que os partidos também se associaram àquele movimento, não fisicamente, mas dando apoio moral. Eu tive uma posição contrária. Fui dizer que a nossa jovem democracia (até mais do que isso, ainda em embrião) não podia deixar que o poder popular das ruas abrisse precedentes negativos. Tínhamos de seguir a Constituição e que a população se apercebesse das falhas do sistema e, nas eleições de 2007, cumprisse as suas aspirações. Agora que saí, incluo-me, porque já sou um cidadão normal, na linha da oposição.<br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle" style="FONT-WEIGHT: bold"><a name="Como nasce uma crise">COMO NASCE UMA CRISE</a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«Pensaram que podiam ser comandantes mas assustaram-se»</div><div class="def_cptxt_text"><b>Durante a crise política, institucional e militar de há um ano, foi actor de «uma brincadeira», estou a citá-lo, «para ver quem tinha mais poder»?</b><br />Foi um bocado isso. Essa frase foi dita durante a crise. Mas já em Janeiro em 2004 forças de Lospalos saíram do quartel, andaram aos tiros, assustando a população e intimidando os jovens, e assaltaram um posto da polícia. A população levantou-se e disse «estas não são as nossas forças». Eu propus que se formasse uma comissão e dela fizeram parte seis ou sete pessoas da comissão de defesa do parlamento, fizeram os titulares das pastas de Defesa e da Polícia e eu próprio. De Fevereiro a Agosto, ouvimos soldados, oficias, a população, cada aquartelamento, pequenos e grandes, fizemos um raio X das nossas forças e apresentámos um relatório com recomendações.<br /><br /><b>A crise começou em 2004?</b><br />Sim. Nessa altura, percebemos que, no final de cada mês, imagine-se, os soldados que estão numa ponta da ilha (Leste, Lorosae) recebem o pré e depois vão visitar a família para entregar o dinheiro na outra ponta (Oeste, Loromunu). Apanham o autocarro para Díli, outro para o seu distrito e depois para o subdistrito? Mas a horta não está feita, ajudam um dia ou dois e regressam tarde aos quartéis. Pela acumulação dessas faltas, vão sendo expulsos. Pedimos para corrigir o sistema: dêem esse dinheiro aos administradores dos subdistritos e os familiares vão lá recebê-lo. Não fizeram nada. Mesmo antes dos peticionários, expulsaram quarenta e tal, mas calei-me para não exaltar os ânimos. Como era só uma voz aqui e ali a protestar ninguém ligava.<br /><br /><b>Só que os 40 passaram a seiscentos.</b><br />Em Agosto de 2004, entregámos as recomendações com regulamento militar, promoções, recrutamentos, tudo? Periodicamente, no Conselho Superior de Defesa e de Segurança e eu insistia: «Quando é que isto aparece? Quando é que isto aparece? Quando é que isto aparece? Quando?» Nada. Em Janeiro de 2006, surgiu o caso dos peticionários e apontei a ineficiência do titular daquele órgão, o senhor Roque Rodrigues. Às tantas, tive de pedir ao primeiro-ministro um novo titular da Defesa e do Interior porque os dois revelaram falta de cuidado pelas instituições de que eram responsáveis. Só depois destes problemas é que começou a aparecer o regulamento e uma lei ou outra. Mas a crise já tinha rebentado.<br /><br /><b>Sentiu-se impotente quando viu um terço das forças armadas desertar?</b><br />Em 2002, houve um capitão que abandonou as forças, levou a arma e disse: «Não me tiram.» Como comandante supremo, pedi-lhe para reingressar e assumi a responsabilidade de o expulsar se manifestasse indisciplina. Hoje é major. Se, nos 600, tivesse capacidade de intervir, era o que teria feito. Mas senti-me impotente.<br /><br /><b>Há, de facto, uma cisão Loromunu/Lorosae?</b><br />Nunca existiu. O que houve foi uma consequência da crise que se tornou na normalidade das conversas. Mas tende a desaparecer.<br /><br /><b>Foi também a projecção de ódio e violência entre dois blocos de uma ilha...</b><br />... Por causa da incapacidade de reter aquelas 600 pessoas. Era demasiada gente. Contemos que, por detrás de cada um, há uma mãe, filhos, tios, primos? Como a nossa economia anda, as migalhas de um são distribuídas por todo o mundo. Isto teve um impacto social e depois político. Mas o que mais ofendeu foi uma alegada afirmação: «Vocês, de Loromunu, não lutaram.» Isto terá sido dito por uma pessoa da instituição militar, chegou aos ouvidos de todo o sector Oeste e provocou um sentimento político de contestação.<br /><br /><b>Há alguma verdade naquela alegada afirmação?</b><br />[Nesta campanha], fui a Fato Berliu [distrito de Manufahi] e um casal levou-me de propósito a uma casita , que, nos tempos da ocupação, era um posto indonésio. O homem era técnico de electricidade e tomava conta do gerador. Os militares e os polícias dormiam em dois quartos e o casal num outro, muito pequeno, com uma casa de banho, onde esteve escondido o brigadeiro Ruak. Uma guerrilheira que nos acompanhava também esteve lá, o major Ular esteve lá, e um outro soldado, chamado Nixon, esteve lá. A senhora ficava lá fora a vigiar e os indonésios perguntavam: «Não dorme?» Ela dizia: «Estou com muito calor, vou ficar a apanhar ar fresco». Agora, o casal quis mostrar que também participou na luta. É um distrito Loromunu.<br /><br /><b>Palavras suas: «Timor é um caso de sucesso que acabou em 20 de Maio de 2002.» Ainda há espaço para o sonho?</b><br />Vamos reabrir isso. Tenho esperança de que volte a ser um caso de sucesso.<br /><br /><b>Tem consciência de que a comunidade internacional e as opiniões públicas mundiais, mesmo a portuguesa, estão a desistir de Timor-Leste?</b><br />Tivemos essa consciência, logo após os primeiros assomos dos dinheiros do petróleo, de que não seríamos o eterno pedinte. Há regiões do mundo que estão a precisar mais. Se o CNRT implementar bem os programas, em muito pouco tempo, Timor-Leste pode passar para a comunidade dos doadores. É uma dívida para com o mundo e esse também é um sonho que se vai realizar.<br /><br /><b>Estas eleições vão ser pacíficas?</b><br />Estão a ser.<br /><br />Há relatos de incidentes, o próprio CNRT já teve um morto na sua campanha.<br />Se aquilo tinha a intenção de nos intimidar, nós continuámos. Qualquer pessoa que pensasse que isto iria ter um efeito negativo para o nosso lado sabe que só teve para o outro. A Fretilin, para se libertar desse efeito negativo, acusa os outros. É uma reacção psicológica de pessoas de um partido derrotado.<br /><br /><b>Quando estas coisas acontecem, dá a ideia de que os timorenses são violentos.</b><br />É isso que estamos a corrigir a imagem que outros deram de Timor-Leste.<br /><br /><b>Esteve Timor, há um ano, à beira da guerra civil?</b><br />Acho que não. Aqueles que pensavam que podiam ser comandantes, assustaram-se. Pertenciam todos ao mesmo grupo de poder, eram inexperientes, foi algo que fugiu do controlo deles. Para haver guerra civil, tem de haver duas forças bem comandadas. E o grupo do Alfredo [Reinado, que desertou com armas, em contestação ao Governo] não constitui uma componente que se enquadre nisto.<br /><br /><b>Mas houve confrontos entre exército e polícia.</b><br />Não misturo os peticionários com o grupo do Alfredo que saiu, segundo ele diz, por insatisfação perante as decisões tomadas. Esses têm armas, os peticionários não. Guerra civil? Deu essa impressão por causa daquela frase que referiu há pouco: nós andávamos a tentar provar quem mandava. Quando a missão militar da ONU estava a acabar, era preciso um projecto-lei ou um acordo de passagem para que o Presidente da República passava a ter maior capacidade de intervir na Defesa. E tinha de se insistir com o Governo da República, que deixava, mastigava, ruminava? e todos nós a ver que o momento se aproximava. Mas deixou tudo para a última hora e já não havia mais tempo para discutir. A ONU, profissional como é, disse que ia partir. «É amanhã que está marcado fim da missão, é amanhã que vamos embora.» O Governo, entretanto, quis colocar o primeiro-ministro como co-comandante supremo das forças armadas e eu fechei os olhos a essa iniciativa. Mas ela revelou-se depois no 28 de Abril (o dia em que a contestação se descontrola).<br /><br /><b>O que se passou?</b><br />Nesse dia, cheguei ao gabinete e recebi um telefonema do primeiro-ministro: «Presidente, ontem (27) falei com Gastão (Salsinha, um dos líderes dos peticionários), disse-lhe que não podia aceitar as exigências dele, mas ele, cabeçudo, não-sei-quantos, é melhor o senhor falar com ele.» Chamei o Gastão e pedi-lhe para parar a manifestação. Eles queriam suspender o brigadeiro, coronéis e mais não sei o quê. Por causa deles, cheguei a insurgir-me contra os meus antigos comandantes, mas uma questão destas não se podia resolver com manifestações. Teria de passar por um processo muito maior. «Diz aos jovens (os jovens é que estragaram isto tudo, não foram os peticionários) para aguardarem porque o ministro [Ramos] Horta vai falar com eles, manda tudo para os subdistritos e só os que assinaram a petição é que ficam para responder à comissão (que se estava a criar para lidar com este caso). Ele concordou.<br /><br /><b>O que correu mal então?</b><br />Fui ao Hotel Timor para uma cerimónia de posse do Fórum dos Empresários e, à uma hora, aquilo aconteceu (a manifestação rebentou). Disse ao primeiro-ministro que ia para o Palácio das Cinzas [Presidência] e esperar a acção que os jovens iam tomar. Ninguém me contactou mais. No dia 29 de manhã, era um sábado, a minha segurança informou-me que tinha havido um tiroteio para os lados de Comoro e do aeroporto na noite anterior. Chamei o superintendente da polícia, Paulo Martins, e perguntei-lhe que tiros tinham sido aqueles. «Não fomos nós», respondeu-me. «Foram as forças [Forças de Defesa de Timor-Leste]. Às quatro horas, o primeiro-ministro chamou-nos e dividiu-nos, forças e nós [polícia] pelo aeroporto, rotunda de Comoro e Tassitolo.» Liguei logo ao primeiro-ministro: «E eu não sei de nada? Vocês não me consultaram?» Disse-me que tentaram mas que o telefone não funcionava... «Epá, eu estive aqui até à noite, de sua casa, no farol até aqui, Caicoli, são 5 quilómetros, por que não mandaram ninguém?<br /><br /><b>Sentiu-se traído?</b><br />Foi então que percebi que a questão do co-comandante era para mostrar quem mandava.<br /><br /><b>Terá havido ingenuidade da sua parte?</b><br />Acusam-me agora de ser o Presidente que era oposição. Mas queria que o Estado sobrevivesse, pelo menos, durante os cinco anos, para que o sistema eleitoral fosse uma exigência da nossa vida política para o futuro. No meio da crise, recebi pedidos para dissolver o Parlamento e demitir o Governo. Pessoalmente, às vezes, sentia que se pudesse teria-o feito.<br /><br /><b>Faria hoje tudo igual?</b><br />Sim. Para salvaguardar a Constituição. Aprendi com [Jorge] Sampaio o que é a solidariedade institucional. Eu nunca fui formado para ser Presidente, fui aprendendo a sê-lo.<a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="Católico e animista">CATÓLICO E ANIMISTA<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«A Natureza facilitou a minha salvação»</div><div class="def_cptxt_text"><b>Durante a crise, não sentiu a tentação de voltar a ser o comandante e mostrar que era o senhor que mandava?</b><br />Sim. Mas o anjo da guarda sempre me disse que era melhor não.<br /><br /><b>Foi o anjo ou o Agio (Pereira, chefe de gabinete do ex-Presidente e também do actual, Ramos-Horta)?</b><br />Foi o anjo.<br /><br /><b>É muito católico?</b><br />Os padres sabem. Vou à missa, não por conveniência. Sei, de pequeno, que tenho esse dever. E cumpro-o.<br /><br /><b>O guerrilheiro místico acredita no Rai Timor, as forças da Natureza que os protegiam na luta?</b><br />Acredito. Em 1984, vi com os meus olhos uma granada rebentar no corpo de um guerrilheiro (Baimeta). Abandonámos o local de combate e depois mandámos dois ou três para o enterrar. Então ele apareceu. Estonteado mas vivo. E continua vivo. Temos um comandante, Samba, que agora está um pouco fora de juízo, que na frente, recebia as balas de pé e, quando inimigo esgotava o carregador, aí é que ele pegava na arma e gritava: «Quem de vós?». A Natureza facilitou a minha própria salvação, tanto que o inimigo dizia que me transformava em porco, em pedra. Quando sabiam que estavam num território meu, eles descarregavam as armas nas pedras, reviravam tudo, disparavam para as árvores, porque eu podia ser um desses elementos.<br /><br /><b>Aparentemente, o inimigo também era animista.</b><br />Bom? o exército indonésio não é o exército alemão?<br /><br /><b>O animista é compatível com o católico?</b><br />É. O desenvolvimento industrial está a destruir as forças da Natureza. Elas têm influência no comportamento humano e animal. O animismo não apareceu por acaso. O cristianismo, na nossa sociedade, em componentes intelectuais tem uma percepção, nas mais tradicionais tem outra. Não podemos abstrair-nos de nenhuma vivência. Se o fizermos, deixamos de compreender o povo.<br /><br /><b>É ambientalista também?</b><br />Sou. Se não tivesse criado o CNRT, teria feito um partido verde. Só não sou sportinguista.<br /><br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><table style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px; TEXT-ALIGN: left" cellspacing="0" cellpadding="0" width="1" border="0"><tbody><tr><td><img height="294" src="http://visao.clix.pt/upload/Conteudos/xanana3.jpg" width="397" border="0" /></td></tr></tbody></table><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="Railós e o processo das armas">RAILÓS E O PROCESSO DAS ARMAS<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle" style="TEXT-ALIGN: left">«Governo fazia escutas à Presidência»</div><div class="def_cptxt_text"><div style="TEXT-ALIGN: left"><b>Quando ouviu, pela primeira vez, a acusação de que membros do Governo estavam a distribuir armas por civis?</b><br />Rumores havia muitos.<br /><br /><b>Acreditava neles?</b><br />Tentava não prestar atenção, queria provas. No dia 24 de Maio [de 2006], o meu chefe de gabinete recebeu um telefonema de Railós [o homem que afirmou ter recebido armas de membros do Governo para abater adversários políticos] a dizer que havia civis armados pelo Rogério [Lobato, ex-ministro do interior, condenado a sete anos e meio de prisão no âmbito deste caso]. Recomendei-lhe que não respondesse à chamada porque o nosso sistema de Governo é tipo KGB: ouve as conversas telefónicas dos adversários políticos.<br /></div><br /><b>O Governo escutava as conversas da Presidência?</b><br />É preciso uma auditoria para comprová-lo, mas toda a gente sabe disso. De modo, que mandei parar o contacto com Railós. Através da rede clandestina mandei investigar se era verdade que ele esteve em contacto de fogo com as FDTL. E era. Aí ficou provado que os rumores eram verdadeiros. Antes disso, por causa desses rumores todos de distribuição de armas a civis, o Paulo Martins [da polícia] veio pedir-me uma recomendação sobre segurança a propósito do congresso da Fretilin [de 17 a 20 de Maio]. Disse-lhe que o congresso podia estar rodeado por armas, que o partido ou o Governo tinha bloqueado as ruas com contentores. Disse-lhe também para não se preocupar com a segurança da parte exterior, mas era melhor preparar gás lacrimogénio: «Não te preocupes com ataques da parte de fora, se a Fretilin Mudança [facção do partido que disputava a liderança contra Alkatiri] ganhar, vai haver sangue. Ao primeiro tiro que oiçam de uma arma que não seja da polícia, atirem o gás para evitar derramamento de sangue.<br /><br /><b>A rede clandestina ainda está operacional?</b><br />Está em termos de camaradagem, troca de impressões e de dados. Não é uma rede de informações, mas ajuda. De modo que mandei o Railós a minha casa. Veio no dia 4 de Junho, com o seu grupo, com fardas da polícia e armados, e com o padre Juvêncio [pároco de Liquiçá]. Quando se sentaram, o Railós mostrou-me um SMS de Mari [Alkatiri]: «Camarada Railós, para onde é que vais?»<br /><br /><b>Railós diz que recebeu chamadas de Rogério Lobato à sua frente. É verdade?</b><br />É. Uma vez, o telefone tocou e era o Rogério a dar instruções. Mas não pude seguir muito bem a conversa porque o Railós não podia ser visto pelos polícias que protegiam a minha casa, até porque ele tinha dito ao Rogério que andava à procura dos peticionários em Liurena [Liquiçá]. Tive que montar guarda e pedir às crianças para não gritarem, não falarem em inglês, os cães? um rodopio. Mas confirmava-se uma ligação de serviço e que durou mais de meia-hora. Estava todo atrapalhado. Até que passou um polícia - «boa noite Presidente». Estava tudo estragado.<br /><br /><b>O que o levou a acreditar tanto em Railós?</b><br />Se ele me tivesse aparecido em casa, desfardado, sem armas, sem uma conversa com o Rogério em minha casa, sem um SMS do Mari? Mas tudo isto bastava-me para fazer uma ligação.<br /><br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="Conselho de Estado escaldante">CONSELHO DE ESTADO ESCALDANTE</a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«Ou sai o senhor ou saio eu»</div><div class="def_cptxt_text"><b>O que fez a seguir a tomar conhecimento da distribuição de armas a civis?</b><br />Convoquei o conselho de estado [21 de Junho], mandei que todos vissem o programa da ABC australiana [sobre o processo das armas em Timor] e perguntei o que tinham a dizer. A resposta de Mari Alkatiri foi: «Eu não sei de nada.»<br /><br /><b>Acreditou nele?</b><br />Disse-lhe que acreditava. Mas também lhe dei conta de que eu já tinha falado com Railós. E que ele me contou que, no dia 24 de Maio, telefonou ao Rogério e também falou com Mari. Ele respondeu: «Ah sim, soube a partir daí e pedi ao Rogério para desarmar os tipos, mas ele não cumpriu as ordens.» Mas foi em 24 de Maio? Ele repetiu: «Dei instruções ao Rogério, mas ele não cumpriu.» Continuei a dizer que acreditava, mas depois falei-lhe do SMS de 4 de Junho. Então, ele não se lembrava das datas. Tudo bem, eu acreditava. Depois dei-lhe uma data falsa para situar um encontro de Railós na casa de Mari e ele corrigiu-me: «Não foi a 3 de Maio, foi a 8.» Ok, continuei a dizer que acreditava: «Mas a partir de agora, lembre-se das datas.»<br /><br /><b>Aparentemente, acreditava mas pouco...</b><br />No Conselho Superior de Defesa e de Segurança, o brigadeiro Ruak sempre afirmou que os peticionários não levaram armas, se levaram foram apenas duas ou três granadas. No dia 24 de Maio, Mari soube que foi o Rogério que armou civis. De 24 de Maio até ao Conselho de Estado, de 21 de Junho, pairou no ar a ideia de que os peticionários levaram armas e que a polícia distribuiu armas a civis. A verdade é que os peticionários não as tinham, a polícia não esteve envolvida em combates e os civis foram armados pelo Rogério.<br />Quando se fez uma conferência de imprensa a solicitar a intervenção da Austrália, enquanto o ministro Horta falava, em inglês, disse a Mari: «Ouvi dizer que o L7 [um ex-comandante da guerrilha] vai apresentar-se com umas centenas de veteranos civis em Metinaro [centro de instrução das FDTL]. Será isso verdade?». Ele respondeu-me que foi uma chamada do brigadeiro Taur. «Diga ao brigadeiro para evitar armar civis, senão é o descontrolo total.» 24 de Maio: enquanto estávamos a decidir sobre as forças internacionais, este grupo entrou em combate em Tassitolo com as FDTL. De modo que, depois, no Conselho de Estado, tive de dizer a Mari: «O senhor esqueceu-se de avisar o brigadeiro Ruak para não armar civis, não atacar o quartel da polícia e assim evitar um massacre?» Ele excedeu-se e soltou-se. «Se eu não tivesse dito mais vezes, o Ruak teria mobilizado mais de 500 pessoas. Se eu não tivesse tentado reduzir?» E eu contestei. «Não, o senhor, como chefe do Governo, só tinha essa responsabilidade. Dizer ao Ruak que o problema não era dos peticionários. Era uma decisão errada do seu ministro. O seu ministro é que deu fardas e armamento da polícia. Teríamos evitado mais sangue.»<br /><br /><b>Tudo isto não era motivo para exonerar o Governo?</b><br />[Ainda no Conselho de Estado, de 21 de Junho] Disse a Mari: «O senhor teve a lata, nos nossos encontros, de falar-me do Railós sem mencionar o nome dele, referindo-se a civis armados em Bazartete, não me informou nem uma vez. E ainda tentou impingir-me a responsabilidade de desarmá-los – “senhor Presidente, estes civis armados, tem de se dizer às forças internacionais para caçá-los”.» Disse-lhe mais: «Lembre-se de que, quando tocava no assunto dos civis armados, eu adoptei a mesma atitude – “vou já pedir às forças internacionais para limpá-los a todos”.» Soube da verdade toda em 4 de Junho, mas fiquei calado até ao Conselho de Estado, à espera: «Senhor primeiro-ministro, a sua responsabilidade é a de informar o Presidente, não é o Presidente informá-lo a si. Só estava à espera de que o senhor fosse mais honesto. Desculpe, se a cooperação entre primeiro-ministro e o Presidente deve basear-se em confiança política, digo-lhe já que deixou de merecer a minha: ou sai o senhor ou saio eu.»<br /><br /><b>Por que teria de ser o Presidente a demitir-se?</b><br />Se quer a realidade de tudo o que aconteceu naquele dia, deixei o Conselho de Estado a discutir, alguns exigiram a demissão do Governo e a dissolução do Parlamento, outros não. Ninguém reconhecia que havia responsabilidade do Estado nesta crise.<br /><br /><b>Então era de quem?</b><br />Não sei. O problema era esse. Ninguém reconhecia. Não aceitei a opinião da dissolução do Parlamento e marcação de eleições: era uma complicação enorme. Não aceitei a ideia da demissão do Governo porque era outra confusão. Se o Governo e o Parlamento, nem ninguém assumia responsabilidades, então assumia-as eu.<br /><br /><b>Também podia ser encarado como uma desistência da sua parte.</b><br />Não. Em Janeiro, fui a Nova Iorque, dali fui para Genebra apresentar o relatório CAVR (Comissão de Amizade, Verdade e Reconciliação). O título desse relatório era: «Chega!». Não mais violência política na nossa pátria. Foi um compromisso dos dirigentes para com o povo: Basta! Chega! Três meses depois, fizemos o povo sofrer, as armas voltaram a cantar a canção da morte. Isto é desistência? É dizer ao povo que há quem assuma a responsabilidade pela morte de pessoas.<br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="Xanana na lista da morte">XANANA NA LISTA DA MORTE<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«O irmão era um dos alvos»</div><div class="def_cptxt_text"><b>O que imagina que aconteceria se tivesse sido o senhor a resignar em vez de Alkatiri?</b><br />O CNRT aparecia na mesma... se me mantivesse vivo.<br /><br /><b>Correu esse risco?</b><br />Sim. O próprio Railós e um outro [Lavadae, de Railaco] também armado disseram-me: «O maun [irmão] era um dos alvos.» Talvez porque Rogério quisesse aparecer como comandante, tomou a decisão errada de mandar Railós para Tassitolo. Foi o erro táctico deles. Às vezes, a guerra ganha-se com uma vitória táctica.<br /><br /><b>Por que foi um erro?</b><br />Porque a missão de Railós era a de perseguir a Fretilin Mudança, os líderes da oposição e o Presidente da República nas eleições de 2007. Não antes.<br /><br /><b>Terá alguém substituído Railós nessa missão?</b><br />Não sei, mas ainda há armas e civis armados em Ermera, em Díli e noutros distritos. Se o CNRT ganhar, vou convidá-los todos a entregar essas armas. Ainda não mataram ninguém, só aterrorizaram a população.<br /><br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><table style="FLOAT: right; MARGIN: 0px 0px 10px; TEXT-ALIGN: left" cellspacing="0" cellpadding="0" width="1" border="0"><tbody><tr><td><img height="313" src="http://visao.clix.pt/upload/Conteudos/xanana4.jpg" width="397" border="0" /></td></tr></tbody></table><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="Isolado na crise">ISOLADO NA CRISE<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle" style="TEXT-ALIGN: left">«Só lamento que em Portugal não tenha tido o benefício da dúvida»<br /><br /></div><div class="def_cptxt_text"><div style="TEXT-ALIGN: left"><b>Esteve Mari Alkatiri directamente envolvido no processo das armas?</b><br />Não posso pronunciar-me nesse sentido, já que o Railós também não pode determinantemente afirmar que esteve sob as suas ordens. Mas o Mari, quando o tribunal decidiu arquivar o seu caso, exigiu-me elegantemente um pedido de desculpa. A elegância é tanta que se esqueceu que não fui eu que o pus em tribunal. Foi o Rogério que, na primeira audição, disse que o Mari sabia de tudo do princípio ao fim. Depois, na segunda audição, desmentiu. Nunca o mencionei como responsável, só mencionei a responsabilidade do Estado. Ele estava a comandar as forças e a polícia, ele que assumisse a sua quota.<br /></div><br /><b>Quando viu Alkatiri pela última vez?</b><br />Encontrei-o no acordo que os partidos assinaram para estas eleições. Chamou-me para um café: «Em termos pessoais, somos amigos.» Mas recusei: «Tenho muito trabalho.» Ele ainda disse: «Vais trabalhar para o CNRT.» E eu respondi: «Seu malandro...» Nós brincamos. Mas em política, diferenças são diferenças e nós temos uma que não diria inconciliável mas que é firme<br /><br /><b>Ainda são amigos?</b><br />Sim.<br /><br /><b>Quem o ouve Xanana nos comícios não acredita. Chama-lhe de tudo: déspota, corrupto, inimigo do povo – quem precisa de um amigo assim?</b><br />Sim, sim... Mas a amizade vai além disso. Somos amigos, cumprimentamo-nos. Há muita «fingidice» nos líderes timorenses. E se me quiser colocar no grupo eu também sei fingir. Sei rir para aqueles que sabem rir. Mas eu conheço-os.<br /><br /><b>Na altura da crise, isolou-se no gabinete, não atendia chamadas, não respondia a pedidos de entrevistas. Porquê?</b><br />Foi estratégia. Não entro em batalhas de propaganda. Em 24 anos, a propaganda indonésia era muito mais sofisticada do que a do Mari. E a nossa resposta não era em palavras, era em acção.<br /><br /><b>Mesmo correndo o risco de a sua imagem poder ser deturpada?</b><br />Só lamento que em Portugal não tenha tido o benefício da dúvida.<br /><br /><b>Foi-lhe dada essa oportunidade, pelo menos em pedidos de entrevistas.</b><br />Pois, mas houve amigos que me disseram que, por tudo aquilo que fiz, acreditavam em mim<br /><br /><b>A ideia que prevaleceu na opinião pública internacional, nomeadamente na portuguesa, foi que o primeiro-ministro caiu porque o senhor viu um documentário na TV australiana...</b><br />Bom... Em Portugal, os deputados não lêem os jornais e colocam os problemas? Desculpe só um bocado. Diga aos jornalistas portugueses e à opinião pública que nunca fui deputado, mas sigo os parlamentos australiano, indonésio e a assembleia portuguesa. Os deputados lêem as coisas e perguntam: «Como é que é?» Foi a mesmíssima coisa que eu fiz.<br /><br /><b>O programa tinha a credibilidade suficiente para um momento tão crítico?</b><br />Se no Conselho de Estado o primeiro-ministro me tivesse provado a 100% que não sabia de nada, que não tinha nada a ver com isto? Mas se ele encobria informações qual a confiança que eu podia ter?<br /><br /><b>Mas não seria...</b><br />... Não seria o quê? O que é que valia mais? Preservar a amizade com o primeiro-ministro ou respeitar o sofrimento do povo?<br /><br /><b>Estava a tentar referir-me apenas à parte da comunicação. Não seria pelo menos mais convencional o Presidente assumir a informação, porque já a tinha, em vez de a atribuir a terceiros? </b><br />[Pausa] Depende. Se eu quisesse levantar os problemas, se eu quisesse estar em guerra com o Governo, logo em 2002, teria estado. Mas eu sei o que é a solidariedade institucional. Aprendi com (Jorge) Sampaio. Eu nunca fui formado para ser Presidente, fui aprendendo a sê-lo. Se Mari caiu, foi porque quis. [No Conselho de Estado] afirmei: «Hoje, decido, eu assumo a responsabilidade.» Ele ficou parado, eu arrumei as coisas, já estava de pé para me ir embora, e então disse-me: «Senhor Presidente, entre nós dois, saio eu, mas ainda tenho de perguntar ao partido.» Não aceitei: «Escusa de perguntar, eu assumo.» Já estava no meu gabinete quando Lu Olo [presidente do Parlamento] veio ter comigo: «Mari falou com honestidade, oiça-o por favor, não saia ainda.» Fiquei à espera da demissão. À tarde, Mari disse que não se ia embora. A característica dele é a desonestidade política. Agora, acusa-me de fazer uma falcatrua de 28 mil dólares na Presidência.<br /><br /><b>O que é que aconteceu a esse dinheiro?</b><br />Vou para fora, compro prendas para oferecer aos presidentes e primeiros-ministros, faço lóbi junto deles para que continuem a enviar dinheiro para o Governo gastar. E, no fim, dizem que não pagam. «Não faz mal, eu pago.» Também paguei a manutenção dos carros da Presidência que o Mari tinha decidido entregar aos veteranos. Na altura, agradeci-lhe meia-hora em nome deles. Mas tinham vindo uns Tatas – é um carro indiano que a corrupção das Nações Unidas meteu cá, porque o director de aprovisionamento da ONU de cá foi depois trabalhar na fábrica da Tata na Índia. De modo que ficámos aí com um cemitério de Tatas. Depois, Mari disse que os veteranos estragavam os carros todos - «Entra um Pajero e sai um Tata, um Tata sai Land Cruiser» - e aí demorei meia-hora a pedir desculpa. Combinou-se que eu ia mandar os carros para uma oficina melhor, mas, no final, ele disse que não pagava porque a oficina que repara os carros do Estado é a dos veteranos. «Não faz mal, eu pago.» Acabei por saber, através do brigadeiro Ruak, que investigou a situação, que era um sobrinho de Mari e um malaio que jogavam com isto tudo: iam buscar peças aos Tatas, trocavam uma roda e faziam uma factura enorme. Em seis meses, levaram mais de um milhão. O malaio quis fugir mas o birgadeiro foi buscá-lo ao aeroporto: «Meu amigo, você não se escapa.» Duas semanas depois, soube que alguém o ajudou a fugir pela fronteira. Ruak exigiu do primeiro-ministro uma investigação mais de três vezes a isto tudo. Onde está a transparência? Ele diz que falta dinheiro na Presidência. Mas eu paguei e não piei.<br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="O peso histórico da Fretilin">O PESO HISTÓRICO DA FRETILIN<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«Na Perestroika dei todos os pulos que pude»</div><div class="def_cptxt_text"><b>Esta sua candidatura é também um ajuste de contas com o passado?</b><br />Quando mudei a política (despartidarização da Resistência), em 1986, acusaram-me de matar a Fretilin. Afectou-me no início mas depois vivi com isso. Quando a Fretilin saiu do CNRT isso é que foi um ajuste de contas de Mari em relação àquilo que eu fiz há vinte anos.<br /><br /><b>Com outra direcção, teria voltado à Fretilin?</b><br />Em Maio de 2000, fizeram a primeira conferência em Timor e foram convidados os dois únicos sobreviventes do comité central de 1975: eu e Mahuno. Pedi para reverem o caso de Xavier [do Amaral, primeiro presidente do partido], porque ele não foi traidor e assim recuperaríamos o nome de todos aqueles que a Fretilin matou por causa da rede de Xavier, que nunca existiu.» Matámos muitos. Era preciso pedir desculpas ao povo [pela guerra civil de 1975]. Tudo o que a Fretilin fez de bom, entre 1975 e 1986, eu reclamo para mim também e tudo o que fez de mal, se eu fugir das responsabilidades, eles devem exigir-me que eu assuma a minha parte.<br /><br /><b>Individualmente, pesa-lhe alguma coisa na consciência?</b><br />Pergunte aos outros se matei alguém. Quando metiam apodetis [pró-indonésios] na cadeia, eu tirava-os. Estávamos numa guerra de quem mete e quem tira. Não me vou gabar das vidas que salvei, mas assumo as responsabilidades pelos erros colectivos. Ora bem, até agora não aconteceu nada. A Fretilin saiu do CNRT, em 2000. Foi o reajuste de contas, o retomar de uma política de hegemonia ou de exclusividade em termos de independência e libertação da pátria. Mari ficou muito chateado por eu ter autorizado as miúdas [uma manifestação, em 2001]. Eram filhas de militares muito bons que foram mortos por não aceitarem a ideologia marxista. Depois da saída da Fretilin do CNRT, eu disse a Mari: «O senhor tem uma memória de galinha, esqueceu-se daquilo que lhe pedi [das desculpas ao povo]. Tem medo de alguma coisa? Não deve ter medo. Basta uma decisão do comité central e eu vou percorrer isto tudo a pedir perdão. Você pode declarar alto e bom som: eu, Mari Alkatiri, tenho as mãos limpinhas? 24 anos de Maputo, de manhã à noite, lavo com sabão. Quem tem as mãos sujas de sangue é o Xanana.» Hoje, eles retomam a prática política da liderança de 1975. Por causa da exclusividade do pensamento, os outros são todos inimigos. Para eles, guerra e violência é guerra e violência revolucionária. Conheço a Fretilin. Conheço-a melhor do que muitos que lá estão.<br /><br /><b>É essa Fretilin que se propõe derrotar agora?</b><br />Sim. O mundo evoluiu tanto que, nós, no mato, nas discussões que fazíamos de 1983 a 1986 dizíamos assim: os nossos aliados socialistas estão a olhar para nós e devem dizer que somos parvos e estúpidos. «Vão morrer por uma revolução mas não sabem ainda que... não dá.»<br /><br /><b>Foi em 1986 que percebeu isso?</b><br />Esses que hoje falam nunca me mandaram uma palavra a dizer se concordavam com as minhas decisões. Tive de pensar e amadurecer aquilo tudo com os guerrilheiros, durante meses. Às vezes, sentíamos que as nossas decisões podiam ser contraproducentes. Pensávamos, pensávamos, pensávamos. Pedíamos opiniões deles [dirigentes no exterior] e nunca recebi uma linha. Uma vez mandei um documento para fora a reconhecer os nossos erros. Bradaram: «Não, nós somos os mais santos, nunca cometemos erros.» Felizmente, José Eduardo dos Santos foi a França e disse: «Nós cometemos erros.» Epá? parece que fiz bem em reconhecer os erros. Em 1989, quando Gorbatchov fez a Perestroika, sabe quantos pulos dei? Todos os que eu pude. Se eu não me tivesse antecipado a ele, os indonésios não teriam acreditado. Teriam dito que estava na onda da mudança da conjuntura internacional. Quando saiu a Perestroika, eu disse: «Caramba pá!!!»<br /><br /><b>Como é que um homem no mato, com pouco acesso a informação, teve essa capacidade estratégica?</b><br />O meu maior companheiro era um radiozinho. Ouvia tudo. Seguia Angola, Moçambique, Guiné Bissau. Ouvia BBC, em português e inglês, Rádio Austrália, Deutsch Welle, ouvia tudo o que pudesse compreender. Então, fui-me apercebendo da mudança dos tempos.<br /><br /><b>Ainda há valas comuns da guerra civil em Timor?</b><br />Se existem, ainda não foram encontradas.<br /><br /><b>Mas acha que existem?</b><br />Sim. Falei em 2000 e 2001 sobre isso com os generais mas eles acharam que ainda não tinha chegado o tempo. Estamos agora na Comissão de Amizade, Verdade e Reconciliação, há obstáculos. São questões que levam o seu tempo?<br /><br /><b>Mas o país está pronto?</b><br />Acho que está.<br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="O guerrilheiro">O GUERRILHEIRO<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«Não sou o herói que pintam»</div><div class="def_cptxt_text"><b>Como se posiciona ideologicamente?</b><br />Não tenho ideologias. Já tive até 1986: marxista-leninista.<br /><br /><b>Já tinha visto a foto da sua captura, que lhe foi mostrada ontem [16 de Junho]?</b><br />Nunca tinha visto. É uma autêntica relíquia.<br /><br /><b>Estava a rir-se de quê?</b><br />Lembrei-me do momento em que fui capturado. Estava a lavar os dentes, quando ouvi o barulho das botas a entrar e a voz dos soldados. Ainda tentei meter-me no buraco que lá tinha, muito semelhante ao de Saddam Hussein.<br /><br /><b>Mas com melhor aspecto.</b><br />Era mais novo...<br /><br /><b>Há uma teoria que diz que a sua captura foi uma estratégia vossa?</b><br />No momento da decisão, podia combater, tinha uma metralhadora e munições, mas também podia suicidar-me. Optei por não oferecer resistência e rendi-me. Fui preso em 20 de Novembro [1992] e já estava ali há uns 15 dias, a tentar mobilizar a juventude para recordar o 12 de Novembro [massacre de Santa Cruz, um ano antes]. Garanti que, dessa vez, não ia haver nenhum massacre, mas o pessoal estava traumatizado. Não podia voltar ao mato, tinham prendido o meu condutor, o outro condutor que me costumava transportar tinha ido fazer negócios a Kupang. Estratégia? Nada foi deliberado. Deixei correr isso – às vezes deixam-se uns mistérios?<br /><br /><b>O Xanana é um herói?</b><br />Não sou um herói. Sou um homem que aprendi muito na vida e a dar valor aos sacrifícios. Essas pessoas que me abraçam e perguntam se me lembro delas, essas pessoas que me vêm bater à porta e pedem-me 20 dólares, que estão sempre à espera que eu reconheça o seu sacrifício, as que eu encontro por todo o lado e dizem que estou em dívida... Não sou o herói que pintam.<br /><br /><b>O que é então?</b><br />Sou um filho do povo, cresci com o povo e vejo-o sofrer e acho que o Estado devia ter tomado conta dele.<br /><br /><b>Nunca despiu a farda?</b><br />Levo-a na pele. Sabe que sou comandante supremo dos caixas/estafetas da rede clandestina, que continuam a tratar-me assim.<br /><br /><b>Por que acha que Reinado é visto como um herói por alguns jovens?</b><br />Mais por uma questão de justiça em termos de solução do problema dos peticionários. É apenas um jovem que meteu na cabeça que é um herói e que defende uma justiça que não se sabe o que é. É um bocado arrogante e hoje diz uma coisa amanhã diz outra.<br /><br /><b>Por que é que ele não está preso?</b><br />Não pergunte a mim. Nas nossas campanhas não falamos disso. Falamos é da possibilidade real de se produzir uma visão em que o povo esteja unido no mais curto espaço de tempo. O resto são cantigas.<br /><br /><b>Mato, Cipinang, libertação, funções de Estado e começa a viajar. O que mais o impressionou no mundo exterior que nunca tinha tido a oportunidade de conhecer?</b><br />A primeira impressão foi o apoio genuíno das pessoas e dos governos. Como gostava de ler, conhecia já outras culturas e outras paisagens, por isso creio que aprendi mais com contactos e sobretudo aqui na Ásia: Indonésia, Malásia, Singapura, China, Japão. Tentei perceber o que estava na ideia deles. O investimento que o estado chinês fez na juventude: mandou muita gente para estudar fora, apostou na formação e na tecnologia. Hoje, estão preparados. É isto que estamos a assumir como um exemplo. Se não investirmos nesta geração, não temos quadros daqui a 20 anos. Singapura também mandou jovens formarem-se em todo o mundo e, hoje, sem petróleo, sem nada, é um sonho.<br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" align="justify"><td valign="top" width="100%"><br /><div class="def_cptxt_supertitle"><a name="O novo CNRT">O NOVO CNRT<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle">«Só tenho medo de ganhar com 80 por cento»</div><div class="def_cptxt_text"><b>Que semelhanças e diferenças existem entre o novo e o antigo CNRT?</b><br />A semelhança é a mobilização e a confiança que ambas as partes – o CNRT e o povo - depositam entre si. A diferença é que ontem exigi das pessoas sacrifícios, hoje vou tomar conta delas.<br /><br /><b>Algo que não conseguiu fazer na Presidência.</b><br />Não tinha autonomia financeira. Comecei a Presidência apoiando umas pessoas com uns zincos, umas madeiras e uns pregos para fazer umas casas. E o Governo disse: «O Presidente não é para isso.» Criei uma fundação para fazer aquilo que, como Presidente, não podia. O Presidente estava limitado.<br /><br /><b>Continua a fazer sentido, como é o caso da sua campanha, falar sistematicamente da luta armada? </b><br />Continua. Passaram apenas cinco anos [desde a independência]. Seria preciso que toda a velha geração morresse para pensar que já não é preciso falar da luta armada. Se o estado existe, foi por causa dela.<br /><br /><b>Não se deveria estar a discutir o futuro? O desenvolvimento, a saúde, a educação...</b><br />...Desculpe? Desenvolvimento de quem? Em quê? Não é no bem-estar desta população toda, da velha e da nova? O desenvolvimento do país não é uma coisa teórica, à parte do povo. E o CNRT compromete-se, logo no primeiro ano, a dar subsídios a esta velha geração.<br /><br /><b>E à nova dá o quê?</b><br />O CNRT não apresenta um programa aos solavancos: falta ali água, vamos pôr lá água, falta ali uma estrada, vamos lá pôr uma estrada. Isso é o que tem vindo a ser feito. O CNRT quer elaborar um plano de desenvolvimento nacional, que leve, por etapas, ao bem-estar. Hoje, fala-se muito de direitos humanos, de pobreza? muita teoria. Já participei em muitas conferências internacionais, inclusive na própria ONU. E vejo muita teoria. Demasiada. Com custos muito caros que não levam a nada. Vamos fazer de Timor uma realidade com direitos humanos, que são os direitos básicos do ser humano: ter as melhores condições de vida.<br /><br /><b>Concorda com as propostas de Ramos-Horta, agora Presidente, e que interferem com o futuro Governo?</b><br />Quais propostas?<br /><br /><b>Por exemplo, distribuição de 40 milhões de dólares pelas famílias mais pobres de Timor. Distribuição de dinheiro pelos estudantes, casas para funcionários públicos... Quem lê o programa da Presidência lê quase um programa de Governo...</b><br />Se estivermos em sintonia, em termos de princípio, posso dizer que sim. Mas isso não significa que estejamos de acordo em termos de valores monetários. Quarenta milhões de dólares é muito pouco. Se tivermos 200 milhões para gastar, por que não? Pelo menos, que aquelas pessoas terminem as suas vidas mais felizes.<br /><br /><b>Trata-se dos mais pobres, não apenas dos mais velhos?</b><br />Todos os velhos são pobres em Timor.<br /><br /><b>Estão boas as suas relações com Ramos-Horta?</b><br />Excelentes. Foi o meu candidato desde sempre nas presidenciais, o CNRT deu um grande apoio na sua campanha, de modo que as relações não podiam ser melhores.<br /><br /><b>Tem quadros suficientes no seu partido?</b><br />Um partido novo que nasce numa sociedade pequena vai buscar praticamente tudo o que existe: catequistas, acólitos, elementos de organizações não governamentais (ONG), pessoas que vieram de outros partidos. Talvez seja uma vantagem, facilita a formação de um Governo mais tecnocrata.<br /><br /><b>Outra vez Mário Carrascalão: «Xanana está rodeado por gente do pior que há.» Quer comentar?</b><br />Na guerra, também me rodeei por gente do pior que havia. Descalça e analfabeta mas que trabalhou para a libertação da pátria.<br /><br /><b>A declaração aponta para algumas pessoas da Fretilin Mudança.</b><br />Por exagerarmos em menosprezar as pessoas, apontar-lhes o dedo, é que caímos nesta crise. Tem de haver coragem para dizer que ninguém é santo e que as pessoas podem mudar. A política de reconciliação do CNRT, que vem do CNRM [Conselho Nacional da Resistência Maubere] foi reconciliar. Fechar o passado e abrir o presente para que as pessoas se revelem e participem da melhor forma.<br /><br /><b>Quem financia o seu partido?</b><br />Amigos. Tenho-os em todo o lado do mundo, mas eles não querem aparecer.<br /><br /><b>Não seria mais transparente?</b><br />Se eu quisesse ser transparente, ninguém ajudaria o partido.<br /><br /><b>Vai haver acordos pós-eleitorais, nomeadamente com a aliança Partido Democrático/ASDT?</b><br />Veremos. Depende dos resultados. Temos esperança de ganhar, mas ainda não ganhámos. Há vários cenários: maioria simples, maioria absoluta? Tudo está dependente. Tenho falado com todos os partidos de oposição ao Governo da Fretilin O CNRT tem o compromisso de estar aberto, não a coligações, não a alianças, mas a pessoas que pertencem a partidos.<br /><br /><b>E se perde estas eleições?</b><br />Não perco. Só tenho medo de ganhar com 80%, porque afectaria, de certa forma, a democracia. Não perco.<br /><a href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762#Clique%20no%20tema%20para%20escolher%20a%20parte%20da%20entrevista%20que%20quer%20ler"><br /></a></div></td></tr><tr><td><br /></td></tr><tr align="justify"><td valign="top" width="100%"><div class="def_cptxt_supertitle" style="FONT-FAMILY: trebuchet ms"><a name="Austrália">AUSTRÁLIA<br /><br /></a></div><div class="def_cptxt_subtitle" style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">«Downer mandou despedir a minha mulher»</div><div class="def_cptxt_text"><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">O que responde quando o acusam a si, e a Ramos Horta também, como defensores dos interesses australianos em Timor-Leste?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Pura desonestidade política. É politiquice de meia-tigela. É uma sujeira se eu começo a contar isso. Não fui eu que pedi para virem as forças australianas. Foram o senhor Mari, o senhor Roque, o senhor Rogério e o senhor Ramos-Horta que me pressionaram para aceitar.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">O acordo com a Austrália, sobre os recursos petrolíferos, foi justo para Timor?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Bem... a gente às vezes quer ganhar de mais, perder de menos. Justo ou injusto, não foi Mari que chamou Austrália de ladrão. Fui eu. Estava a defender interesses australianos? O embaixador australiano estava a aprender português e perguntou-me, à laia de descontentamento: «Presidente, já sei o que é sanguessuga.» Eu tinha ido falar à comissão parlamentar [portuguesa] para os assuntos de Timor e estava lá um jornalista português. Como não se tinha pedido confidencialidade, saiu. Quando cheguei aqui, ouvi logo: «Como está? Já sei uma nova palavra em português.»</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Dinheiro do petróleo: é para gastar já?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A resposta é uma pergunta: guardar até quando? Mil milhões de dólares: eu investiria já em infra-estruturas, porque são para benefício do povo actual. A simples poupança não é poupança. Se olharmos para os gráficos de produção de petróleo, estão sempre a subir nos próximos cinco anos. No final deste período, talvez sejam três mil milhões. Qual é o cálculo que fazemos do Bayu Undan? Tinha um tempo de vida de 20 anos, mas depois já eram trinta. Descobriram mais ainda [recursos minerais] e é possível que sejam cinquenta. Isto é só Bayu Undan. Mas temos ainda o Greater [Sunrise], temos os outros, temos aqui dentro... que estupidez não investir o dinheiro que temos agora para benefício desta terra e deste povo. Se fossem mil milhões, saídos do Euromilhões, seria diferente? Nunca joguei, mas quando for a Portugal, vou tentar. A sorte vem quando menos se espera. E desse dinheiro faço um banco de crédito, um banco de desenvolvimento, qualquer coisa - guardar esse dinheiro, bem guardadinho, seria estúpido ou seria parvo.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Vai manter a aposta na língua portuguesa?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">É uma questão que leva tempo, mas temos de mudar o sistema de educação. O que recebemos da Indonésia e o que temos agora não ensina as pessoas a estarem preparadas para um emprego. Isso vai demorar cinco a sete anos. Desde que apareceu a primeira universidade privada, eu disse que não servia a juventude. Apareceram mais. São dezassete. E eu pedia: «Regulamentem isso, criem outro sistema de ensino, abram escolas técnico-profissionais, espalhem faculdades pelo território.» Nada, nada, nada.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">E em relação à língua?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Tudo vai depender. Numa boa formação profissional, a língua pode não ser assim tão necessária. Numa formação, em termos de ciências, já pode ser.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Não é suposto toda a gente falar a língua oficial?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Temos línguas oficiais e de trabalho. Estamos inseridos numa região em que o inglês é uma língua que toda a gente deve saber também. A questão fundamental da reintrodução da língua é de base. Ela não aparece como meta. O problema está no sistema. Temos mais escolas, mas não se diz que cada escola tem dois professores, que não sabem a língua. Onde é que está a formação de professores da nova geração? Por isso, o CNRT fala de um sistema e das suas lacunas. Eu não quero aparecer como o defensor da língua, quero aparecer como aquele que pega num sistema errado e transforma-o. Aí vamos ver qual é a língua.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Concorda com o aumento do efectivo militar para 3 mil efectivos e dotar as forças armadas de uma frota naval com mísseis?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Nunca estive em nenhuma discussão sobre isso. Há outras prioridades.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">A sua mulher disse que a liberdade de Timor foi o fim da liberdade da sua família.</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Tenho o dever de falar com eles em português, chego a casa já estão a dormir. Esse é o conceito de liberdade da família: ter tempo para ela.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Já sentiu dificuldades pelo facto de a sua mulher ser australiana?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Nunca. Até o próprio Governo já lhe pediu apoio de 40 mil dólares para um projecto. Ela está a trabalhar na área da saúde, na capacitação de mulheres, sobretudo viúvas, em pequenas empresas, em bolsas de estudo para órfãs, tem feito escolas que o Governo não fez e tem participado em defesa dos direitos da mulher. Vai à Austrália, tenta angariar dinheiro para financiar a sua fundação. Há quem diga que ela tem casas por aí. Só desonestidade.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Há quem diga muito mais: que ela pertence aos serviços de informação australianos.</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Sabe como eu vivi depois de sair da prisão de Salemba? Com o salário da minha mulher, como membro de uma ONG. Quando eu disse mal da Austrália, o Alexander Downer [ministro dos Negócios Estrangeiros de Camberra], obrigou a ONG a romper o contrato com ela. E aconteceu. Essas acusações só revelam desonestidade política.</span><br /><br /><b style="FONT-FAMILY: trebuchet ms">Considera-se um homem livre?</b><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não. Arrependo-me por vezes da decisão de avançar com o CNRT em defesa do povo, mas quando me encontro com os velhos, eles choram, e eu penso que a minha liberdade é maior do que a liberdade deles.""<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">in </span><a style="FONT-FAMILY: trebuchet ms" href="http://visao.clix.pt/default.asp?CpContentId=333762">Revista VISÃO nº 747 - 28 Junho 2007</a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span></div></td></tr></tbody></table>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-68390459483865459922007-05-12T15:57:00.000+00:002007-05-12T14:57:15.460+00:00Alocução de Xanana Gusmão - 7º Aniversário da PNTL<div style="text-align: justify;font-family:trebuchet ms;"><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">ALOCUÇÃO</span><span style="font-weight: bold;"> DE S.E O PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span><br /><span style="font-weight: bold;">POR OCASIÃO DA COMEMORAÇÃO DO</span><br /><span style="font-weight: bold;">7ºANIVERSÁRIO DA POLÍCIA NACIONAL DE</span><br /><span style="font-weight: bold;">TIMOR-LESTE<br /><br /></span></div><br /><div style="text-align: center;">Comando Geral da PNTL<br />Caicoli, Díli<br />27 de Março de 2007<br /></div><br /><div style="text-align: center;">Excelências,<br />Distintos Convidados,<br />Senhoras e Senhores,<br /><br /></div>Comemoramos hoje o sétimo aniversário da Polícia Nacional de Timor-Leste e por isso não quero deixar de felicitar todos aqueles que pertencem a esta instituição e que desde 2000 têm vindo continuamente a superar enormes desafios pois, a par do desafio que é a construção da Nação, também a PNTL tem vindo a ser edificada, com avanços e retrocessos, dos quais obviamente saliento o passado recente em que a PNTL foi umas das instituições mais afectadas pela crise.<br /><br />Considero que a crise que ocorreu em Timor-Leste, apesar de poder ter sido evitada, foi uma infeliz ocorrência própria de um país que atravessa um processo de transição democrática e de construção das instituições do Estado, que começaram a partir do zero. Portanto, esta foi uma crise de um Estado no início do seu desenvolvimento e que consequentemente afectou sobretudo os seus pilares, nos quais incluo a Polícia Nacional de Timor-Leste. No entanto, o Estado, incluindo a polícia, deve ser responsabilizado pelas suas acções, sendo por isso necessário que sejam tomadas medidas acertadas para que a PNTL cresça como uma instituição mais responsável.<br /><br />Faz precisamente hoje um ano que, em Liquiça, salientei que a polícia é a força de segurança que tem por missão defender a legalidade democrática, garantir a segurança de pessoas e bens e salvaguardar os direitos dos cidadãos, nos termos da Constituição e das Leis. Lembrei também que a sua máxima “Para Servir e Proteger”, significa que a polícia deverá ser responsabilizada sempre que o desempenho das suas funções não corresponda àquilo que é esperado pelas populações, pois o que se espera desta instituição é que actue de forma imparcial, nunca esquecendo que a PNTL é por natureza, uma força de segurança rigorosamente apartidária, que tem que ter capacidade de intervir de forma efectiva e responsável sempre que tal seja necessário. Infelizmente o Estado não conseguiu garantir que a polícia, sobretudo em Díli, não fosse afectada pela situação de crise. Agora esta instituição procura ultrapassar as consequências nefastas desse período, reestruturando-se e tentando recuperar a credibilidade junto das populações.<br /><br />Durante estes sete anos de existência da PNTL, assumir os erros cometidos, talvez seja mesmo o maior desafio a superar. Participar no processo de triagem e reforçar a união nacional através de acções conjuntas com outras instituições, é privilegiar os interesses da Nação, para atingir a profissionalização desejada e o cumprimento rigoroso do quadro legal em vigor, de forma a que os tropeços do passado, sejam lembrados apenas como uma vicissitude do crescimento da instituição.<br /><br />Espera-se também que a PNTL seja um corpo único, que “vista uma farda única”, não havendo espaço para polarizações e divisões internas. Só pode haver uma PNTL e esta tem que ser coesa. Só assim será respeitada pelo povo. O Governo tem trabalhado com a missão das Nações Unidas (UNMIT) no processo de triagem e a UNPOL tem um mandato para ajudar a restabelecer a manutenção da segurança pública no país, dar apoio na formação e desenvolvimento da PNTL e ajudar esta a recuperar as suas capacidades operacionais e institucionais o mais depressa possível, mas apesar disto o processo de reactivação da PNTL tem sido moroso.<br /><br />Saúdo, no entanto, a participação activa da UIR já demonstrada com 110 elementos, saúdo também o envolvimento dos 247 agentes da polícia regular nas operações que têm vindo a ser desenvolvidas juntamente com a UNPOL. Reparo com tristeza que cerca de 200 agentes ou mesmo mais, em Díli, ainda não se apresentaram e que há muitos que se apresentaram e depois não regressaram. Eu compreendo que os membros da PNTL têm vindo a passar por um processo psicológico constrangedor mas apelo a todos para o sentido do dever para que se possa incutir de novo a confiança nas comunidades e ganhar a credibilidade que a polícia merece. Existem outras condições que a PNTL tem que desenvolver para melhorar o desempenho das suas funções: apostar ainda mais no treino e formação, porque é essencial que todos os policiais tenham o correcto conhecimento das leis e regulamentações, dos seus deveres e responsabilidades e a compreensão da suas obrigações, mas também as suas limitações de poder, como agentes da lei e da ordem. Incluo aqui o incentivar da formação contínua: a Academia da Polícia deverá ter capacidade para actualizar os conhecimentos dos agentes, para um melhor desempenho destes, não só em Díli mas também nos sub-distritos e em todos os postos espalhados pelo país.<br /><br />Deve-se reactivar os serviços de inteligência, o departamento de investigação criminal e a secção de trânsito para pormos cobro à impunidade generalizada e à violência organizada. Falando de violência organizada, faço um apelo a todos os agentes da PNTL que tenham pertencido a grupos de artes marciais para abandonar estes grupos, a fim de poderem actuar com verdadeira imparcialidade. Recomendo ao Governo que regulamente os regimes de carreiras da polícia com urgência, para motivar os agentes, pois sem motivação não há um bom desempenho e<br />vontade de servir a comunidade. Para isso é preciso criar um sistema de avaliação de desempenho, abrindo perspectivas em termos de promoções mas também de reconhecimento de mérito dos serviços prestados, sendo este o dever de um Governo democrático.<br /><br />Peço também ao Governo para continuar a prestar atenção à situação de crise na fronteira, mesmo sabendo que já existem esforços nesse sentido, pois é necessário o apoio e a presença permanente nos três distritos fronteiriços. Como sabem, na sexta-feira passada entrámos no período eleitoral. Continuo a apelar a todos os agentes para se manterem imparciais e para que cumpram o seu dever de agentes da lei e da ordem, não só em termos gerais mas sobretudo nos locais de voto. A PNTL terá um papel preponderante, quer nas eleições presidenciais quer nas legislativas.<br /><br />Quero ainda louvar publicamente: os agentes da polícia dos serviços de imigração que nunca pararam de trabalhar durante todo o tempo da crise; os agentes, os oficiais da polícia e os agentes do corpo da segurança pessoal que também se têm mantido activos durante todo este período. Assim como, os comandos dos distritos e sub-distritos no interior que também têm evitado situações de conflito, mantendo-se nos seus postos e evitando um maior desmembramento da PNTL.<br /><br />Finalmente, gostaria de felicitar o Inspector da PNTL Afonso de Jesus pela sua tomada de posse como Comandante Geral Interino e também os Inspectores-Adjuntos Jorge Monteiro e Hermenegildo da Cruz. A todos, incentivo a sobreporem os objectivos e o interesse da Nação e do povo, aos seus desígnios pessoais e desejo-lhes votos de sucesso.<br /><br />Para terminar, gostaria de apelar a todas as instituições do Estado aqui presentes, inclusivamente à Presidência da República, para dispensar parte das suas verbas para a construção de um monumento, homenageando aqueles que tombaram durante a crise e cuja primeira pedra vai ser lançada simbolicamente, hoje mesmo.<br /><br /><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-83013822034123575302006-11-29T22:36:00.000+00:002007-02-27T19:41:25.470+00:00A fabulosa mensagem de Xanana Gusmão - 22 Junho 2006<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;">Mensagem de S.E. o Presidente da República<br /></div><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Povo Amado e Sofredor aos Líderes e Membros da FRETILIN </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu peço licença aos companheiros para tecer algumas palavras acerca da FRETILIN, porque conheço a FRETILIN melhor do que alguns delegados ou todos aqueles que estiveram no congresso há pouco realizado, sabendo apenas levantar a mão porque receiam perder o emprego, para alimentar a mulher e os filhos, porque recebem dinheiro por trás (eu sei de uma pessoa que recebeu cem mil dólares para comprar todos os Delegados, não se sabe se distribuiu bem ou … deu cinco mil, cinco mil para os delegados, e meteu esse dinheiro no seu bolso). Porém não importa, não se sabe até onde pode enriquecer, isto é um assunto privado, por isso não é um problema do povo, porque esse dinheiro é do partido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Queridos</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />Antigamente eu era membro do Comité Central da FRETILIN, até à minha saída em 1986. Se não fosse a crise e a violência que surgiram depois do Congresso da FRETILIN, na qualidade de Presidente da República, eu tenho que velar para a vida das instituições democráticas, eu tenho que criticar duramente o Congresso que decorreu nos dias 17 a 19 de Maio passado. Este Congresso viola a alínea c), do artigo 18º, Lei nº 3/2004, acerca dos Partidos Políticos, que diz o seguinte: os titulares (aqueles que desempenham funções), dos órgãos directivos (dos partidos), todos, têm de ser eleitos, por voto directo e secreto pelos militantes para que sejam representativos dos militantes. O artigo 46º da Constituição da RDTL, no seu nº 3, afirma o seguinte: “a constituição e a organização dos partidos políticos são reguladas por lei”. Essa lei é a Lei nº 3/2004.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Nenhuma lei que surja no nosso País, pode violar a constituição. Todas as organizações são reguladas pela lei, não podem violar esta lei. Isto é um princípio elementar do Direito, e o Governo que tem muitos doutores e doutoras que fizeram a lei, depois violam a lei de acordo com os seus interesses.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Como eles é que sabem tudo, neste cantinho da terra toda a gente é ‘supermi’, o Congresso da FRETLIN, realizado há pouco tempo, pode violar a lei que eles próprios fizeram, com a maioria no Parlamento e com os intelectuais todos no Governo que escreveram esta lei, para anular o sistema de voto secreto, para o voto de braço no ar, levando todo o povo a rir e a ficar triste, para a comédia que o grande e histórico partido fez para registar na nossa história futura. (Porque se é para ficar registada na história, eu também baptizo GMT- Gedung Matahari Terbit [Casa do nascer do Sol] para GAT- Geddung Angkat Tangan [Edifício do Braço no Ar], para que não exista mais nenhum partido na nossa terra, para brincar com o povo, para violar aquelas leis que os políticos escreveram e aprovaram).<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Queridos</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />A FRETILIN, é um partido histórico como todos nós sabemos. No dia 20 de Maio de 1974, surgiu a ASDT (Associação Social-Democrática de Timor), com a influência de alguns estudantes universitários timorenses que estavam a estudar em Portugal nessa altura, onde se inclui Abílio Araújo, e criaram no dia 11 de Setembro daquele ano a ASDT/FRETILIN, mais tarde transformado em FRETILIN. Esses jovens universitários introduziram uma orientação revolucionária, que aprenderam no tempo colonial fascista de Salazar e Marcelo Caetano.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">E todos nós podemos constatar: FRETILIN, significa Frente Revolucionária. Em Maio de 1977, em Laline, na reunião do Comité Central de FRETILIN, foi adoptada a ideologia marxista-leninista. Eu também participei como membro do Comité Central. Alguns companheiros que ainda estão vivos também participaram como membros do Comité Central, como Abel Ximenes Larisina, Filomeno Paixão, Feliciano de Fátima e Ma Huno.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Porém eu quero dizer-vos que em 1975, Timor era muito atrasado mas a tecnologia sofreu grandes avanços nos últimos tempos, tornando o mundo mais pequeno. Eu acredito plenamente que se Nicolau Lobato, Sahe, Carvarino, Hamis Bassarewa, César Mau-Laka, Hélio Pina e Inácio Fonseca e outros, tivessem sobrevivido até 2006, até à era pós-guerra fria, era da globalização, era da tecnologia, todos eles concluiriam que para o Timor que tanto amavam, dando as suas vidas, a antiga ideologia não serve.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Hoje, um pequeno grupo, vindo do exterior, quer repetir os comportamentos que nós tivemos de 1975 até 1978.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">De acordo com o que todos nós sabemos, em Agosto de 1975, a UDT fez o golpe para expulsar os comunistas da nossa terra, iniciando a guerra entre os timorenses. Em 2006, a FRETILIN quer fazer um golpe para matar a democracia que eles próprios escreveram na Constituição. O problema da distribuição das armas não tem a ver com a situação que estamos a viver, já estava nos seus planos, distribuíram para as eleições de 2007. Por isso é que estamos sempre a ouvir eles dizerem: só a FRETILIN pode criar a estabilidade ou a instabilidade.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando as bases de apoio se desintegraram em 1978, os companheiros da Ponta Leste e com este servo, tentaram organizar-se para procurar os companheiros dos outros sectores para encontrarem-se com os companheiros de Bazartete e Liquiça, Same e Ainaro. Se não acreditarem, perguntem aos companheiros veteranos que estão na F-FDTL, para não dizerem que eu inventei, para minha vaidade pessoal como algumas pessoas que eu conheço que entraram na FRETILIN, que nos olham de lado, como se fossem eles os únicos a fazerem a guerra.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Queridos companheiros Membros da FRETILIN<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em Março de 1981, na Conferência de Laline, reorganizou-se a resistência, e conforme nós costumamos dizer, passou-se para a fase da guerrilha. Tal como a crise que estamos agora a viver, no Conselho de Estado ficou decidido definir os problemas prioritários, uma vez que não temos força para resolver todas as coisas de uma só vez; assim, em 1981, a nossa primeira prioridade foi a reorganização.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Por isso, nós também, em 1981, agarrámos novamente na orientação “ideológica” que recebemos dos nossos intelectuais e chefes. Em 1983, durante o período de cessar-fogo com o “TNI”, de Março até Agosto, começámos a falar sobre democracia. Por isso, em 1984, para corrigir os erros do EMG-FALINTIL, na região central, apareceu o “CC Hudi Laran” que não quis aceitar a mudança política que nós vimos ser a melhor para o nosso processo de resistência. Acerca disso, muitos companheiros que ainda estão vivos podem contar melhor com floreados, senão podem pensar que eu é que quero mostrar-me como se eu fosse o único a escrever a nossa história.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu comecei a enviar cartas para o exterior para a DFSE (Delegação da FRETILIN em Serviço no Exterior) – podem perguntar ao Sr. Abílio Araújo que nós escolhemos em Março de 1981 como Presidente da FRETILIN e, de acordo com os estatutos do partido, Presidente da RDTL.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu também disse para o exterior que no interior do território a Unidade Nacional já estava segura desde Tutuala até à fronteira passando por Oecussi e Jaco, que a igreja também se juntou, que as pessoas dos outros partidos também participavam na resistência. Por isso, eu escrevi aos companheiros no exterior para se sentarem com a UDT para se reconciliarem.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No exterior, em Portugal, em Moçambique e também na Austrália, talvez a “INTEL” também vigiava os timorenses lá fora, não se mexiam como se os espias os seguissem, como se fossem as suas sombras e por causa disso demoraram tanto tempo para erguerem a “Convergência Nacionalista” onde surgiram vários problemas – podem perguntar aos elementos da FRETILIN no exterior, ao Sr. João Carrascalão e ao Sr. Vicente Guterres. Eu cito o nome deles só para dizer que, se pensam que eu minto, peçam-lhes para vos informar.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Porém que o vento leve estas palavras até aos irmãos que estão lá fora, que os Gadapaski [Jovens Guardas em Defesa da Integração] estão no nosso território, castigam os jovens até ficarem bem moídos. Assim, em Moçambique, Rogério tentou adquirir pengalaman [experiência] para se matarem uns aos outros e Ramos-Horta ficou preso. Naquele tempo, o Presidente Chissano, ainda como Ministro dos Negócios Estrangeiros, é que foi libertá-lo. Se acharem que estou a mentir, perguntem-lhes porque eles é que estavam em paz para estudarem, para serem doutores, durante 24 anos em Moçambique.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Feita a Convergência Nacionalista em Lisboa, no mato eu estava muito feliz, pelos passos dados em frente. Em Dezembro de 1986, eu criei o Conselho Nacional da Resistência Maubere, deixei a FRETILIN, porque sendo comandante das FALINTI ASWAIN eu tinha que pôr as FALINTIL fora do Partido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Assim as FALINTIL como força de libertação de todo o povo, de todos os partidos, de toda a população, Loromuno, Lorosae, Tacifeto, Tacimane, prolongando Ramelau até Matebian.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu disse para os que estavam no exterior, que como comandante das FALINTIL, eu é que comandava a luta. Também continuava a ter o meu respeito pela FRETILIN, com os membros do Comité Central, que estavam comigo no mato integrados no CNRM.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Lu-Olo, disse que durante os 24 anos, transportava a bandeira da FRETILIN no seu saco; talvez fosse verdade, porém eu nunca vi. Quando eu andava como membro do Comité Central da FRETILIN, fui até o centro do país para organizar de novo a resistência, eu lembro-me que ele, Lu-Olo, estava escondido em Builó. Talvez estivesse a tecer o saco para guardar a bandeira da FRETILIN. Lu-Olo diz também que quem abandonou a FRETILIN é traidor e não tem história. Palavras ocas sem sentido, porque se é traidor, eu sou o primeiro traidor, eu sou o maior traidor deste povo e desta terra. Deixei a FRETILIN para libertar a nossa terra e todo o nosso povo. Porque eu não matei a FRETILIN e continuo a respeitar a FRETILIN, assim Lu-Olo pode ser Presidente para ser o sábio que levanta primeiro o cartão no Parlamento Nacional, para a maioria seguir, votando contra ou a favor. Se eu me sentisse como traidor sem história, para regressar à FRETILIN, Lu-Olo nunca chegaria a ser Presidente da FRETILIN alguma vez. <br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Companheiros Membros da FRETILIN<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Como eu disse atrás houve um grande protesto vindo do exterior, dizendo que eu estava a matar a FRETILIN. Abílio Araújo escreveu aos companheiros da FRETILIN para se reorganizarem. Nós reunimo-nos. Ma Huno, Mau Hodu, Konis Santana, como membros do Comité Central da FRETILIN e eu, decidimos despromover o Abílio Araújo, porque durante a guerra, nós não podíamos receber ordens do exterior, porque no exterior eles é que tinham que seguir orientações do interior.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Porque no mato, recebíamos jornais de Portugal, diversas informações, também ouvíamos rádio e sabíamos que eles no exterior, no seio da própria FRETILIN, não se davam bem, não estavam unidos. Perguntem ao José Luís Guterres, Ramos-Horta e Abílio Araújo, se estas coisas que eu digo são verdadeiras.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Nós vemos que em vez de colocar os seus pensamentos no sofrimento do povo, eles comiam-se uns aos outros para se apoderar da cadeira do Presidente da FRETILIN e depois tentar comandar a luta do exterior. Porque no mato não havia ninguém em busca de cadeiras, apenas procuravam servir para levar a luta para frente, eles os três disseram-me que nenhum deles queria ser Presidente da FRETILIN. Assim, nós decidimos criar a CDF (Comissão Directiva da FRETILIN) para evitar que os intelectuais, no exterior, entrassem em conflito para serem Presidente da FRETILIN. Se os companheiros não acreditarem, perguntem ao Lu-Olo, naquele momento, onde estava ele? Se ele estava naquela reunião ele pode confirmar se eu estou a mentir, que estas coisas estão a ser inventadas por mim, porque não estão correctas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Perguntem ao Lu-Olo, porque é que mais tarde, tomou ele sozinho a Comissão Directiva da FRETILIN no mato. Não é porque Ma Huno e Mau Hodu foram capturados e Konis morreu? Neste mundo, algumas pessoas esquecem rapidamente os mortos que lutaram pela independência, pior do que isso, cospem para cima das suas campas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No mato nós também lemos as acusações vindas da Amnistia Internacional e de organizações de direitos humanos, de que a FRETILIN também cometeu crimes. Eu mandei uma mensagem para o exterior, reconhecendo que FRETILIN matou pessoas, devido a problemas ideológicos, estava arrependida por isso. No exterior, todos ficaram zangados comigo, Abílio Araújo declarou de imediato que não, e que as coisas que eu disse eram mentira.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A partir daí, eu também cortei as relações com eles porque era através desses relatórios e informações que eu lhes enviava, que eles falavam para o mundo. Até 1989, eu enviei as informações e relatórios para a CDPM (Comissão para os Direitos do Povo Maubere) para utilização dos amigos portugueses.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"> Companheiros membros da FRETILIN<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em 1989, eu estava em Ainaro, recebi uma carta do Rogério Lobato acusando os outros no exterior, de que não faziam nada, dizendo que a luta estava acabada, e que todos tinham de se submeter à justiça popular. Rogério informou-me nessa carta, que Mari Alkatiri criava coelhos e galos em Maputo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu recebi, em 1990, uma carta de José Ramos-Horta oferecendo-se para ser meu Representante Especial lá fora. Eu estava escondido em Becora e escrevi-lhe dizendo que concordava, mas tinha de seguir os princípios e as orientações políticas do CNRM, também seguindo as minhas palavras. Ele respondeu-me, dizendo que também saiu da FRETILIN para servir a luta. Se os companheiros não acreditarem, perguntem ao Ramos-Horta.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em 1991, em Novembro, em Santa Cruz, alguns companheiros puxavam mais pela FRETILIN. Eu respeito o vosso sofrimento mas não podem atirar o pensamento e as acções dos outros para a lama. Assim, nós não temos honestidade política. Não podemos nomear apenas a bandeira da FRETILIN, porque eu também dei orientações para levarem as bandeiras da UDT e de Portugal, seguindo a resolução da ONU, Portugal continuava a ser a “potência administrante”.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A manifestação era para pedir a solução pacífica, sob a égide das Nações Unidas e a participação de Portugal e dos partidos políticos. Pedi com veemência que não podiam dizer que era uma iniciativa da FRETILIN, que não era, porque havia um comando da luta, do CNRM.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em finais 1998, dei poderes ao Manuel Tilman, Padre Francisco Fernandes, Padre Domingos Maubere e o Padre Filomeno Jacob para irem a Portugal e ajudarem Ramos-Horta, a FRETILIN e a UDT, a organizar a conferência para alterar CNRM para CNRT, para reunir todos os timorenses no seu seio. Porque a UDT não aceitava a palavra Maubere e queria ‘T’ de timorense. Se não acreditarem, perguntem ao Sr. João Carrascalão e aos outros que estavam no exterior.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Queridos Companheiros membros da FRETILIN<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em 1998, se eu não me engano, no período da Reformasi na Indonésia, eu mandei Mau Hodu a Sydney e escrevi à FRETILIN para se organizar como partido, para mostrarem a sua orientação político-ideológica. Foi sob o chapéu do CNRM e do CNRT que o Povo ganhou em Agosto de 1999. Isto é história, história da resistência, história do sofrimento, história de sangue. Hoje em dia, nós ouvimos que só a FRETILIN é que fez a luta. Não importa, vocês é que são os donos da luta, aceitamos, não deitem areia para os olhos do povo porque é todo o povo que vota e não apenas a FRETILIN.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em Maio de 2000, a FRETILIN convidou-me a falar na sua Conferência, no GMT [Ginásio], neste momento rebaptizado GAT. Pedi três coisas à FRETILIN:<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">- primeiro, rever, reavaliar o caso de Xavier do Amaral, porque ele não é um traidor na nossa terra, apenas porque não aceitou a ideologia adoptada pelo Comité Central, em Laline, em Maio de 1977.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">- segundo, para limparem o nome de todos os que a FRETILIN assassinou porque os considerava traidores, mas que não eram traidores, apenas não aceitavam a ideologia marxista-leninista, e para que as suas famílias possam estar descansadas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">- terceiro, que a FRETILIN pedisse desculpa ao Povo, sobretudo aos familiares das vítimas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Naquela Conferência eu disse isto: “Como membro do Comité Central da FRETILIN, desde o início até meados da guerra, todas as coisas boas que a FRETILIN fez, eu também fiz parte, as coisas más que a FRETILIN, porventura, tenha feito, eu também tenho a minha responsabilidade. Não é por eu ter deixado a FRETILIN que lavo as minhas mãos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu também pedi, caso a FRETILIN tomasse uma decisão política acerca destes pedidos, que eu próprio iria ter com o povo e pedir desculpa e explicar as razões e pedir às famílias para compreenderem os erros cometidos no passado.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Passados estes dias, convidaram-me para ir à festa da FRETILIN, dia 20 de Maio de 2000, no Estádio e, depois do discurso de Lu-Olo, eu perguntei-lhe e ao Mari acerca dos pedidos que fiz na Conferência. Eles responderam que tinham constituído uma comissão para tratar desses assuntos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em Agosto de 2000, no Congresso do CNRT, a FRETILIN isolou-se, saindo do CNRT. Nós permanecemos calmos, continuámos a trabalhar seguindo o processo político que a UNTAET delineava, até Junho de 2001, data em que foi dissolvido o CNRT, porque terminara a sua missão.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em Janeiro de 2000, Ramos-Horta fez-me saber que era melhor falar com o Mari. Eu respondi que foi a FRETILIN que abriu a porta do CNRT para sair e que ninguém a fechou, pelo que se quiserem voltar que o fizessem. Mari veio falar comigo à sede do CNRT em Balide.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele disse-me que saíram porque estavam zangados comigo, porque eu deixei algumas pessoas falarem no Congresso rebaixando o nome da FRETILIN. Estas pessoas eram vítimas da violência política da FRETILIN no mato.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu respondi-lhe um pouco zangado: “Você esqueceu-se das três coisas que pedi na vossa Conferência em Maio. Limpar o nome das vítimas ou pedir desculpa ao Povo, não é rebaixar a FRETILIN mas concertar ou limpar o nome da FRETILIN”.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu disse-lhe também: “Você não tem razão para temer, porque o Sr. pode dizer ao Povo o seguinte: Eu, Mari, não tenho nenhuma razão para estar contente por causa das razões erradas que aconteceram dentro de Timor. Eu, Mari, em Maputo, sofrendo durante 14 anos, lavo as minhas mãos todos os dias com sabão. Eu, Mari, tenho as mãos limpas, se quiserem pedir, vão pedir a Xanana, as mãos dele é que estão sujas, as mãos dele é que estão ensanguentadas.”<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu continuei a dizer: “Se o Sr. continuar a falar assim, eu aceito, e eu irei pedir desculpa ao Povo quando a FRETILIN tomar a decisão política acerca disso”.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No “Lapangan Pramuka”, agora designado “Campo da Democracia” todos os partidos políticos assinaram que iriam constituir um Governo de Unidade Nacional. Quando a FRETILIN ganhou afastou-se do compromisso político que aceitara. Se não queria aceitar, não necessitava de lá ir assinar, em vez de ir assinar e, no fim, virar as costas às palavras que tinham assumido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Isto é tal e qual como na Constituição que eles fizeram, as leis que eles fizeram. Eles fizeram, viraram as costas, não cumpriram. Povo que eu respeito Membros da FRETILIN.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Todos sabemos e reconhecemos que a Fretilin saiu vitoriosa em Agosto de 2001. Se falarmos como deve ser, com o devido respeito pelos Partidos da oposição, a maioria FRETILIN foi quem fez a Constituição da RDTL, definindo o Estado de Direito Democrático.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Num Estado de Direito Democrático, de acordo com a Constituição, as Forças Armadas e a Polícia devem ser apartidárias, não devem defender nenhum partido. Mas, o que testemunhámos até hoje, é que a Policia está sob o controlo do Governo, e para dar de comer a mulher e filhos, não tem coragem para dizer ‘não’, quando recebe ordens do Ministro do Interior, e algumas vezes do próprio Primeiro-Ministro.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No passado dia 2 de Junho, antes da reunião do Conselho Superior de Defesa e Segurança, o Brigadeiro Taur falou comigo e disse: “Presidente, eu disse ao Dr. Roque Rodrigues, o vosso maior erro foi tentarem submeter as F-FDTL à FRETILIN.” Naquele momento fiquei muito contente porque reencontrei-me com o meu Irmão que eu tinha perdido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Os Serviços de Informação ou Inteligência, que se tornou na Inteligência do Partido, para escutarem a conversa do Presidente em Lospalos, e enviar ‘sms’ imediatamente ao Primeiro-Ministro, monitorarem as actividades dos Partidos da oposição e também enviarem ‘sms’ para o Primeiro-Ministro. Alguns jovens no Farol também viram algumas coisas. Enviaram ‘sms’ para o Primeiro- Ministro. Hoje em dia, porque não há trabalho, todos nós procuramos sobreviver. Se tivermos dinheiro, aproximamo-nos deles.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Toda a gente vê que isso está a acontecer no nosso país.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Há pouco tempo, numa reunião em Baucau, algumas pessoas diziam assim: “Xanana, ‘assim mesmo’, na guerra dividiu-nos. Finda a guerra continua a dividir-nos”. Compreendo o sentido da palavra “fahe” [dividir]. O seu sentido, para os políticos e os intelectuais, correctamente, todo o Povo tem de entrar para a FRETILIN, Polícia, FDTL, funcionários, ‘bisnis’ [negócio], suco, aldeia, búfalos, formigas, árvores, ervas, todas as coisas têm de entrar para a FRETILIN. Timor-Leste é a FRETILIN, FRETILIN é Timor-Leste. Não pode existir outra coisa, não podem existir outras pessoas. É isso que explica ‘Xanana divide Timor’, por isso, ‘Xanana tem que sair’. Como se dissesse que eu quero governar nos próximos 50 anos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Encontrei-me com alguns, em 1991, em Díli, que me deram os parabéns porque defini uma estratégia política correcta em 1986, com a criação do CNRM. Hoje, encontraram uma cadeira no Governo, esperando ser amanhã, ou depois, ministro, e dizendo novamente que eu divido o Povo. <br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Querido Povo martirizado<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Por isso mesmo, depois do Congresso da Fretilin, no passado mês de Maio, muitos ou alguns delegados receberam armas. Os Administradores de Distrito e subdistrito também ouviram dizer que alguns receberam armas. Por isso mesmo, vemos na televisão, ouvimos na rádio, lemos nos jornais, os políticos e os sábios que detêm o controlo desde a ponta do ‘kuda talin’ [as rédeas do cavalo], dizerem repetidamente que: ‘Se Mari sair, haverá derramamento de sangue!’, ‘Se Mari sair, Timor explode’, ‘Se Mari sair, haverá guerra!’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Talvez o Comandante seja Rogério. Os Membros do Comité Central viram-se Conselheiros Políticos, para a ideologia de ‘Ran Nakfakar’ [derramamento de sangue] e para a ideologia de ‘Timor rahun’ [Timor vai explodir]. O Vice-Presidente do Parlamento também já gosta de falar de ‘guerra’. Já tem muito dinheiro então tem de falar de ‘guerra’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A História continua a evoluir, continua em movimento, e são os actos de todos nós que escrevem a história. Eurico Guterres, que todo o mundo conhece, acusado de ser assassino e outras acusações, ficou preso, nós todos pronunciamos o nome dele e todos nós o acusamos porque em Timor-Leste somos todos santos, somos todos heróis da Libertação, somos todos políticos governantes. Com efeito, é muito interessante !!!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Enquanto Eurico Guterres, no dia 26 de Maio passado, enviou um ‘sms’ pedindo aos nossos governantes para não fazer este povo sofrer tanto, os nossos governantes, alegremente, falam de ‘ran sei nakfakar’ [haverá derramamento de sangue], ‘Timor sei rahun’ [Timor há-de explodir], ‘ita sei funu’ [nós vamos à guerra].<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A História avança, silenciosamente, continua em movimento, registando os nossos actos, os bons e os maus, os limpos e os sujos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Ninguém poderá inventar a história, somos nós mesmos que estamos a fazer a nossa história, uma história triste que nos envergonha, e faz com que o povo sofra.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eles talvez continuem a contar com as Falintil-FDTL. Mas com a prática deles, sujaram também o bom nome das F-FDTL. E eu acredito que as Falintil-FDTL, hoje, aguardam por mim, para nós podermos conversar. As Falintil-FDTL também erraram, mas erraram porque deram ouvidos a pessoas mal intencionadas, deram ouvidos a pessoas que não amam o povo, deram ouvidos a pessoas que tentam comprar a alma do povo. Durante os tempos da guerra de resistência nós dizíamos sempre: se as balas não matarem, o arroz e o supermi podem matar, as balas só podem matar o corpo, mas as rupias, o arroz e o supermi matam até a própria alma.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Hei-de vestir a farda de novo para de novo erguer o bom nome das Falintil-FDTL. Hei-de caminhar de novo com as Falintil, porque é Aswain do Povo [é o brio do Povo], mas que hoje chora, estão arrependidos, por não quererem escutar o seu Irmão mais velho, e escutaram só os que têm sede de sangue. Em 2000 eu saí das FALINTIL porque reconheci que as FALINTIL já haviam cumprido a sua missão sagrada de libertar a Pátria, e todos os seus membros já são crescidos, o que me permite deixá-los sozinhos para continuar a sua própria caminhada. Tal como no CNRT, em 2001, decidimos dissolver, para que cada um procure o seu lugar nesta nova caminhada de nação independente.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas eu estou pronto para caminhar de novo com todos eles e pedir desculpa ao Povo. Depois disso, todas as F-FDTL, desde o Brigadeiro General até aos novos soldados, farão Juramento ao Povo, dizendo que, enquanto militares, curvam-se perante a Constituição, respeitam as Leis, e nunca dependerão de um Partido, e darão garantias de liberdade e segurança à população, e respeitarão a Ordem Constitucional.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Os que têm sede de sangue e tentaram dividir a PNTL e atiçá-los uns contra outros, também farão Juramento ao Povo, que só se submeterão à Constituição, que defenderão a legalidade democrática e darão garantias de segurança interna para todo o povo e não se submeterão a um partido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No dia 11 de Maio, Mari disse-me que desconfiava que o Rogério estivesse por detrás do 28 de Abril, porque não cumpriu a ordem do Mari para enviar a UIR de imediato para impedir os manifestantes.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Duas semanas depois, Rogério foi a Caicoli falar comigo. Eu disse-lhe: “Rogério, para citar o nome de Nicolau Lobato, devo dizer-te que eu estive juntamente com Nicolau nalguns dos momentos mais difíceis da guerra. As pessoas acusam-te de distribuir armas. Acredita ao menos em mim. Pensa bem, porque na guerra eu não perdi nenhum membro da minha família, tu perdeste a tua família toda. Nicolau com todos os teus irmãos, estão a olhar para nós, estão a chorar por causa das coisas que estão a acontecer. Eu sei que eles não querem isto”. <br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Companheiros<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A grande História dos que têm sede de sangue ainda é uma longa história. Porque, em todos os lugares, aparecerem pequenos comandantes espalhados por todo o Timor, fazendo barulho, para aterrorizar as pessoas. Algumas pessoas, talvez do Departamento de Comunicação do Comité Central, enviaram ‘sms’ para os delegados, para os administradores.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas, com a ânsia, marcaram mal o número e todos receberam o ‘sms’ pedindo para levar “10.000 pessoas desse distrito, 5.000 de outro distrito, para apoiar o camarada Lu-Olo e camarada Mari”.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Hoje, se queres ser funcionário, ou ministro, tens de te preparar para matar a tua própria alma, porque o dólar despiu os princípios que, porventura, ainda pudesse ter, nós não sabemos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Vemos muito bem, estas pessoas brincam com o sofrimento do povo, usam o povo para defender a sua cadeira, o seu nome e o seu bolso.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No Relatório da CAVR pede-se o FIM DA VIOLÊNCIA POLÍTICA, para que o povo não sofra uma vez mais. Ainda recentemente, em Janeiro passado, fui entregar este Relatório ao Secretário-Geral da ONU. Ainda mal se completaram seis meses, disparos de armas, incêndios, pessoas mortas em Dili.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Um jovem em Lospalos, chamou-me traidor, porque não defendo um tribunal internacional. Hoje, ele não está sossegado, está todo envaidecido em Lospalos acreditando que a FRETILIN tem armas para fazer a guerra.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu fui a Lospalos no ano passado e falei com eles, e disse que a FRETILIN tem de pedir desculpa. Enviaram de imediato um ‘sms’ ao Mari. No meio de uma reunião, Mari mostrou-me esse ‘sms’ e parecia contente porque a sua rede de informações do partido está espalhada por todo o Timor para informar sobre as conversas do Presidente ou as actividades da oposição.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Pude dizer a este jovem, que eu, agora, não quero ser mais um traidor do Povo. Porquê? Quando o Tribunal iniciou os julgamentos de crimes que estão a ser cometidos pedi aos Tribunais para considerarem se podiam esvaziar as Prisões de Becora, Baucau e Ermera para receber os novos hóspedes. Neste momento, todos aqueles apenas cometeram crimes menores comparando com o que está a acontecer agora. Crime contra o estado de Direito Democrático, crime contra o Povo que já sofreu durante a guerra, durante 24 anos. Becora, Baucau e Ermera hão-de receber diversos hóspedes, muitos corruptos que hão-de lá ir e têm de ir para lá.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A Comissão Internacional de Investigação irá chegar, para nos ajudar a todos, para avaliar esta violência política que assolou o nosso país. Tudo quanto a CAVR fez e transmitiu, para escutar o choro do povo, o que o povo pede, as exigências do povo, para os políticos não fazerem sofrer mais o povo, para evitar a violência política, tudo isso, a liderança da FRETILIN não quis ouvir, ignorou. A liderança da FRETILIN demonstrou que, este choro, não lhes diz respeito, este chorar, não é problema deles, mesmo que o povo sofra não é problema deles, nem que o povo morra, não é problema deles. O grande problema para eles é como manter-se no Governo. A liderança da FRETILIN, por causa da sua arrogância, só sabe é acusar outras pessoas e não são capazes de reconhecer que também erram. Para eles, não há erros, porque o que fazem tem um objectivo: governar.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Só devem pensar em guerra para governar, porque governar dá-lhes tudo, dinheiro, boa casa noutro país, negócios que lhes dão dinheiro e ao partido também, mas o partido para eles é o pequeno grupo que está a governar. O Povo está a sofrer em Dili, não foram ainda ver o Povo, nem foram ainda falar com o Povo. Só se preocupam é em mobilizar pessoas do interior, para demonstrar que toda a FRETILIN curva-se perante eles, para lhes beijar as mãos e os pés. O Povo que se mobiliza para os apoiar, coitado, talvez andem de carro sem pagar, para gritar ‘Viva este, Viva aquele’, e depois de serem alimentados regressam às suas casas, continuam a cavar a terra, querem mandar os filhos para a escola mas não têm meios, sem dinheiro, em casa continuam com fome.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Na mensagem de Fim do Ano de 2005, eu apelei aos jovens e a todo o povo, para não darem ouvidos aos políticos que clamam pela ‘violência’, que os empurram para a violência. Nós não queremos ouvir-nos uns aos outros, todos confiamos que todos os sábios desta terra que, com as suas atitudes, podem dar-lhes dinheiro, para sujar a imagem da Fretilin, e para matar o nome e a história da FRETILIN.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu sei, que Nicolau Lobato está triste. Nicolau Lobato não pede que o seu nome seja colocado em todos os lugares. Ele não precisa. O que ele pede é apenas isto: que respeitem a sua luta para libertar esta Terra e este Povo, que respeitem apenas o seu sangue.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Espíritos e Antepassados, levantem-se para olhar por este povo! Ossos que estão espalhados por todos os cantos, ponham-se de pé, Sangue que foi vertido por todos os cantos, juntem-se de novo para ver aqueles que querem estragar o povo, que querem ver o povo sempre a sofrer, que querem ver o povo sempre a morrer.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mostrem-se, mostrem a vossa força! O vosso filho está aqui, que vos implora, para olharem por este Povo, para libertar este Povo do jugo dos sedentos de sangue. <br /><br />Povo sofredor<br /> Membros da FRETILIN<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em política, quando nós erramos, mesmo sendo um pequeno erro, mas se não reconhecermos que é um erro, voltaremos a cometer muitos e maiores erros. Porque não se reconhece que entre 1975 e 1978, a FRETILIN matou membros da própria FRETILIN e outros que não aceitavam a sua ideologia, hoje em dia, para a liderança da FRETILIN, matar não é problema. Matar, para eles, uma pessoas ou duas, ou dez, ou centenas, ou milhares, é matar. O importante para eles é que o partido seja forte, para que governem sempre.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Um Partido assim, é um Partido que não quer a democracia, um partido que quer impor a sua vontade a todos nós.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu respeito a FRETILIN porque a FRETILIN me ensinou a amar a Terra e a servir o Povo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Todo o Povo respeita a FRETILIN, porque a FRETILIN faz parte da História de Timor-Leste. Mas, o Povo tem de desprezar as pessoas que querem acabar com este Partido, para fazer todo o Povo sofrer.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Estas pessoas não merecem estar na FRETILIN. Penso que outros Partidos não os hão-de receber, porque estas pessoas querem sugar o sangue do Povo, querem ver o sofrimento do Povo, para poderem governar sempre, para estarem bem. O Partido que os acolher, o Povo tem de ter cuidado, porque este Partido talvez mais tarde tenha sede e peça o sangue do Povo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Rogério deixou de ser ministro, Mari promoveu-o a Vice-Presidente da FRETILIN. Faz-nos sentir vergonha por esta política suja. Rogério foi ao Quartel da Polícia pedir combustível para o carro que ainda tem. O Responsável pela Logística da PNTL disse-lhe: o Sr. já não é Ministro do Interior, não pode receber combustível da PNTL. Rogério respondeu insultando-o: Macaco, eu agora sou mais do que Ministro, tu sabes ou não?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No dia 28 de Novembro de 2002, pedi para que ele fosse demitido, porque todas as informações diziam que, em vez de fazer o seu trabalho, organizava o povo, para cortar a lenha, para ele vender, plantar mandioca, para ele vender, fazer o vinho, que ele há-de vender, pescar, que ele há-de vender. Eu falei com o Mari, como Primeiro-Ministro e com o Ministro Horta, na minha casa, antes de 28 de Novembro de 2002, sobre o Rogério. Mais tarde, porque pedi para ele ser demitido, eu é que errei e quando aconteceu o 4 de Dezembro, apontaram-me o dedo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Todos sabem sobre os buracos que foram cavados em Tibar, também noutros locais, porque Rogério andava à procura de ouro/tesouro, que ele ouviu dizer que os japoneses haviam enterrado. Nós não nos devemos admirar com as atitudes que o Rogério toma. Enquanto estávamos em guerra e sofríamos na nossa Terra, Rogério, enquanto ministro da Defesa, viveu em Angola e aproveitou para traficar diamantes até ser detido numa prisão. E a FRETILIN, por causa do seu nome Lobato, ou porque algumas pessoas se sentiram afectadas, elegeram-no como Vice-Presidente da FRETILIN.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Na tomada de posse do Ministro do Interior, apertei-lhe a mão e disse-lhe: “Rogério, não esperes que eu te respeite, só por teres o nome Lobato. Nicolau também era Lobato, mas era Nicolau, tu chamas-te Rogério. Respeitar-te-ei, se a tua atitude me revelar que mereces respeito, mas não é por seres Lobato”. Alguns investidores procuram encontrar-se comigo e disseram: “Presidente, o vosso sistema é muito diferente, para investir no vosso país, há duas vias: uma, temos de contactar a Agência de Investimento sob a tutela do Ministro Rogério, ou, a segunda, através de langsung (taxa indirecta) paga às altas entidades.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Empresários timorenses disseram com tristeza: Presidente, já tenho a licença para a minha empresa mas sofremos pressão para fazer entrar algum dinheiro na FRETILIN. Eu perguntei-lhe “querem que eu fale?”, e eles responderam “Irmão, nós esperamos muitos anos, perdemos muito dinheiro, deixa-nos recuperar o nosso dinheiro”.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Companheiros membros da FRETILIN <br />Querido Povo sofredor<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Por isso, como Presidente da República, que não aceitou o resultado do Congresso realizado de 17 a 19 de Maio passado, exijo à Comissão Política Nacional da FRETILIN, que organize imediatamente um Congresso Extraordinário para, em conformidade com a Lei nº 3/2004, sobre os Partidos Políticos, eleger uma nova Direcção do Partido. Quando digo, em conformidade com a Lei, isso significa alterar a ‘votação de braço no ar’ dos Estatutos da FRETILIN, para que a eleição da nova Direcção, seja por voto directo e secreto. Dou um prazo de uma semana, para que este Congresso Extraordinário seja feito, porque a actual Direcção da FRETILIN é ilegítima.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Presidente da FRETILIN, Lu-Olo, Vice-Presidente da FRETILIN, Rogério Lobato e o Secretário-Geral da FRETILIN, Dr. Mari Alkatiri, todos eles, de acordo a Lei dos Partidos Políticos, são ilegítimos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Não se pode dizer que a FRETILIN não tem dinheiro, porque a FRETILIN tem muito dinheiro.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Até o dinheiro que sobrou do Congresso, Rogério comprou dois carros para o Grupo de Rai Lós.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu posso discutir a Crise com a Nova Direcção, mas cabe ao Estado decidir. Porque não é a FRETILIN que errou mas sim os que têm olhos grandes para o dinheiro e a enorme ambição para cavalgar sobre as costas do povo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O que é o Estado de Direito democrático? O artigo 1º da Constituição afirma: “A República Democrática de Timor-Leste é um Estado de direito democrático ... baseado no respeito pela dignidade da pessoa humana”. Hoje em dia, nós falamos de ‘guerra’, de ‘derramamento de sangue’, e esquecemos a tolerância política. Os governantes demonstram que não têm respeito pela dignidade de cada pessoa, consentindo a violência e a destruição, causando mortes e perdas de bens.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O artigo 6º da Constituição afirma: “O Estado tem como objectivo fundamental: b) Garantir e promover os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático; alínea c) defender e garantir a democracia política”. Nesta crise, só ouvimos ameaças de toda a ordem. Os governantes vão contribuindo para a violação destes objectivos do próprio Estado.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No artigo 29º da Constituição, afirma-se que: “nº 1 – A vida humana é inviolável; nº 2 – O Estado reconhece e garante o direito à vida”.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O que é que constatamos? Permite-se que as pessoas disparem umas contra as outras, pessoas são mortas, o povo sofre. Os governantes ajudam a violar a obrigação do Estado, não cumprem o seu dever de garantir a cada cidadão o direito à vida.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">É a conjugação de tudo isto que dá sentido ao ‘Estado de direito democrático’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Povo agora enfrenta um problema muito sério: há armas nas mãos dos civis, há disparos de armas em muitos lugares. E também quero informar que as Forças de Intervenção apreenderam já muitas armas que não são da PNTL nem das F-FDTL.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Estado não pode consentir isto, este sofrimento para o Povo. Algumas pessoas reclamam que ‘estamos a perder a nossa soberania’. Não é porque as Forças Internacionais tenham entrado na nossa terra, mas perdemos a nossa soberania porque nós é que fizemos o pedido e sobretudo porque nós é que demonstramos não ter capacidade para resolver os problemas surgidos, criando problemas ainda maiores.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Estado de direito democrático não é só os órgãos de soberania estarem juntos, rirem-se uns com os outros, aparecerem na TV, dizerem aos jornais que nós estamos juntos. A Unidade Nacional não é encostarmo-nos uns aos outros para mostrar os nossos dentes ao povo. A Unidade Nacional, para ser consistente, tem de passar pelos nossos pensamentos e as nossas acções, tem de passar por ouvir a voz do nosso povo e ouvir os seus lamentos. Nós, os governantes, esquecemos sempre que: o povo pode sofrer, nós estamos bem, temos carros do Estado, temos casa do Estado, o povo sofre, continuamos a receber dinheiro, o povo passa fome, nós convidamo-nos uns aos outros para comer bem, beber vinho, o povo teme os tiros e nós andamos com uma forte segurança.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Por isso, não costumamos ouvir o lamento do povo porque estamos afastados de vós. O Povo está a sofrer, alguns têm a coragem de dizer “Guerra!”. Em vez de nós, os governantes, termos vergonha, mostramos que o sofrimento do povo não toca a nossa pele.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Estado não pode consentir isto. O Estado não pode consentir que haja armas ilegais no nosso país. Acredito que a FRETILIN também não pode consentir todas estas coisas. Se a FRETILIN consentir, a FRETILIN quer fazer uma nova história neste querido país.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">De quem é a responsabilidade? A justiça há-de determinar de quem é a responsabilidade! Todas estas coisas são muito graves! E é isso que hoje preocupa o Povo! E a própria FRETILIN tem de se preocupar com isso.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Por isso, APELO a todos que hoje ainda empunham armas, que as entreguem às Forças Internacionais e informem quem as distribuiu. Vocês não têm culpa, porque foram enganados por outras pessoas para se enterrarem. Se não entregarem essas armas, se as Forças Internacionais as encontrarem, isso significa que vocês querem guardar essas armas para matarem pessoas. Melhor, todos aqueles que receberam armas, vão entregar de imediato às Forças Internacionais. Não se esqueçam, têm de dizer quem as entregou a vós e para quê.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Já foi iniciado o Inquérito sobre a distribuição de armas a civis, assim como para saber que armas ilegais existem, de onde vieram e para quem, quem as pediu, quem as recebeu, quem na Alfândega as deixou sair. Todos os vossos nomes hão-de ser divulgados.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Aqueles que controlam a FRETILIN, ultimamente, gostam de gritar assim: vigilância máxima.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Agora, chegou o momento de eu pedir ao povo para fazer vigilância séria nos Distritos e Subdistritos, sobre aqueles que têm armas e distribuíram armas aos delegados ou a outras pessoas. Se sabem ou vêm pessoas com armas, mas que já as esconderam, informem as Forças Internacionais para eles as apreenderem, se estas pessoas não quiserem entregá-las. Se entregarem imediatamente, podem regressar a casa. Se forem teimosas, se escondem ou enterram as armas, hão-de responder perante o Tribunal, acerca da missão para a qual receberam a arma, e o motivo por que a esconderam, para matar quem. <br /><br />Companheiros <br />Querido Povo sofredor</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />Acredito mesmo que nós todos já percebemos que temos de pensar no sofrimento do povo em primeiro lugar. Enquanto Presidente da República, quando me desloco ao estrangeiro, falo sempre da mesma forma: Timor, é mesmo um caso de sucesso, porém esse sucesso só durou até 20 de Maio de 2002.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O processo de governação do nosso país é que mostra se ainda temos sucesso ou ainda não.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Acredito que esta grande crise, não dá garantias de sobrevivência ao Estado de direito democrático, nós ainda vamos atravessar esta ribeira suja para erguer algo de novo no nosso país, para fazer florescer os direitos humanos, a democracia, o amor e a paz. <br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Membros da FRETILIN <br />Querido Povo sofredor</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />Pergunto ao Primeiro-Ministro se ele tem conhecimento sobre a distribuição de armas a alguns delegados da FRETILIN, e ele responde que não sabe. Mas, mais tarde, ele soube, e mandou o Rogério para desarmar. E o Rogério enviou um ‘sms’ para Rai Lós, para barrar o caminho dos manifestantes que estavam contra o Governo, para queimarem os carros à noite, fazerem as ‘operações comando’ e esconderem-se durante o dia.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Nas reuniões que tive com ele, o Primeiro-Ministro falou sobre os grupos armados, dizendo que têm de ser desarmados e nunca me foi dito que, pelo menos, o grupo de Rai Lós fora armado pelo Rogério.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Primeiro-Ministro informou-me que, depois do tiroteio em Tasi Tolo, no dia 24 de Maio, no qual a FDTL capturou 4 armas da polícia, Rogério fez-lhe saber que as armas e as pessoas que morreram eram do grupo Rai Lós, lá colocado pelo próprio Rogério.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Na verdade, o Primeiro-Ministro informou o Brigadeiro Taur Matan Ruak acerca disto, que as armas da polícia não foram distribuídas pelo comando da polícia mas sim pelo Rogério. Eu penso que se o Primeiro-Ministro informou o Brigadeiro Taur, o Brigadeiro talvez não tenha chamado os civis para levarem as armas para Díli, com a FDTL, para procurar a polícia e matá-la.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu perguntei a ele, Primeiro-Ministro, se tinha conhecimento sobre armas ilegais que tivessem entrado no nosso país e ele respondeu que não sabia.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Todos os problemas que apareceram não são da sua responsabilidade. A conversa deles é a de empurrar sempre para os outros. Antes de ir a Portugal, pedi para resolverem o problema dos peticionários, dentro da própria instituição, isto é, dentro do quartel, para evitar que ‘lorosae loromonu’ explodisse para fora e estragasse a estabilidade e unidade nacionais.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele disse mesmo que o problema é um problema político e prometeu que ia fazer todos os possíveis para a sua resolução. Quando cheguei de Portugal, na internet foi divulgado que o Primeiro-Ministro afirmou que ‘não pode resolver, porque a petição não foi dirigida a ele’, para apoiar uma decisão para a saída dos peticionários.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Porém, no dia em que começou a manifestação dos peticionários, Antoninho Bianco leu um comunicado: ‘agora, o Primeiro-Ministro já pode resolver porque, pela primeira vez, oficialmente, recebeu a petição’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Todos os problemas que apareceram, que outras pessoas provocaram, que outras pessoas queriam, são para estragar a sua imagem, para baixar a [votação da] FRETILIN nas eleições de 2007.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Como os governantes, nos órgãos de soberania sentem e mostram que os problemas que surgiram não são da sua responsabilidade, eu digo a todo Povo e à FRETILIN.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Todos temem que, se Mari sair, a guerra regressa e há derramamento de sangue novamente.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Muitos estão preocupados que, se Mari cair, o Governo não funcione, as pessoas não recebam dinheiro e outras coisas. Também, se Mari cair, toda a bancada da maioria demite-se e o Parlamento deixa de funcionar.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Alguns dizem-me que temos de mostrar à Comunidade Internacional que existe uma normalidade institucional ou constitucional, senão é uma grande vergonha, se o trabalho das instituições for interrompido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Povo é que me escolheu. Como fui eleito, tenho de prestar contas ao Povo. Antes, de procurar satisfazer a comunidade internacional, eu tenho de curvar-me perante o Povo, sofredor, que me escolheu. O Povo pergunta-me, enquanto Presidente da República, onde está a minha responsabilidade quanto ao ‘garante da Unidade Nacional’ que se fragmentou, ‘garante da estabilidade’ que se desintegrou e ‘garante do funcionamento normal das instituições democráticas’ que paralisaram.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Como Presidente da República eleito pelo Povo, não pelo braço no ar mas por voto directo e secreto, eu tenho mesmo vergonha, porque eu não agarrei bem a minha responsabilidade. Por isso, estou pronto para assumir esta responsabilidade.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Presidente da República é um órgão de soberania. Uma só pessoa, eu sozinho, sou o Órgão de Soberania.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em conformidade com a Constituição, se o Presidente da República se demitir, o Presidente do Parlamento, Lu-Olo, assume o cargo de Presidente da República, promulga as leis para melhor as poder violar.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Tudo pode continuar a funcionar. O Governo continua a governar para tapar todos os buracos na cidade de Díli e também o Parlamento pode continuar a levantar o braço, para alimentar a mulher e os filhos. No Parlamento, não existem problemas: Jacob Fernandes não há-de pensar em guerra porque passa a ser o Presidente do Parlamento.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Uma coisa muito importante: este servo nunca há-de dizer que se for destituído, o povo há-de sofrer e que Timor fica arrasado. Por isso, a estabilidade continua forte e eu acredito que se os órgãos de soberania estiverem unidos, Timor avançará.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Assim, a FRETILIN é que escolhe. Não é a Direcção da FRETILIN, que é ilegítima porque viola a Lei e a Constituição.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Ou pedem responsabilidade ao vosso camarada Mari Alkatiri sobre esta grande Crise, sobre a sobrevivência do Estado de direito democrático ou, amanhã, eu próprio envio uma carta ao Parlamento nacional a informar que me demito de presidente da República porque tenho vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem para enfrentar o povo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Finalmente, apelo à calma de todos porque neste momento difícil temos de reflectir profundamente para que esta violência e destruição não se repita no nosso país!<br /><br /><br /></span></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-1164245854202697492006-11-28T01:35:00.000+00:002007-02-27T18:13:54.322+00:00A Teoria das conspirações I (continua) por Xanana Gusmão<div style="text-align: justify;font-family:trebuchet ms;"><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"> <span style="font-weight: bold;">A teoria das conspirações</span><br /></div><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;"> I</span><br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Hoje, o Timor-Leste livre e independente, é um espaço territorial onde as pessoas vivem ou com medo, ou com desconfianças ou com acusações.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A sociedade tornou-se ela mesma o veículo célere das informações deturpadas, dos rumores que se criam, das cartas anónimas que agradam tanto a muitas pessoas, que consideram isso tudo como a arma da propaganda (que, por acasos do destino,) aparecem sempre em sua defesa.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Nesta República Democrática, as pessoas supostamente idóneas já não dão a cara, porque fazem tudo no obscuro dos engendros tecnológicos, produzindo o maná que sòmente sacia a sua vontade irreprimível de se satisfazer ou de satisfazer quem pode garantir o espaço... de dignidade, que não encontrariam em outros espaços ou condições.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A moral deixou-se subjugar pelo insaciável desejo de retêr os benefícios pessoais, em nome da história e de outros incongruentes argumentos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A nossa sociedade tornou-se uma sociedade mórbida, uma sociedade em que os sorrisos são falsos e em que o pensamento é orientado para a promiscuidade dos interesses muito mesquinhos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A nossa sociedade tornou-se uma sociedade amorfa de sentimentos, porque os sentimentos deixaram de ser humanistas, para serem medidos pelo dinheiro.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ultimamente, elites intelectuais e políticos tentam entreter-nos com teorias de conspiração.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">No mundo moderno, assistimos também a muitas teorias de conspiração, inventadas por governos e países, que tentam iludir a consciência dos seus cidadãos, no intuito de legitimar as acções perversas que esses governos e países cometem em relação aos seus próprios cidadãos e em relação a cidadãos de outros países.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">As teorias de conspiração nascem sobretudo de cérebros que não produzem, desses cérebros que só pensam e pensam mal, porque pensam que o que pensam é uma ciência incontornável.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">As teorias de conspiração ganham a sensação de ‘verdade’ para essas pessoas que vivem o tempo, formulando essas teorias, porque essas teorias ficaram a ser a realidade diária do seu pensar.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Por outro lado, há pessoas que gostam de apresentar teorias de conspiração para poderem aparecer como as vítimas injustas... dos seus próprios actos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Essas pessoas, normalmente, padecem de uma enorme falta de segurança. Sofrem a paranóia de que são perseguidas. As teorias de conspiração que tecem à sua volta, são uma forma de se sentirem seguros, na sua própria consciência ou, em melhores palavras, no seu ‘ego’, porque repelem toda e qualquer ideia ou possibilidade de erro.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Essas pessoas, afinal das contas, têm medo de si mesmas, têm medo da conclusão que as suas consciências possam dizer que erraram.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Assim as teorias de conspiração ilibam-nas de qualquer sentimento de culpa.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas o pior de tudo isso, é que os seus seguidores se tornam os melhores agentes de uma rede que montaram para impôr, ao mundo, essa teoria de conspiração. Tem os seus porta-vozes espalhados em muitos países, como a Austrália e Portugal. Esses seus representantes puderam sair do ostracismo, em que se encontravam, e hoje revelam-se fulgurantes máquinas de informação e de propaganda... da conspiração.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E fazem tudo – aproveitam a inventar histórias, aproveitam a distribuir as cartas anónimas (que eles próprios produzem), aproveitam a acusar outras pessoas. Em suma, passaram a uma orquestrada ofensiva... em sua própria defesa!</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;"> II</span><br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Todos pudemos ter acesso ao documento intitulado </span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >‘Análise da situação e perspectivas’</span><span style="font-family:trebuchet ms;">, feito pelo Comité Central da Fretilin, de 29 de Outubro findo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Como Presidente da República, apesar de não me surpreender, devo dizer que me perturba o teor político da análise que o CCF emitiu:</span><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">‘I. A crise, as suas causas e desenvolvimento</span><br /></div><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >A crise vivida em Timor-Leste radica-se, essencialmente, num conflito de natureza política onde o desrespeito pela ordem constitucional democrática e os meios e formas de agir reflectem o carácter profundamente anti-democrático e golpista.’</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Desta lindíssima frase, podemos tirar duas peças importantes que sugerem a total falta de honestidade política e representam um insulto às mentes comuns de cidadãos comuns:</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" > a. ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’</span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" > b. ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O documento enumera vários acontecimentos que o Comité Central da Fretilin considerou reflectirem a natureza e o carácter de uma conspiração que veio apresentando as mais diversas facetas.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O CCF teve o cuidado de juntar diferentes peças para fazer um carro e isso lembra o caso da Oficina dos Veteranos, em Taibesse, onde entrava um Land Cruiser e saia um Tata. (O malasiano que trabalhava ali, em sociedade com respeitadas pessoas, estragou o nome e a credibilidade da oficina, tendo partilhado com os seus sócios centenas de milhares de dólares... e foi ajudado a fugir, para ilibar os seus sócios. Quem pagou com aquilo tudo, foram os pobres veteranos da oficina.)</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E o documento continua assim:</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >‘As acções para pôr em causa a ordem constitucional reuniram actores internos e externos e </span><span style="font-family:trebuchet ms;">passaram por diferentes etapas</span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" > e tomaram as mais diversas formas’.</span><span style="font-family:trebuchet ms;"> ( O tracejado é meu!)</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">1.</span> O primeiro argumento é sobre uma <span style="font-weight: bold;">‘tentativa de forçar a criação de um Governo de Unidade Nacional em 2002’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando se utiliza a palavra ‘forçar’, quer-se dar a ideia de ‘uso de força’ ou, no mínimo, ‘uma pressão política de tal ordem que inviabilizou, mesmo momentâneamente, um determinado processo’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O ‘Lapanggan Pramuka’ denominou-se ‘Campo de Democracia’ por um evento (agora, sim, percebemos que foi totalmente anti-democrático) que reuniu todos os partidos políticos da altura, concorrentes às eleições para a Assembleia Constituinte. Eu disse atrás ‘reuniu’ e queria dizer juntou, fez aparecer juntos no evento.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ninguém, quanto a mim, forçou ou obrigou a Fretilin a tomar parte do evento. (Devo dizer que foi essa a minha percepção, naquela altura, já que eu estava totalmente fora do processo político em Timor, sendo um cidadão ordinário, totalmente livre de estatutos e privilégios).</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ao que eu sabia, na altura, foi que:</span><br /><ul style="font-family: trebuchet ms;"><li>considerando-se que o factor da Unidade Nacional foi crucial nos tempos difíceis da Resistência,</li><li>considerando-se também a pouca firmeza do espírito democrático da população em geral, ainda com os ressentimentos provocados pela violência e destruição de Setembro de 1999,</li><li>considerando-se que a ruptura feita pela Fretilin com o CNRT, em Agosto de 2000, tornava o processo democrático bastante frágil e</li><li>considerando-se que essa fragilidade democrática foi tantas vezes posta à prova em todo o 2000 e 2001,</li></ul><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Se tornava necessário que os Partidos se juntassem num esforço de apelo e compromisso à Unidade Nacional, assinando eles todos o Pacto de Unidade Nacional.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A Fretilin participou e assinou o documento e eu acredito sinceramente, ninguém forçou, ninguém obrigou nem ninguém ameaçou de morte os históricos líderes da Fretilin.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Foi esse documento que, posteriormente, partidos e pessoas utilizaram para mencionar esse tal Governo de Unidade Nacional. Mas o facto de as pessoas criticarem e mencionarem o Pacto de Unidade Nacional, como argumento para as suas ideias, pode ser já considerado que reflecte um ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A Constituição foi aprovada, com a Fretilin detendo a maioria absoluta, na Assembleia Constituinte (onde os deputados eram também o Dr. Mari Alkatiri, a Dra. Ana Pessoa, o Dr. José Reis, o Dr. José Manuel Fernandes e outros tantos distintos).</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A Constituição garante, no seu artigo 40.º, a liberdade de expressão e de opinião e, afirma expressamente, essa liberdade ‘não pode ser limitada por qualquer tipo de censura’.</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">2.</span> O segundo argumento é de que houve uma <span style="font-weight: bold;">‘pressão política a favor de novas eleições em 2002’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Fui um dos defensores desta ideia e por uma razão muito simples! As eleições de Agosto de 2001, foram para o quadro de uma Assembleia Constituinte. Assistimos a um processo muito democrático de campanhas, contudo todos os partidos fizeram as suas campanhas centrando na elaboração de uma Constituição para a República.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Nenhum Partido apresentou, na altura, um programa político de governo ao eleitorado, ao Povo. No início, como estávamos e estamos, de exercício de soberania, o povo tem que ser educado a eleger os seus representantes pelos programas que os partidos apresentam.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Defender esta ideia, expressar esta ideia em voz alta, é já fazer ‘pressão política’? Como disse atrás, ‘pressão política’ só pode ser percebida se houve ‘acções que, mesmo que momentaneamente, tivessem inviabilizado um processo’. E não houve!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Se, falar para se expressar uma ideia, é já pressão política, a Constituição não tem valor! E a CPD-RDTL tinha razão: a restauração da independência (proclamada em 28Nov75) devia restaurar tudo, a começar pela Constituição da RDTL de 1975! E restaurava-se também o I Presidente da República, Francisco Xavier do Amaral!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas, onde é que este país vai parar se todos temos que nos curvar aos desejos supremos de um Partido de maioria no poder? Onde é que este país vai parar, se os interesses do Partido da maioria devem sempre prevalecer?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E verdade seja dita, esses interesses têm prevalecido: a mudança automática da Assembleia Constituinte para o Parlamento Nacional, é um facto! Reclamou-se, mas a mudança foi sempre respeitada! Pode-se enumerar as incontáveis vezes em que os interesses da maioria sempre prevaleceram! Ninguém se vai esquecer da célebre frase: ‘não vamos mudar nem um ponto nem uma virgula’!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Com todo este poder para fazer prevalecer os seus interesses, vem o CCF (do Congresso de Maio de 2006) afirmar que houve pressão política para novas eleições em 2002 e que isso constitui um ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’? E o facto de se defender esta ideia, reflecte um ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Por amor de Deus, Senhores Doutores!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quem tem culpa agora? Não terá sido a maioria da Fretilin na Assembleia Constituinte, que redigiu uma Constituição democrática, mas com premissas ideológicas diferentes? Ou é, realmente, essa teoria de uma conspiração bem urdida de golpe, com envolvimento de actores internos e externos?</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">3.</span> O terceiro argumento apresenta <span style="font-weight: bold;">‘a tentativa de derrube do Governo a 4 de Dezembro de 2002’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Esta afirmação só revela a hipocrisia política do Comité Central da Fretilin, democratica e transparentemente eleito no Congresso de Maio de 2006!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quem estabeleceu uma Comissão de Investigação sobre o 4 de Dezembro de 2002? Não foi o Governo? O tal I Governo constitucional da República Democrática de Timor-Leste, eleito democráticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001? O Governo do Senhor Dr. Mari Alkatiri, da Senhora Dra. Ana Pessoa, do Sr. Lu Olo, para todos se lembrarem que era o Governo da Fretilin?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Porquê, passados 4 anos, nenhum relatório saíu ao público sobre o 4 de Dezembro? Porque o Governo do Senhor Dr. Mari Alkatiri e da Senhora Dra. Ana Pessoa, não revelou o que a Comissão terá achado, de todo o acontecimento de 4 de Dezembro?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não será que houve já indicações do envolvimento de ‘actores internos e externos’ para um golpe? E porque não foi revelado? E, muito importante, quem foram, quem eram esses actores?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O que está registado na mente das pessoas é que o problema começou com a actuação da polícia, na Escola Primária ’28 de Novembro’, gerida por professores pertencentes à CPD-RDTL. No dia seguinte, houve a tal manifestação, à frente do Parlamento Nacional, e o possível envolvimento conflituoso de membros do Governo e deputados. Mais nada se sabe, porque toda a gente ficou à espera do resultado da investigação, que ainda não apareceu.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não, não se aceita nem se pode admitir que, 4 anos depois, o Comité Central da Fretilin (do Congresso de Maio de 2006) venha a dizer que foi uma tentativa de derrube do Governo, sem mencionar os mínimos dados sobre a investigação realizada, depois do 4 de Dezembro de 2002!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Por favor, Senhores Doutores, sejamos honestos! Este é tipo de contra-informação que o povo já conhece, desde os tempos da ocupação indonésia. E foram 24 anos de vivência com o sistema de informação e contra-informação promovido pelo regime, Senhores Doutores! Alguns vossos camaradas, membros do Comité Central da Fretilin, sabem que nós sabemos que eles sabem ... dessa experiência, que vós estais a aplicar!</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">4.</span> O quarto argumento refere às <span style="font-weight: bold;">‘manifestações públicas durante o ano de 2003 usando diferentes franjas da população’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Tentei lembrar-me das manifestações que houve em todo o ano de 2003 e só consegui lembrar-me de duas, possivelmente em 2003, mas podem ser de 2004. Uma, lembro-me com clareza, porque me pediram para lá ir falar, foi organizada pela CPD-RDTL. Na altura, o Primeiro-Ministro estava em Darwin. Falaram sobre o problema de ‘antigos combatentes’ e outras discordâncias em relação à Constituição, porque a CPD-RDTL sempre defendeu a Constituição de 1975.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Uma outra, foi promovida por condutores de taxi, de ‘anggunan’ e de ‘mikrolet’, exigindo a redução do preço do combustível.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não consegui lembrar-me de outras que tenha havido.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Comité Central da Fretilin (do Congresso de Maio de 2006) está a afirmar que, na República Democrática de Timor-Leste, não deve haver manifestações contra o Governo! Porque isso só revela o ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’ e reflecte ‘o carácter profundamente anti-democrático e golpista’!!!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quem tem a culpa? Não é a bancada da maioria da Fretilin na Assembleia Constituinte, (onde estavam também o Sr. Dr. Mari Alkatiri e a Sra. Dra. Ana Pessoa), que redigiu a ‘imundície da democracia’ (as palavras não são minhas) na Constituição da RDTL, a qual, no seu artigo 42.º, garante a liberdade de reunião e manifestação?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O actual Comité Central da Fretilin deve admitir que foram os Senhores Doutores da Fretilin que deram margem constitucional para as pessoas pensarem e agirem com o ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, porque se lhes deu liberdade para isso. E as pessoas aproveitaram-se, ‘usando diferentes franjas da população’ para manifestações de ‘carácter... golpista’!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O verbo usar pede um sujeito... objectivo! A pergunta é: quem, objectivamente, ‘usou’ ou estava ‘usando’? Quem, objectivamente, são os actores internos e quem, objectivamente, os actores externos?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Porque o Comité Central da Fretilin não mencionou a identidade dos ‘actores’, para se provar com clareza as intenções ‘golpistas’, o que se pode dizer é que o documento é uma análise objectiva das próprias maquinações políticas do CCF!</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">5.</span> O quinto argumento é sobre uma <span style="font-weight: bold;">‘tentativa de manipulação política dos problemas dos veteranos com a organização de uma manifestação com o ex-comandante L7 e outros veteranos em 2004’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A linguagem política utilizada pelo Comité Central da Fretilin é que é, na verdade, uma manipulação política dos factos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando o Comité Central da Fretilin escreve: ‘com a organização de uma manifestação com o ex-comandante L-7 e outros veteranos’, o CCF pretende dizer que alguém organizou a manifestação e, portanto, o L-7 foi utilizado, foi instrumentalizado.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Em primeiro lugar, devo dizer que o Comité Central da Fretilin (do Congresso de Maio de 2006), tomou as consequências como a causa, invertendo propositadamente os problemas. O CCF tomou a manifestação como um facto de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’ e não considerou os ou todos os antecedentes que provocaram a manifestação.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Comité Central da Fretilin, talvez porque tenha muitos elementos novos ou porque tenha ainda muitos elementos antigos, esqueceu-se do acontecimento de Fatu Naba, onde a polícia revistou o carro do L-7, (sob a suspeita de levar armas, porque havia informações, na polícia, de que L-7 ia distribuir armas em Same, mas ele tinha ido para lá para assistir a um casamento) e retirou-lhe o carro, entregue pelo Governo para umas actividades, que nunca foram executadas.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Comité Central da Fretilin descurou-se de ver que a acumulação de problemas (pequenos, na maioria) entre a polícia e veteranos e entre a polícia e elementos das F-FDTL, ficou agudizada com o incidente de Fatu Naba.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Que eu me lembre, o próprio Primeiro-Ministro me disse ter visto um encontro entre o ex-comandante L-7 e o Presidente do PSD, no City Café. Chegou o momento preciso para que o CCF aclare isto tudo, de vez. Que eu concorde que tivesse havido um aproveitamento político desse problema, com a inclusão de um caixão na manifestação, é uma coisa! Mas ‘manipulação política’, é o que o CCF está a fazer!</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">6.</span> O sexto argumento refere-se à <span style="font-weight: bold;">‘manifestação organizada pela hierarquia da Igreja Católica em 2005’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Comité Central da Fretilin sofre de uma miopia política de análise que impressiona. O CCF tem um comportamento de cágado que esconde a cabeça em defesa de supostos ataques, pela aproximação de pessoas ou animais, e que não tira a cabeça da carcaça mesmo que as pessoas ou animais estejam já à distância, só por causa da sensação ou do medo de algum (suposto) ataque.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O CCF só sabe olhar para os actos de outros, para ver se descobre se o seu Governo é alvo de críticas e encobre os actos do seu Governo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Agora, se pode perceber que, para o CCF, se há elogios ao Governo, existe o respeito pela ordem constitucional democrática. Se há críticas, existe o ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Agora também se pode compreender que se há concentrações organizadas pela Fretilin, há o respeito pela ordem constitucional democrática e se há manifestações contra o Governo, existe o ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Estou a gostar imenso da expressão ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, expressão que revela a suma sapiência de doutores formados em países democráticos, durante 24 anos, enquanto o povo resistia, sem doutores, para ganhar a guerra!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O actual CCF esqueceu-se de averiguar junto do seu camarada Secretário-Geral, reeleito no Congresso de Maio de 2006, se o Presidente da República não sugeriu, alguma vez, e não insistia, por mais de uma vez, ao então Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional, eleito democraticamente, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001, para, de quando em quando, ter reuniões com os dois Bispos e se o então Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional, eleito democraticamente em Agosto de 2001, nas eleições para a Assembleia Constituinte, prometeu fazê-lo e nunca fez.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O mesmo se pode dizer em relação aos Partidos políticos da oposição, como necessidade de trocar impressões, de informar sobre as políticas do Governo, aliviando-se assim as tensões já existentes.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu agora posso acreditar que o Senhor Dr. Mari Alkatiri irá informar, a pés juntos, ao distinto Comité Central da Fretilin que isso tudo não e nunca aconteceu!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O que se pretendia com essas sugestões (imbecis) do Presidente da República?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Sujeitar os supremos interesses do governo e da maioria parlamentar à Igreja e aos partidos da oposição? Ou, reduzir as tensões e abrir caminho para alternativas ou opções na solução de problemas ou, no mínimo, a mútua e franca aceitação de diferendos?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Prove-se o que se queira provar, mas ponham-se os factos com clareza!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Terá havido actores internos, na manifestação da igreja? Seriam os dois Bispos! Seriam apenas eles ou também o Sr. Pe. Filomeno Jacob e a Sra. Fernanda Borges? Será que o Pe. Filomeno Jacob e a Sra. Fernanda Borges abordaram as F-FDTL no sentido de actuarem num golpe?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Ponham as cartas na mesa, Senhores Doutores do CCF, do Congresso de Maio de 2006!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Terá havido actores externos? O Núncio Apostólico, da altura, fez uma homilia, que mereceu a crítica de todos! E todos sabemos a decisão que o Vaticano tomou! Terá sido o ex-embaixador americano Rees, que foi visto e fotografado junto dos manifestantes? Então que se prove a intenção do golpe!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Povo não pode continuar a viver sob o fantasma do golpe!</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">7.</span> O sétimo argumento é <span style="font-weight: bold;">‘a manifestação dos peticionários em Abril de 2006’</span>.<br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mais uma vez o Comité Central da Fretilin revela uma fantástica capacidade de distorcer os factos a seu favor, para se colocar como a vítima mais sofredora da crise, o que reflecte o grau e a intensidade dos valores que os seus membros absorvem.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mais uma vez, os distintos membros do CCF, eleitos legitimamente no Congresso de Maio de 2006, confundem uma consequência com a sua causa.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Acredito que haja membros do CCF novatos e que desconhecem alguns factos, mas admira-me que um Senhor Dr. José Manuel Fernandes, (que foi Vice-Presidente de uma Comissão de investigação, em 2004), um Senhor Dr. Roque Rodrigues (que foi membro dessa Comissão, como representante do Governo, sendo ainda Secretário de Estado de Defesa), uma Senhora Dra. Ana Pessoa (Presidente da Comissão dos Notáveis), um Senhor Lu Olo (Presidente do Parlamento Nacional que recebeu o Relatório da Comissão de 2004) e o Senhor Dr. Mari Alkatiri, não se lembraram de que uma Comissão dos Órgãos de Soberania fez uma investigação à instituição das F-FDTL e apresentou uma série de recomendações ao I Governo constitucional, eleito democraticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu acredito que o CCF teria perguntado ao seu Governo se as suas instituições competentes (ou incompetentes) fizeram algum progresso na resposta a alguns problemas de fundo, detectados nas F-FDTL.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A Comissão apresentou o seu Relatório em Agosto de 2004 e fez as recomendações com um único objectivo: ajudar a instituição que, no fim das contas, pertence a todos, pertence ao Estado, pertence ao povo, (e não pertence à Fretilin) a resolver os vários problemas que enfrentavam, como um apoio fundamental à sua constante melhoria e profissionalismo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O CCF não teve em conta que a expulsão em 2005, de 42 membros das F-FDTL, foi pelo não cumprimento da recomendação relativa ao sistema de pagamento de salários, que devia ser directamente aos familiares dos militares, com incidência aos que viviam na parte ocidental do país.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu tenho a certeza de que Presidente do Partido, o Sr. Lu Olo, foi mal informado pelo membro do CCF e ex-Ministro de Defesa, de que fora eu que estabelecera uma Comissão, depois da 1.ª saída dos peticionários. O que fiz, foi pedir aos dois distintos deputados, Sr. Gregório Saldanha e Sr. Paulo Assis, como membros do Conselho Superior de Defesa e Segurança, para serem observadores do processo de investigação que uma Comissão interna, liderada pelo Major Koliati, iria fazer. Foi o membro do CCF, o Senhor Dr. Roque Rodrigues, quem não concordou com a minha ideia de os dois distintos deputados encabeçarem uma Comissão, porque, segundo ele, ‘retiraria a autoridade do comando’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu acredito que o membro do CCF, Sr. Dr. Roque Rodrigues, não informou o CCF, correctamente e em detalhe, da reunião de cerca de três horas e meia, que tive com esse Senhor, enquanto Ministro de Defesa, e o Coronel Lere, na presença dos dois distintos deputados, um dos quais, penso que é também membro do CCF.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu tenho a absoluta certeza de que o CCF não sabe que o Presidente da República fez tudo o que estava ao seu alcance para gerir correctamente o problema, tendo permanecido até mais da meia-noite, com o coronel Lere, para persuadir os peticionários a regressar aos quartéis.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A questão que se colocava, era: a solução de os expulsar, ali mesmo, era muito fácil! E lembrava-me do TNI dizer: se um soldado indonésio é morto, pelas Falintil, virão cem em sua substituição! Quando se pensa em termos numéricos, a solução mais fácil que se apresentava era de dizer-lhes, na cara: vão embora para casa! Acabou a festa!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Como Chefe do Estado, eu não deveria ser tão simplista neste raciocínio! Porque fui o Presidente de uma Comissão dos Órgãos de Soberania, em 2004, depois dos acontecimentos de Lospalos, cujos resultados nos recomendaram uma maior atenção às nossas Forças, para as não deixar cair no abismo da nossa falta de preocupação! Porque eu tinha informado, no ano passado, ao Conselho Superior de Defesa e Segurança, da insatisfação havida no seio das forças e que ameaçava o desmoronamento parcial daquela Instituição. Como Chefe do Estado, eu deveria esgotar todas as possibilidades de solução, antes de se tomar uma decisão drástica, como a de expulsá-los tão pura e simplesmente.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu tenho a certeza de que o CCF não analisou, com a isenção que o assunto merece, a situação que decorreu em Metinaro, após o regresso dos peticionários. Digo ‘com isenção’, porque a questão que se colocava não era a de ‘defender os peticionários’ ou ‘apoiar os peticionários’, mas ‘prestar o melhor apoio às F-FDTL no sentido de gerir com maturidade, que era exigida, os seus problemas internos’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Presidente do Partido, Senhor Lu Olo, não se lembrou de informar ao CCF que houve no Parlamento Nacional, por parte de partidos, pedidos para agendar apenas a discussão do problema, que pediria talvez uma intervenção do Parlamento Nacional, para se encontrar uma solução justa e equilibrada. Eu acredito que o Senhor Presidente do Partido histórico não fez isso, isto é, não informou ao CCF, porque seria reconhecer que ele nunca fez caso a esses pedidos e reconheceria também que os distintos membros do CCF, no Parlamento Nacional, defendiam que o PN não deveria interferir em assuntos puramente militares e disciplinares das Forças.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A Lei Orgânica das Falintil-FDTL, no seu artigo 8.º, diz que ‘os Órgãos do Estado directamente responsáveis pelas Falintil-FDTL, são os seguintes:</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> a. Presidente da República</span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" > b. Parlamento Nacional</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> c. Governo</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> d. Chefe do Estado-Maior General das Falintil-FDTL’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Os Senhores doutores do CCF, membros do Parlamento Nacional, ainda se devem lembrar da recente cerimónia de Abertura da última Sessão Legislativa, onde deputados de diferentes bancadas lembraram que tanto a bancada da maioria sempre rejeitou como o próprio Presidente do Parlamento nunca agendou os pedidos para que o Parlamento Nacional debruçasse sobre o assunto das Forças, que são uma instituição do Estado e que merece todo o apoio necessário.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Apoiar não significa, com certeza, satisfazer ou agradar! Apoiar significa ajudar a resolver o/s problema/s que a instituição, por si mesma, talvez não fosse capaz. Quando apoiar tem já o sentido de passar uma esponja por possíveis erros cometidos pela instituição, o verdadeiro resultado é ‘estragar, desmoronar, enterrar’ essa instituição.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E foi isso que aconteceu, por parte da Fretilin, por parte do Governo e por parte da bancada da maioria no Parlamento!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Secretário-Geral do Partido afirmou em várias ocasiões que as F-FDTL estavam mais ‘vinculadas’ ao Presidente da República! Eu não sei se ele disse isso por sarcasmo ou por ingenuidade!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Presidente da República só foi em visita de trabalho aos quartéis, durante o processo de investigação, em 2004 e só teve ainda uma primeira visita oficial, como Comandante Supremo (pela Constituição), ao Quartel-General em Tasi Tolu, nos finais de 2005.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Sendo o Ministro de Defesa um membro do CCF, que viveu 5 anos sem interrupção, em casa do Comandante das Forças, é impressionante que se diga que as F-FDTL estavam mais ‘vinculadas’ ao Presidente da República. Sendo o Comandante das Forças convidado a participar em reuniões do Conselho de Ministros e outras reuniões de defesa e segurança com o Primeiro-Ministro, é preciso ter-se uma grande dose de humor para se dizer que o Presidente da República podia manter um vínculo com as F-FDTL. É preciso lembrar-se que, a partir de Fevereiro de 2001, o ex-comandante das Falintil se desvinculou totalmente das Forças, tendo-se integrado no programa da FRAP, do Banco Mundial, e recebeu também os 500 dólares americanos para a sua própria reinserção na sociedade.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Enfim, este país está entregue às magníficas análises políticas dos ilustres doutores do CCF!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas não ficou tudo dito! Porque é necessário dizer ao CCF que, no caso da manifestação dos peticionários, tomaram-se as consequências (da má política de gestão dos problemas) como a causa. E que causa! Prova de conspiração e tentativa de golpe, causa ‘do caos e da ingovernabilidade’ do I Governo Constitucional, democraticamente eleito nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu penso que o Secretário-Geral do Partido não informou ao CCF de, pelo menos, uma questão que eu acho crucial no problema.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu não nego que o Governo se esforçou, no que pôde, para resolver o problema dos peticionários. Antes de ir a Portugal, em Março, para a tomada de posse do Presidente Cavaco Silva, reuni-me com o Primeiro-Ministro e tentando explicar que o termo Lorosa’e-Loromonu era uma capa que se estava a apresentar para encobrir os problemas internos na instituição das forças e que devia ser resolvido, solicitei os seus bons ofícios, já que, se isso continuasse, poderia trazer graves consequências para a estabilidade nacional com impacto muito negativo para a Unidade Nacional.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Primeiro Ministro agradeceu-me a ‘confiança política depositada’ e prometeu fazer tudo ao seu alcance para encontrar a melhor solução. Parti confiante para Portugal, já que a minha vontade era de permanecer no país, para também ajudar a encontrar uma solução justa e equilibrada.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Já em Lisboa, soube pela Internet, que o Primeiro Ministro teria declarado que ‘não podia resolver o problema, porque a petição não tinha sido dirigida a ele’. Dias depois, veio o comunicado do Comando a considerá-los desvinculados. O Primeiro Ministro apoiou a decisão e o Presidente da Fretilin veio à imprensa afirmar que ‘nem o Presidente da República podia mudar a decisão’, seguido por outras vozes, possivelmente de próprios membros do CCF.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Parecia que era um medir de forças quanto às competências na tomada de decisões, entre os Órgãos de Soberania!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Perguntava a mim mesmo se o motivo que levava as diversas entidades do Estado a pronunciarem-se sobre esta questão das F-FDTL, era genuíno, em termos de ajudar a resolver os problemas! Será que não houve interesses encobertos numa repentina tomada de posição em defesa da instituição militar?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu sou do Lorosa’e, eu reorganizei as Forças, eu reorganizei a Resistência! Será que as pessoas só puderam entender o meu esforço de solução dos problemas, como uma tentativa de proteger os peticionários? Só porque mandaram a petição para mim? Será que as pessoas chegaram à conclusão de que os peticionários eram meus protegidos, porque são meus familiares ou porque eles, peticionários, eram as ‘minhas forças’?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu sei que o CCF, eleito democratica, legitima e transparentemente no Congresso de Maio de 2006, não podia considerar estas questões, porque seria inaceitável submeter os interesses supremos do Partido a um indivíduo, como o Presidente da República!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Cheguei de Lisboa e fiz uma Mensagem à Nação, tida como aquilo que pôs fogo no rastilho (e da qual mensagem estou pronto para ir depôr perante o Tribunal, assim como mais actos praticados, enquanto Presidente da República)!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Entretanto, tentava-se buscar soluções, criando incentivos aos peticionários. Mesmo assim, até que se implementassem os programas de assistência, chamei a atenção do Primeiro Ministro para o facto de a desvinculação carecer ainda de um processo legal, porque não bastava o Comando declarar essa desvinculação para a imprensa. Nesse sentido, solicitei ao Primeiro Ministro para ver a questão dos salários, a que ainda tinham direito, por não haver base legal para não o merecerem, ao que, o Primeiro Ministro me garantiu que não haveria problemas e que iria agilizar o processo.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">À saída do meu gabinete, o Primeiro Ministro declara à imprensa que era um sonho, se os peticionários pensavam que iriam receber os seus salários. Quando li os jornais no dia seguinte, fiquei impressionado com a vontade expressa, a mim, de reduzir as tensões, que entretanto iam aumentando, e a mudança, em minutos, dessa vontade. Perguntado posteriormente, o Senhor Dr. Mari Alkatiri disse-me que reagiu a uma declaração do Gastão Salsinha de que eles não saíram dos quartéis, por causa do dinheiro, mas para obrigar a corrigir alguns erros cometidos na instituição das Forças.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Todo sabiam que haveria manifestação, já que o grupo comunicou, às instâncias competentes, essa intenção.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">No primeiro dia da manifestação, logo pela manhã, uma delegação tem uma audiência com o Primeiro Ministro. O Senhor Dr. Antonino Bianco, membro do CCF, faz sair imediatamente um comunicado em que dizia: ‘agora, sim, o Primeiro Ministro já pode resolver o problema, porque é a primeira vez que recebe oficialmente a petição’.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Fiquei surpreendido mas, mais embasbacado, quando muitas horas mais tarde, recebo também a delegação, abro o envelope e leio o conteúdo. Não era uma petição, eram exigências, inaceitáveis, por parte do grupo do Gastão Salsinha. Pensei que, afinal, estávamos apenas a brincar com as competências, de quem pode mais, de quem pode tomar decisões e de quem não.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E eu quero aqui frisar que, para além do CCF e todo o histórico Partido, ninguém acreditou na história fabricada pelo Presidente do Partido e Presidente do Parlamento Nacional, Senhor Lú Olo, de que a delegação dos peticionários entregou uma carta de um Partido dirigida a mim, em lugar de um documento de reivindicação do grupo. O envelope que foi aberto aos chefes de bancada, chamados para testemunhar, não tinha nada escrito. Os doutores da Fretilin no Parlamento esqueceram-se de, pelo menos, escrever ‘Para Sua Excelência, o Presidente do Parlamento Nacional’, como o grupo fez nos envelopes que foram entregues ao Primeiro Ministro, ao Presidente do Tribunal de Recurso e a mim.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu não sei se chamarei a isso contra-inteligência ou contra-informação. A certeza é porém uma: de inteligente, há muito pouca relação. Será, no mínimo, necessário um pouco mais de esperteza apenas!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando o I Governo Constitucional, eleito democraticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001, anunciou a formação da Comissão dos Notáveis (encabeçada pela membro do CCF, a Dra. Ana Pessoa), o Presidente do Partido, Senhor Lu Olo, resolve fazer passar uma Resolução de apoio, no Parlamento Nacional!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Aí, já deixou automaticamente de existir a questão de interferência nos assuntos internos, institucionais, militares e disciplinares das F-FDTL! Porque a Fretilin decidiu que não havia interferência de nenhuma ordem, porque um membro do CCF iria encabeçar essa Comissão!</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O que é que a Comissão vai decidir? Validar a decisão de expulsão? Não vale a pena perder tempo, porque já foram expulsos... desde 1 de Março de 2006.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Averiguar os motivos da petição? E porque não se fez, desde o início, para evitar que tudo desmoronasse, como aconteceu?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Para revelar que, eventualmente, houve alguns erros cometidos nas F-FDTL? Se é isso, onde é que está o respeito que todos devem aos nossos heróis? Então, a Comissão não aprendeu que foi o Presidente da República que provocou isto tudo, por total falta de respeito aos heróis da Libertação da Pátria? Então, a Comissão não se lembra já das afirmações do Presidente do Partido, Senhor Lu Olo, que veio em defesa das Falintil, que foram criadas pela Fretilin?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A Comissão, hoje, não tem medo de ser acusada de desonrar os Aswain? Então, a Comissão já se esqueceu que o Partido declarou que quem ofende as Falintil, ofende a Fretilin, porque foi a Fretilin que criou as Falintil?</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Quem pode responder é o membro do CCF que é hoje Presidente da Comissão dos Notáveis! O que eu posso antever é a Comissão dizer que, segundo o Regulamento n.º 2001/12, da UNTAET, a decisão de expulsão foi a mais justa. Se é isto, não é preciso perder tempo! É melhor que o membro do CCF e Presidente da Comissão dos Notáveis, comece já a cuidar do STAE para as próximas eleições</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Enfim, ao utilizar o argumento da ‘manifestação dos peticionários’, o CCF inverteu os factos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Espero que a Comissão dos Notáveis possa revelar, em pormenor, para todo o povo saber, o plano de conspiração e de golpe, que vier a saber das declarações dos militares das F-FDTL.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Já que não posso exigir a entidades históricas que merecem o meu total respeito, em nome do Povo que me elegeu também democraticamente em Abril de 2002, para ser Presidente da República, imploro, rogo, peço ao Comité Central da Fretilin para apresentar com melhores detalhes o plano urdido de golpe e de conspirações, com a identidade de todos os actores, internos e externos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Só assim o Povo vai ficar descansado, porque a defesa da soberania tem que passar, necessariamente, pelo desmantelamento dessa rede maquiavélica que tem vindo a desrespeitar ‘a ordem constitucional democrática’, promovendo acções de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’ contra o I Governo constitucional, democraticamente eleito, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 30 de Agosto de 2001.</span><br /><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O último argumento é sobre ‘a crise actual’. Eu peço autorização a todos, para só abordar este assunto, mais adiante, porque diz respeito a todo o documento do CCF.</span><br /><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">(Na próxima edição, abordarei outra passagem do documento: </span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >‘Durante estes quatro anos, um plano bem traçado de contra-inteligência foi sendo implementado...’</span><span style="font-family:trebuchet ms;">)</span><br /><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Díli, 3 de Novembro de 2006.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Presidente da República,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Kay Rala Xanana Gusmão<br /><br />Ler a continuação: </span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-ii.html">A teoria das conspirações II</a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"> Clique em baixo para ler:</span><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html">A teoria das conspirações III</a><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html"></a><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iv.html">A teoria das conspirações IV</a><br /><br /><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html"> </a><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-1164245966852944102006-11-26T01:34:00.000+00:002007-08-19T14:18:13.738+00:00A teoria das conspirações II (continuação) por Xanana Gusmão<div face="trebuchet ms" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><div style="text-align: left;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes.html">(ler texto anterior)</a><br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">A teoria das conspirações<br /><br />II<br /></span></div><br />Hoje, vou abordar os pontos elaborados no n.º 3 do documento de <span style="font-weight: bold;">‘Análise da Situação e Perspectivas, do Comité Central da Fretilin, de 29 de Outubro de 2006’</span>:<br /><br /><span style="font-weight: bold;">‘Durante estes 4 anos, um plano bem traçado de contra-inteligência foi sendo implementado que incluia:</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">i) criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL;</span><br /><span style="font-weight: bold;">ii) usar a média e o boato para manchar a imagem do Governo e, em particular, do Primeiro Ministro;</span><br /><span style="font-weight: bold;">iii) aprofundar as diferenças de postura entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, minando as relações institucionais entre ambos;</span><br /><span style="font-weight: bold;">iv) dividir a Fretilin e enfraquecer a sua liderança;</span><br /><span style="font-weight: bold;">v) organizar grupos para manifestações frequentes;</span><br /><span style="font-weight: bold;">vi) criar um clima de caos e de ingovernabilidade;</span><br /><span style="font-weight: bold;">vii) aliciar as Forças para a necessidade de intervir a favor de um golpe para derrubar, pretensamente, para ‘salvar o país’ de um ‘governo impopular’.</span><br /><br />Um plano bem traçado de contra-inteligência foi sendo implementado!!! Fui professor de português, em 1963, e insisto que o verbo traçar pede também um sujeito... objectivo! Traçado por quem? Quem é esse fantasma que anda a brincar a traçar planos contra o I Governo Constitucional, eleito democraticamente, na eleições para a Assembleia Constituinte, em 30 de Agosto de 2001?<br /><br />Um plano bem traçado de contra-inteligência... não será de certeza produto de algo impalpável, tem que vir de cérebros. E isto pressupõe que tenhamos inteligência! Ninguém nega que, individualmente, os senhores doutores do CCF, possuem inteligência! Mas será que o Estado tinha serviços de inteligência? Eu tenho a absoluta certeza de que os senhores doutores do CCF ouviram, antes de se pronunciarem, em termos inteligentes, os serviços de informação, encabeçado pelo Sr. Eng. Ricardo Ribeiro, os serviços de inteligência da PNTL e os serviços de informação militar, da FFDTL. Porque só dessa nossa inteligência, podemos perceber a contra-inteligência.<br /><br />Ou será que o CCF tem os seus próprios serviços de inteligência? Serviços de segurança, isso sim, todo o Povo sabe, que o grupo de arte marcial, o Korka é quem dá a segurança política nas reuniões do Partido. Eu digo ‘segurança política’ porque são membros do Partido, um partido político. Mas o Povo não sabe se também o CCF tem serviços de inteligência.<br /><br />Indiquem-nos, por favor, essas maldosas pessoas!!! O Povo unido até pode ajudar o CCF a apanhá-las e metê-las em Becora, para aprenderem a perceber que a nossa democracia não permite manifestações... contra o Governo! Eu creio que o povo ficará contente e descansado por, finalmente, castigarmos esses ‘profundamente anti-democráticos e golpitas’!!! Mas, revelem-nos os nomes por favor!<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">i) criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL</span><br /></div><br />Alguém, esse fantasma, criou ‘rivalidade e clima de suspeição mútua entre FFDT e PNTL’! Ou um grupo bem organizado criou... ou... um conjunto de organizações criou!<br /><br />O Senhor Paulo Martins, que metia os seus colegas ex-agentes da polícia indonésia? É possível! Falando em ‘rivalidade e clima de suspeição mútua’... terá sido um plano do Senhor Paulo Martins, armar uma polícia pro-autonomia para combater as F-FDTL?<br /><br />O Senhor David Ximenes, que todos sabiam, tinha uma enorme antipatia para com o Senhor Paulo Martins? Falando em ‘rivalidade e clima de suspeição mútua’, terá sido plano do Senhor David Ximenes, recrutar os veteranos da resistência clandestina para a Polícia, para contrabalançar com as F-FDTL?<br /><br />Terão sido os veteranos?<br /><br />Ao exigir um maior respeito às suas pessoas, como veteranos, estavam a ‘criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL’, porque eles eram antigos guerrilheiros?<br /><br />Terá sido a Polícia Nacionalista?<br /><br />Tenho o documento de averiguações, do Gabinete de Inspecção da PNTL, de 7 de Março de 2006, sobre o assunto da Polícia Nacionalista, em que muitos declaram terem reunido, colectivamente, com o membro do CCF, deputado do Parlamento Nacional, Senhor Elisário, o membro do CCF e Secretário-Geral Adjunto da Fretilin e Secretário de Estado da Juventude e Desporto, Senhor Dr. José Manuel Fernandes, o Director dos Serviços de Informação Nacional e Assessor do Primeiro-Ministro, Senhor Eng. Ricardo Ribeiro (não sei se é membro do CCF) e mais outros indivíduos fora da PNTL, para formarem o grupo da Polícia Nacionalista! Houve encontros em Aituri Laran, em Becora e na Universidade Continental.<br /><br />E é interessante transcrever parte das declarações do Secretário-Geral Adjunto da Fretilin, Sr. Dr. José Manuel Fernandes: <span style="font-weight: bold;">‘Ha’u dehan ami nain tolu (ha’u, Senhor Ricardo, Sr. Liurai Tasi) né diretamente promotor ba grupo né, i ami mos hein ikus mai Unaqmartil nebé mak mosu finaliza Timor ninian mos, sei bele dait tan, katak ami nain tolu mos sei sai promotor ba loron ikus’</span>. (Eu disse, nós os três (eu, Senhor Ricardo, Senhor Liurai Tasi) somos directamente promotores deste grupo, e nós também estamos à espera de virmos a ser também promotores da Unaqmartil, que já existe, depois de eles finalizarem o processo).<br /><br />E, como que a corroborar comigo, o Senhor Dr. José Manuel Fernandes, Secretário-Geral Adjunto da Fretilin, acrescentou: ‘Labele kaer deit ba abaixo assinado hanesan causa ba problema, maibé abaixo assinado sira halo né, ha’u bele interpreta katak hanesan efeito husi caso ida nebé mak mai antes kedas’. (Não se pode pegar no abaixo assinado como a causa do problema, e, na minha interpretação, o abaixo assinado é um efeito de algo que apareceu antes).<br /><br />Senhor Secretário-Geral Adjunto, diga isso aos seus camaradas (subordinados) do CCF: ‘nunca tomem o efeito pela causa’!<br /><br />Se os dois são membros do Comité Central da Fretilin e membros do Governo, porque não encontraram uma forma de comunicar o problema ao Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro? Se são todos membros do Comité Central da Fretilin, uns deputados e outros membros do Governo, porque não encontraram uma forma de comunicação com outro membro do Comité Central da Fretilin e Ministro do Interior, Senhor Rogério Lobato? Se são todos membros do Comité Central da Fretilin, uns deputados e outros membros do Governo, será que é permitido fazerem estas coisas, que depois aparecem ao público como ‘culpa dos agentes da polícia’?<br /><br />Outra questão interessantíssima é o compromisso que o Secretário-Geral Adjunto, Senhor Dr. José Manuel Fernandes, fez, na investigação, quanto à UNAQMARTIL! O público sempre pensou que Unaqmartil era um grupo anti-Governo, porque um dos líderes da Unaqmartil era o Senhor Reis Kadalak, tantas vezes apelidado pelos seus camaradas no Parlamento e no Governo como o ‘frustrado’, o ‘cabelos compridos’ que não tinha lugar na Fretilin!<br /><br />Agora, sim, estamos a perceber as ‘inteligências’ e ‘contra-inteligências’! Devo reconhecer, finalmente, que isto tudo é... muito inteligente!<br /><br />Terá sido a PNTL, no seu todo, a criar a rivalidade e suspeição mútua?<br /><br />Os tantos problemas, pequenos na maioria, surgidos entre agentes da Polícia e membros das F-FDTL, terão sido propositadamente ‘implementados’ para ‘criar rivalidade e clima de suspeição mútua entre F-FDTL e PNTL’?<br /><br />Terão sido as F-FDTL, a criar a rivalidade e suspeição mútua?<br /><br />Depois da ‘tentativa de manipulação política dos problemas dos veteranos com a organização de uma manifestação com o ex-comandante L-7 e outros veteranos em 2004’, houve um diálogo (que muitos distintos doutores não gostaram) entre membros do Governo, membros do Parlamento e Veteranos e membros da Polícia Nacionalista.<br /><br />Lembro-me que, no decurso do diálogo, uma pergunta surgiu de membros da F-FDTL: ‘porquê a criação da Unidade Especial da Polícia? Será que a F-FDTL não chega?’<br /><br />No Relatório da Comissão de Investigação, de 2004, sobre o caso de Lospalos, onde os militares controlaram o posto da polícia, a pergunta aparecia em todas as bocas: Porquê e para quê uma Unidade Especial da Polícia? Mas havia mais: Porquê havia maior atenção à Polícia e ‘quase nenhuma atenção’ às F-FDTL? Porquê, para a alimentação, a Polícia recebia mais do que as Forças? Porquê, não havia também ‘per diem’ para os militares, quando chamados a dar segurança, nas deslocações das entidades do Governo, e só a Polícia recebia? Porquê a PNTL, sendo em maior número, tinha fardamento igual e as F-FDTL pareciam mais umas Forças das Nações Unidas, com fardamentos da China, de Portugal, de Moçambique?<br /><br />Enfim, acabo aqui a lista dos porquês, mas os anteriores podem denunciar já, a todo o povo, quem pode ser os actores internos e externos que, durante estes 4 anos, tentaram ‘criar rivalidade e clima de mútua suspeição entre F-FDTL e PNTL’!!!<br /><br />Terão sido, esses actores internos, os Partidos Políticos da oposição? O ASDT? O PD? O PSD? Os outros Partidos?<br /><br />Os intelectuais? O Senhor Dr. Lucas da Costa? O Senhor Dr. Vital dos Santos? O Senhor Pe. Martinho Gusmão? O Senhor Pe. Domingos Maubere?<br /><br />Quem serão os actores externos? Os conselheiros militares internacionais a trabalhar com as F-FDTL? Os americanos, os australianos e o malasiano que está no Ministério da Defesa? Os Embaixadores?<br /><br />Os conselheiros da UNMISET a trabalhar com a PNTL? Os Embaixadores?<br /><br />Ouve-se muito dizer que conselheiros (americanos ou australianos) abordaram oficiais superiores das F-FDTL sobre ‘golpes’ (não sei se ‘golpes de mão’ ou ‘golpes de pés’). Se o CCF possuir esses dados, divulgue os nomes deles.<br /><br />Somos um País democrático e SOBERANO! A nossa SOBERANIA tem que ser defendida!!! O Parlamento Nacional pode, depois da divulgação minuciosa de dados pelo CCF, passar um Resolução definindo essas pessoas de ‘personas non gratas’. O actual Primeiro Ministro do Governo inconstitucional pode apresentar um protesto diplomático ao Governo que tiver mandado o/s seu/s cidadão/s para fazer este trabalho de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, no nosso país, demonstrando um total ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’.<br /><br />Todo o Povo se lembra de que, quem chamou o Governo Australiano de ladrão, fui eu! Numa Mensagem à Nação! Senhores Doutores do CCF, só tenho 7 meses para terminar o meu mandato e não tenho nada a perder! Dêem-me os nomes e denunciarei essa conspiração internacional, seja junto do Presidente Bush seja junto do Primeiro Ministro John Howard! Mas venham os factos, com os respectivos nomes!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">QUEM? Quem está no cérebro deste ‘PLANO BEM TRAÇADO’?</span><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">ii) usar a média e o boato para manchar a imagem do Governo e, em particular, do Primeiro Ministro</span><br /></div><br />Senhores doutores do CCF, (democrática e transparentemente eleito no Congresso de Maio de 2006!!!) com todo o respeito, que devo a dirigentes históricos do Partido histórico!<br /><br />Quanto à média, todos em Timor, sabemos das explosivas declarações do Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional, eleito democraticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 30 de Agosto de 2001. Eu tentei, sempre que podia, alertar o Primeiro-Ministro para evitar utilizar linguagem confrontativa.<br /><br />Em Janeiro de 2004, falei assim: ‘Primeiro-Ministro, não estou a dirigir-me a si como Presidente da República, porque eu sei que não me ouve! Falo para si, como um antigo companheiro da luta, como um amigo dos tempos da juventude, e peço que não responder imediatamente às palavras e notícias que saem nos jornais. Deixe passar dois ou três dias e vai reparar que não vale à pena responder ou comentar’. O Primeiro-Ministro aceitou o ‘conselho’ e congratulei-o posteriormente pelo esforço de refrear o desejo de ir, imediatamente, ao contra-ataque... até que a paciência se lhe esgotou ou a própria personalidade lhe não permitiu ficar à mercê das críticas e... recomeçou-se a guerra de palavras, que nunca mais podia augurar um fim amistoso!<br /><br />Como Presidente da República, estou arrependido de ter VETADO o Código Penal! Vou já pedir ao actual Governo inconstitucional, para endurecerem as disposições punitivas quanto à difamação e boatos e criar um novo artigo sobre ‘Crimes por manchar a imagem do Chefe do Governo’! Realmente, não se pode tolerar tanta falta de respeito a um Primeiro-Ministro de um Governo legítimo e democraticamente eleito!<br /><br />Eu sei que o Povo, simples, humilde e sofredor, vai compreender com clara noção dos seus deveres e obrigações de cidadania, esta IMPOSIÇÃO DE RESPEITO AOS SEUS LEGITIMOS GOVERNANTES!<br /><br />Vou também recomendar ao Primeiro-Ministro, do actual Governo inconstitucional, para apressar com a Lei da Liberdade da Imprensa. Senhores doutores do CCF! Contem comigo, porque enviarei de volta a Lei, para ser corrigida no título que deverá ser: Lei da Censura!<br /><br />Assim, esses jornaizecos que temos, no nosso Estado de direito democrático, não vão brincar mais a ofender os governantes deste país! Mas que ousadia! Num Estado de direito democrático, ofenderem (= mancharem a imagem) dos governantes, legítimos e democraticamente eleitos, com uma maioria de dois terços! É, o que se pode dizer, um grave insulto aos valores democráticos!<br /><br />O mais importante, senhores doutores do CCF, é tirar as melhores lições, porque segundo os ‘experts’ dos primeiros 4 anos, ‘governar era aprender’! Aprendamos a governar com firmeza e nada mais confortável que... governar sem o receio de nenhuma crítica e, òbviamente, sem oposição!!!<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">iii) aprofundar as diferenças de postura entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, minando as relações institucionais entre ambos</span><br /></div><br />É muito vaga a expressão: ‘diferenças de postura’! As pessoas podem pensar que se relaciona apenas aos problemas recentes da crise!<br /><br />Nunca quis ser Presidente da República e, por isso, durante a UNTAET, não passei por algum programa de ‘capacity building’! Como não sou formado em Direito, a Constituição que estava a ser redigida, discutida e aprovada pela Assembleia Constituinte, eleita em 30 de Agosto de 2001, foi para mim um documento de estudo, para eu compreender, as funções de Presidente da República, já depois de ser Presidente.<br /><br />Vim a compreender a diferença entre o sistema presidencial e o nosso de semi-presidencial.<br /><br />O presidencial definiria que o Presidente da República seria do Partido que ganhou as eleições, democráticas. Se a Constituição tivesse definido o sistema presidencial, todos pensam como eu, o Presidente da Fretilin teria sido o Presidente da República e não teria havido eleições presidenciais em Abril de 2002. (E... diga-se de passagem... não teria havido ‘golpe constitucional’ por parte do Xanana, como o Senhor Dr. Vasconcelos (não sei se é membro do CCF), e Director do BPA, gostava de utilizar nos seus ‘SMS’ a toda a gente!)<br /><br />Mas o semi-presidencial teria um Presidente, que deveria ‘aparecer’ como não vinculado ao Partido no poder, mesmo que seja membro desse Partido. Sendo que eu deixei a Fretilin, muitos anos atrás, eu não fugiria muito à ‘figura’ que se estava a exigir desse Presidente.<br /><br />Compreendi a independência que se garantia a este Órgão de Soberania e compreendi também os vínculos institucionais, chamados de ‘solidariedade institucional’, que permitem abordar muitos problemas... à porta fechada... e todas as semanas.<br /><br />Desde 20 de Maio de 2002, houve muitas ‘diferenças de postura’! Para ir apenas a algumas ‘diferenças de postura’, de que todo o público timorense se lembra, pode-se ir à de Novembro de 2002, com o pedido público de demissão de um Ministro. ‘Diferenças de postura’ na escolha de um primeiro embaixador para a Austrália. ‘Diferenças de postura’ na lei de revisão do sistema de impostos. ‘Diferença de postura’, na Lei de imigração! ‘Diferença de postura’ no Código Penal! ‘Diferença de postura’, nas eleições de chefes comunitários! ‘Diferença de postura’ na ‘contratação política’ do Korka, pela Fretilin! ‘Diferenças de postura’ no assunto de corrupção nos concursos públicos, nas minhas intervenções para as Conferências com os Parceiros de Desenvolvimento!<br /><br />Apesar dessas ‘diferenças de postura’, importantíssimas quanto a mim, as relações mantiveram-se, penso eu, guiadas pela ‘solidariedade intitucional’.<br /><br />‘Aprofundar as diferenças de postura... minando as relações institucionais’, é grave! O verbo aprofundar só pode ter dois sujeitos, porque o terceiro sujeito é vítima desse complô de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, por ‘desrespeito à ordem constitucional democrática’.<br /><br />O primeiro sujeito só pode ser o Presidente da República! Este, é claro, toda a gente sabe o seu nome, a sua idade, onde é que mora e tem o cartão de eleitor para 2007.<br /><br />O segundo sujeito, desde que o Presidente da República seja orgulhoso demais para não admitir as suas próprias culpas, só pode ser esse tal ‘fantasma’ ou ‘fantasmas’, porque podem ser actores internos e externos.<br /><br />Aqui, já é mais complicado, porque só o CCF, democrática, legitima e transparentemente eleito no Congresso de Maio de 2006, pode responder. Queria dizer apontar os nomes, divulgar esses nomes!<br /><br />Mas, como disse atrás, pode ser que o CCF considerou apenas o tempo da crise!<br /><br />Mas, podemos ir para estas análises! Como, depois de terminado o meu mandato, a partir de 20 de Maio de 2007, serei apenas um cidadão ordinário, cujo voto não afecta em nada o exercício democrático dos partidos políticos, não tenho nada a perder, se vamos todos dissecar os pequenos segmentos da crise, onde as relações institucionais foram profundamente abaladas!<br /><br />Logo depois do problema dos peticionários, embora houvesse, eu creio, ‘diferenças de postura’, sempre houve troca de informações e dava-se a conhecer um ao outro de qualquer plano ou ideia que se pensava poder ajudar a encontrar uma solução.<br /><br />Havia, tanto quanto possível, um esforço de cooperação entre os dois Órgãos, respeitando-se a independência de actuação e de competências. E em todas as anteriores situações de ‘diferenças de postura’, não me lembro ter havido uma postura de irreconciliabilidade nos actos das duas instituições. Sempre que necessário, critiquei actuações do Governo, em mensagens dirigidas à Nação, adoptando sempre o princípio de ‘defender’ o Governo nas minhas intervenções no interior do país ou fora do país.<br /><br />Bem, vamos à actual crise! Eu tenho que descrever alguns factos relevantes para percebermos a objectividade da análise do CCF quanto ao ‘aprofundar as diferenças de postura... minando as relações institucionais.’<br /><br />Apesar das ‘diferenças de postura’, em relação à expulsão dos quase 600 militares, os 2 órgãos de soberania sempre discutiram o problema, sem pré-conceitos rigidamente estabelecidos.<br /><br />1 - O Primeiro Ministro planeou ter um encontro com os Oficiais das F-FDTL. Eu pedi-lhe para deixar para mim e que o informaria do resultado. Após o encontro, na noite de 8 de Abril, com os oficiais das F-FDTL, informei ao Primeiro Ministro do que aconteceu e disse-lhe que teríamos de encarar o problema já sob outra perspectiva, a de promover e assistir a reinserção dos ex-militares na vida civil. Tentou-se cooperar para encontrarmos a solução mais apropriada.<br /><br />2 – No dia 28 de Abril, logo pela manhã, o Primeiro Ministro falou comigo ao telefone e pôs-me ao corrente do ambiente frágil e tenso que envolvia os manifestantes. Informou-me do seu encontro, na véspera, com o Gastão Salsinha e pediu-me para também falar com ele. Chamei o Gastão Salsinha e, depois de lhe dizer, que eram totalmente inaceitáveis as exigências que fizeram, ele aceitou as condições que eu dei e estava disposto a seguir, se os jovens o tivessem ouvido.<br /><br />Fui imediatamente ao Hotel Timor, para o encerramento do Fórum dos Empresários e transmiti ao Primeiro Ministro o resultado a que se chegou, no encontro com o Gastão Salsinha:<br /><br />- que ele aceitou era inaceitável a exigência para suspender o Brigadeiro-General Taur Matan Ruak e outros oficiais<br />- que ele aceitou trabalhar com a Comissão dos Notáveis<br />- que todos quantos assinaram a petição deveriam permanecer em Dili, para facilitar os trabalhos da Comissão<br />- que os restantes membros do grupo deveriam voltar aos distritos<br /><br />E o Primeiro Ministro comunicou-me também da sua apreensão quanto à capacidade do Gastão Salsinha de controlar os jovens e, nesse aspecto,<br /><br />- que ele concordou tentar, como pudesse, persuadir os jovens a manterem-se calmos e esperarem que um membro do Governo fosse falar com eles.<br /><br />Ainda durante a cerimónia, dos empresários, o Primeiro Ministro chamou o Ministro Horta que aceitou a incumbência de ir falar com os peticionários mas, sobretudo, aos jovens apoiantes que estavam exaltados.<br /><br />Acabada a cerimónia, também por chamada do Primeiro Ministro, apareceu o Ministro Rogério e fomos encaminhados a uma sala. Abordámos a fragilidade da situação, no tocante aos jovens, apoiantes ou participantes da manifestação, informando da perspectiva da ida do Ministro Horta. O Ministro Rogério ofereceu-se para chamar o ex-comandante Dudu para ir acalmar os jovens, até à chegada do Ministro Horta.<br /><br />Pedi apenas para o Ministro considerar a segurança no seu trajecto, de regresso ao local onde se concentravam e o próprio Ministro garantiu a possibilidade de serem transportados em camiões da polícia, para evitar confrontos físicos com a população, moradora do mercado de Comoro.<br /><br />Terminado este encontro, que só abordou a questão da manifestação e como dar a devida assistência para terminar em bem, saímos da sala, enquanto os jovens, já na rua, estavam a fazer os estragos que todos conhecem. Disse ao Primeiro Ministro que regressava a Caicoli, para acompanhar a situação. Só depois das 6 e meia da tarde, é que voltei à casa, e porque não recebera nenhuma informação, de quem quer que fosse, pensei que a violência se tivesse reduzido apenas ao que aconteceu no Palácio do Governo.<br /><br />3 – No dia seguinte, 29 de Abril, à saída da casa para o trabalho, a minha segurança informou apenas que, a partir da meia-noite, houve muita troca de tiros em Rai Kotu e que se prolongou até às 7 daquela manhã.<br /><br />Fiquei assustado com a notícia, já que a segurança não podia dar mais informações. Chegado a Caicoli, pedi para que chamassem o Senhor Comandante-Geral Paulo Martins a fim de me dar o ponto da situação.<br /><br />O Senhor Paulo Martins informou-me então da reunião havida em casa do Primeiro Ministro, pelas 4 horas da tarde do dia anterior, do Gabinete da crise e que a decisão que fora tomada foi de dividir as áreas de actuação das F-FDTL e da PNTL.<br /><br />Não quis acreditar! Pedi ao próprio Comandante-Geral da Polícia para ligar ao Primeiro Ministro. Perguntei ao Primeiro Ministro sobre o que estava a acontecer. O Primeiro Ministro informou-me acerca da decisão tomada de aplicar as F-FDTL. À minha pergunta de porquê eu não fora informado, atempadamente, o Primeiro Ministro respondeu que tentou chamar-me pelo telefone, mas que o Telcom não funcionava. Fiquei surpreendido, porque de Farol a Caicoli, a distância não é a mesma de Balibar a Caicoli e eu estava no meu gabinete até para além das 6 e meia da tarde.<br /><br />Pus, simplesmente, de lado o problema de falta de coordenação institucional ou, no mínimo, de informação entre instituições. Disse então ao Primeiro Ministro que iria imediatamente sair para ver a situação ‘in loco’ e pedi ao Primeiro Ministro para ordenar que, até às 2 horas da tarde, as Forças deveriam retirar-se para os quartéis. O Primeiro Ministro respondeu-me que sim e que iria dar instruções nesse sentido.<br /><br />Pelas 3 da tarde, encontrava-me em frente da Embaixada Americana, na Praia dos Coqueiros, a tentar resolver o problema do ajuntamento das pessoas que buscavam o refúgio naquela embaixada. Apareceu o Secretário de Estado, Senhor David Ximenes, que me facilitou ligar ao Ministro de Defesa, Dr. Roque Rodrigues. Falei com ele, dizendo ‘Senhor Ministro, por favor, lembre ao Primeiro Ministro que me prometeu, hoje de manhã, retirar as Forças para os quartéis e já são 3 horas e ainda estou a ver alguns militares postados perto daqui’.<br /><br />Às 4 da tarde, estando já em Motael a contactar com o Pároco para receber, no complexo da Igreja as pessoas que estavam a tentar buscar refúgio na embaixada americana, o mesmo Senhor David Ximenes passou-me o seu telefone. Aí, o Primeiro Ministro disse-me que só à noite, iria ter uma reunião para decidirem sobre o assunto.<br /><br />No dia 30, no meu gabinete, tive um encontro com o Primeiro Ministro, o Ministro Ramos-Horta e o Brigadeiro Taur. Foi-me apresentado um plano de retirada, que continha 3 fases e que só no dia seguinte (1 de Maio), iriam definir a sequência no terreno e a coordenação com a PNTL. (Entretanto o Senhor Presidente do Partido telefona ao Brigadeiro, pedindo-lhe para fechar imediatamente o aeroporto, para não deixar sair ninguém, sobretudo os líderes da oposição!!!, ao que o Primeiro Ministro prometeu depois falar com o Senhor Lú Olo).<br /><br />O Presidente da República preferiu aceitar as fases, porque o objectivo era o recuo gradual das Forças, cuja presença estava a criar ‘animosidade’ no seio da população.<br /><br />Nos dias subsequentes, nunca o Presidente da República levantou, como matéria de facto, a falta de melhor percepção de todas as instituições sobre os problemas da população. Respeitei sempre as decisões do Primeiro Ministro, respeitei sempre os planos do Gabinete da Crise, num esforço de contribuir positivamente para a solução do problema maior – o que dizia respeito à população.<br /><br />3 – Li em jornais que o Presidente da República estava a receber amiudadas vezes o Ministro Horta e que custava imenso ao Primeiro Ministro ser recebido.<br /><br />Em Caicoli, no Palácio das Cinzas, os encontro foram sempre com o Primeiro Ministro, às vezes acompanhado pelo Ministro Horta. Das poucas vezes que o Ministro Horta veio sòzinho a Caicoli, o Primeiro Ministro era imediatamente chamado a seguir.<br /><br />As relações institucionais, que eu me lembre, não se deterioraram, antes pelo contrário, houve sempre ensejo de mostrar que havia a vontade de cooperar, entre as duas instituições.<br /><br />4 – Em 23 de Abril, teve lugar o combate de Fatu Ahi, de que eu só fui informado pelo próprio Primeiro Ministro, em 24, no meio de outros dados sobre outro combate, o de Tasi Tolu.<br /><br />Da minha parte, nunca saíu nenhuma palavra que colocasse o Primeiro Ministro a pensar que as duas instituições estavam definitivamente em lados opostos.<br /><br />Mesmo que quisesse, o Presidente da República não podia pensar para além do limitado horizonte de informações que o Primeiro Ministro ia dando. Decidi, a dada altura, proibir no Palácio da Cinzas, toda a entrada de rumores e informações desconexas.<br /><br />O Presidente da República, como Órgão de Soberania, não possui serviços de inteligência! É o Governo e o Governo deve admitir que tinha um serviço de informação nacional, incapaz e ineficiente. Pelo menos, era o que transparecia antes, durante e depois do período difícil da crise, porque os rumores, propositadamente fabricados ou não, eram a substância das informações.<br /><br />5 – No dia 24 de Maio, em Caicoli, recebo o Presidente do Parlamento Nacional, o Primeiro Ministro, o Ministro do Negócios Estrangeiros, a que depois se juntaram o Ministro de Defesa e o Ministro do Interior. Fui então informado acerca dos últimos acontecimentos e colocou-se a questão de ser já a altura de pedir a intervenção estrangeira.<br /><br />Mantive a mesma posição de recusar a intervenção estrangeira, porque em minha opinião, como Estado, mesmo com os problemas surgidos, deveríamos ser nós os timorenses a resolver os nossos próprios problemas. Os ilustres Senhores insistiram, considerando que o Alfredo Reinado estava a monte com armas, assim como os peticionários e a polícia, que atacaram o Quartel-General das F-FDTL, em Tasi Tolu, já que poderíamos passar a uma situação mais confrontativa.<br /><br />Perante as minhas reticências, o Ministro Horta perguntou ao Ministro de Defesa, Dr. Roque Rodrigues, quais seriam as probabilidades de sucesso, se as F-FDTL desencadeassem uma operação sobre o Reinado e sobre os peticionários. O Senhor Ministro de Defesa, Dr. Roque Rodrigues respondeu, mais ou menos, nestes termos: ‘As F-FDTL estão preparadas e podem encurralar tanto o Alfredo como os peticionários! Mas só posso garantir esse sucesso, com uma condição, que a PNTL não se involva a favor do outro lado!’ Ao acabar, o Senhor Dr. Roque Rodrigues olhou, de propósito, para o Ministro Rogério que se manteve impávido e sereno, como que a não querer responder à provocação.<br /><br />Concordei, então, com a decisão de pedir a intervenção das Forças Internacionais!<br /><br />Logo a seguir, convocou-se o Corpo Diplomático, para se dar a saber da decisão. Já no início da reunião com o Corpo Diplomático, lembrei-me de uma informação que me chegou aos ouvidos e, enquanto o Ministro Horta estava a explicar a decisão, em inglês, sussurrei ao Primeiro Ministro: ‘Ouvi dizer que o L-7 vem aí com muitos civis para se apresentarem às F-FDTL. È isto verdade?’ E o Primeiro Ministro confirmou dizendo ‘É o Ruak que está a chamar os reservistas’. E eu disse: ‘Por favor, diga ao Ruak para não fazer isso, evitemos armar civis’. E eu sei que o Senhor Dr. Mari Alkatiri se lembra desta conversa, em sussurros, que tivemos à frente de todo o corpo diplomático e a imprensa.<br /><br />6 - Houve, sim, uma reacção minha a toda esta situação, quando fui informado do combate no Quartel-General da Polícia e da situação da morte de alguns agentes, no dia 25 de Abril, que era feriado e eu estava em casa. E eu disse: ‘Já chega! Com o que está a acontecer, o Governo está a provar que não tem capacidade de controlar a situação! Assumo, a partir de agora, a defesa e segurança!”<br /><br />Nisto, concordo que as ‘relações institucionais’ tivessem sido bastante danificadas! Mas, quando o Primeiro Ministro teve a amabilidade de ir à minha casa, em Balibar, expliquei o porquê da minha reacção! E o Primeiro Ministro sabia que eu não tinha mexido um dedo para detêr o comando nem sobre as F-FDTL nem sobre a PNTL! Se o Senhor Paulo Martins ia à minha casa, o actual Ministro do Interior também esteve lá, por mais de uma vez, e todas as conversas que eu tive com eles, foi apenas de pedir para eles controlarem devidamente a polícia e, sobretudo, as armas!<br /><br />Recebi o Primeiro Ministro com o mesmo respeito que sempre lhe demonstrei, apesar de muitas ‘diferenças de postura’, durante 4 anos!<br /><br />E foi com esse mesmo respeito, que lhe pedi para transmitir à Senhora Dra. Ana Pessoa, que se ela pensou que me magoava com o seu ‘Sms’, em que dizia ‘Viva a imundície da democracia da república de bananas/Xanana’, o efeito fora precisamente o contrário, porque só pude exclamar assim: ‘Pobre Ana!’.<br /><br />As ‘diferenças de postura’, até aí, não creio ter melindrado as ‘relações institucionais’.<br /><br />Mas se o CCF pensar diferentemente (estamos numa República Democrática), enumere por favor algumas ‘diferenças de postura’ que se ‘aprofundaram’ e ‘minaram as relações institucionais’ entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro.<br /><br />Em 4 de Dezembro de 2002, eu dei o corpo, como sempre fiz, em fins de 1999 e em todo o ano de 2000, seja durante as várias cenas de violência nas comunidades, seja em casos de estragos e manifestações. Muitos senhores que hoje afirmam que qualquer acto de violência e a manifestação são um ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’ com ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, não apareceram, ainda e naquela altura, na cena política do país! Não havia ainda a Assembleia Constituinte!<br /><br />Na manifestação promovida pela hierarquia da Igreja, o Primeiro Ministro manifestou o desejo de ir falar aos manifestantes e eu disse ‘não’ e garanti-lhe que eu iria para lá... defender os interesses de todo o Estado!<br /><br />Abordei as ‘diferenças de postura’ entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro (e devo acrescentar, também com alguns ilustres membros do CCF e membros do I Governo constitucional, eleito democraticamente, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001) e nunca utilizei essas diferenças para estabelecer distâncias entre nós.<br /><br />Por hoje, fiquemos com essas diferenças até... o 25 de Maio de 2006! As outras virão na próxima edição...<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">iv) dividir a Fretilin e enfraquecer a sua liderança</span><br /></div><br />É interessante esta análise!!! Todos em Timor, sabem que os problemas dentro da Fretilin existiam, mesmo antes da ‘expulsão’ do Senhor Victor da Costa, do Governo.<br /><br />Depois da sua saída, ele mais uns seus camaradas, foram insistindo para a uma reunião comigo e mandei dizer-lhes que eu não podia intrometer-me nos assuntos internos do Partido. Inclusive, informei ao Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro da posição tomada por mim.<br /><br />Por aquela altura, em encontros com a bancada da Fretilin no Parlamento, solicitei ao Presidente do Partido e aos seus camaradas que deviam tentar resolver os diferendos e o próprio Presidente do Partido me informou, uma vez, que iriam fazer isso mesmo. Congratulei o Presidente e o Partido por essa vontade , já que sendo um grande Partido, problemas assim danificam a imagem do Partido.<br /><br />Mas continua interessante! Dividir a Fretilin! Há duas componentes possíveis – uma interna, no interior do Partido e outra, externa, de fora do Partido!<br /><br />A componente interna, hoje apresenta-se como o grupo da ‘Mudança’ e reforçou (relativamente embora) as suas fileiras, antes do Congresso do Partido. Antes ou, melhor dito, no início dos problemas, eles eram conhecidos por ‘grupo dos frustrados’ que não conseguiram obter um lugar no Governo! Havia o Senhor Vicente Mau Boci, havia o Senhor Reis Kadalak, que ficou alcunhado de ‘cabelos compridos e despenteados, que não mereciam ser membros do Partido’.<br /><br />Esse grupo é que foi apresentando ao público, ao longo dos anos, os problemas internos organizacionais do Partido e o mundo ficou a saber que, segundo ‘os frustrados’, ‘o partido estava controlado pelo grupo de Maputo, porque são formados e falam só em português’ e que ‘os outros camaradas só sabiam dizer sim para defender a cadeira’, que o ‘Presidente Lu Olo só dava ouvidos ao grupo de Maputo, porque ele percebe português, e desconsiderou totalmente os elementos da Resistência, que ele tinha dirigido, durante anos difíceis’, que o ‘partido não funcionava, porque todos se encontravam no Governo e no Parlamento’, etc., etc...<br /><br />O acesso aos problemas internos do Partido, foram os próprios ‘frustrados’ que passaram para o público, através das suas entrevistas. O ‘grupo de Maputo’ é obra, é criação, é produto interno bruto da própria Fretilin! A expressão pegou rapidamente, como hoje em dia, os rumores, que têm maior capacidade de mobilização das pessoas, que o próprio Estado!<br /><br />Se, por cada hora que falavam contra o seu próprio Partido, alguém pagava 25 dólares americanos, como se ouve dizer quanto à violência organizada em Dili, nos últimos tempos, só eles sabem e só Deus sabe! O problema é que Deus não pode ir testemunhar perante o Tribunal Distrital de Dili. No outro Tribunal (o Juízo Final), talvez sim, mas eu penso que Deus, como o Juiz desse Tribunal, vai perdoar muita coisa!<br /><br />Os ‘actores internos’, aqui, devem ser compreendidos ‘de dentro da Fretilin’, serão: Vicente Mau Boci, Reis Kadalak, que formou a Unaqmartil para actividades que ‘desrespeitam a ordem constitucional democrática’ com ‘caracter profundamente anti-democrático’ (e agora já sabemos os promotores, que até são membros superiores do CCF) e o Senhor Victor da Costa! Juntaram-se, recentemente, aos frustrados: o Senhor José Luís Guterres, o Senhor Igídio, o Senhor Theme, o Senhor César... e não conheço outros.<br /><br />Os ‘actores externos’, no sentido de que são de fora do Partido! Podemos indicar alguns alvos: P.e Martinho Gusmão, Pe. Domingos Maubere, os partidos da oposição, o ‘STL’, o Presidente da República, para se falar de ‘peixes graúdos’.<br /><br />Mas é ainda muito interessante a análise! Havia forças reaccionárias que queriam ‘dividir a Fretilin e enfraquecer a liderança’. Num PLANO BEM TRAÇADO! Isto não é brincadeira de estudantes de Direito da UNDIL ou UNPAZ ou UNICOM ou UNIMAR! E que FOI SENDO IMPLEMENTADO... desde fins de 1999 ou desde Agosto de 2000 ou desde Agosto de 2001 ou desde 20 de Maio de 2002!!!<br /><br />Já em Junho de 2006, aparece o santinho do Presidente da República, com a sua última Mensagem... a tentar ‘dividir a Fretilin e a enfraquecer a liderança’! Porque o documento do CCF é longo, vou deixar para a próxima edição... essa minha responsabilidade de ‘dividir a Fretilin e enfraquecer a sua liderança’! Os leitores que tenham calma e paciência!<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">v) organizar grupos para manifestações frequentes</span><br /></div><br />Não vou acrescentar mais nada, para além de dizer que compreendo, agora, que num Estado de direito democrático, como a República Democrática de Timor-Leste, as manifestações só podem ser permitidas se falarem de HIV/AIDS, de Direitos das Crianças, de Direitos das Mulheres, da Fome no Mundo, da Paz na Terra, etc., etc..<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">vi) criar um clima de caos e de ingovernabilidade</span><br /></div><br />Nunca esqueçamos, ao ler cada ponto da análise, que havia já um ‘plano bem traçado... que vinha sendo implementado’... para ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’.<br /><br />E para fundamentar isso, o ilustre Comité Central da Fretilin (eleito transparentemente no Congresso de Maio de 2006), juntou os diversos acontecimentos, desde 2001, fazendo-os suceder-se em fases e etapas que levaram ao ‘clima de caos e de ingovernabilidade’.<br /><br />O caso de 4 de Dezembro de 2002, não provocou, deve-se dizer com honestidade, um ‘clima de caos e de ingovernabilidade’. Se, dalguns ministérios, os ministros saíram para evitar ofensas corporais na sua dignidade, foi só um dia. Se alguns ou todos os distintos deputados do Parlamento escolheram, com os pés, a melhor forma de segurança pessoal, foi também apenas uma questão de um dia.<br /><br />Na manifestação em que se utilizou o ex-comandante L-7, a situação não levou ‘ao caos e à ingovernabilidade’. Os gases lacrimogéneos puseram fim à tentativa de vigílias, a que os mobilizadores se propunham. Eu digo ‘mobilizadores’, como possíveis actores internos, o Senhor Manuel Carrascalão, a Senhora Deputada Maria Paixão, que foram vistos fornecer água e alimentação aos manifestantes e a Senhorita Ângela Freitas que gritou muito na manifestação e recebeu como prémio, o caixão de volta à sua casa.<br /><br />Na manifestação promovida pela hierarquia da Igreja, foram longos 18 dias, que embora incomodasse, não me lembro terem criado ‘um clima de caos e de ingovernabilidade’. Eu sei que se pensava ‘arrumar’ o assunto, pelo uso da força, e acredito que Deus não permitiu.<br /><br />Contudo, eu também não devo esquecer que dentro do ‘plano bem traçado... e que foi sendo implementado’, aquelas manifestações eram apenas fases ou etapas... na magnífica análise política conspirativa do ilustre Comité Central da Fretilin.<br /><br />Agora, podemos perceber, segundo o fio de pensamento da análise do CCF, a fase final ou etapa final do ‘plano bem traçado... que foi sendo implementado’, foi a manifestação dos peticionários.<br /><br />O timorense comete sempre o erro de acordar tarde e, às vezes, tarde demais! E, com isso, quero dizer, os membros do CCF, são timorenses! Podemos ser mais brancos ou mais pretos, mais altos ou mais baixos, o carácter é o mesmo!<br /><br />Por este aspecto de acordar-se tarde, agora posso ventilar a hipótese de que o CCF não estava a acompanhar a situação, não sabia de nenhum plano. Só depois da crise, fez uma retrospectiva analítica e chegou à conclusão da existência de fases, que bem descritas por doutores, licenciados em psicologia política e em direito, revela a existência de um ‘plano bem traçado... que foi sendo implementado’.<br /><br />Afirmo assim, porque, o contrário seria o CCF, cujos membros estavam distribuídos no Governo e no Parlamento, na Polícia e nas F-FDTL, teria feito gorar pura e simplesmente os objectivos daquele ‘plano bem traçado’... de ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’, suponho, em Abril e Maio de 2006. Ainda ressoa nos ouvidos das pessoas: ‘Só a Fretilin pode criar estabilidade e instabilidade!’<br /><br />O CCF reconhece, agora (implicitamente) que o refrão era vazio, produto de arrogância política apenas, porque o CCF não conseguiu evitar que outras pessoas pudessem levar a cabo, durante 4 anos, ‘um plano bem traçado e que foi sendo implementado’ para ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’. Demos a mão à palmatória, Senhores Doutores do CCF!<br /><br />Eu lembro-me que, porque as ‘relações institucionais’ entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro não estavam minadas ainda, em princípios de Maio, o Primeiro Ministro diz-me que ‘desconfiava que tudo o que aconteceu em 28 de Abril, fora obra do Rogério... porque não cumpriu as ordens que ele, Primeiro Ministro, tinha dado, logo pelas 8 horas da manhã, para reforçar a segurança, porque já se sabia que os peticionários iriam atacar o Palácio do Governo e porque o sistema de rádio e comunicação, que fora comprada muito recentemente na China, não funcionou, porque houve sabotagem ’.<br /><br />Apesar do meu pedido para o Rogério ser demitido, em 28 de Novembro de 2002, também nunca lhe faltei ao respeito e, nessa ocasião, discordei imediatamente com a sua opinião. Mas, depois de ouvir mais argumentos do Primeiro Ministro, aceitei essa possibilidade.<br /><br />Agora, fica-me praticamente difícil apontar o dedo a uns, sem apontar a outros. Os actores internos seriam os membros do PSD, como o Senhor João Gonçalves, que levavam água e comer para a ‘quarentina’ (onde os peticionários se concentravam), pessoas da embaixada americana, como a Senhora Lurdes Bessa, que foram vistas a levar também água e comer, membros da igreja que cometeram o pecado de dar de comer aos que têm fome e água aos que têm sede!<br /><br />Mas não posso tirar da minha pobre cabeça, a acusação do Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro, a um seu camarada e Ministro do Interior. Fiquei com enxaqueca, quando soube que, depois, o Senhor Rogério foi eleito Vice-Presidente da Fretilin! A acusação, afinal das contas, era falsa! Não brinquemos a acusar levianamente as pessoas!<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">vii) aliciar as Forças para a necessidade de intervir a favor de um golpe para derrubar o Governo, pretensamente, para ‘salvar o país, de um ‘governo impopular’</span><br /></div><br />O ponto mais alarmante da análise está aqui: ‘Aliciar as Forças para a necessidade de intervir a favor de um golpe para derrubar o Governo, pretensamente, para ‘salvar o país, de um ‘governo impopular’.<br /><br />Nas manifestações de Maio de 2005, tive um encontro com os dois Reverendos Bispos e, virando-me, para D. Basílio do Nascimento, disse: ‘Não repara, Senhor Bispo, que é irónico estarem aqui as pessoas a exigir a demissão do Primeiro Ministro, porque o governo é impopular, e, nas recentes eleições em Baucau para líderes comunitários, a Fretilin ganhou as eleições, em todas as aldeias e sucos’!<br /><br />Ouvem-se contar muitas histórias!<br /><br />Numa reunião, possivelmente em Outubro de 2005, do Conselho Superior de Defesa e Segurança, o então Ministro Rogério informou que os serviços de inteligência da Polícia estavam na posse de dados sobre possível fornecimento de armas, do outro lado da ilha, mencionando o nome de um Coronel indonésio e o envolvimento de dois padres, um de Atambua e um em Timor-Leste! E que a rede estava já cercada pela nossa inteligência e que, em tempos muito próximos, daria a saber do resultado.<br /><br />De Conselheiros Militares (Americanos ou Australianos) que se aproximaram do Tenente-Coronel Falur para um golpe!<br /><br />Do Senhor Pe. Filomeno Jacob e da Senhora Fernanda Borges, junto do Brigadeiro-General Taur Matan Ruak, para um golpe!<br /><br />Do Senhor César Vital Moreira, do grupo da Mudança, junto do Brigadeiro-General Ruak, para um golpe! E, possivelmente, o Senhor Mau Boci e outros mais!<br /><br />Do Alfredo Reinado, junto do Major Mau Buti, para um golpe!<br /><br />Deve haver mais histórias, que o Povo desconhece! Peço, imploro e rogo ao Comité Central da Fretilin para dar instrução partidária à bancada da maioria para se formar uma Comissão de Notáveis para investigar, o mais cedo possível, esta questão, a fim de pormos fim de uma vez a especulações que surgiram... da análise do Comité Central da Fretilin, de 28 de Outubro de 2006.<br /><br />Fico por aqui, e na terceira edição, vou abordar os pontos relacionados a <span style="font-weight: bold;">‘Dada a firmeza da posição do Comando das F-FDTL na defesa da Constituição e das instituições democraticamente eleitas’.</span><br /><br />Dili, 11 de Novembro de 2006.<br /><br />O Presidente da República,<br />Kay Rala Xanana Gusmão<br /><br />Ler a continuação: <a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html">A teoria das conspirações III</a><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> Clique em baixo para ler:</span><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes.html">A teoria das conspirações I </a><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html"></a><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iv.html">A teoria das conspirações IV</a><br /><br /><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html"> </a><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-1164246122794312412006-11-24T01:33:00.000+00:002007-08-19T14:20:15.894+00:00A teoria das conspirações III (continuação) por Xanana Gusmão<div face="trebuchet ms" style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-ii.html">(ler texto anterior)</a><br /> <br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">A teoria das conspirações<br /><br />III</span><br /></div><br />Estimados leitores<br /><br />Eu sei que estão cansados de ler estes artigos, porque estão repetitivamente repetitivos em várias expressões políticas, constitucionais e democráticas. Desculpem-me estar a roubar o vosso precioso tempo, mas não pude evitar colocar os problemas, tais como são, porque estamos no início do processo democrático de construção do nosso Estado.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Como prometi, vou hoje abordar os pontos do n.º 4 do Documento do CCF, também distribuído no Diálogo Nacional do nível médio, realizado em 8 deste mês, no Hotel Timor, e que dizia assim:</span><br /><br />‘Dada a firmeza do comando das F-FDTL na defesa da Constituição e das instituições democraticamente eleitas, restaram simplesmente:’ Os pontos são os sub-títulos deste artigo.<br /><br />A defesa da Constituição pressupõe uma série de considerações, mas vamos aos pontos que interessam... do documento do CCF!<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">i) Dividir as F-FDTL, enfraquecendo-as</span><br /><br />Quem? E quando começou? Em 2004? Com os acontecimentos em Lospalos? Com o relatório da Comissão de Investigação, terminado em Agosto daquele ano?<br /><br />Faziam parte dessa Comissão: a) O então distinto deputado, Senhor Dr. José Manuel Fernandes, como Vice-Presidente da Comissão, a distinta deputada, Dra. Merita Alves, uma outra distinta deputada, Senhora Luísa, o distinto deputado, Senhor Riak Leman, o distinto deputado, Senhor Dr. Vicente Guterres, como Secretário da Comissão; b) representando o Governo, o Vice-Ministro do Interior, Dr. Alcino Barris e o então ainda Secretário de Defesa, Senhor Dr. Roque Rodrigues.<br /><br />Ainda me lembro que este Senhor, Dr. Roque Rodrigues, antes de assinar o documento, ainda protestou porque não se discutiu todo o teor do documento. Os outros membros da Comissão, sobretudo as suas camaradas do Partido histórico, retorquiram que não haveria discussão nenhuma, porque ele, como o responsável da instituição das F-FDTL, nunca mais mostrou a cara nas investigações e, apenas apareceu, no início da apresentação da Comissão às Forças e, por essa razão, só lhe cabia assinar. Será que o teor desse documento é que começou a dividir as Forças? Sinceramente, eu começo a acreditar que sim... a lembrar-me do ‘grande respeito e veneração’ que ele, Secretário e depois Ministro, tinha para com os veteranos, a quem era inadmissível apontar-se um... ... ... e isto faz-me lembrar do Raul Solnado, quando lhe falaram d... ‘a ponte Salazar’!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">1</span> - Quero lembrar aos leitores, que os 42 militares expulsos em 2005, por acumulação de faltas, foram ‘vítimas’ da não implementação de uma das recomendações do Relatório! E, então, foram eles que dividiram as F-FDTL?<br /><br />O Rai Lós foi aproveitado, isto é, foi contratado por Rogério, para ‘atacar o Quartel-General das F-FDTL’!!! Aquele, que o aproveitou, é que ‘dividiu as F-FDTL, enfraquecendo-as’?<br />Os Peticionários? Os peticionários eram 159, isto é, os que assinaram a petição! Os outros, conforme informações do próprio Governo, saíram em solidariedade com os colegas, outros por intimidação e ameaças por parte do Gastão Salsinha! Foi o Gastão Salsinha e um pequeno núcleo, quem ‘dividiu as F-FDTL, enfraquecendo-as’?<br /><br />Algum conselheiro militar estrangeiro a trabalhar com as F-FDTL, americano ou australiano? Os partidos da oposição? Membros da Igreja? A sociedade civil? Os jornalistas que andavam a fazer entrevistas ao Gastão Salsinha?<br /><br />As missões diplomáticas em Dili? O Alfredo Reinado? O Tara, o Presidente do PD, Senhor Fernando La Sama, o Senhor Dr. Lucas da Costa, o Senhor Dr. Vital do Santos, que formou (também) uma Frente (ainda não histórica, só tem 6 meses de vida), ou o Senhor Pe. Domingos Maubere?<br /><br />O Presidente da República, que não concordou com uma solução que, segundo a sua opinião, não era justa e equilibrada? O ‘ACTOR INTERNO’ devo ser eu mesmo, como bem aponta a Comissão Internacional de Inquérito Independente, quando mencionou a minha Mensagem de Março, a qual, dividindo o país, em 2 partes, dividiu as F-FDTL!!!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">2</span> – Depois da saída do Alfredo, do Tara e do Marcos, os problemas complicaram-se um bocado. Havia apreensões de que eles se juntariam aos peticionários. Depois do primeiro susto, por parte do Estado, o então Ministro Ramos-Horta tomou a iniciativa de contactar com eles. Porque o Primeiro Ministro apoiou, foi-me comunicado e todos concordámos que ele, Ministro, os persuadisse para o diálogo, nas F-FDTL, a fim de minimizar o impacto que a saída dos três pudesse ter junto das populações.<br /><br />O Ministro encontrou-e com a Alfredo, ainda em Aileu, e este prometeu ao Ministro, permanecer apenas em Aileu,até que se decidisse quando deveria ser o encontro. Até o próprio Ministro tinha contactado já a Diocese de Díli, para facilitar que esse encontro tivesse lugar em Dare! Todos concordámos e demos o nosso aval àquela iniciativa!<br /><br />O combate de Fatu Ahi, em 23 de Maio, deitou por terra todos os esforços do Ministro Horta, que nos informou (a mim e ao Primeiro Ministro), ‘enfurecido’ com a desobediência do Alfredo e a quebra da promessa feita de não sair de Aileu.<br /><br />Depois da chegada das Forças Internacionais, a decisão que se tomou, foi a de acantonar o grupo de Alfredo (em Maubisse, para onde fora, depois de Fatu Ahi) e os restantes, incluindo os peticionários, em Gleno. As Forças Internacionais responderam a esta decisão e enviaram dois grupos para as duas localidades, implementando assim o acantonamento. Ainda com a INTERFET, procedeu-se ao acantonamento e acantonamento significava que esses militares podiam estar de posse das armas, numa área estabelecida mas que, fora dessa área, tinham que andar desarmados.<br /><br />Entretanto, ainda sob a iniciativa do Ministro Horta, e com a nossa concordância (minha e do Primeiro Ministro), estava-se a tentar a realização de um encontro ‘secreto’, entre o Brigadeiro Taur Matan Ruak e os três Majores (Reinando, Tara e Tilman), o qual teria lugar num dos vasos de guerra australianos. E esse encontro podia aconselhar um outro, também secreto, entre os três e demais oficiais superiores das F-FDTL, sob a indicação do Brigadeiro Ruak.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">3</span> – Tive o primeiro encontro com o Alfredo Reinado, este trazido pelo Ministro Horta, que também chamou a média. Protestei junto do Ministro, mas as máquinas fotográficas já estavam a lançar faíscas de registo do ‘grande momento’ e.... fomos todos ‘obrigados’ a prestar declarações à imprensa.<br /><br />O assunto discutido, foi a preparação do tal ‘encontro secreto’ e decidiu-se que o Tara e o Marcos Tilman deviam juntar-se ao Alfredo, em Aileu, para estarem mais próximos. O Ministro concordou que só os peticionários deviam permanecer em Gleno. Foi assim que, posteriormente, escrevi, em 29 de Maio, ao Alfredo: ‘Major Alfredo – Bom Dia! Já combinei com as Forças Australianas e vocês têm que ir estacionar em Aileu! Por favor, cumpram esta ordem! Se houver peticionários convosco, eles têm que ir juntar-se a Gleno. Eu também estou a escrever ao Ten. Salsinha para implementar esta ordem! Abraços a todos!’<br /><br />Se isto era ‘dividir as F-FDTL, enfraquecendo-as’, o Secretário-Geral do Partido não informou correctamente o ilustre CCF! Porque ele sabia das iniciativas do seu Ministro, Sr. Dr. Ramos-Horta, às quais nós demos o nosso inteiro aval!<br /><br />E o encontro, esse tal ‘secreto’, nunca aconteceu, por causa do ‘golpe constitucional’ por parte do Presidente da República, como o Dr. Abrão Vasconcelos (repito: não se já é membro do CCF... e não me admira se já é, pois tem calibre para isso!) se satisfazia a informar às pessoas da grande novidade dos nossos tempos!<br /><br />Pessoas incorrigíveis passam rumores a toda a cidade de Díli... de que a fotocopiadora do Parlamento Nacional, está avariada! Quer o povo, pagador do imposto, saber porquê? Porque a Senhora Deputada, Dra. Merita Alves, andava ocupadíssima a exigir àquela pobre máquina que produzisse cópias e cópias e cópias da muito conhecida ‘declaração do Abílio Mau Soko’, para a mesma ser distribuída a todos os militantes do Partido histórico, em todo o Timor-Leste, e, claro, enviada também à Austrália, para consumo de todos quantos se consideram mais elevados que outros seres neste pequeno mundo de Timor-Leste, porque reclamam, de uma ou de outra forma que ninguém conhece, serem também históricos.<br /><br />A fotocopiadora ainda teve que responder às exigência revolucionárias da distinta deputada, Dra. Merita Alves e dos seus e suas camaradas, para também obterem cópias e cópias e cópias do meu bilhete ao Alfredo Reinado.<br /><br />Nós acompanhámos, com tristeza, o regozijo da Senhora Doutora Merita, assim como acompanhámos, também com desolação, o afã de certos membros do Governo que dispenderam o seu tempo de serviço ao Estado, a fotocopiar a mensagem, por mim enviada ao Alfredo, como a evidência inquestionável do acto de crime, praticado pelo Presidente da República!<br /><br />Ilustres doutores do CCF! O mundo dá muitas voltas! E, é um comportamento humano e natural, acomodarmo-nos às voltas que o mundo dá, sobretudo, quando os dólares significam ‘posição certa’, em instituições democráticas, do nosso Estado de Direito!<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">ii) aliciar a PNTL e conseguir a sua inacção na defesa das instituições democraticamente eleitas ou mesmo dividi-la para melhor a enfraquecer e colocar parte dela a favor da acção contra o Governo Temos que dividir este parágrafo, em duas partes:</span><br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">A – ‘conseguir a sua inacção na defesa das instituições democráticas ou mesmo dividi-la para melhor a enfraquecer e colocar parte dela a favor da acção contra o Governo.</span><br /><br />O CCF (eleito muito transparentemente no Congresso de Maio de 2006) deve estar a referir-se ao assalto que os jovens fizeram ao Palácio do Governo, em 28 de Abril de 2006)! Aí, sim, concordamos todos que se conseguiu a ‘inacção’ da PNTL, na defesa do ‘I Governo constitucional, democraticamente eleito em Agosto de 2001, nas eleições para a Assembleia Constituinte!<br /><br />Podem-se apontar três casos distintos, contudo muito interligados entre si:<br /><br />1 Segundo o Primeiro Ministro e Secretário-Geral do Partido histórico, o Rogério estaria ou estava na base de toda aquela ‘inacção na defesa das instituições democráticas’, que era o Palácio do I Governo constitucional eleito em Agosto de 2001, porque ele, Rogério, não cumpriu as ordens do seu camarada Primeiro Ministro e muito provavelmente, sabotou também o sistema de rádio e comunicação;<br /><br />2 Segundo o Primeiro Ministro e Secretário-Geral do Partido, o Comandante-Geral da PNTL, Comissário Paulo Martins, não tomou as providências necessárias e não mandou actuar com dureza sobre os jovens, para parar com o vandalismo; e, pior de tudo, conforme o Primeiro Ministro e Secretário-Geral, o mesmo Senhor Paulo Martins dirigiu-se aos manifestantes, que depois pararam imediatamente, dizendo-lhes: ‘To’o ona’ (Chega!), de modo a dar a entender às pessoas como ‘pronto, já cumpristes, e não é preciso mais!’. Admirou-me imenso que o Gabinete da Crise pudesse querer decifrar, com a exactidão mais apropriada, o sentido e a entoação das palavras proferidas, por alguém!<br /><br />3 O comandante de pelotão da UIR, que estava ali postado, durante os 4 dias e retirou os seus elementos para Becora, na hora exacta do começo da violência;<br /><br />Estes três senhores têm que responder pela ‘inacção’ da polícia na ‘defesa das instituições democráticas’, que era o Palácio do I Governo constitucional, eleito democraticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em 30 de Agosto de 2001.<br /><br />Nota - A UNMIT, cujos comissários internacionais conseguiram a ‘inacção’ dos elementos da polícia, que depois foram mortos. E a UNMIT ou os comissários da UNPOL que provocaram a ‘inacção’ e a morte de elementos da polícia, terão também que responder pelos seus actos.<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">B – ‘Dividi-la para melhor a enfraquecer e colocar parte dela a favor da acção contra o Governo’</span><br /><br />Dos que cometeram o plano (nunca esqueçamos, caríssimos leitores: ‘bem traçado e que vinha sendo implementado’) de dividir a PNTL, e que todos agora sabem, seriam:<br /><br /><span style="font-weight: bold;">1</span> O distinto Deputado, Senhor Dr. Elisário, o Secretário de Estado e Secretário-Geral Adjunto do Partido histórico, o Senhor Dr. José Manuel Fernandes, o Assessor do Primeiro Ministro para o Serviço de Informação Nacional, Senhor Eng. Ricardo Ribeiro, por incentivarem o aparecimento do Grupo Nacionalista na PNTL;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">2</span> O Senhor Vice-Presidente do Partido histórico, Senhor Rogério Lobato, que deu armas da polícia a civis (e alguns deles, expulsos da F-FDTL) e fardou civis com o fardamento da URP;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">3</span> O Senhor Major Alfredo Reinado que, numa patrulha conjunta com a PNTL, abandonou o seu posto de Comandante da Polícia Militar, levando consigo alguns elementos da UIR;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">4</span> O distinto deputado Leandro Isaac, que albergou muitos elementos da polícia em sua casa e se armou a si mesmo com uma arma da instituição;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">5</span> O adjunto do Comandante-Geral. Lino Saldanha, por ter levado membros da Polícia Nacionalista para se juntarem às F-FDTL, em Metinaro;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">6</span> O Comandante-Geral, Senhor Paulo Martins, por ter desarmado, como lhe acusam, os polícias da fronteira e da UIR, originários de Loro Sa’e;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">7</span> O Presidente da República, por ter recebido em sua casa, o Senhor Comandante-Geral Paulo Martins, que abandonara o seu posto em Díli e fugira, por conselho do Brigadeiro-General Taur Matan Ruak, que lheninformou que onde ele, Paulo, estava, iria ser área de operação militar.<br /><br />Todos os timorenses gostariam de ficar esclarecidos sobre as Fases de Recuo e o Acordo de Coordenação entre as F-FDTL e a PNTL, que o Gabinete da Crise aprovou. O Gabinete da Crise era formada essencialmente por: o Primeiro Ministro, Senhor Dr. Mari Alkatiri, a Senhora Dra. Ana Pessoa, o Ministro de Defesa, Senhor Dr. Roque Rodrigues, o Ministro do Interior, o Senhor Rogério Lobato, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Senhor Dr. Ramos-Horta, o Brigadeiro-General Taur Matan Ruak e o Comssário Paulo Martins.<br /><br />E isto tudo que aconteceu, foi um ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementando’ para ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’, ‘para derrubar o Governo’.<br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">iii) ‘transformar o problema criado dentro das F-FDTL da alegada ‘discriminação’ Loro Monu/Loro Sa’e em problema nacional levando-o a afectar todas as instituições do Estado, em particular, as de defesa e segurança’;</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">1.</span> Eu tinha razão e continuo a questionar a pura perda de tempo da Comissão dos Notáveis, de que a membra do CCF e Ministra de Estado e Ministra de Administração Estatal, a Senhora Dra. Ana Pessoa, é cabeça!<br /><br />Se se sabe que era ‘alegada a discriminação Loro Monu/Loro Sa’e’, para quê e porquê o Primeiro Ministro e Secretário-Geral do Partido, formou essa Comissão, depois da manifestação dos peticionários? Foi apenas para tentar acalmar os ânimos? Porquê essa Comissão quer continuar com as suas actividades, mesmo sabendo de que era alegada qualquer discriminação?É apenas no espírito generoso de enganar as pessoas?<br /><br />Para falar a verdade verdadinha, eu nunca esperava que a Senhora Dra. Ana Pessoa, conhecida e respeitada por todos, pela sua insofismável autoridade moral e inatingível integridade política, fosse cair na esparrela do Dr. Mari Alkatiri! Eu não acredito, não acredito, não acredito, que a Senhora Dra. Ana Pessoa aceitou... só para poder usar o título de ‘Presidente’ da Comissão! Que loucura!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">2.</span> Agora, reparo que a miopia política dos doutores do CCF... é algo que... ‘vinha sendo implementado’. Em Julho de 2002, numa reunião com a bancada do Partido da maioria da Assembleia Constituinte, que passara automática e constitucionalmente, para bancada da maioria no Parlamento Nacional, os ilustres membros do CCF do Partido histórico, chefiado pelo Senhor Dr. José Reis, onde também estava o Senhor Dr. Francisco Branco, pediram-me para intervir, com dureza, contra as actividades da CPD-RDTL que era ‘um problema nacional’. Lembro-me (e desculpem-me, Senhores Doutores, se às vezes, a minha, é memória de galinha... como acontece a muita boa gente!) que lhes disse, naquela altura: a CPD-RDTL não é um problema nacional, mas um problema da Fretilin; se tivessem resolvido as diferenças, políticas ou ideológicas, já em 2000, hoje não estariamos com a CPD-RDTL, gritando todos os dias contra tudo o que se está a fazer!<br /><br />Muitos timorenses, a raia miúda, o zé-povinho, sabem que o problema tornou-se nacional, por alegadas afirmações de ‘vocês do Oeste, não lutaram’ e não propriamente a tal ‘alegada’ discriminação. Porque aquela ‘alegada’ afirmação, alegadamente estava a ofender as pessoas, alegadamente essas pessoas sentiram que era um insulto, já que a guerra ocorreu em todo o território nacional. Mas, por isso mesmo é que se pedia tanto às F-FDTL e ao I Governo constitucional democráticamente eleito, nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001, para resolverem essas ‘alegadas’ alegações dentro dos quartéis, a fim de que esses falsos boatos não transbordassem para fora dos quartéis e afectassem os delicados sentimentos da população!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">3.</span> Caramba, Senhores Doutores do CCF, eleitos democrática e transparentemente no Congresso de Maio de 2006, querem saber agora, o que eu disse, no Conselho do Estado, de 21 de Junho de 2006, ao vosso camarada Presidente do Partido e ao vosso camarada Secretário-Geral: ‘Espanta-me e o povo se espanta também, que membros do CCF pudessem ter a veleidade política de fazer declarações como ‘Correrá sangue de novo!, Timor ficará em pó!, e, Só a Fretilin pode criar estabilidade e instabilidade!’.<br /><br />Devo confessar, os vossos dois camaradas, vossos superiores hierárquicos, foram tão honestos que declararam ao Conselho do Estado que não tinham sido eles a proferir tais ameaças! Só pude lamentar, como os dois líderes máximos de um Partido histórico, não chamaram a atenção aos seus camaradas subordinados, eu penso, que automáticamente muitos envergaram a camisola da história! Mas, afinal, nunca deveriam ter sido ameaças! Era a ‘defesa da soberania, a defesa do Estado de direito democrático, a defesa das instituições democraticamente eleitas’ – e ninguém esquece jamais: ficou registado em letras de ouro vermelho na nossa história, que a Fretilin foi eleita democraticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001!<br /><br />E, senhores leitores, todas aquelas corajosas declarações de membros do CCF e deputados no Parlamento Nacional constituem, o que nós todos tentamos entender, ‘o respeito pela ordem constitucional democrática’!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">4.</span> Porque ‘todas as instituições do Estado estavam a ser afectadas’, passemos à operação de busca dos actores!<br /><br />Quem foi o ‘actor interno’, do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, ‘dividindo as F-FDTL’ para ‘criar o clima de caos e de ingovernabilidade’.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">CONCORDO E ACEITO:</span> Foi o Presidente da República, na sua mensagem de Março, que dividiu o país em 2 partes: Loromonu e Lorosae, tornando o problema, que nunca existiu nas F¬FDTL, um ‘problema nacional’, que ‘afectou todas as instituições do Estado, em particular, as de defesa e segurança’!<br /><br />Aqui, de ‘coração nas minhas mãos trémulas’, repito, Notabilíssima Senhora Dra. Ana Pessoa, Presidente da Comissão dos (menos) Notáveis: ‘Não vale a pena perder tempo!<br /><br />Ou arquive o dossier, como se faziam aos relativos a casos de corrupção (que, diga-se de passagem nunca existiu, eram apenas boatos) ou, melhor ainda, deixe o tempo correr, como o caso de 4 de Dezembro de 2002! Se não decidir assim, pode ofender as pessoas (a quem se devia proibir de possuir sentimentos), pode ofender a população iletrada, pode ofender esta sociedade mal-criada (= mal-nutrida) que pensa que pode pensar (e mal)... que algo de muito importante e notável (= objectivo e concreto) possa sair da Comissão de que já, em pessoa, é Presidente!<br /><br />Olhe que o STAE precisa dos seus cuidados e, não se esqueça, a CNE está sob a sua douta responsabilidade!<br /><br />Às vezes, enquanto escrevo, tenho medo de que outras pessoas conheçam o meu pensamento ou que outras pessoas pensem como eu: Se membros do CCF afirmaram, a bom som e com ares de poderosos (= os que detêm o freio do cavalo), que se repercutiu em todo o Timor (em bom português podia-se dizer: de lés a lés!), que só a Fretilin podia criar estabilidade e instabilidade, não será que é legítimo - (‘legítimo’, aqui, não significa ‘eleito transparentemente’!) – perguntar-se, com a ousadia que pequenos cidadãos, às vezes, assomam para transparecer coragem democrática:<br /><br />NÃO SERÁ QUE TODA ESTA INSTABILIDADE FOI CRIADA PELA PRÓPRIA FRETILIN?<br /><br />Mas, acreditem, caríssimos leitores: De cada vez que estes maléficos pensamentos tomam conta de mim e me penetram nas entranhas, abano a cabeça, espirro três vezes, e rezo imediatamente: ‘Pai nosso... livrai-me da tentação... de acusar as pessoas... que até são líderes históricos de um Partido com bases firmes nas massas históricas, eleito democraticamente, em Agosto de 2001, para a Assembleia Constituinte, a qual, por mandato constitucional, mudou automáticamente para Parlamento Nacional, do nosso Estado de direito democrático!<br /><br />Senhores Doutores do CCF, que merecem o meu total respeito e admiração!<br /><br />Perdoem-nos, nós os educados em Timor, os melhores são apenas ‘sarjanas supermi’ e sei que é uma ousadia, da minha parte, rebater a vossa científica, objectiva e acuradíssima análise política!<br /><br />Mas... que magnífica lição política, para nós... os outros, os actores!<br /><br />Nós, esse outros... que andamos a fomentar o ‘desrespeito pela ordem constitucional democratica’, com ‘um plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, para ‘pretensamente derrubar o Governo’, eleito democráticamente nas eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001!<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">iv) mobilizar e organizar pequenos grupos para manifestações numa prática generalizada e assim tornar o país ingovernável Já abordei na I parte, as manifestações que, segundo a douta análise dos doutores do CCF (democratica e transparentemente eleitos no Congresso de Maio de 2006), eram as fases de um ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, com total ‘desrespeito pela ordem constitucional democratica’, porque essas manifestações tinham o ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’ e que visava ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’ ao I Governo constitucional democraticamente eleito, em Agosto de 2001, nas eleições para a Assembleia Constituinte.</span><br /><br />Desculpem-me, ser tão longo! Mas preciso de continuar a não perder o sentido extremamente científico do pensamento político do histórico CCF!<br /><br />Isto é apenas para não enganar os leitores, sobre o que me moveu a escrever... como resposta humilde, irrelevante e sem bases nem teóricas nem práticas... de um cidadão golpista, como eu!<br /><br />Agora, passemos às manifestações no tempo da crise (igual a, ‘caos e ingovernabilidade’)!<br /><br />Quanto à ‘prática generalizada da violência’, os ilustres membros do CCF mostraram uma perícia política impressionante, na análise da violência que aconteceu em Dili, durante os recentes meses. Timor-Leste (esta república de ... oh!, páro aqui...), deve orgulhar-se por possuir tão fantásticos sociólogos, que perceberam, com a minúcia de bisturi de cirurgião, as motivações políticas e sociais dessa violência: ‘prática generalizada...para tornar o país ingovernável’, num ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, ‘a favor de um golpe para derrubar oGoverno’. FANTÀSTICO!<br /><br />Queria dizer, com incomparável, inexcedível... fantasia! (Quis evitar, porque estava à flor dos lábios, uma expressão de caserna: BESTIAL!)<br /><br />Motivações como: a vingança, a inveja social, a frustração por falta de emprego, a crimininalidade juvenil – como alguns estudiosos do violento fenómeno, descrevem, nas suas diversas fases e, posteriormente, organizadas (e rumores dizem: pagas) para manter ‘um clima de caos e de ingovernabilidade’ ao governo inconstitucional do Dr. Ramos-Horta, para os ilustres analistas do CCF, carecem simplesmente de substância sociológico-política.... porque não foi isso que aconteceu! Para eles, esses ilustres doutores do CCF, houve, sim, ‘um plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘a prática generalizada da violência’!<br /><br />No dia 29 de Maio de 2006, no Conselho de Estado, discutiu-se se devia ser ‘estado de crise’ ou ‘estado de sítio’. Estado de crise, foi um absurdo, que foi decidido, já que na Constituição da República, os constitucionalistas (os que escreveram, os escrivães) timorenses esqueceram-se de ‘plasmar’ (um termo muito usado pelo CCF) esse conceito no documento/Constituição.<br /><br />Eu disse, nessa reunião: “Estado de sítio, segundo a Constituição, restringirá alguns direitos fundamentais do cidadão. Mas podemos aceitar a restrição de alguns direitos, ‘plasmados’ na Constituição, como ‘o direito a manifestações’, o ‘recolher obrigatório’, o ‘direito a reuniões públicas”... E acrescentei: “Embora pareça que, como Presidente da República, eu terei aí um maior ‘controle sobre as coisas’, o que a Constituição garante é que não poderei dissolver o Parlamento”.<br /><br />O Presidente do Partido e o Secretário-Geral do Partido não concordaram e, porque eles fizeram a Constituição, o ‘estado da crise’ foi adoptado.<br /><br />Argumentaram a favor do ‘direito às manifestações’, desde que fossem não-violentas. Já na análise, os doutores do CCF, apontam para as manifestações como parte de um ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’!!!<br /><br />O CCF está num estado de trauma (para evitar o termo ‘estado de crise’), eu diria mais psicológico do que político! Em termos políticos, os seus ilustres membros são firmes e unidos! Em termos psicológicos.... eles têm medo de qualquer coisa! A verdade, às vezes, é um fantasma que nos persegue! Temos medo de que as pessoas conheçam a verdade... sobre nós!<br /><br />Por isso, é que, normalmente, as pessoas adoptam o comportamento de cágado!<br /><br />O ser humano é um animal não diferente dos outros animais! Como nos ensinam, este animal, o ser humano, que se comporta como os outros animais, tem alma, que os outros animais não têm e é, apenas, nisso a diferença entre este bípede dos outros quadrúpedes!<br /><br />Os animais também revelam, nas suas expressões, o furor, o medo, o cansaço, o lazer, a calmia, o sono, a fome ou doença! Nós, seres humanos, revelamos também diferentes expressões, segundo o nosso estado de espírito!<br /><br />Quando estamos confiantes, gritámos e outros fazem grandes e sucessivos ecos que ressoam, das cidades aos campos e regressam com o vento quente da falta de chuva... e ninguém nos pode aturar! Mas os dias não são constantes e, às vezes, o dia parece mais curto que o anterior! E aparece a apreensão, o medo de perder a boleia do tempo! E balbuciamos incongruências para nos satisfazer a nós próprios! Para encobrir o medo... de que outros saibam... que vivemos esse medo, sob a perseguição de um fantasma horrível: a verdade dos factos! A verdade não persegue ninguém! A verdade sempre aparece, quando menos se espera! E eu espero que a verdade me condene, mais do que a todos os outros actores, internos e externos, que inescrupulosamente, nos envolvemos num ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ com total ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’, organizando manifestações de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’!<br /><br />Estimados leitores, já falei demais e vamos a esses factos, condenatórios!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">1.</span> Reparámos que houve 2 tipos de manifestações:<br /><br /><span style="font-weight: bold;">a.</span> O 1.º tipo, promovido por Tara, era a implementação de um ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘criar um clima de caos e de ingovernabilidade’! Este tipo, concordo (e os leitores comigo), era o tipo de manifestação de total ‘desrespeito pela ordem constitucional democrática’! E, porque exigiam a demissão do Governo, este tipo de manifestações tinha um ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">b. </span>O 2.º tipo, são as manifestações de apoio à Fretilin e ao I Governo Constitucional, eleito democraticamente em Agosto de 2001, nas eleições para a Assembleia Constituinte, era o tipo de manifestações (que todos desejamos aconteça sempre assim, no futuro – as pessoas ainda se lembram da manifestação organizada por Rogério Lobato, mobilizada pelo seu mui eficiente Chefe do Gabinete, Senhor Eusébio Salsinha, apoiada com centenas de sacas de arroz, levadas pelo Senhor Bonifácio Magno, da Secretaria dos Veteranos), esse tipo de manifestações são pela defesa das instituições democraticamente eleitas, como foram as eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001 e as eleições transparentes no Congresso da Fretilin, em Maio de 2006.<br /><br />Neste 2.º tipo, o Actor principal da defesa das instituições democraticamente eleitas, é o Secretário-Geral Adjunto da Fretilin e Secretário de Estado de Região, o não menos histórico, Dr. José Reis. Conforme os rumores e perdoem-me se não é verdade, os actores de logística, são alguns portugueses (missionários da fraternidade lusófona) que, à noite, foram buscar (e compraram!) nas Alfândegas, as latarias da Ensul para serem distribuídas aos manifestantes que, mesmo assim, passaram fome. Mas a fome não era nada e foi aceite conscientemente por todos, porque estavam imbuídos do grandioso ‘dever constitucional’ de ‘defesa das instituições democraticamente eleitas’!!!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">2</span>. No 1.º tipo de manifestações, que visavam ‘tornar o país ingovernável’, os actores internos são sobejamente conhecidos:<br /><br />O major Tara, o Presidente do PD, Senhor Fernando La Sama e o Senhor Dr. Lucas da Costa, mobilizando de Ainaro a Suai, de Bobonaro a Ermera, e o Senhor Dr. Vital dos Santos, preparando o ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘tornar o país ingovernável’!<br /><br />Outros actores seriam, o Senhor Deputado Leandro Isaac, que andou a distribuir as camisolas, com fotos do Xanana, tornando as manifestações com ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’ (igual a, pro-Xanana e anti-Mari Alkatiri).<br /><br />Um outro actor escondido,é o Senhor Jorge Serrano que teve a sensatez política de conservar no seu armazém, aqueles milhares de camisolas, que sobravam das campanhas presidenciais de 2002! Eu acredito, não era nenhuma Visão política do Senhor Jorge Serrano, mas tanto ele como o Senhor Leandro, deviam ter jogado, na juventude, pelo ‘Olhão Futball Clab’!<br /><br />Podia haver, não houve rumores nesse sentido, que membros da Igreja viessem a cometer (e em casos de crime, diz-se ‘reincidência’) o pecado de socorrer os que têm fome e mitigar os que têm sede!<br /><br />Como actores externos, não devo especular, mas pode-se, mais uma vez, pensar nos conselheiros militares estrangeiros, no ex-embaixador Rees! Eu que tenho que manter esses nomes, porque senão, estamos a mudar de actores, por cada acontecimento... e fico desfeita a ideia de um ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’!<br /><br />O Secretário-Geral do Partido histórico sentia-se seguro quando apontava para ‘facções de direita australiana’ e ‘interesses económicos da Austrália’, os possíveis ‘actores externos’.<br /><br />Conheço Austrália, como muitos históricos membros da Fretilin conhecem, há trinta anos e não querem voltar, mas os rumores vindos da Austrália, dizem o seguinte, no mapa político australiano. Da ‘direita australiana’, a extrema, era o Partido ‘One Nation’, de Pauline Hensen, que defendia uma política anti-imigração asiática. ‘Direita’, apenas, no pobre entender de um cidadão que não percebe políticas, é o Partido Liberal de John Howard.<br /><br />A Esquerda, seria o Partido Trabalhista. A Extrema Esquerda, seria o Partido Comunista Australiano, que durante no início da luta apoiou, mas se distanciou da resistência, porque esta rumou para CNRM/CNRT e só a Fretilin na Austrália mereceu o contínuo e total apoio e solidariedade internacionalista. Segundo também os malditos rumores, a ‘Search Foundation’, do Partido Comunista Australiano, teria vindo a ser ‘the sponsor’ do Martinikus e do David O’Shea, sob a batuta do já conhecido (e antigo camarada) Peter Murphy. Que me perdoem o Martinikus e o O’Shea, mas os rumores chegaram-me em folha de papel solta, mal fotocopiada (não estou seguro se foi na fotocopiadora do Parlamento Nacional), igualzinha àquela que vocês receberam,do Abílio Mau Soko, como a GRANDE DENÚNCIA do século!<br /><br />Eu não sei se, em Portugal, também alguns profissionais da imprensa, como o Martinikus e o O’Shea, estavam a ser ‘suportados’ pelo ‘Search Foundation’. Quanto a mim, isto não me melindra em absoluto, porque posso a compreender as razões – a política de contenção do meu Amigo, Primeiro-Ministro José Sócrates, está a dificultar a vida aos portugueses!<br /><br />‘Xanana acusa a média portuguesa de receber dinheiro australiano!’ – vai ser o pomposo título, em todos os jornais portugueses. Só pedia, que traduzissem também em inglês, já que na RTPI, já vi reclames em ‘bom inglês’ de Oxford!<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">v) argumentar sobre a ‘incapacidade e inaptidão’ do Governo em solucionar a crise e, assim, exigir a sua demissão</span><br /><br />Este crime ‘profudamente anti-democrático e golpista’ é MEU! Nas palavras da Senhora Dra. Ana Pessoa seria, como disse no seu ‘sms’, dirigido a mim, de Lisboa: ‘Loucura do poder!’<br /><br />Eu argumentei isso: ‘incapacidade e inaptidão do Governo’ de gerir os problemas, que se transformaram na crise! E passo a explicar tudo, sem querer influenciar ninguém a acreditar em mim!<br /><br />1. Na tarde do dia 24 de Maio, pelas 18H00, o meu Chefe de Gabinete recebe um telefonema de que um senhor chamado Rai Lós queria falar, urgentemente, comigo, porque ele estaria envolvido na troca de tiros em Tasi Tolu.<br /><br />Embora no dia anterior ao combate, nos tivessem chegado rumores (que não acreditamos, porque já havia demasiados boatos), de que civis armados tinham vindo de Luquiçá para Tibar, disse ao Senhor Agio para evitar este tipo de contactos, porque podiam ser apenas armadilhas.<br /><br />Entretanto, porque fora informado pelo Primeiro Ministro, desse combate em Tasi Tolu, e percebi que eram os peticionários que tinham desencadeado o ataque, quis tirar as dúvidas e mandei averiguar se era verdade que esse Rai Los (que queria falar comigo) estava realmente envolvido nesse ataque ao Quartel-General das F-FDTL, em Tasi Tolu.<br /><br />Depois da chegada das Forças Internacionais, com o acantonamento do Alfredo Reinado, em Maubisse, e do Tara, Tilman e Gastão Salsinha, em Gleno, começou-se a ouvir falar muito de civis armados em Gleno e Leorema.<br /><br />Das informações que as F-FDTL produziam, e que me chegavam, dizia-se que havia civis armados no combate de Tasi Tolu, tendo alguns sido atingidos pelos tiros e morrido. E todo o mundo (e o nosso mundo é tão pequeno) falava já da existência de civis armados.<br /><br />Em todas as reuniões, que eu me lembre, o Primeiro Ministro e Secretário-Geral do Partido histórico, dizia-me invariavelmente: ‘Senhor Presidente da República, há necessidade de se actuar, com dureza, sobre os civis armados, que estão a aterrorizar a população’, referindo-se aos dois grupos de Leorema e Gleno.<br /><br />No início, desconhecendo ainda toda a história, eu concordei e inclusive as Forças Internacionais foram contactadas, mas, na altura, viu-se que o restabelecimento da normalidade em Díli, era a prioridade.<br /><br />Tive, entretanto, confirmação de quem era o Rai Los e, aí, recomendei que viesse à minha casa, para me explicar o que ele queria tanto transmitir-me. Foi, em 4 de Junho, que ele e .......... (membro do CCF, no Congresso de Maio de 2006), chegaram à minha casa. E informaram-me:<br /><br />-que eles tinham sido armados pelo Senhor Ministro Rogério Lobato e que tiveram também encontros com o Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro, na noite de 8 de Maio de 2006;<br /><br />- que receberam armas e fardamento da URP, por instrução do Ministro do Interior (e, segundo eles, com conhecimento do Primeiro Ministro);<br /><br />-que foram chamados pelo Ministro do Interior, em 23 de Maio, para virem ocupar o alto de Tasi Tolu, a fim de detêr os peticionários;<br /><br />-que, segundo a versão deles, foram detectados e atacados e tiveram que responder aos tiros e perderam 4 elementos;<br /><br />-que queriam falar comigo, porque sentiram que foram traídos, porque as ordens eram de detêr os peticionários, mas no fim o combate foi entre eles e as F-FDTL.<br /><br />A partir desse encontro com o Rai Los, fiquei sempre à espera que o Primeiro Ministro me dissesse... que sabia... ou soube.... que o seu Ministro do Interior tinha distribuído armas a civis. Mas, mesmo depois desse dia (4 de Junho), o Primeiro Ministro continuava a levantar o caso de civis armados, inclusive, o Primeiro Ministro me informou de que recebera informações de que, até em Bobonaro, também havia grupos de civis armados. E exigia, sempre com veemência, o uso de força para acabar com esses grupos de civis armados.<br /><br />Fiquei impressionado com, no mínimo, a ‘falta de confiança’, por parte do Primeiro Ministro, já que, num dos dias, em que o Rai Los estava em minha casa, o próprio Rogério falou com o Rai Los, todo excitado, porque o grupo não estava a cumprir as suas ordens de ‘parar o comboio dos manifestantes’ que desciam de Ermera e ‘pôr fogo às viaturas’. Foi esta conversa telefónica, que me garantiu que Rai Los não estava a mentir, pelo menos, no facto de o Senhor Rogério ter dado as armas (confirmado pelo Cmdt. Da Polícia da Fronteira, Senhor António Cruz, posteriormente, a mim) e que o Senhor Ministro continuava a detêr, sobre o grupo, o comando das operações.<br /><br />A Comissão de Investigação Internacional Independente perguntou-me o porquê de eu não ter colocado a questão ao Primeiro Ministro, ao que eu respondi: ‘O problema era, a quem competiria informar quem! O Presidente da República ao Primeiro Ministro ou o Primeiro Ministro ao Presidente da República?’ A Constituição da RDTL, aprovada pela Assembleia Constituinte, eleita em 30 de Agosto de 2001, no seu artigo 107.º diz que ‘o governo responde perante o Presidente da República e o Parlamento Nacional, pela condução e execução da política interna e externa’. De propósito, queria ver até quando o Primeiro Ministro se manteria calado... nesta matéria.<br /><br />O caso de Rai Los começou a ser sabido por todos e o Primeiro Ministro até comentou sobre ele, dizendo que ele não era uma boa peça, porque estava envolvido em actividades de contrabando e que o Rakat não era melhor que ele, porque ganhou um tender para fornecer alimentação à Polícia na fronteira e sempre houve problemas nesse aspecto, com a Polícia a passar dias ou semanas, sem alimentação!!! Eu foi recomendando ao Rai Los para se manterem quietos, porque só o Procurador-Geral da República estaria mandatado para ver o seu caso, como outros casos, em que as pessoas, voluntariamente, foram entregar as armas, em minha casa!<br /><br />As coisas foram correndo assim, até que o ABC, no seu programa ‘Four Corners’ divulgou o assunto! Porque costumo seguir as notícias internacionais (como já era costume no mato, onde e quando a histórica DFSE (Delegação da Fretilin em Serviço no Exterior) nunca me mandou um pedaço de papel, em resposta aos relatórios que enviava ‘regularmente’ sobre a situação da guerra, no interior do País), fiz uma cópia do Programa e mandei-o ao Primeiro Ministro, embora sabendo que as ‘antenas revolucionárias e históricas’, residentes na Austrália, tivessem também feito o mesmo!<br /><br />Falando de notícias internacionais, devo informar aos leitores, entre parêntesis, que pela RTPI, pude ‘seguir’ o Congresso do PS, em Santarém, onde se revelaram as diferenças no próprio Partido, onde se ouviram críticas ao seu próprio Governo (socialista), mas... não aconteceu ... ninguém expulsar ninguém do Partido, por manifestar as suas opiniões contrárias! Que bela lição... para os Partidos da Oposição daqui!... porque os históricos, esses ensinam, não aprendem!<br /><br />Desculpem o parêntesis e, voltando atrás, os Conselheiros (do Conselho do Estado) portaram-se magnificamente, não aceitando que o documentário do ‘Four Corners’, fosse tomado como evidência de alguma coisa!<br /><br />Depois de todos se expressarem (no Conselho do Estado, adoptámos a regra de não limitar o tempo a ninguém), intervim e assegurando a todos que eu não um juiz, até porque nem estávamos num Tribunal, interpelei o Primeiro Ministro:<br /><br /><span style="font-weight: bold;">A </span>- À pergunta de se ele sabia que o Rogério andava a armar civis, o Primeiro Ministro disse: ‘Não!’;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">B </span>- à pergunta se até aquele dia, o Primeiro Ministro não sabia de nada e só depois de ver o documentário, é que ele passou a ter conhecimento dessa distribuição, o Primeiro Ministro, respondeu: ‘Sim!’;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">C</span> -À pergunta se sabia que o Rai Lós tinha sido armado pelo Senhor Ministro Rogério, o Primeiro Ministro disse ‘Não!’;<br /><br /><span style="font-weight: bold;">D</span> - Como o ‘Four Corners’ mostrou um ‘Sms’ do Primeiro Ministro, em 4 de Junho, ao Rai Los, perguntando-lhe ‘para onde é que iam’, coloquei a questão de se, em 4 de Junho, o Primeiro Ministro sabia que o Rai Los estava já armado. O Primeiro Ministro disse que ‘Não sabia’ do facto de ele estar armado e, depois, explicou aos membros do Conselho do Estado que, apenas mandou o ‘Sms’ para o Rai Los, porque ele, Primeiro Ministro, o conhecia bem, porque foi Delegado da Fretilin ao Congresso e que até o recebeu, em casa, na noite de 8 de Maio, para falar sobre a situação geral do Partido!<br /><br /><span style="font-weight: bold;">E</span> – Perante tal resposta, eu levantei uma outra questão: O Rai Los disse-me que, no dia 24 de Maio, durante a troca de tiros em Tasi Tolu, sentindo-se traído por Rogério, telefonara ao Ministro e que também falou com o Primeiro Ministro. O Primeiro Ministro lembrou-se então desse facto e disse aos membros do Conselho do Estado: Foi só, em 24 de Maio, que soube que o Rai Los e os seu grupo fora armado pelo Rogério e, a partir desse dia, 24 de Maio, ordenei e sempre insisti com o Rogério para os desarmar imediatamente, mas o foi Rogério quem não cumpriu as minhas ordens!’<br /><br /><span style="font-weight: bold;">F</span> – À pergunta de se ele sabia que o seu Ministro distribuía as fardas da URP a civis, o Primeiro Ministro disse que foi só em 24 de Maio, no dia do combate em Tasi Tolu.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">G</span> – À pergunta de se ele já sabia disso, durante ainda a troca de tiros, no alto de Tasi Tolu, que civis, fardados à URP, estavam de posse de armas, distribuídas pelo Rogério, será que ele, Primeiro Ministro, comunicou o facto do Brigadeiro Taur Matan Ruak, para se evitar que este armasse também civis para atacar o Quartel-General da Polícia, o Primeiro Ministro respondeu que ‘se não tivesse falado com o Ruak, ele teria armado mais de 500 reservistas’! Eu disse que devia ter dado uma ordem expressa de proibição, e o Primeiro Ministro repetiu que se não tivesse sido ele, mais de 500 reservistas teriam sido chamados.<br /><br />Só pude lembrar a ele, Primeiro Ministro, da conversa que tivemos, em sussurros, sobre ‘não armas civis’, tendo ele insistido que só não tivesse intervindo, ‘Ruak teria armado mais de 500’. ‘Devia ter impedido’ – foi apenas o que pude dizer.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">H </span>– Lamentei que, embora tendo tido conhecimento desde 24 de Maio, sobre o armamento de civis por parte do Rogério, o Primeiro Ministro, em nenhum momento anterior àquela reunião do Conselho do Estado, me disse absolutamente nada, enquanto insistia comigo e com veemência uma operação para neutralizar os grupos de civis armados.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">I</span> -Lamentei também que ele, Primeiro Ministro, tivesse deixado toda a sociedade, o povo e a mim mesmo, como Presidente da República, pensar que tivesse sido o Comando da Polícia a distribuir armas a civis e que tivessem sido os peticionários a engendrar o ataque às F-FDTL.<br /><br />Aprendi, na vivência institucional entre os dois Órgãos, que a ‘confiança’ era um factor crucial... nas relações! Ao propôr ao Presidente da República, os nomes para ministros, vice-ministros, secretários de estado, embaixadores, existe, sempre latente, a prerrogativa do Presidente da República colocar as suas reservas sobre um ou outro.<br /><br />Houve casos em que eu coloquei as minhas reservas, nuns aceites e noutros não. Mas foi assim que se trabalhou.<br /><br />Neste sentido, coloquei ao Conselho do Estado e ao Primeiro Ministro que o problema entre nós estava cingido a esta questão: ‘Como é que eu, como Presidente da República, podia continuar a depositar confiança no Primeiro Ministro, se o Primeiro Ministro me ocultou a verdade das coisas que aconteceram?’ E a crise não é o produto de um acto de corrupção que um funcionário tivesse praticado, mas dizia respeito a questões fundamentais de segurança do país!<br /><br />Se o Rai Los não tivesse perdido os seus 4 elementos, e não se sentisse traído, nunca ele teria aproximado de mim, para contar a sua ‘história’! E Rai Los é de Bazartete! Rai Los não é de Manatuto ou Laleia! Apóa longa discussão entre os membros do Conselho do Estado, eu disse: ‘O que aconteceu no nosso país é muito grave! Ainda em Janeiro deste ano, fui a Nova Iorque, entregar ao Secretário-Geral da ONU, o Relatório da CAVR, cujo título é expressivo: Chega! E que significa ‘Nunca mais à violência política em Timor-Leste’. 3 meses depois, perdemos o controle das nossas emoções e permitimos que as duas instituições do Estado, supostamente a garantia para a segurança da população, entraram num conflito armado, causando mortes e uma situação de medo na população. As crianças deixaram de ir à escola, o Estado ficou pràticamente paralisado! A violência e os estragos foram grandes demais!’<br /><br />Ao longo dos debates, fui repetindo: ‘O que eu não concordaria é que fiquemos assim de braços cruzados, como se o Estado não tivesse tomado consciência dos males que afectam a nossa população! E pedi para todos considerarem que a uma decisão teria que sair daquela reunião’.<br /><br />Senhores doutores do CCF! A ‘incapacidade e inaptidão’ eram dos outros, que já tinham ‘um plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, com ‘total desrespeito pela ordem constitucional democrática’, visando ‘derrubar o Governo’ constitucional, por mudança automática, em 20 de Maio de 2002, da Assembleia Constituinte, eleita em 30 de Agosto de 2001, para Parlamento Nacional! Senhores doutores do CCF, peço desculpas se me esqueci de algumas frases como a de ‘carácter profundamente anti-democrático e golpista’, etc., etc., etc. e etc., mas permitam-me que utilise, depois, em outras passagens. Prometo, não se zanguem! Se não utilizo sempre, é apenas para não cansar os leitores! Obrigado pela vossa compreensão humana!<br /><br />Falando de humanos, os homens não se medem aos palmos, é verdade! O Napoleão Bonaparte, diz a história, era um palmo de homem, mas grande comandante de guerra!<br /><br />Às vezes, queremos espreitar as oportunidades de ‘aparecermos’ como ‘valentes cabos de guerra’ e o resultado é tornarmo-nos cabos de vassoura, porque a guerra é uma ciência, e ao mesmo tempo, é uma arte! Na arte plástica, quem não tem jeito para desenhar, não pode vender quadros... e... compra... e colecciona... apenas! Como humanos, muitas vezes, não resistimos ao desejo de mostrar que somos polivalentes e o resultado é quase sempre, que nos dizem que, pelo menos, fomos ‘valentes’ a tentar!<br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo;</span><br /><br />Respondo a isto, na próxima edição!<br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">vii) camuflar, tanto quanto possível, de modo a que o derrube do Primeiro Ministro não fosse entendido como um golpe mas sim um acto em conformidade com os poderes constitucionais do Presidente da República</span><br /><br />1. O Primeiro Ministro, na reunião do Conselho de Estado, em 21 de Junho, pediu e insistiu para ‘ir consultar o Partido e reunir com o Conselho de Ministros’ e que, no dia seguinte, pelas 16H00, ‘daria a resposta’ ao Presidente da República.<br /><br />Todos os membros do Conselho do Estado devem lembrar-se ainda que eu já estava de pé, quando anunciei a minha resignação e que iria escrever ao Parlamento Nacional e foi o Primeiro Ministro que me interrompeu, pedindo que lhe fosse dado tempo para consultar o Partido e o Conselho de Ministros, porque ele disse: ‘entre o Senhor Presidente da República e eu, prefiro ser eu!’<br /><br />Eu mencionei ‘todos os membros do Conselho do Estado’, mas pode haver quem já nem se lembre. Costuma-se dizer que ‘errar é próprio do homem’ mas, agora, podemos juntar ‘esquecer, propositadamente, também é humano’! Conheço intelectuais íntegros e politicamente sólidos, inflexíveis nos seus princípios e extremamente conhecidos pela sua capacidade de memorização e que, por causa da crise, de repente...mente, passaram a um estado de amnésia – não se lembram dos seus actos, não se lembram das reuniões, não se lembram das pessoas, não se lembram dos assuntos, não se lembram das decisões que eles tomaram!<br /><br />Estes escolheram a melhor forma de continuar a garantir a sua integridade, que não pode ser violada! Porque esquecem fàcilmente, não têm o trabalho de olhar para dentro de si mesmos, não têm o trabalho de sentir a vergonha pelos seus próprios actos, porque o esquecimento (quanto mais o propositado!) ilibou-os de tudo e de nada! Merecem uma estátua, magra mas séria, com ar de intelectual, acima da mediocridade... em honra do esquecimento, que seria assim, o refúgio do mundo pensante, pensativo e pensador e éden de descanso dos puros e inocentes de toda a mácula!<br /><br />Outros esquecem, de propósito! Quer dizer, no seu interior, eles lembram-se mas recusam revelar pela sua própria boca! Para uns, é compromisso para com eles próprios!<br /><br />Para alguns, é compromisso com outros! Para todos, o compromisso é com os valores que ele comungam colectivamente! Somos uma sociedade muito pequena e sabemos se alguém ri à vontade ou mostra os dentes de desgosto. O ilustres membros do CCF sofrem de uma amnésiapolítica colectiva! É bom! Isto revela que a disciplina do Partido funciona, porque existe vigilância revolucionária contra o reaccionarismo da direita e dos golpistas, internos e externos!<br /><br />2. O termo ‘camuflar’ revela um conhecimento militar dos analistas do CCF!<br /><br />E os novos comandantes operacionais ou simplesmente ex-militares, percebem, eu creio, que às vezes, é tão espessa a camuflagem, que os próprios companheiros não sabem onde outros estão ‘escondidos’. O Senhor Lú Olo não percebe que está camuflado, nem o Senhor Dr. Mari sentiu que envergou um ‘camuflado’ perante o ilustre CCF (eleito ... transparentemente... no Congresso de Maio de 2006! Eles camuflam-se! Eles estão fardados de camuflado, para não serem visto! Porque só a camuflagem pode esconder a verdade dos factos, dos olhos inquiridores dos camaradas!<br /><br />Ou porque a crise criou ‘o caos e a ingovernabilidade’ na memória do Senhor Lu Olo ou porque o Senhor Dr. Mari Alkatiri preferiu a amnésia, como bálsamo para a sua própria consciência!... atribulada pelas conspirações!<br /><br />Eu já estava levantado, e de pé, agradeci a participação de todos, e encerrando aquela reunião do Conselho do Estado, declarei que, perante a situação que o Estado provocou e que causou sofrimento nas pessoas e na população, o Estado devia assumir a responsabilidade por tudo quanto aconteceu! E que eu iria assumir essa responsabilidade, em nome do Estado!<br /><br />E que me resignava, a partir daquele momento, faltando-me apenas enviar a mensagem de renúncia ao Parlamento Nacional!<br /><br />O Senhor Primeiro Ministro tentou interromper-me, falando, mas eu disse que a decisão já fora tomada! Outros membros intervieram, pedindo-me para deixar o Primeiro Ministro falar. Eu continuava de pé, porque a reunião terminara! O Primeiro Ministro repetiu que ‘entre o Presidente da República e ele, ele preferia ser a ele’, contudo, pediu tempo para ‘consultar o Partido e reunir o Conselho de Ministros’.<br /><br />Porque havia dificuldades na saída dos membros do Conselho do Estado e porque o Primeiro Ministro seria a primeira entidade a sair, chamei o Presidente do Parlamento ao meu gabinete. E o Senhor Lu Olo, repetindo o que ele mesmo tinha dito na reunião, pediu-me para reconsiderar e fez um elogio à ‘honestidade do Primeiro Ministro’ que, segundo o Senhor Lu Olo, ‘falou com o coração nas mãos’. Na reunião do CCF, o Senhor Lú Olo, talvez pelo seu passado recente de guerilha, camuflou-se e bem! E o Secretário-Geral do Partido e Primeiro Ministro foi tão honesto que, naquele mesma tarde, disse à média que não havia intenção nenhuma de resignar!<br /><br />Aqui, reconheço a minha fraqueza por ter cedido. Políticamente eu diria: por continuar a confiar no Primeiro Ministro! Devia ter sido mais firme para dizer: ‘Não! A decisão já está tomada! Já decidi e resigno-me!<br /><br />Se eu tivesse a capacidade dos doutores do CCF de ‘interpretar as entrelinhas’, eu teria percebido que o Secretário-Geral e Primeiro Ministro disse assim: ‘vou consultar o Partido!’, ‘vou consultar o Conselho de Ministros!’. Se eu fosse formado em direito e em psicologia política, teria compreendido a diferença entre ‘consultar’ e ‘informar’!<br /><br />Acreditei, com os olhos abertos (porque alguns acreditam cegamente, eu creio que se trata de catarata política!), da afirmação do Primeiro Ministro: ‘entre o Presidente da República e eu, prefiro ser eu!’. Quando se é aprendiz da política, como eu sou, não podia perceber também que era vago, vazio, oco, inócuo: a expressão não estava a dizer nada, absolutamente!<br /><br />Reconheço a minha ingenuidade política! Reconheci, naquela mesma tarde, quando a média<br />retransmitia a ‘não intenção do Primeiro Ministro de resignar’. Porque eu tinha dito no Conselho do Estado: ‘Eu não tenho problemas absolutamente nenhuns! Não será pelos 890 dólares limpos que eu recebo por mês, que me agrada continuar a ser Presidente da República! Eu seria, em todas as instituições do Estado, a única pessoa, cuja saída, não provocaria nem mexidas, nem choques, nem circuitos, nem impactos!<br /><br />Porque não fui firme e inflexível na decisão que eu tomara, hoje continuo a gozar as regalias de Presidente desta República de Bananas! O tal factor de confiança... que já não existia entre mim e o Primeiro Ministro... foi crucial na minha má decisão de continuar a acreditar que viesse a ser honesto!<br /><br />O CCF ajudou a ‘camuflar, tanto quanto possível’ o assunto sobre ‘o derrube do Primeiro<br /><br />Ministro’, para parecer que foi ‘um golpe’ e não ‘um acto em conformidade com os poderes constitucionais do Presidente da República! Nessa reunião do Conselho de Estado, de 21 de Junho, eu disse:<br /><br />‘Respeito a opinião de alguns membros de Conselho de Estado que exigiam a demissão do Governo e dissolução do Parlamento, mas quero colocar esta questão de uma forma mais abrangente: Se se demitir o Governo, teremos problemas com a nomeação de outro Governo, com impacto em todas as outras actividades, como planos, orçamento, etc. já que o tempo que resta do mandato é muito curto. Se se dissolve o Parlamento, temos imediatamente o problema de quem aprova o orçamento do Estado e teremos que ir para novas eleições, mas ainda não existe a Lei eleitoral! Isto tudo provoca muitos impactos na vida normal do Estado.<br /><br />E continuei: O Presidente é órgão unipessoal. A Constituição diz que ‘em caso de renúncia do Presidente da República’ e apontei para o Presidente do Parlamento disse, o Presidente do Parlamento vem, imediatamente, exercer interinamente estas funções de Presidente da República’. E disse, mais de uma vez: ‘Não estou a pedir sacrifício de ninguém! Estou apenas a pedir a responsabilidade do Estado! Desta reunião do Conselho do Estado, tem que sair uma decisão, para que o povo saiba que o Estado está consciente do que cometeu e reagiu ao seu sofrimento! E eu assumo esta responsabilidade. Eu resigno-me!’<br /><br />Porquê o meu irmão e Senhor Lú Olo não informou isso aos doutores do CCF?<br /><br />Porquê o meu amigo e Senhor Dr. Mari Alkatiri não informou também aos outros doutores do CCF?<br /><br />Eu convido a todos os leitores para confirmarem tudo quanto disse, com os ilustres membros do Conselho de Estado, presentes naquela reunião. Tenho medo de estar a mentir aos estimados leitores, em minha própria defesa!<br /><br /><span style="font-style: italic; font-weight: bold;">viii) para isso, a) pressionar no sentido do Primeiro Ministro apresentar o seu pedido de demissão e b) simular respeito pela Constituição na formação do novo Governo, chamando-o mesmo de II Governo Constitucional.</span><br /><br />1. a) pressionar no sentido do Primeiro Ministro apresentar o seu pedido de demissão<br /><br />A reunião do Conselho de Estado foi no dia 21 de Junho. Começou às 10H00 e terminou, mais ou menos, pelas 16H00. No final da reunião, o que pairou no ar, denso das indecisões, foi a promessa do Primeiro Ministro de me informar, no dia seguinte, dia 22 de Junho, pelas 16H00, sobre o resultado da consulta(ção) ao Partido e da reunião com o Conselho de Ministros.<br /><br />Os doutores do CCF utilizam a palavra ‘pressionar’! 21 de Junho foi uma quarta-feira! 22 de Junho foi quinta-feira! 23 de Junho foi, obviamente, sexta-feira! 24 de Junho foi, consequentemente, Sábado (sem feira nem mercados). Eu trabalho todos os sábados, porque me pareceu mal que, recebendo 890 dólares limpos por mês, só trabalhasse 5 dias por semana! 24 de Junho foi Domingo (não de feiras, mas normalmente de missas).<br /><br />As tais ‘16horas de amanhã’ estavam a arrastar-se terrivelmente em entrevistas que denunciavam ‘a direita australiana’, ‘os interesses económicos australianos’, e, pior ainda, denunciavam que a resignação era simplesmente impossível! Eu compreendia esse dilema do Primeiro Ministro, Dr. Mari Alkatiri! No Conselho do Estado, expliquei que tanto a demissão do Governo como a dissolução do Parlamento encontrariam obstáculos de diversa ordem! Por isso, indicando o Presidente do Parlamento Nacional, expliquei que, na minha renúncia, seria ele a ocupar interinamente as funções. Não incomodaria absolutamente mais ninguém.<br /><br />Porquê não me deixaram? O Senhor Dr. Mari Alkatiri, disse agora em Portugal, que era para evitar um ‘vazio institucional’! Mas quem fez a Constituição? O que a Constituição diz, no seu artigo 81.º, é o seguinte:<br /><br />‘1. O Presidente da República pode renunciar ao mandato em mensagem dirigida ao Parlamento Nacional. 2. A renúncia torna-se efectiva com o conhecimento da mensagem pelo Parlamento Nacional, sem prejuízo da sua ulterior publicação em jornal oficial.’ O artigo 82.º, por sua vez, no seu n.º 1, diz: ‘Em caso de morte, renúncia ou incapacidade permanente do Presidente da República, as suas funções são interinamente assumidas pelo Presidente do Parlamento Nacional...’<br /><br />Teria sido um processo calmo, sem sobressaltos, sem ofender absolutamente ninguém, sem muitas mexidas em outras instituições do Estado, a não ser no Parlamento. Até, pode-se acrescentar agora, pela saída do Presidente do Parlamento, criaria um posto de trabalho a um membro do CCF, que estivesse ainda desempregado e que teria, legitimamente, o honroso título de ‘distinto’!<br /><br />‘Vazio institucional’ faz, agora, também parte do camuflado de que o Secretário-Geral do Partido se vestiu e fez vestir todos os outros doutores do CCF!<br /><br />‘Pressionar’!!! Perguntar, procurar saber se alguma decisão fora tomada é ‘pressionar’! Estimados leitores, eu tenho mesmo uma memória de galinha!Lembram-se de que havia já uma ‘pressão política’ para umas novas eleições e para um governo de Unidade Nacional? Pois, exercer ‘pressão política’ é ‘pressionar’! Nunca esqueçamos: um ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’... mesmo em termos de ‘pressionar’, já vinha de 2002.<br /><br />Para mim, a questão era fácil, muito simples: O CCF reúne-se e decide informar o Presidente da República de que não há resignação do Secretário-Geral, enquanto Primeiro Ministro! E esta comunicação deveria dar entrada no Palácio das Cinzas, às 16H00, do dia 22 de Junho! O Conselho de Ministros reúne e decide informar o Presidente da República de que o Primeiro Ministro do I Governo constitucional, democraticamente eleito, em 30 de Agosto de 2001, não se resigna! E esta comunicação dá entrada no Palácio das Cinzas, pelas 16H01, do dia 22 de Junho de 2006!<br /><br />Eu não acredito, depois da saída desta Análise do CCF, que as duas consultações iriam levar horas de discussão! O problema era de vida ou de morte de ‘instituições democraticamente eleitas’! Já no dia 26 de Junho, uma segunda-feira, o Presidente da República não podia estar à espera por mais dias, pela indecisão do CCF em seu reunir e debater, como fora prometido pelo seu Secretário-Geral, nem a falta de abordagem pelo Conselho de Ministros, como fora prometido pelo Chefe do I Governo constitucional, eleito democraticamente, em 30 de Agosto de 2001, nas eleições para a Assembleia Constituinte.<br /><br />Nem o Presidente nem o Secretário-Geral do Partido tiveram a energia revolucoionária de convocar o CCF, só para decidirem por um ‘Não’! Nem o Primeiro Ministro fez isso com os seus camaradas do Governo! Segunda feira era dia 26 de Junho – tinham já passado 4 dias inteiros!<br /><br />No programa do dia, 26 de Junho, mandei acrescentar uma cerimónia, marcada para as 15H00! Convocaríamos os 2 Bispos e o Prémio Nobel da Paz, para estarem presentes no Anúncio Oficial da minha Renúncia do cargo de Presidente da República! Não aconteceu e houve, repentinamente, uma Conferência de Imprensa e também recebemos o comunicado! Era tão vago, vazio, oco, inócuo, como ‘consultar o Partido e reunir com o Conselho de Ministros’! Mandei preparar a cerimónia e mandei comunicar ao Prémio Nobel da Paz, sobre a intenção de ir avante com o Anúncio Oficial da minha Renúncia! Cerca das 15H00, chegou a carta a ‘pedir a demissão’! O termo ‘pressionar’ foi bem empregue pelos doutores do CCF! Eu tinha dito, na I parte deste artigo, que o CCF tem um comportamento de cágado!<br /><br />Quando usou o termo ‘pressionar’, estava a revelar precisamente este comportamento... de cágado! Porque o CCF colocou-se para trás das suas trincheiras históricas e revolucionárias, está em defensiva, para salvar o Partido de qualquer mancha (de sangue), tem que adequar uma linguagem que as pessoas possam perceber que o CCF, o Partido, o I Governo constitucional,são as VÌTIMAS REAIS deste crise (crise = ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo’ democraticamente eleito).<br /><br />Não! Não se pode pensar, sequer, que membros do CCF pudessem ter tido algo de maculável nos seus comportamentos, nos seus actos ou palavras! Não pode! Eles todos são históricos! E a experiência histórica tem necessàriamente o seu peso político... nas contendas desta sociedade! Os históricos estão já vacinados, pela própria história e não cometem erros; são imunes de qualquer reparo, porque eles, sim, detêm a verdade!<br /><br />b. simular respeito pela Constituição na formação do novo Governo, chamando-o mesmo de II Governo Constitucional Que eu saiba e eu não sou constitucionalista e o meu paupérrimo ‘pretuguês’ tem apenas o nível liceal (Liceu Dr. Francisco Machado), tentei compreender o que é um ‘governo constitucional’. Porque se diz ‘governo constitucional’?<br /><br />Estimados leitores, desculpem esta teorização que vou fazer. Aceito toda a crítica e correcção, para eu poder aprender a compreender os difíceis conceitos ‘plasmados na Constituição’!<br /><br />O I Governo foi chamado de ‘constitucional’, porque a Constituição da RDTL legitimou a passagem automática da Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional. Assim, houve um ‘quadro parlamentar’, permitido pela Constituição, sem serem necessárias umas eleições gerais para a composição do I Parlamento Nacional (constitucional, já agora!). O actual Parlamento Nacional herdou, historicamente, por mandato da Constituição, a composição e a proporcionalidade, adquirida pelos partidos políticos, das eleições para a Assembleia Constituinte, em Agosto de 2001.<br /><br />A formação do Governo, em 20 de Maio de 2002, não foi um acto automático do Governo da Transição, em si mesmo! Foi apenas o resultado consequente, incontornável, evidente, da passagem automática da Assembleia Constituinte para Parlamento Nacional.<br /><br />Foi uma excepção histórica! Reparem, caríssimos leitores, hoje em dia, quando não pronunciamos o termo ‘histórico’, sentimo-nos pequenos, insignificantes e vazios! E estes comportamento fazem parte das nossas histórias, que todos os dias, vamos presenciando... com tristeza! Repito, foi uma excepção histórica, como reza a Constituição! Oh, que barafunda, misturei aqui a Igreja! A Constituição não reza, evidentemente, a Constituição plasma! Mas, falando em excepções históricas, querem os leitores saber que o ‘método do braço ao ar’ do Congresso de Maio de 2006, foi também uma excepção histórica? De futuro, as eleições para Presidente e Secretário-Geral do Partido serão directas, livres e democráticas, por todos os militantes!<br /><br />Consultem o Estatuto da Fretilin, aprovado no Congresso de Maio de 2006! O Grupo da Mudança pode ter esperanças, no processo eleitoral em 2011!<br />No futuro, quem dá ‘constitucionalidade’ aos Governos serão as eleições gerais para o Parlamento Nacional. O Partido que vier a ganhar (todos sabemos que a Fretilin vai governar, no mínimo, 50 anos!!! e a prova é que, com a vassoura do STAE, o Partido fez uma belíssima limpeza, política claro, nas aldeias e sucos de todo o país, consolidando contundentemente a presença partidária nas massas), indigitará o Secretário-Geral (no caso da Fretilin) para Primeiro-Ministro.<br /><br />Assim, a constitucionalidade de um governo não existe por si mesma! Provém do resultado das eleições, provém do quadro parlamentar, constituído ou a ser constituído!<br /><br />Neste sentido, o quadro parlamentar actual, que resultou da mudança automática e constitucional da Assembleia Constituinte, dispõe da mesma maioria que, em Julho ou Agosto de 2002, me enviou de volta a Lei, vetada por mim, da Revisão de Impostos, para ser promulgada, com a mensagem de ‘Satu-Kosong’ (1-0), nas relações de competências e poderes constitucionais Parlamento Nacional vs Presidente da República. A mesma maioria que, em Julho de 2003, por vingança, resolveu não decidir nada sobre o meu pedido para me ausentar do país, para umas férias de 15 dias com a família e por conta própria, por causa do veto à Lei da Imigração!<br /><br />Ainda bem que a Constituição me ajudou a resolver as coisas e tive apenas que mandar uma outra carta, informando que me ausentaria do país, já apenas por 14 dias, porque não necessitaria de ‘anuência do Parlamento Nacional’!<br /><br />Enfim, essa maioria ainda está no Parlamento Nacional, para onde fui recentemente e o Chefe daBancada da Fretilin, o Senhor Dr. Elisário, pediu aos outros par fazerem ‘introspecção’! É esta maioria que dá constitucionalidade ao actual Governo!<br /><br />Dili tem ou tinha mais 200 mil habitantes! O problema é que vivemos tão apertados aos outros, que sempre ouvimos as conversas do vizinho. Sabemos (que loucura!), queria dizer, ouvimos que ilustres doutores do CCF afirmaram: ‘Para mim, o Primeiro Ministro continua e continuará a ser o camarada Secretário-Geral!’ Lindíssimo acto de solidariedade, é verdade, os verdadeiros amigos são os que estão sempre em nossa casa, nos tempos difíceis!<br /><br />Porquê, então, se diz que o actual Governo é inconstitucional? Eu também não percebo!<br /><br />Se eu fosse membro do CCF, eu teria dito também ‘é verdade, é inconstitucional!’, para não ofender os ilustres doutores! O actual Governo não tem nada a ver com a ‘pressão política’ para se formar o ‘Governo de Unidade Nacional’.<br /><br />Os ministros, os vice-ministros, os secretários de estado, são quase todos as mesmas caras, que o Povo conhece dos tempos das governações abertas!<br /><br />Esses caras são todos da Fretilin, a não ser dois, que já faziam parte do ‘I Constitucional’! Aparecerem novas caras, evidentemente, para substituir aqueles que imprudentemente decepcionaram os camaradas, resignando-se antes do seu camarada Secretário-Geral. E foi bem feito, que é para aprenderem a não trair o Partido histórico!<br /><br />Bem merecem a expulsão do Partido! Só um se salvou, o Vice-Ministro da Saúde, talvez por apadrinhamento do seu primo, Vice-Presidente do Partido! Só Deus sabe!<br /><br />Mas... todas as velhas caras estão lá! A cara do Dr. Ramos-Horta veio do ‘I constitucional’. A cara do Dr. Rui Araíjo veio do ‘I constitucional’. Falo dos dois, porque se diz que são independentes! Ou que eram, não sei! Os dois faziam parte da política de ‘governo da inclusão’.<br />Alguns também eram ‘da inclusão’, só que ficaram, posteriormente, inclusivos, e a sociedade comentou assim: são promoções normais, de fidelidade aos princípios!<br /><br />Portanto, regressemos à simulação! Quando a representação da Comissão Política Nacional do Partido histórico, veio reunir comigo, apresentou três opções:<br /><br />1ª opção – Primeiro Ministro, o Senhor Eng. Estanislau da Silva 1.º Vice Primeiro-Ministro – Senhor Dr. Antoninho Bianco 2.º Vice Primeiro Ministro – Senhor Dr. Ramos-Horta<br /><br />2ª opção – Primeiro Ministro – Senhor Dr. Antoninho Bianco 1.º Vice Primeiro Ministro – Senhor Eng.º Estanislau da Silva 2.º Vice Primeiro Ministro – Senhor Dr. Ramos-Horta<br /><br />3.º opção – Primeiro Ministro – Senhor Dr. Ramos-Horta 1º Vice Primeiro Ministro – Senhor Eng.º Estanislau da Silva 2.º Vice Primeiro Ministro – Senhor Dr. Antoninho Bianco<br /><br />A opção preferida pela Comissão Política Nacional, era a Primeira Opção. E Senhora Dra Ana Pessoa, a jeito de desagrado, fez o seguinte comentário:<br /><br />Apareceu a 3.ª opção, porque algumas pessoas, que deviam estar caladas, começaram a falar para os jornais, revelando a sua ambição ao poder, e a preferida é a 1ª opção. Pedi um dia para pensar, e no dia seguinte, regressaram e transmiti-lhes que havia necessidade de a Fretilin ter em conta as sensibilidades da população e não apenas as do Partido. Informei então que eu só concordaria com a composição de:<br /><br />Primeiro Ministro – Dr. Ramos-Horta 1.º Vice Primeiro-Ministro – Engº Estanislau da Silva 2.º Vice Primeiro Ministro – Dr. Rui Araújo<br /><br />Agradeço imenso à Delegação da Fretilin que veio pela grande espírito de cooperação institucional!<br /><br />Eu tive que fazer esta escolha, porque o Dr. Mari Alkatiri, enquanto Primeiro Ministro, louvava sempre a capacidade profissional e de gestor do Dr. Rui Araújo, de forma que achei não ser uma surpresa. Porque o Dr. Ramos-Horta já estava em todas as opções e, na 3ª embora não a preferida, estava indigitado para Primeiro Ministro, agarrei numa (possível) prerrogativa do Presidente da República para o indicar como o Primeiro Ministro. Quanto ao Dr. Antoninho Bianco, não achei o mais apropriado, porque, numa das governações abertas no Distrito de Lautém, as pessoas queixaram-se de que, no tempo indonésio ele era administrador de Tutuala, tendo revelado total inaptidão! Os membros do CCF devem lembrar-se desta história, porque todos os adminsitradores de sub-distrito são membros do Partido e não sei se os Administradores de Distrito foram também todos eleitos membros do CCF, no Congresso de Maio de 2006!<br /><br />Mas se não se lembram, a culpa é da amnésia política colecxtiva que caiu sobre o ‘BePeTuju’!<br /><br />Tentei perceber, apesar destes argumentos, ‘a meu favor’, se não havia algum princípio de fundo! E eu creio que achei: O Estatuto do Partido define que o Secretário-Geral do Partido é que vai para Primeiro Ministro!<br />AQUI ESTÁ! EuuuuuuuuurekkkkkkkkkAAAAAA! Encontrei o âmago da questão! Pressionar o Secretário-Geral do Partido para se demitir é inconstitucional! Colocar uma pessoa como Primeiro Ministro, nem sendo do Partido, com certeza, é inconstitucional!<br /><br />Porque o Estatuto do Partido histórico, aprovado democratica e transparentemente no Congresso de Maio de 2006, estipula que o Secretário-Geral do Partido é que assume o cargo público de Primeiro Ministro! Isto faz lembrar a Lei dos Partidos políticos, na sua relação com o os Estatutos do Partido histórico! A Lei dos Partidos subordina-se, nas suas interpretações legais e políticas, aos Estatutos do Partido histórico. E sabem porque, caros leitores? O Partido é histórico, assim os seus Estatutos devem prevalecer!<br /><br />Eu devo reconhecer que, às vezes, como Presidente da República, sou um ingénuo!<br /><br />Tento rebater = opor-me = contrariar = desrespeitar a ordem constitucional democratica, pretendendo roubar o património, a patente das interpretações sobre a Constituição e das leis com os que redigiram essa Constituição e essas leis!<br /><br />Reconheço esta imbecilidade, durante os meus 4 anos de mandato! Mas a verdade sobrepõe-se sempre! Os nossos constitucionalistas (e são poucos, essa gema intelectual timorense) e os nosso legisladores (são extremamente poucos, 1 ou 2 apenas – e agradecemos a Deus a graça de nos criar também ‘expertise’ timorense para fazer leis, porque o Parlamento Nacional tem ficado apenas à espera que essa legislação apareça escrita em letras de computador, para poder aprová¬las). Mas já não podem fazer fotocópias, a Senhora Dra. Merita Alves mandou a máquina para a reforma!<br /><br />Depois destes considerandos todos, a tantar desculpar a minha insensata ousadia, a conclusão a que eu quero chegar é:<br /><br />A Constituição vale o que vale, meus Amigos, leitores! As leis podem valer e valem o que valem! O Estatuto do Partido histórico deve prevalecer, em termos, de defesa da ordem constitucional democrática’!<br /><br />Por ‘pressão política’, exercida pelo Presidente da República, a Comissão Política Nacional do CCF teve que sujeitar-se a ‘simular’ também o ‘respeito pela ordem constitucional democrática’ e apresentar as três opções para a formação do Governo. E porque o Presidente da República estragou ou piorou a ‘simulação do respeito pela Constituição’, feita pela Comissão Política do CCF, o ‘derrube do Primeiro Ministro’ foi um GOLPE!<br /><br />Caríssimos leitores<br /><br />A semana que está a findar foi bastante pesada, em termos de actividades, e neste momento, são 19H00, de 18 de Novembro. Não estou capaz de continuar a responder três pontos do n.º 4 do documento de Análise do CCF.<br /><br />Despeço-me aqui e até à próxima semana!<br /><br />Dili, 18 de Novembro de 2006.<br /><br />O Presidente da República,<br />Kay Rala Xanana Gusmão<br /><br />Ler a continuação: <a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iv.html">A teoria das conspirações IV</a><br /><br />Clique em baixo para ler:<br /><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes.html">A teoria das conspirações I </a><br /><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-ii.html">A teoria das conspirações II</a><br /><br /><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-1169074360451297882006-11-22T22:49:00.000+00:002007-08-19T14:15:51.562+00:00A teoria das conspirações IV (continuação) por Xanana Gusmão<div style="text-align: justify;"><span style="font-family:trebuchet ms;"><a href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html">(ler texto anterior)</a><br /><br /></span><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >A teoria das conspirações IV</span><br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Estimados leitores<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Desculpem, não ter podido fazer uma revisão ao que foi escrito na semana passada, e havia umas gafes ortográficas, falta de nomes como do Senhor Lucas, membro do Comité Central, do Grupo de Rai Los, UNMIT, em vez da UNOTIL, etc..<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A continuação de hoje é sobre os pontos do n.º 4, que não foram examinados por mim, na semana passada, e são:<br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo<br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >ix) assim, deixar pairar um sentimento de injustiça e de ilegitimidade governativa<br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >x) no cômputo geral, provocar a crise de Liderança a todos os níveis, decepando-a da nação, induzir a quebra de autoridade do Estado e a hipoteca da soberania<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo </span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">1.</span> Quando analisamos um processo em desenvolvimento, isto é, analisamos um processo no seu fenómeno de crescimento, podemos encontrar fases bruscas de mudança que ressaltam aos olhos e nos pedem uma indagação, nem que seja por questões de curiosidade... perceptiva. O desejo de indagação provém da necessidade de responder aos porquês que surgem à nossa cabeça, sobre essa mudança.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mesmo em fenómenos da natureza, tentamos sempre buscar uma explicação, se não científica, que pelo menos, satisfaça a nossa vontade de olhar e compreender as coisas. Quando se trata de fenómenos sociais, as coisas são um bocado mais complexas, mas por essa razão, as análises têm que ser ‘exaustivas’ quanto possível, para não cairmos no subjectivismo das nossas (in)conclusões, como normalmente acontece aos que analisam para seu próprio contento. E quando se trata de fenómenos políticos, eu diria que não é tão complicado assim, porque a medida normalmente é entre o que se pensa serem princípios, serem valores, e o que se faz, se pratica, em termos de defesa desses princípios e desses valores (- isto... é na minha pobre opinião, de uma pessoa que não percebe nem aprendeu política, a não ser o Manual Político da Fretilin, de 1975 a 1985).<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Com a crise, aparecem pessoas, como eu, a tentar dar um ar da sua graça, como pretensiosos decifradores da Constituição, numa ousada aventura de nos colocarmos em bicos de pés, para parecermos mais altos, mais competentes, do que as distintas pessoas que escreveram essa Constituição, durante a Assembleia Constituinte! Com a crise, um pedaço do nosso mundo tem vindo a proclamar, alto e bom som, o ‘estado de direito democrático’, como o fino menú na sua ... invariável... linguagem política! E o termo ‘estado de direito democrático’ é ‘despejado’ sobre todo o resto do mundo, como a arma fundamental da defesa da Constituição, que eles escreveram e só eles entendem!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas, como disse, em análises do desenvolvimento político de uma sociedade, uma coisa é clara: se há compromisso, na prática, para com os valores e princípios que sabemos recitar, ou se não há! O ‘se não há’, é no sentido de, que não praticamos, que vamos violando, que vamos simulando respeito, que vamos enganando, que vamos aproveitando as oportunidades para distorcer o sentido e a essência desses princípios e desses valores.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em todas as sociedades, é sempre muito mais fácil ‘conhecer-se’ um mau político, um político ambicioso, um político desonesto, um político arrogante, um político corrupto, um político insensível, em suma, os políticos que pensam que os governados ...são todos uma cambada de cegos, de iletrados, de pobretanas de espírito... como eles, esses políticos e governantes, às vezes são! Ainda bem e graças a Deus, que isto não acontece aqui no nosso Estado... de direito democrático, onde as pessoas são honestas e vão à missa, todos os domingos!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">E, normalmente, nessas sociedades de ‘direito democrático’, o dom de interpretação, daquilo que eles próprios escrevem, é pertença, é património, é patente desses sumos e das sumas - (não se trata aqui de nenhuma mixórdia frutícola, que sabemos importar, nem daquelas obesidades humanas que, em Japão, ganham muito dinheiro a empurrar uns aos outros)! Ser ‘sumo’, aqui, é pertencer ao nível mais alto que deve ser reconhecido aos políticos de relevo, quanto mais não sejam, históricos, com experiências do além do mar... que nos cerca! Nisto, eu curvo-me, perante a suma sapiência dos doutores do CCF e seus afins!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">No processo de desenvolvimento do ‘histórico partido’, salta-nos aos nossos assombrados olhos uma particularidade muito importante: <span style="font-weight: bold;">no Congresso de Maio de 2006, foi expressa pelos Organizadores do Congresso, a vontade de modificar o mecanismo das eleições, de voto directo e secreto para o de braço no ar.</span> E que, para essa possibilidade se tornar real, bastava que 10% dos delegados ao Congresso aceitassem. Inquestionável, tanto no que respeita à vontade da alteração quanto aos votos pela alteração!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Antes de aparecer a Lei dos Partidos, o I Congresso do Partido optou pelo voto secreto e directo, dando um magnífico exemplo político na questão de direitos dos cidadãos e democracia. A Lei dos Partidos é feita, por eles, aprovada pela maioria deles, e todos nós aplaudimos a defesa dos princípios democráticos. E a Lei foi publicada... mas para regular os outros partidos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O que nos espicaçou a curiosidade, de meros observadores, é do porquê dessa mudança! Porquê, de repente, houve a necessidade de alterar os Estatutos do Partido? Existem outros factores de relevância que, se tivessem sido tomados em conta, não advogariam pela alteração dos Estatutos. 1-A Fretilin provou, nas eleições para chefes comunitários, que têm não só bases sólidas em todo o território, <span style="font-weight: bold;">mas que os quadros do Partido trabalharam intensa e intensivamente nessa consolidação</span>. 2 -O Partido tinha já o Governo, tinha a maioria dos funcionários, tinha os administradores de Distrito e dos sub-distritos, tinha a maioria esmagadora dos </span><span style="font-family:trebuchet ms;">chefes de suco, conselhos de suco e chefes de aldeia.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Qual foi a necessidade de alterar o mecanismo de voto?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A) Será que os dirigentes máximos do Partido não acreditavam na estrondosa vitória, nas recentes eleições para chefes comunitários?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">B) Será que <span style="font-weight: bold;">os dirigentes máximos do Partido não apreciaram o incansável trabalho, a profunda dedicação e a inexcedível entrega dos quadros médios</span> e inferiores do Partido, que permitiram essa retumbante vitória? E esses quadros médios foram os... delegados ao Congresso!!!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">C) Ou será que o grupo da mudança era uma séria ameaça?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">D) Ou será que os delegados ao Congresso não eram pessoas para se confiar?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">E) <span style="font-weight: bold;">Uma última pergunta seria</span>: <span style="font-weight: bold;">Será que os líderes máximos do Partido histórico estavam já a ver, dentro da Fretilin, ‘algum plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, ‘com acções próprias de uma conspiração muito bem urdida e bem executada’... ‘decepar a Liderança’?</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">E, para isso, houve a absoluta necessidade de se fazer uma ‘pressão política’ sobre os ‘servidores do Estado’, que constituíam a maioria dos Delegados? Politicamente, chama-se a isso: <span style="font-weight: bold;">insegurança</span>! Politicamente também, se pode chamar a isso: medo de perder, em competições com meios honestos.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas, o mais intrigante para a nossa diminuta capacidade de voar para as mesmas alturas de análise... dos sumos e das sumas, é o Estatuto ‘plasmar’ que ‘de futuro, as eleições para Presidente e Secretário-Geral’ virem a ser por voto directo e secreto dos militantes. Como, neste País, ninguém sabe do seu próprio futuro, podemos aventar que no III Congresso do Partido histórico, em 2011, haverá uma outra alteração histórica aos Estatutos do Partido histórico. Porque, a conclusão a que podemos chegar é a de que os Estatutos podem ser modificados, segundo as necessidades de momento.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Assim, na pobre compreensão deste humilde servidor do Estado (servidor, porque recebe dinheiro do Estado), quando a Lei diz que <span style="font-weight: bold;">‘os titulares de todos Órgãos da Direcção serão eleitos, por voto directo e secreto, pelos filiados ou pela assembleia que os represente’</span>:<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">a) Voto directo e secreto pelos filiados, é o que os Estatutos da Fretilin dizem: ‘De futuro, as eleições... serão por voto secreto e directo dos militantes’ e,<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">b) como regra democrática básica, o voto directo e secreto ‘pela assembleia que represente’, seria no II Congresso de Maio de 2006. Costuma-se dizer que ‘não há regras, sem excepções’, mas esta excepção de ‘braço no ar’ não estava nem implícita na Lei dos Partido políticos, porque dizia respeito às regras democráticas fundamentais. Os Estatutos aprovados, no Congresso de Maio de 2006, tornaram peremptória, explícita, esta ‘excepção’... às regras democráticas básicas... de voto directo e secreto.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Por isso, eu argumentei a ‘favor da ilegitimidade da sua liderança’</span>! Todos sabemos que o <span style="font-weight: bold;">Tribunal de Recursos argumentou a favor da legitimidade da Liderança da Fretilin</span>, decisão a que me curvo com respeito pela independência,idoneidade e imparcialidade deste Órgão de Soberania, nesta República Democrática. Eu, Kay Rala Xanana Gusmão, sou um cidadão livre que expresso as minhas opiniões, desde que o meu pobre raciocínio seja molestado por atrivos de desonestidade dos actos políticos de órgãos de soberania.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">2. Fui eu quem desferiu esse golpe! Ainda bem que os ilustres doutores do CCF classificaram de ‘contundente’, porque realmente eu até duvidava se a mensagem levava algum peso político. Agora, fico satisfeito, porque foi... contundente!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Os senhores doutores do CCF esquecem-se de que nós, os outros, vivemos em Timor, desde 1974! E os senhores doutores, uns já estavam fora a estudar ainda, outros foram uns dias antes do 7 de Dezembro de 1975! E só voltaram em fins de 1999! Eu conheço alguns que, em 2001, foram chamados a fazer parte do Governo de transição e a resposta foi de ‘só regressaria/m, se fosse/m ministro/s!’<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Não sabem, coitados, que o povo percebe as manobras políticas dos políticos! Para o Povo é também... uma experiência histórica de 24 anos! Mas o mais desolador é o facto de muitos veteranos e históricos, que andaram a resistir (se andaram!) durante 24 anos, em Timor-Leste, tivessem pura e simplesmente esquecido os sofrimentos e os sacrifícios de todo o Povo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Ficaram encantados com o poder! O ‘Partido no poder’ garantiu-lhes, a cada um, a migalha do poder. Podem mandar, podem ter condutores, podem ser respeitados, podem ser importantes, podem ter bisnis! E é incrível: esses, que sempre estiveram cá dentro, não têm ideia de que o Povo acompanha os seus passos, o povo analisa a sua trajectória política (que faz saltos impressionantes), o povo percebe os seus sonhos e segue as suas ambições, tanto individuais como colectivas em termos de Partido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Poder cega! – é um ditado antigo, e porque é antigo, tem a garantia histórica da irrefutabilidade! O ‘Partido no poder’ cegou as pessoas, pelo menos num sentido! Essas pessoas só sabem olhar para outros, porque ficaram impedidas, pela disciplina partidária, de olharem para si mesmas!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O <span>‘Partido no poder’</span> concebeu um conceito revolucionário: <span style="font-weight: bold;">O Governo é o Partido, o Estado é o Partido! O Partido no poder tem que ser forte, porque só assim, o Governo é forte, e só assim o Estado é forte! E o Partido no poder só pode ser a Fretilin, porque é histórica!</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Senhores doutores do CCF! Não brinquemos a politiquices de bem-me-queres e mal-me-queres, pensando que o resto dos timorenses não sabe olhar para mais de um palmo do nariz. O Povo desdenha os belos ‘narizes afunilados’ de sobranceria intelectual e o povo fica impressionado com outros narizes, e são em maior número, que só cheiram posições e... não fazem muita coisa, em resposta à confiança política, que se lhes emprestou. Não trabalham, porque trabalham para o partido!.... Estão no poder ou, no mínimo, sentem que pertencem ao ‘partido no poder’ e eles todos vestem a história, na sua pele!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Estimados leitores<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu sei que os ilustres doutores do CFF tomaram a minha ‘Mensagem à Fretilin’, como o ‘golpe contundente’ que desferi ‘ao partido no poder’. A responsabilidade é TODA MINHA! </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">A minha Mensagem foi para dizer aos timorenses que todos devemos respeitar, isto é, não distorcer o longo e difícil processo político histórico que teve lugar em Timor, depois do 25 de Abril de 1974. No diálogo de Alto Nível, realizado em 22 de Novembro, no Hotel Timor, um participante teve a ligeireza do pensamento de recordar o processo político da história recente de Timor. E falou de conflitos, citando o de 1975, o de 1977 e o de 1984.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Ele não foi profundo nessa análise, porque um analista não indica apenas os acontecimentos como se de uma contagem numérica de eventos se tratasse. Um analista indica os motivos, as razões, as causas e foi isso que faltou ao analista, que teve a amabilidade de me proporcionar mais este pormenor, para hoje juntar aqui.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">1 - O conflito de Agosto de 1975, foi político e que descambou em militar, porque só, com armas, se podia impôr os objectivos políticos e ideológicos. Foi provocado pela UDT, motivada pela necessidade de contêr o esquerdismo revolucionário da Fretilin. A ASDT foi criada em Maio de 1974, os jovens universitários em Portugal, envolvidos com o MRPP e ideologicamente marxistas, por influência da situação política de então em Portugal e sobretudo das lutas de libertação na África, voltaram a Timor e ‘pressionaram’ pela mudança, em 11 de Setembro ainda de 1974, da ASDT para Fretilin, onde a palavra ‘revolução’ era a moto da luta!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A UDT, anunciou na meia-noite do dia 10 de Agosto de 1975, o ‘GOLPE REVOLUCIONÁRIO ANTI-COMUNISTA’! <span style="font-weight: bold;">A bandeira era o ‘anti-comunismo’</span>.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">2 - O conflito de Julho de 1977 não apareceu por si mesmo, como que de repente. Eu fui membro do Comité Central da Fretilin e participei em todas as reuniões do CCF, desde Março de 1976. Para se compreender o Julho de 1977, não se deve perder de vista as outras duas reuniões, onde se via o distanciamento entre os militares e os civis/políticos e do Presidente da Fretilin dos restantes membros da DOPI (Departamento de Orientação Política e Ideológica), que eram os membros do Comité Central mais seniores, os que percebiam da política e, sobretudo, tinham decoradas, na boca, as máximas doutrinárias para impressionar os outros.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">O Senhor Xavier do Amaral foi enxovalhado, ideologicamente, na reunião de Soibada, de Maio de 1976, onde se organizou a Resistência Político-Militar, em termos estruturais e de comando, tanto no campo político como sobretudo no militar. Em Maio de 1977, para a Reunião de Laline, ele, Senhor Xavier do Amaral não quis pura e simplesmente aparecer, para evitar estar presente na Declaração pelo Comité Central da Fretilin, de que a Ideologia da Fretilin seria a partir dali, o Marxismo-Leninismo, mas de tendência Maoísta.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Depois da Reunião de Laline, teve que se ir buscar as razões que o povo podiaentender para o prender: TRAIDOR DA PÁTRIA! Não se disse ao Povo que o Xavier era anti-marxista, disse-se ao Povo que o Xavier era reaccionário e, portanto, inimigo do Povo!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">(Na Ponta-Leste, Aquiles não era pró-integração, apenas não queria que o forçassem a ser revolucionário. O Pai do Nunura, foi espancado de tal ordem em Baguia, que perdeu a vista, ficou cego... supostamente elemento da rede do Aquiles!)<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Aqui, quero lembrar a todos os que, mesmo estando mais de 24 anos no mato e eu só estive 17 anos, não tinham a mesma capacidade que eu de acompanhar o processo, porque eles não eram membros do CCF e eu era membro do Comité Central da Fretilin, desde Setembro de 1975. Na Reunião do CCF em Laline, em Maio de 1977, o Nicolau Lobato passou por uma grave crise e não aparecia nas reuniões. Felizmente, soube ultrapassar a crise e acomodou-se à Revolução! Se não fosse isso, eu posso garantir que o Nicolau teria sido também, como foi o Xavier do Amaral, apelidado de traidor. Os marxistas não aceitavam que ele, Nicolau, ainda rezasse antes de comer; os marxistas ficaram escandalizados, porque em Soibada, durante aquela semana de reuniões, às vezes o Nicolau ia à missa e comungar! E colocaram a ele, para escolher entre: ser crente ou ser marxista! Ultrapassada a crise, no dia do anúncio oficial de que a ideologia da Fretilin era o Marxismo-Leninismo, todos aplaudiram quando, solenemente, Nicolau declarou que ‘as suas plantações de café, a partir daquele dia, passariam para </span><span style="font-family:trebuchet ms;">o Estado!’<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">E, portanto, em 1977, o conflito foi também ideológico mas já dentro do próprio Partido e a bandeira era ‘Morte aos reaccionários e traidores do Povo’</span>! Por isso é que todos assistimos ao enorme ‘desmantelamento’ da rede do Xavier, imaginária, deve-se dizer! TÃO IMAGINÁRIA, COMO A CONSPIRAÇÃO QUE O CCF,do Congresso de Maio de 2006, ESTÁ A MANIPULAR!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">3 -Em 1984, as causas remotas eram a inactividade das forças, a falta de planeamento de actuações, na Região Central, onde estava o Estado-Maior General das Forças e o Comando da Brigada Vermelha! O Ten-Cor. Falur e o Major Ular podem desmentir-me se, depois da saída deles de Loi Huno e de Krarás, em Agosto de 1983, se praticou uma só acção militar contra o TNI, por iniciativa nossa! Nenhuma! E foram morrendo os guerrilheiros e perdendo armas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Quando eu passei para a Região Central, para discutir sobre a reestruturação das Forças, quem me foi receber em ....... foi o Cmdt. Mau Kalo (agora Major Mau Kalo), informando-me de que os membros superiores do Comando tinham dispersado e movimentado para a Fronteira. Sucedeu que, também imediatamente a seguir, o TNI, com vários batalhões, desencadeou uma grande operação em toda a área, que paralisou todos os nossos movimentos, por semanas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Houve a reunião de Março, no litoral sul, onde se procedeu à Restruturação do Comando das Forças, em toda a Região Central, para se dar maior iniciativa de acção aos comandantes de companhias, a fim de se quebrar aquele clima, de descrença e desmotivação, no seio do comando e das forças. Dessa reestruturação, é que também assegurei a Chefia do Estado-Maior, ficando o (então colaborador do EMF) Vice-Chefe do Estado Maior. Acabou-se com a ‘Brigada Vermelha’, que só dava segurança ao seu Cmdt. Mauk Moruk, ao invés de actuar sobre o inimigo.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A reacção do Kilik e do Mauk Moruk, seguido depois de Olo Gari, em resposta à reestruturação, onde foram ‘despromovidos’, optou por uma confrontação ideológica entre ‘revolução e não revolução’, entre ‘marxismo e não marxismo’, porque pensaram, era a única maneira de ‘obter apoio dos guerrilheiros’, na oposição à reestruturação.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Doutra forma, em termos de operacionalidade das forças, a sua oposição não tinha bases nenhumas.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Este ‘conflito’, que foi motivado por reestruturações que tinham que ser tomadas, que não podiam ser adiadas, incluindo passar o ‘Comissário Lere’ para ‘Comandante Lere’, já que o problema era ‘cuidar das nossas forças’ vs ‘cuidar dos nossos quadros’, tomou o carácter ideológico, apenas, por conveniência dos intervenientes.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu aqui, quero expressar o meu total apreço aos quadros civis e militares, que de uma ou doutra forma, estiveram envolvidos em defesa da unidade das forças, desde o António Campos a Sibi Sama, desde Konis a Ruak, mas sobretudo ao Cmdt da Companhia Fera Lafaek, em cujo agrupamento aconteceu o drama, que felizmente não produziu uma só gota de sangue.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Conflito que não era, mas que se encapou de carácter ideológico, porque, em todo o período de cessar fogo, nas nossas reuniões, começámos a dar ideia de que o pluripartidarismo deveria ser o nosso sistema político, depois da guerra, de preferência ao monolitismo ideológico que nos fazia reféns e nos tornava inimigos uns dos outros.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">ix) assim, deixar pairar um sentimento de injustiça e de ilegitimidade governativa </span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Peço aos estimados leitores para regressarem para a edição anterior, para verem os pontos:<br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >vii) camuflar, tanto quanto possível, de modo a que o derrube do Primeiro Ministro não fosse entendido como um golpe mas sim um acto em conformidade com os poderes constitucionais do Presidente da República<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">viii) para isso, a) pressionar no sentido do Primeiro Ministro apresentar o seu pedido de demissão e b) simular respeito pela Constituição na formação do novo Governo, chamando-o mesmo de II Governo Constitucional </span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Portanto, o ponto ix) é fase, apenas, da estruturação analítica do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo constitucional, eleito democraticamente’. Depois daqueles actos todos cometidos , nos pontos anteriores vii) e viii), deixei pairar, na sociedade e no ambiente violento e prenhe de manifestações, um ‘sentimento de injustiça’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Isto tudo significa que o que o Presidente da República devia ter feito era entrar, imediatamente, em compromissos políticos com o ‘partido no poder’. Teríamos resolvido tudo, imediatamente! Teria satisfeito os governantes, ao declarar que nada aconteceu de especial, que estava tudo perfeito, que o respeito pela ordem constitucional democrática estava garantido, com as F-FDTL a sair dos quartéis em defesa da Constituição e que a PNTL estava a cumprir as ordens do Ministro do Interior, para a defesa das instituições democráticas.</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">E o Presidente da República acrescentaria que o êxodo da população para o interior era apenas em ‘piquenique’, que as pessoas entenderam fazer, para não se envolverem em políticas. E que um esforço global do Estado... de direito democrático... era para assegurar a lei e ordem e reestabelecer a estabilidade no país. </span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Caríssimos leitores<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Se quiserem ter a paciência de repassar os olhos para aquele ‘estado de crise’, todos podemos ver que, das instituições do Estado, só o (celebérrimo) Gabinete da Crise funcionava, já que as reuniões eram em casa do Primeiro Ministro, para além de ¬e a verdade seja dita - o Ministério de Trabalho e Solidariedade! Também só os Tribunais continuaram a trabalhar, sem interrupção, conforme o comunicado do Tribunal de Recurso, aquando da petição do grupo de mudança da Fretilin. E, felizmente para os doutores do CCF poderem incluir nas suas análises, o golpista do Presidente da República, que trabalhava para os interesses do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo constitucional, eleito democraticamente’!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Nesse compromisso político, o Presidente da República diria, ao mundo, que as instituições do Estado estavam a funcionar normalmente e o ‘partido no poder’ estava com o controle sobre tudo e sobre todos! (Eu não teria tido a carga de trabalho de ter que chamar os partidos, um por um, para apelar para retomarem as actividades, já em Junho!!!)<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">E tudo teria ficado sem nenhum ‘sentimento de injustiça’ a pairar nas mentes das pessoas! As lições que estou a aprender dos ilustres doutores do CCF, não me valerão muito, na medida em que só tenho uns parcos 7 meses de mandato! Mas o próximo Presidente da República terá que ser capaz de responder às exigências do ‘partido no poder’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">x) No cômputo geral, provocar a crise de Liderança a todos os níveis, decepando-a da nação, induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania. </span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Inteligente descrição! Isto, caríssimos leitores, não é praticar políticas de meia-tigela! Esta gesta política histórica é de primeira qualidade!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">1. <span style="font-weight: bold;">‘Provocar a crise de Liderança’</span>!!! Liderança de quê? Do Partido? Não, porque não houve mexidas, até houve reforço de Liderança, com a eleição gratuita de um Vice-Presidente do Partido! Do Estado, claro que, por medo de perder a cadeira presidencial, o Presidente da República continua a receber o seu salário! Dos Tribunais, </span><span style="font-family:trebuchet ms;">o Presidente do Tribunal de Recurso esteve sempre activo e ninguém o incomodou! O Parlamento Nacional está tal como está, porque o Presidente do Partido recusou ser ‘Presidente da República, interino’, por vacatura do lugar, que lhe foi oferecido por mim!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Liderança do Governo... oh!, sim!, aqui está a chave do problema! Mas o Secretário-Geral do Partido devia estar mais satisfeito, porque apesar de estar em descanso temporário até Maio 2007, recebe todos os dias os seus Ministros, que vão em consulta, pelo que continua a deter os cordelinhos do processo!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">De todos os níveis....! Em 31 de Agosto, tive o prazer de ir a Maubara, convidado pelo Governo, para também falar aos administradores de distritos e subdistritos e, contei, estavam todos lá, não faltou nenhum! A reunião foi frutífera, porque no dia 1 de Setembro, a Senhora Dra. Ana Pessoa, Ministra de Estado e de Administração Estatal, teve a oportunidade de anunciar: ‘Camaradas! Eu não podia dar este encontro de trabalho por terminado, se não cumpro o que prometi ao camarada Secretário Geral do Partido, que iria passar um ‘CD’ para vós verdes o documentário, que prova a inocência do nosso camarada Secretário-Geral do Partido’. E os camaradas administradores aceitaram rigorosamente a disciplina do partido e apreciaram o CD, que tinha como ‘entré’ as delícias da festa do aniversário do Rogério Lobato. Os camaradas administradores prometeram passar também nos distritos e sub-distritos, para que a população venha a saber que o camarada Secretário-Geral do Partido foi derrubado, num golpe, como Primeiro Ministro e tudo foi produto de ‘um plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ e o ‘actor interno’ principal de ‘uma conspiração bem urdida’ é o Presidente da República!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">2. ‘Decepando-a da nação’! Eu cada vez sinto que tenho razão nas minhas lucubrações políticas! Com o ‘partido (ainda) no poder’, com o Parlamento ainda com a maioria constitucional automática, com o Governo, ainda cheio dessas velhas caras todas... decepou-se a Liderança da Nação!!! Como pôde isso acontecer?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A resposta é só esta: segundo os Estatutos, aprovados no Congresso de Maio de 2006, o Secretário-Geral é indigitado para Primeiro Ministro, e porque o actual Primeiro Ministro nem é membro do Partido, o Governo é inconstitucional, porque... o actual Governo não tem cabeça, isto é, não tem Chefe! O Primeiro-Ministro inconstitucional, Dr. Ramos-Horta, sabe desse problema político, porque disse no Diálogo do Alto Nível, em 22, no Hotel Timor: De todos os que estão aqui, eu sou o que menos legitimidade tenho, não fui eleito, não pertenço ao Partido eleito, fiz parte do I Governo constitucional, por generosidade apenas do ex-Primeiro Ministro!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Quem decepou a Nação da sua Liderança? Eu fui ao dicionário do ‘português escolar’, e decepar é cortar a cabeça! Eu fiz um ‘golpe constitucional’, nas palavras do Dr. Abrão Vasconcelos, eu ‘derrubei o Governo’, eu ‘simulei respeito pela Constituição’ e, portanto, eu ‘Decepei a Nação da sua Liderança’! Cortei a cabeça da liderança da Nação; <span style="font-weight: bold;">mas, aquí, é preciso notar-se: a liderança é uma pessoa singular!</span> O Secretário-Geral da Fretilin!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">3. <span style="font-weight: bold;">‘Induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania’</span>!!!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu sinceramente, não consigo acompanhar os ziguezagues da análise dos ilustres membros do CCF! Os estimados leitores podem todos concordar comigo, porque lembram-se bem de que o Estado esteve sempre no controle das operações. O plano operacional do Gabinete da Crise estava sendo posto em prática, no terreno, com um Chefe de Operações comandando todo e qualquer único participante dessas operações... desde o ‘dia primeiro’ ao ‘dia último’! O Gabinete da Crise estava a funcionar maravilhosamente durante toda a Crise, em representação do Estado!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Dia 24 de Maio, o Estado estava lá em Caicoli, no Palácio das Cinzas: O Presidente do Parlamento, o Primeiro Ministro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Ministro da Defesa e o Ministro do Interior! Não havia nenhuma quebra... da autoridade do Estado! Só no dia 25 de Maio, é que, RECONHEÇO, ‘induzi a quebra de autoridade’ do Governo, porque esse Governo não conseguiu, afinal, evitar que as duas instituições andassem aos tiros. Devia ter sido isso mesmo, nesse fatídico dia 25 de Maio. (Fatídico, não por aquilo que aconteceu, mas porque eu ‘induzi a quebra da autoridade do Estado’.)<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Reunimos, em 24 como disse atrás, para ver se havia necessidade ou não de chamar pela intervenção das forças internacionais! Havia autoridade.. do Estado! Depois, concordámos que devíamos pedir! Havia autoridade... do Estado!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Quem hipotecou a soberania? Não foi o Estado todo? E porquê só depois se chegou a esta conclusão? Porquê não me ouviram? Eu não tinha dito que eu não concordava com pedido de intervenção de forças estrangeiras? E não tinha dito e repetido que, como Estado, devíamos saber resolver os nossos próprios problemas?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">QUEM HIPOTECOU A SOBERANIA?<br /><br />Só os ilustres doutores do CCF é que devem responder a esta pergunta! E eu posso ajudar: Foi o vosso camarada Presidente do Partido, Senhor Lu Olo, foi o vosso camarada Secretário-Geral do Partido, Dr. Mari Alkatiri, foi o vosso camarada Vice-Presidente do Partido, Sr. Rogério e o vossocamarada Dr. Roque Rodrigues. Eles HIPOTECARAM A SOBERANIA DO PAÍS!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Se não foram eles, eu sou o Chefão do Estado e aceito as responsabilidades: Eu hipotequei a soberania nacional, ao chamar sòzinho, os meus ‘cunhados australianos’, como um participante teve a gentileza de se referir, numa das Sessões do Diálogo do Nível Médio, no Hotel Timor.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Estimados leitores<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">E o documento prossegue assim: <span style="font-weight: bold;">“Por isso, a crise por nós vivida resultou de acções conjugadas e próprias de uma conspiração muito bem urdida e bem executada. O objectivo central do plano de conspiração reduz-se na investida contra a liderança nacional histórica de modo a decepar a Nação da mesma e assim, induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania nacional.</span><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">A arma fundamental utilizada foi, e é, a desinformação e a contra-informação, por um lado, usando rumores, boatos e alegações de toda a natureza e, por outro, actos de violência contra pessoas e bens de modo a aprofundar o conflito intergrupais ou interregionais, falsamente entendido como inter-étnicos.”</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">1 - Neste palavreado barato dos ilustres doutores do CCF, se não vivêssemos em Timor, teríamos pensado que somos uma sociedade sofisticadíssima nos nossos actos, nos nossos comportamentos, nas nossas intenções. O Governo, esse tal I Coverno constitucional, sim tinha um método sofisticado de informações, utilizando o Telcom, auscultando as conversas de ‘adversários’ , implementando um mecanismo de mensagens, não sei se pagas, como qualquer outro contribuinte ou ‘grátis’ (pelo menos, muitos receberam ‘mobiles’e cartões) para se comunicarem directamente com o ‘partido no poder’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">É sabido de todos, que o ‘partido no poder’ tem utilizado as facilidades ‘do poder’ para desencadear tudo quanto, hoje, tenta acusar outras pessoas de fazer. Mas os ilustres doutores do CCF julgaram que impressionaram a sociedade com a linguagem estilizada que possuem, quando escrevem em sua defesa!!! Só posso garantir é uma coisa: podem ter impressionado os vossos doutores de segundo grau, que estão no Parlamento Nacional e no Governo, os doutores de terceiro grau que vos ‘adoram’, porque lhes destes emprego sem pedir nada em troca, sem pedir que eles trabalhem para o Povo e eles estão satisfeitos com a única missão de vos informar sobre as actividades de outros partidos políticos nas suas áreas e se os comandantes e agentes da polícia são fiéis ao vosso Partido ou não.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Sois, ilustres doutores do CCF, eleitos transparentemente em Maio de 2006, em social-política timorense, demasiado ingénuos – vós não reparais que os que dizem ‘sim’ nas vossas reuniões, fazem-no ou porque não percebem as vossas demasiado altas dissertações insossas, as quais só têm como único objectivo, reforçar a carcaça de cágado, de que vos revestis, ou porque querem assegurar os privilégios que vós concedestes a eles, fazendo-os sentir-se dentro do ‘partido no poder’. O mal destes últimos doutores, vossos camaradas, é esquecerem-se de que o povo os tem sob os seus olhos e a ‘justiça popular’ não será o enforcamento nem o ‘rama ambon’. Eles sabem disso e eu quero lembrar a eles que eles nunca se esqueçam da frase que todos, quanto estivemos aqui, em Timor, sabemos: os ‘pegawai ABS’ (‘asal bapak senang = basta que o chefe fique satisfeito’), porque eles pertencem a esta categoria de funcionários ‘abs’... do partido!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">2 – ‘Contra a liderança nacional histórica’! Isto só revela que, contra tudo e contra todos, o Partido deve defender, a bem ou a mal, esse ‘estatuto’ de liderança nacional histórica! A melhor defesa deste estatuto é assumirem com clareza e transparência, os princípios e valores, por vós ‘plasmados’, na Constituição. Só necessitais desta condição, para continuares a ser ‘liderança nacional histórica’. Nunca pensem que por serdes ‘liderança nacional histórica’, nós os outros devemos aguentar com os vossos excessos, as vossas intolerâncias, as vossas manobras, os vossos erros. Vós conspirastes contra vós mesmos! Vós estais a exigir de outros uma avenida asfaltada e larga, sem obstáculos para as vossos desvairos políticos. O povo timorense não é povo que deixastes em 1975! E, vós, os doutores de segundo grau, que hoje sentis que estais ‘no poder’, porque também ‘vestis’ a camisola da história, queremos dizer apenas que as camisolas podem ficar sujas, podem ficar velhas, podem ficar rotas, quando não tomais cuidado em lavar, em cerzir os pequenos buracos. A vossa história está a ser escrita por vós mesmas, não por outros. Só conhecereis a vossa história, se fordes humildes o suficiente para reconhecer que a conspiração é vossa... sobre vós mesmos!<br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >A etapa fundamental na execução do plano passa pela necessidade de, em primeiro lugar, desacreditar as instituições de defesa e segurança do país e dividir a liderança nacional, colocando uns contra outros.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Para dividir a Liderança usaram-se todas as armas. Deu-se a entender que a luta pelo poder era a razão fundamental do conflito. Por fim, goradas todas as tentativa anteriores, recorreu-se a alegações sobre práticas de crimes para lançar a ‘semente de desconfiança’ num terreno já de si fértil de profunda crise institucional.</span><br /></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Devemos diferenciar ‘a luta pelo poder’, quando não se está ainda no poder e ‘a luta pelo poder’, quando já se está no ‘poder’ e se tenta ‘consolidar’ esse ‘poder’, por quaisquer meios. Os que não estamos no ‘poder’, podemos perceber que houve ‘utilização de meios’ menos lícitos, para ‘consolidar o poder’. Mas, eu sei que estou apenas a ‘lançar’ mais uma ‘semente de desconfiança’... no ‘terreno... já fértil de profunda crise institucional’. Bom, admitem que houve já ‘profunda crise institucional’... em que instituição, precisamente, é isto que não nos foi dado saber!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Tudo isto ficou como uma simples retórica, uma simples demagogia, que servem para serem encadernados como ‘lições da história e fases de evolução histórica do Partido histórico’, para os militantes do Partido.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Não existindo crimes, eles foram criados pelos serviços de contra-informação, utilizando a média nacional e estrangeira. Como exemplo, temos o dito ‘massacre’ de Tasi Tolu, ‘os esquadrões de morte’, ‘a importação ilegal de armas e distribuição de armas pela Fretilin’, etc., factos esses que encheram páginas de jornais e tempos de antena de televisões e rádios, que invadiram as nossas mentes, mas que hoje se provaram ser absolutamente falsos.</span><br /></span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Aqui, deixo que tanto a Provedoria de Justiça e dos Direitos Humanos e a Justiça, que se tem ùltimamente, afirmado imparcial, independente e soberana, nos seus actos, podem fazer as melhores conclusões.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Só posso fazer uns comentários sobre:<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">a) importação ilegal de armas – este é um assunto que compete ao Governo responder e não ao Presidente da República. Na reunião do Conselho de Estado, de 21 de Junho de 2006, interpelei o Primeiro-Ministro sobre o assunto. O Primeiro-Ministro respondeu, mais ou menos, nestes termos: ‘Quando eu soube dessa notícia, mandei imediatamente o Ministro Roque Rodrigues fazer uma investigação, mas até hoje, ele ainda não me entregou nenhum relatório sobre isso!’. Que mais é que eu posso acrescentar a isso?<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">b) distribuição ilegal de armas pela Fretilin – fui eu que fiz esta acusação! O Grupo de Rai Lós e o Grupo do Gleno, são os casos (mais) conhecidos. Deve-se dizer que foi </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">o I Governo constitucional que distribuiu ou o Partido? Os ilustres doutores do CCF definam claramente e eu pedirei desculpas, tanto ao I Governo constitucional como ao Partido histórico. A história do Partido (histórico) está prenhe destas violentas histórias, tenhamos isso em muito boa conta!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas, deixemos que a Provedoria de Justiça e dos Direitos Humanos e a Justiça, que ultimamente se tem reafirmado, alto e bom som, que é independente, imparcial e soberana nos seus actos poderá vir a provar. Eu estou pronto a ir à prisão, por difamação ao ´histórico Partido’.<br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Mais uma vez, a média, em particular, certa média australiana, teve aqui um papel determinante na acção concertada própria de uma conspiração.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Mas os objectivos dessas acções não foram totalmente atingidos. Queriam:</span><br /><br /></span><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >i. derrube do Governo </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >ii. a dissolução do Parlamento Nacional </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >iii. o controle do Judiciário, colocando todo o sistema ao serviço dos conspiradores </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >iv. o estabelecimento de um ‘Governo de Unidade Nacional’ e adiamento das eleições </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >v. a desagregação das F-FDTL </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">vi. a domesticação da Fretilin, colocando na sua liderança elementos mais manipuláveis</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">OBJECTIVOS DA CRISE, em suma! É preciso ter-se estômago para digerir isto. Caríssimos leitores, tenho andado com diarreia, nos últimos tempos. Fui ao médico e ele disse-me que não havia vírus de nenhuma espécie, era mais resultado de pressões psicológicas! Pedi um medicamento e o bom homem disse-me: ‘Resigna e o seu estômago vai trabalhar normal’! Eu vou pensar nisso muito seriamente.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu vou perguntar aos cientistas se o cérebro também tem estômago! Porque há pessoas que pensam com a barriga! Agora também percebo porque é que muitos timorenses, sobretudo os que governam, não resistem à tendência à obesidade... pensam com a barriga! Quando a barriga está cheia, exultam de satisfação porque ‘está tudo sob controle’, mas se a barriga ficou um bocado vazia, ‘as pessoas conspiram’.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A utilização da expressão ‘elementos mais manipuláveis’ faz rir! Nós, de fora do Partido, sentimos isso mesmo da categoria de doutores instrumentalizados de segundo e terceiro grau do ‘partido no poder’ – como constatação que temos do... resultado da fraqueza dos timorenses quando se encontram no ‘poder’. Fazem tudo para ‘poder’ manter a posição de ‘confiança política’, que mereceram por... capacidade profissional, que não têm.<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;"><span style="font-weight: bold;">Acredita-se na possibilidade da entrada em execução do ‘Plano B’ que se crê ser de acção mais selectiva de terrorismo, por um lado, e de utilização mais cuidadosa e extensiva de medidas políticas, administrativas e económicas e de justiça para reduzir ainda mais a autoridade do estado, decepar a nação da sua liderança histórica, incitar as populações para obter a sua reacção generalizada e criar um clima de instabilidade social e política de modo a declarar Timor-Leste um estado falhado e assim intervir com mais forças ainda em nome das necessidades humanitárias e da segurança regional e internacional.”</span><br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">A análise terminou com a chave de ouro! Isto faz lembrar também que, no Diálogo de Alto Nível, de 22 de Novembro, no Hotel Timor, um participante colocou surpreendentemente esta questão: OBJECTIVOS DA CRISE! Sòmente, não houve causas; houve apenas Objectivos! Estamos todos a aprender e devo confessar, eu aprendi imenso: a conhecer as pessoas, a conhecer os cometimentos, a conhecer os compromissos, a conhecer o carácter, a conhecer as astúcias, a conhecer a linguagem, a conhecer os sentimentos, a conhecer as inteligências e o seu oposto, as contra-inteligências. Enfim, a vida é uma constante aprendizagem!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Em todo este pequeno trabalho, de humilde tentativa de rebate à importantíssima Análise dos ilustres doutores do CCF, fiquei sob um estado psicológico tremendo e agora, devo confessar, vivo intensamente a Teoria da Conspiração e ando sob uma pressão tão ‘contundente’ que, só me sinto livre, se afirmo assim: CHEGUEI Á CONCLUSÃO QUE A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO EXISTE E QUE EU SOU ACTOR PRINCIPAL!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Por causa disso, por esta experiência pessoal, eu posso dizer que compreendo o porquê de os ilustres doutores do CCF estarem tão certos de que havia uma ‘conspiração bem urdida’. Sabem porquê, caríssimos leitores? Eles assumem que a Teoria existe! Eles necessitam de viver artificialmente essa conspiração, porque só assim eles se ilibam de qualquer pequeníssimo reparo! Faz lembrar da história de uma pessoa do campo que veio à cidade e que, andando pelas ruas, a apreciar o movimento das pessoas, sentiu que a barriga lhe estava a dar sinal de expulsão daquilo que comera na noite anterior. Não sabia onde ir, mas era urgente tomar uma decisão, para não borrar as calças. Sentou-se na valeta próxima e fechou os olhos... sentiu-se sòzinho, livre dos olhos da multidão de transeuntes! Os nossos ilustres doutores pensam que nós, os ocasionais transeuntes da história deles, não vemos, só porque eles decidiram que não somos providos da capacidade de ver! E, em política, casos assim acontecem amiúde!<br /><br /></span><span style="font-family:trebuchet ms;">Díli, 25 de Novembro de 2006.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"><br />O Presidente da República,</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Kay Rala Xanana Gusmão<br /><br /></span><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iv.html"></a><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> Clique em baixo para ler:</span><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes.html">A teoria das conspirações I </a><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-ii.html">A teoria das conspirações II</a><br /><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html">A teoria das conspirações III<br /><br /><br /></a><a style="font-family: trebuchet ms;" href="http://antimalaiazul.blogspot.com/2006/11/teoria-das-conspiraes-iii.html"> </a><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-82693104623365498562006-11-18T01:31:00.000+00:002007-02-28T01:34:19.545+00:00Mensagem de Xanana Gusnão de 28 Novembro de 2002<div style="text-align: justify;font-family:trebuchet ms;"><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">XANANA GUSMÃO POR OCASIÃO DAS CERIMÓNIAS OFICIAIS PARA A</span><span style="font-weight: bold;"><br />COMEMORAÇÃO DO 28 DE NOVEMBRO Dili</span><span style="font-weight: bold;"><br />28 de Novembro de 2002</span><br /></div><br />Sua Excelência o Presidente Interino do ParlamentoNacional, Sua Excelência o Primeiro Ministro, Distintos Membros do Parlamento Nacional, Distintos Membros do Governo, Distinto Vice Representante Especial do Secretário Geral da ONU Distintos Representantes das Missões Diplomáticas, Senhoras e Senhores,<br /><br />Esta é mais uma data para se celebrar a independência de Timor-Leste! A independência não deveria ser celebrada, a independência deveria ser vivida nos seus benefícios. E é este o nosso problema maior, depois de mais de duas décadas de luta e depois de, mais recentemente e como ponto de referência, o 20 de Maio de 2002. O que é que deveria significar a independência?<br />Não será o conceito de “ou tudo ou nada”, mas temos a certeza deveria significar alguma coisa. Não “deveria significar alguma coisa”, podemos orgulhar-nos de termos uma bandeira, um hino e uma Constituição. Podemos afirmar também que temos um Presidente da República, que temos um Parlamento com 88 membros, muitos dos quais estão sempre a faltar e um Governo com muitos ministros e vice-ministros, porque se diz que há muito trabalho a fazer.<br /><br />Não “ou tudo ou nada”, podemos dizer que a independência significa, hoje em dia, um país com muitos problemas, que não são resolvidos com o devido cuidado.<br /><br />28 de Novembro é uma data da FRETILIN! 20 de Maio é também dia da FRETILIN! A maioria no Parlamento é da FRETILIN! O Governo é essencialmente da FRETILIN! A independêncai serviu para se atender aos quadros da FRETILIN! A independência é para atender também oAntigos Combatentes da FRETILIN!<br /><br />Celebra-se o 28 de Novembro de 2002, com a sensação de mágoa, por causa dos problemas de Uatu-Lari, com os problemas em Dili, com os problemas de Ualili e Baucau, com os problemas de Same e Ainaro, com os problemas de Ermera e Liquiçá, com os problemas de Suai Maliana.<br /><br />Infelizmente, nota-se que, criando problemas, pode-se levar algumas<br />pessoas a Ministro,e que essas pessoas, depois de serem Ministros, só<br />sabem aumentar os problemas.<br /><br />Há poucas semanas atrás, dei posse a mais um Vice-Ministro de Administração Interna, fazendo o apelo para que aquele Ministério comece a resolver com vigor os problemas que afectam a establidade e a segurança do país. O facto é que os problemas têm vindo a acumular-se.<br /><br />Se a independência é só da FRETILIN, eu não tenho nada a comentar. Se a independência para todos nós, todos os timorenses, eu aproveito esta oportunidade para exigir ao Governo a demissão do Ministro da Administração Interna, o Sr. Rogério Lobato, por incompetência e desleixo.<br /><br />Conforme a Constituição, Timor-Leste ficou independente em 28 de Novembro de 1975! Há 27 anos que se éindependente – vejam<br />só! Presto a minha homenagem à FRETILIN!<br /><br />Porém, para a Comunidade Internacional, ficámos independentes em 20 de Maio de 2002! Eu próprio fiquei sem saber como fazer um discurso em 28 de Novembro, com tantos problemas que o Governo tem nas suas mãose, ainda por cima, com duas datas nas minhas mãos!<br /><br />A justificação de que só há seis meses atrás se recuperou a soberania, não pode prolongar-se indefinidamente. A questão de que só pertence a alguns a obrigação ou a legitimidade de gerir Timor-Leste é reveladora não só de arrogância, como também de ausência de maturidade política e da total falta de consciência das dificuldades do país.<br /><br />O que se nota é que as pessoas se deixam levar, muitas vezes, a assumir que os quadros do Partido é que merecem ser nomeados para este ou para aquele lugar!<br /><br />Perdeu-se a noção dos “interesses nacionais”, perdeu-se a noção dos “superiores interesses do povo e do país”, perdeu-se a noção da nova conjuntura do processo, que exige a capacidade para cumprir e dedicação para servir.<br /><br />As pessoas ficam deslumbradas com o “poder”, as pessoas ficam obsecadas por, como quadros do Partido, serem ou terem que ser os que mandam. As pessoas só sabem exigir que os quadros do Partido, não importa se são bons técnicos ou não, não importa se fizeram alguma coisa à luta ou não fizeram nada, mas porque são quadros do Partido têm que ser eles os “grandes”.<br /><br />As pessoas começam, erradamente, a medir o número de lugares pelo número dos quadros do Partido, para que todos se acomodem porque o partido é grande, e as pessoas ficam insatisfeitas porque nem todos sobem ou nem todos podem ir para cima. Esta é a doença que arrastou muitos partidos e muitos países recém-independentes ao desmando, à ineficiência, à corrupção e à instabilidade política, onde os governantes vivem bem e o povo na miséria.<br /><br />Hoje, o Povo vive as maiores dificuldades no seu dia-a-dia, mas o Partido vive o problema de não poder acomodar todos os seus quadros, com o perigo ainda de virmos a ter incompetentes administrando distritos e sub-distritos.<br /><br />Disto tudo, se nota que muitas pessoas se servem dos partidos e não servem os seus partidos, e se servem os seus partidos não servem o país.<br /><br /><br />Hoje, celebra-se o 28 de Novembro e convido a todos a pensar nos deveres de cada um como cidadão e, sobretudo para alguns, nos deveres como governantes.<br /><br />Muita gente ainda não sabe o quanto somos vulneráveis, depois da independência. Os Partidos políticos vivem a ilusão da independência, quando estamos, mais do que nunca, tão dependentes! Dependentes dos favores de outros, dependentes da grandeza e capacidade de outros, dependentes da nossa própria fraqueza ... de sermos um país pobre, pequeno e inexperiente.<br /><br />Muita gente desconhece que levamos já como país sub-desenvolvido um estigma, como que um pecado original: a culpa de sermos pobres, pela qual temos que “render graças” aos que mais sabem, aos que mais podem, aos que decidem ... por nós, porque as regras de jogo já estavam estabelecidas e o 28 de Novembro de 1975 não significou absolutamente nada.<br /><br />Aqui dentro, aqui em Timor-Leste, iniciámos os primeiros ensaios de aprendizagem política, tornando-nos mais vulneráveis ainda, enquanto nação, enquanto povo. E os que podem vão continuando a tentar ajudar-nos a criar a sensação de sobrevivência, porque a tentação que existe hoje, nos timorenses, é a satisfação das recompensas, haja ou não haja motivos para isso. Perdemos a noção da Nação, porque nos agarramos ao sentido dos interesses partidários.<br /><br />Repito: muita gente desconhece o quanto somos vulneráveis, depois de 20 de Maio. E se não corrigirmos as atitudes, se não corrigirmos as irresponsabilidades, mais vulneráveis nos tornaremos, em cada ano que passa.<br /><br />Muitos não têm a noção de que vivemos de esmolas, outros não têm a noção de que não podemos continuar a viver de esmolas. Alguns pregam o sentido de realismo, que eu diria de pactuação porque as leis do jogo não são nem podem ser nossas, são dos que podem para não dizer dos que mandam. Nós os timorenses entretemo-nos, nas nossas politiquices nos preocupando em saber do nosso papel, como país independente, e das nossas obrigações, porque só temos obrigações, como país pobre e sub-desenvolvido.<br /><br />É lindo celebrarmos a independência, duas vezes por ano.<br />É triste, contudo, que o nosso povo tenha tantas lamentações, por cada dificuldade não resolvida.<br /><br />Apelo ao Governo, aos Partidos sobretudo e ao Parlamento para considerarem seriamente os problemas que estão a acumular-se, ameaçando a estabilidade do País. Obrigado.<br /><br />Quinta-feira, Novembro 28, 2002<br /><br /><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-16648081289811892962006-11-17T01:00:00.000+00:002007-02-28T17:04:38.745+00:00Mensagem à Nação sobre as F-FDTL - 23 Março 2006<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center; font-weight: bold;"><span style="font-family:trebuchet ms;">PRESIDENT OF REPUBLIC</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">OFFICE OF PRESIDENT</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">MESSGE TO THE NATION ON F-FDTL</span><br /><br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Palace of Ashes, 23 March 2006</span><br /><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dear the People of Timor-Lorosa’e,</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I know that everyone expects me to say something about the situation, in which we all follow closely, occurring within F-FDTL. Some people say that the Supreme Commander only has the power during the time of threat or the time of war. These people are correct but they are a bit wrong since during the time of peace, and the time of tranquility, as the Supreme Commander I always have a very big power: the power to check the armed force during National holidays such as on 20 May or 28 November at Dili Municipality Stadium, where the Fire Brigades also are in line as the Force and also the Civilian Security which provides the security for the State buildings.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Therefore, I am not going to use my power which I do not really have as a Supreme Commander. Because of this, I am going to speak only as the President of Republic of Timor-Leste. Article 74 of our Constitution states that “The President is the symbol and the guarantor of the unity of State, and the regular functioning of democratic institutions.”</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Through this role, as President of Republic I will provide my observations on the problem occurring within F-FDTL so that everyone knows the roots of the problem, whether there is a capacity to resolve such problem since in the newspapers it was reported that everyone only talked about their capacity. Once everyone knows the roots of the problem, then they can come up with his or her thoughts, otherwise some of us will say things baselessly.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dear Compatriots,</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">First of all, I would like to explain that the decision taken by the Brigadier-General Taur Matan Ruak on 591 soldiers considered now to be as civilians, was his real competence and it is not the President of Republic who is going to change it. It is indeed true, and I appeal to everyone not to be worried since the President of Republic is not someone who tries to replace other people’s competence, and as the Supreme Commander [of F-FDTL], I really bow to this decision.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">However, as the President of Republic I find that the decision taken by the Brigadier-General was a wrong one, and it was not quite just! And as the President of Republic, I should say that my opinion may be more objective than the opinion of a foreign Legal Adviser working at the Council of Ministers, a foreigner to whom the Brigadier-General listened more in making his decisions.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Even so, I wish to inform the five hundred and eleven soldiers who now become the civilians that this is the decision that has been taken, and it means that you are no longer as military men because I have to respect the decisions taken by your Leaders.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dear Compatriots,</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">To all people, I would like to inform that the decision taken was wrong since it tended to focus on the military discipline and it did not consider the roots of the problem which existed within F-FDTL.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">On 11 January I received a petition signed by some military members of the 1st Battalion in Lospalos, presenting the issue of discrimination of “loromonu-lorosae” (people from the western and eastern part of Timor-Leste) within F-FDTL. In the petition they stated that some Veterans usually said that “it is only the people of the eastern part of Timor-Leste who are the fighters and not of the western part”, and “if they, the veterans of the eastern part [ of Timor-Leste] had not fought for the independence, then the people of western part would not have been recruited for F-FDTL.” With such discrimination, the promotions were only for the soldiers of eastern part [of Timor-Leste, and the discipline was only applied for the soldiers of western part [of Timor-Leste].</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I immediately sent a copy of the petition to the Minister of Defense and Commander of Falintil-FDTL in order to request the Leaders to resolve the matter. On 17 January I received the response from the Commander of F-FDTL, Brigadier Taur Matan Ruak saying that since the 1st Battalion had just moved from Lospalos to Baucau, and after they moved, then he would look into the matter.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">On 6 February I heard that a large number of soldiers abandoned the barrack, and spreading throughout Dili. On 7 February I received some of them, and requested them all to mark their presence on 8 February in order to control them so that there would be no more problems, and there would not be any chance given to other people, in case making any problem, they could be blamed for it. All of them came to form in line in Caicoli, and they were around more than four hundred people. I requested Minister of Defense, Dr. Roque Rodrigues to go there, and he did come, but Brigadier-General refused to come, then we asked Colonel Lere instead. I also requested two Members of Parliament: Paulo Assis and Gregório Saldanha as members of Superior Council of Defense and Security to come.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I requested the Minister of Defense to carefully look into the problem by mentioning that the issue of ‘loromonu-lorosa’e’ was a political one and it was a problem which had long existed within F-FDTL, therefore there was a need to resolve it carefully. I also said that the matter was also found by the Investigation Commission in 2004, specially the words usually used by the Veteran Officers in addressing the new soldiers, in particular those who are from Western part of Timor-Leste. Minister of Defense told me that he had no courage to talk to or warned the Veterans since he had a complex related to the fact that he never involved in the war, therefore he really respected them. However, the Minister even said that sometimes the foreign Advisers working at F-FDTL who provoked all of these matters.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Colonel responded by saying that he did not believe the Veterans said such words, and he suspected the Political parties that did it, particularly Democratic Party (PD) since Deker becomes a PD member. I told them not to blame anyone with no basic reason, and saying that if more than four hundred soldiers abandoned the barrack, perhaps there was something not quite right within the Institution itself. And it was better to have self- correction and improve it. When we start to blame people with no real reason, it shows that we do not want to or have no desire to resolve the problem by throwing it to other people’s shoulder.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I appealed to the two Leaders to carefully consider in re-accepting these more than four hundred soldiers in order to solve the matter. If they were to be dismissed, the problem within F-FDTL had been resolved, and they did not bring the matter outside.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I asked the Minister of Defense to see that there should not be Veterans or Fighters within F-FDTL since in all State Institutions, there is no, and there should not be Veterans or non Veterans. The fighters should bear in mind that their being Fighters or Heroes only terminated in August 1999, and today they are military members like any other ones. I also asked them to correct such behavior within F-FDTL since the Veterans should think that they were already old, and they would be retired someday. Such behaviors might make the new soldiers ask when exactly the Veterans would be retired, so that F-FDTL would become professional where there was no more such thing like “ I was the one who suffered in the past, I was the one who made the war, I was the one who killed many enemies, and if we had not made the war, you would not have become F-FDTL members”, etc. All organs of State have made a great effort to recognize the Veterans, Fighters or Heroes, therefore the State Institutions should not allow to have another status for the Heroes and the Fighters. Today, if people who work within an Institution, all of them are the servants of the State. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I also told the two Leaders that the issue of discrimination between “loromonu-lorosae” should be considered as a political problem which the State should pay attention to: other matters which were dealing with the promotion or discipline will be tackled by the military Institution even though they were related to the issue of discrimination.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I also requested MP Paulo Assis and MP Gregório Saldanha to be part of the [Investigation ] Commission but the Minster of Defense said it was better for them not be so because it could undermine the competence of Military’s Chief of Staff. Then, I also agreed that the two MPs would just follow the investigation which the Military Chief of Staff was going to carry out. Therefore, it was not me who formed the Commission; I only requested the permission so that the two MPs could follow, observe the investigation which was about to be done.</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;"> </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">The whole day I spoke to more than 400 persons, asking them to return to the barrack. In the end they all returned in order to take part in the investigation. After one week, I learned that they went out again. On 22 January I received another petition complaining in stead of looking at the substance of their petition, the Commission formed by the Chief of Staff of F-FDTL asked who organized them to make the petition and abandon the Headquarters. They also mentioned that they received threats. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Based on the information which I received, the petitioners said they wanted to become military members again, and they would respect their commanders, but the Veteran Commanders should correct themselves in order not to discriminate again the people of “Loromonu-Lorosae”, the fighters or non-fighters. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dear Compatriots,</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I asked my Military Adviser to bring the petition to the Minister of Defense and the Brigadier-General who were about to board the plane and departed for China. The Brigadier-General angrily said, “ if they want to fight, then let us fight.” I also heard the same expression such as,” if one thousand people are gone, then another thousand will be in”, the problem considered to be too simple in accordance to the Leaders’ intelligence. </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Dear all Compatriots,</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Because of Lospalos’s problem, in 2004 I formed one commission, and F-FDTL also established one. The two Commission worked separately but the findings of their reports were similar: </span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">The laws and regulations were not in place yet, the Office of Secretary of State for Defense had been promoted as the Ministry of Defense, and there were still many things lacking such as the Code of Military Discipline, the Law on Military Service, and others.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">One, indiscipline started with some of the Commanders. The other one, the promotion was not good, and the treatment of some commanders towards the new soldiers and loromonu.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">In the end, these problems were not solved with good will, therefore the problems continued to exist until 2006. So, the roots of the problem was not indiscipline but the mal-treatment carried out by some Veteran Commanders towards some soldiers.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I also told the two Leaders that dismissing these 400 soldiers is an easy thing to do. My concern is as follows: if we do not solve it properly, by just dismissing these people, then the young people from “Loromonu” will not apply for F-FDTL in the new recruitment process. If they are to join F-FDTL, within F-FDTL itself there has been a bad atmosphere being created because the Veteran Commanders, who do not want to correct themselves, will address the Loromonu soldiers to-be with the following expression, “Are you coming here to obey us or to be against as the former ones?”</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">And all of these matters will transform F-FDTL as military force from the Lorosae only because people, starting from Manatuto up to Oecusse, are all militias, and are the ones who do not know how to make war. And the people will be really concerned that the new recruitment will be based on personal connections, and the worst thing will be that only martial art groups which have joined some political parties, will be recruited.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">The roots of the problem was the discrimination, and not the indiscipline. The 591 people [who were dismissed] shows that we are not capable of solving the problems within the Institution, or that we do not want to solve it.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">In the past, in all countries the Military just knew how to train and organize themselves to fight in the war. Nowadays, the military will not get involved in politics, but they should know about politics, and they should have political sensibility.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I even cried to the Defense Minister by saying,” Whether the PNTL does good things or not, there is a Minister who is concerned with them. Within our Defense Force, there is also a need to have someone who does so. After returning from China, the problem continued to be unsolved, and I was puzzled by noticing that, for the whole day, in a workshop discussing the quota for women in the upcoming Elections in 2007, the Minister of Defense showed to the Leaders that the question of 500 Military members who left the Headquarter was not a problem, and the question of Loromonu-Lorosae was not a problem either, and they had no any impact at all to our society because there was no impact to their brain.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">I was puzzled, when I arrived yesterday at the Airport, there were a lot of Police officers providing security to me, as if the 591 petitioners were about to carry out demonstration against me or assassinate me. I also admired that in my residence in Balibar, there was an additional presence of Police officers, and it seemed as if the fellow 591 [former soldiers] were about to assault me because I dismissed them. Minister of Defense and the Brigadier-General were the ones who should be protected by such security because I did not need it. Sometimes, we try to intimidate the population in order to hide the problems which we do not have the courage to solve intelligently.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">To end, I appeal to the petitioners to understand that as the Supreme Commander [of F-FDTL], my mandate is just to check the soldiers on 20 May and 28 November. Therefore, if the Brigadier-General, after following the opinion of the legal adviser of the Council of Ministers, who had declared that you are now civilians, and indeed you are already civilians. The Prime Minister has also said that there would be a new recruitment, so, be calm and find other jobs. F-FDTL will need a long time to become professional because our State has just begun with various sickness and attitudes.<br /><br /><br /></span></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-31886807806466494542006-11-17T00:59:00.001+00:002008-10-06T05:16:56.903+00:00Mensagem de Xanana Gusmão de 07 de Dezembro de 1987 **<div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"><span style="font-size:130%;">Mensagem de 7 de Dezembro de 1987 **</span></div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><b>Patriotas e nacionalistas! Povo de Timor Leste!</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Ao comemoramos o 12º aniversário da cobarde e vergonhosa invasão da nossa Pátria pelas criminosas forças de ocupação indonésias, todos devemos saber reflectir sobre as causas profundas desta guerra imposta ao Povo Maubere! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Tanto sofrimento, tanta morte, tanta dor já foram bastantes para concordarmos que é tempo mais que oportuno para varrermos definitivamente os obstáculos que ainda contribuem para prolongar esta penosa situação. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O dia 7 de Dezembro de 1975 não apareceu por acaso. As causas próximas foram o contra-golpe levado a cabo FRETILIN com o posterior total controle da situação; todavia, os motivos remontavam-se a uma base política que seria, ela mesma, o ponto noddal da história destes doze anos de guerra. Desde que a FRETILIN assumira uma ideologia de esquerda "tornou-se" positivamente numa ameaça potencial aos interesses estratégicos dos poderosos. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Hoje, mais do que nunca, os mais variados problemas que nos acompanham, surgem com matizes demasiados negras no horizonte de esperança da nossa luta! Os sofrimentos destes doze duríssimos anos abriram feridas profundas no nosso corpo e na nossa consciência de patriotas e de filhos de Timor Leste! Muitas perguntas emergem exigindo respostas e muitos pontos de vista surgem requerendo solução, o que reflecte a inquietação e ansiedade de todos… enquanto o tempo roda e nos arremessa, com a própria violência da guerra, a novos tempos sempre e cada vez mais difíceis. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Para alguns a abnegação na certeza de estarem defendendo uma justa causa renova-se com o seu próprio suor- estes aceitam a morte como condição da sua Luta, como sacrifício exigido pela Pátria! Outros assustaram-se imediatamente com a mínima pressão do ocupante e preferiam engordar-se com o "super-mi" indonésio, desde que foram beneficiados com umas rupias de consolação para promoverem a pseudo defesa de uma identidade qualquer e pregar que o povo sofre por causa da guerra, enquanto se vão escudando nas sua vestes brancas de cobardia que os afastou definitivamente deste mar de suor e lágrimas que afundam o nosso Povo! Os restantes interrogam-se sobre um futuro (que não só se avizinha como cada vez mais se afasta) especulando vitórias fáceis ou retraindo-se sob o espectro de um fim demasiado doloroso! E enquanto uns vivem a actual situação sob a óptica do inimigo que continuára a fazer o que pode e o que quer, outros procuram manter ainda o que possuem de força política e moral para poderem pensar pelo menos que morremos todos, abandonados por todos, mas MORREMOS DE PÉ, como se exprimiu muito objectivamente o mui querido Monsenhor Martinho Lopes! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><b>Enfim, Patriotas de Timor Leste!</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Doze anos de uma imensa e ininterrupta actividade das forças ocupacionistas sobre as gloriosíssimas FALINTIL e doze anos de brutal repressão sobre o heróico e indefeso Povo Maubere, actuaram profundamente sobre a nossa consciência e sobre o nosso pensamento, acentuando a nossa fragilidade e a nossa pequenez e devolvendo-nos os nossos próprios esforços. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O povo de Timor Leste deu sobejas provas do seu elevado patriotismo, deu largas provas da sua determinação, provas da firmeza de princípios que sempre o nortearam na sua Luta, da audácia de opções que o conduziram a uma resistência tão tenaz à ocupação militar indonésia. Mas, nesta longa e difícil caminhada, muitos extenuados; não é porque lhes falte o desejo de ver a Pátria Libertada mas porque se lhes diminui a força moral para manterem a cabeça erguida. Isto não é mais que o resultado do próprio prolongamento da guerra, não é mais do que sinal do enfraquecimento moral perante as enormes dificuldades que foram e continuam a ser uma constante irremovível na nossa resistência contra a ocupação estrangeira da nossa Pátria. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Todavia, doze anos depois, o Povo de Timor Leste é quem não vergou a sua consciência maubere e, esmagado na sua própria fraqueza, continua, na calada de repressão inimiga, a conservar intactas as supremas e legítimas aspirações por que se bateu! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><b>Patriotas e Nacionalistas! Povo de timor Leste!</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O dia de hoje merece uma devida reflexão, merece uma melhor clarificação do pensamento, merece uma reanálise da orientação política assumida até hoje. O dia de hoje deve poder marcar nesta denodada resistência de doze anos, um novo e significado sinal de mudança de posturas. Se bem que quaisquer mudanças podem ser tomadas como expressão da nossa própria debilidade, desejamos apenas aclarar que elas podem ou devem sobretudo revelar a percepção que detemos agora sobre a realidade, isto é, devem poder afirmar que nos tornámos, enfim, mais realistas! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A realidade de que nos apercebemos não é já a capacidade esmagadora das forças ocupacionistas; a realidade; a realidade de que tomamos contacto não se limita já à constante negação aos nossos direitos nem essa realidade se circunscreve à nossa incapacidade, em todos os planos, de fazer face à conspiração internacional! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A realidade de que falamos nunca se apartou, num só momento que fosse, do indiscutível patriotismo do Povo Maubere, um povo pequeno e indefeso, oprimido e esquecido, mas que não se vende ao "programa de desenvolvimento" com que Jacarta se esforça por comprar a anuência da comunidade internacional para favorecer assim a aneação criminosa e pela força de Timor Leste! Essa realidade é apenas um componente de singular importância da Luta do Povo de Timor e coloca-se no plano ideológico. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">É essencialmente sobre este ponto que me debruçarei mais adiante e constitui o teor desta mensagem de Luta! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><b>Patriotas e Nacionalistas! Povo de Timor Leste!</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A) Cometemos demasiados e enormes erros políticos que não podemos, após doze anos longos e duríssimos anos de uma guerra, condenada a não ter fim para permitir o desinteresse e esquecimento da Comunidade internacional, alhearmo-nos simplesmente deles e, muito menos, deixarmo-nos de considerá-los sobretudo nas suas consequências. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Logo desde o início, a Direcção da FRETILIN padeceu de um estrondoso infantilismo político que procurou desafiar o mundo, obsecada das nossas "capacidades" não existentes. Em nenhuma altura, foram consideradas as relações conjunturais tanto da área como com o resto do mundo e nos presumíamos, desde então, "heróis" de uma revolução sangrenta, de uma revolução popular que levaria de avalanche todas as forças contrárias. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Os nossos antecessores viam no marxismo a "solução imediata" para os problemas de um povo incrivelmente subdesenvolvido. Os nossos antecessores olhavam pelo maoísmo uma senda fulgurante para um processo revolucionário de "portas fehadas" que "surpreenderia" o mundo com as "inegáveis capacidades criadoras" de um povo ainda remetido como está a métodos artesanais de produção. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Estávamos, na verdade, embalados com um fantasioso processo revolucionário já apelidado de "mauberismo". Esse infantilismo político e impensado aventureirismo, que guiaram o Movimento desde 1974, não permitiram margem alguma para desprezarmos, já na altura, todo o extremismo político que seria, dali em diante, a nossa própria sentença. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Só esse insensato radicalismo que, não atendendo às nossas próprias condições concretas e às circundantes, nos tornou intoleravelmente prepotentes, levou-nos a tomar muitos compatriotas no mesmo pé de igualdade com o criminoso agressor da pátria! Cometemos crimes contra os nossos próprios irmãos e, perante uma guerra difícil, perdemos mais tempo a prender e assassinar compatriotas do que a pensar efectivamente numa defesa capaz da Pátria, cujos resultados se tornaram, por si só, evidentes em 1978! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">B) Nós próprios, que só viemos a aprender o marxismo nas montanhas de Timor Leste, fomos influenciados por uma frenesim revolucionária que nos levaria a materializar o sonho dos antecessores: criar um partido marxista-leninista na RDTL! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Com o desenvolvimento da própria situação e com a gradual compreensão de que o verdadeiro problema de fundo era o problema político interno que permanecia no nosso pensamento e na nossa acção (tendo-nos até permitido ainda em 1982, elevar aos ares vozes sumidas de um processo revolucionário, posto em causa tanto pelo Ocidente como pelo Leste), procurámos, também gradualmente, abarcar toda a situação na sua complexidade. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Entretanto, já aí, a nova Direcção da Luta considerou que era uma obrigação política proceder a uma mudança de comportamento, embora permanecesse alimentando o mesmo radicalismo no plano da ideia. Em 1984, porém, a Direcção da Luta teve que reconsiderar que a criação de um partido marxista só exprima, na prática, maior endurecimento das posturas anteriormente adoptadas, pelo que o criado "Partido marxista-Leninsta FRETILIN" deixou prática e definitavamente de actuar como organização partidária viva, cedendo de novo a capacidade de conduzir o processo de libertação da Pátria à FRETILIN, como movimento nacionalista não necessariamente comunista! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Era já pensamento nosso esvaziar da Luta toda a carga superior à capacidade dos nossos ombros de transportar! No ano passado numa mensagem dirigida á Comissão da UDT, em Lisboa, procurámos fazer ver a todos que as gloriosíssimas FALINTIL estariam fora do jogo político-partidário, afirmando por isso que as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste no futuro não permitirão a qualquer partido político subverter a ordem estabelecida e instaurar um regime à sua conta pela via de supressão de outros. Quisemos fazer entender também que as FALINTIL só terão uma sublime missão a cumprir: a defesa da Pátria de todos nós e a manutenção da ordem interna, instaurada por uma constituição que proclame a defesa pelas liberdades individuais e colectivas e o respeito pelos interesses de todos os cidadãos e camadas sociais de Timor Leste. Para que as gloriosas FALINTIL possam vir a cumprir plenamente a sua missão dentro da estrutura do governo, seja qual dor a tendência política do executivo, necessário se tornava afirmar desde já a neutralidade das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Não sendo os verdadeiros mentores da criação do "PML-FRETILIN", porque demos apenas seguimento a um processo que recebêramos dos antecessores, devemos dizer que, na altura, estávamos ainda deslumbrados com a visão de um milagroso processo de redenção da humanidade, que a "humanidade" fechada os olhos à exterminação do Povo Maubere no genocídio levado a cabo pelas assassinadas forças de ocupação indonésia. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Tomámos demasiado tarde consciência disso e este facto deveu-se somente a uma mais que evidente inexperiência política; hoje não nos consideramos plenamente capacitados neste campo, todavia, o que podemos afirmar é que já podemos ver com outros olhos e compreender mais objectivamente a realidade. E esta realidade só podia ou só devia reflectir </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">1) Antes de tudo, reconhecimento dos grandes erros de condução do Processo de Libertação da Pátria, cometidos pelos nossos antecessores; </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">2 ) Logo a seguir, o "mea culpa" dos nossos próprios erros de análise, que nos remeteu ao mesmo nível do infantilismo político dos nossos antecessores; </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">3) E, depois proceder à correcção gradual dos procedimentos políticos anteriormente adoptados; </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">4) Para, finalmente, extirpar toda e qualquer tendência de nos mantermos amarrados a um sistema amarrados a um sistema rígido de concepções sobre a Luta do nosso Povo! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><b>Patriotas e nacionalistas</b>!</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Ao longo dos últimos nove anos de guerra, pudemos verificar nós próprios, com maior evidência dos factos, que o patriotismo do povo de Timor Leste não é nenhum produto ocasional do "25 de Abril" em Portugal compreender mais profundamente que esta noção, este sentimento, é qualquer coisa viva que vejo sendo transmitida de geração em geração, sempre evocada anualmente nas suas festas tradicionais que o colonialista português designava por "estilos" e, pelas quais, o nosso Povo era obrigado a pagar licença mas que hoje nem pode fazê-lo. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Se o mundo ainda concebe que, sob a Direcção da FRETILIN, o Povo de Timor Leste tem vindo a resisitir com uma bravura incomparável e com uma indesmentível entrega de si mesmo, isto foi porque estava ou está impulsionado pela ideologia comunista, devo declarar que não é verdade, não se negando todavia os efeitos benéficos de carácter de Liberdade e expressão usufruída e de democracia, que permituiu a todos reconhecer quão profundo era e depois se tornou muito mais evidente o fosso político que existia com relação ao período colonial português e sob o jugo da ocupação militar indonésia. Não negamos que, na difícil situação que se seguiu à perda das "Bases de Apoio", nas montanhas, foram os princípios e métodos de organização assumidos pela FRETILIN, que permitiram as necessárias condições políticas básicas para reavivarmos a chama da resistência, quase a desaparecer no plano da oposição armada. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Nenhum povo lutou, até hoje em dia, sem uma Direcção e sem os mínimos moldes de organização. Nas condições em que se processava e se processa a resistência Maubere, a FRETILIN, por obrigações políticas que determinaram o surgimento da ASDT, devia, como fez, colocar-se à testa do Povo de Timor Leste na defesa da Pátria! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Como muitos, até dada altura e mesmo como membro do Comité Central da FRETILIN, participámos na Luta sob o ideal da Independência Nacional, que procurámos vincar na última mensagem alusiva a 20 de Maio deste ano! Desde os princípios de 1976, na onda de depurações com massacres a muitos nacionalistas (depurações que se estenderam até 1978), também a muitos se colocou o dilema de ou ser contestatário para ser preso e assassinado como reaccionário e traidor da Pátria ou optar pela política de seguidismo, já que o espírito de combate na defesa da pátria era a motivação política e moral para não aceitarmos morrer como outros tão horrorosamente! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A supressão de toda e qualquer outra opção política acabou por criar, no nosso seio, divisionismo fatal e um receio notório, em todos os níveis da estrutura organizacional, de se exprimirem mais livremente" acerca dos pontos de vista errados dos membros do Comité Central, que se remetiam a esclarecimentos extenuantes sobre preceitos marxistas enquanto a prática de fazer a guerra estava entregue ao espírito de iniciativa, mais ou menos descontrolado e inconsequente, de comandantes de pelotões e de companhias - tendo sido este o tom negativamente geral do período das Bases de Apoio. Fazer revolução, que era a nossa própria condenação, numa guerra que não podíamos suportar, era a demonstração clara da cegueira política. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O Ocidente coloca-se ao lado da Indonésia enquanto os países do Leste não mexeriam um dedo, chamando-nos, com toda a certeza, de desmedidos aventureiros! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Doze anos depois, temos que reconhecer com amargura os efeitos que uma estratégia política mal traçada proporcionou ao Povo Maubere e o levou à desastrosa situação a que ainda ninguém conseguiu pôr fim! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Nós viemos reconhecendo, ao longo destes anos, que o que move o povo de Timor Leste à Luta não é fazer uma Revolução nem em grandes nem pequenas proporções- o objectivo do Povo Maubere é libertar a Pátria da ocupação estrangeira para poder viver livre e independente. O Povo Maubere só aspira a liberdade, só aspira a sua independência como condição básica para exercer os seus direitos, para viver ele mesmo como ele é, como ele pensa e como ele age. Por isto tudo quanto disse: </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><ol style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><li><p style="margin-bottom: 0cm;">Eu declaro publicamente a minha total e convicta rejeição a teorias que promovam supressão das liberdades democráticas em Timor Leste! </p> </li><li><p>Eu declaro publicamente que as FALINTIL ASWAIN não permitirão que se instaure em Timor Leste um regime de esquerda que não só venha a provocar mutilações internas como desestabilize toda a área em que Timor Leste está inserido. </p> </li></ol><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Sempre viemos lutando sob a bandeira de FRETELIN e, ainda sob ela, lutaremos até ao fim! O que eu pretendo realçar é que, como membro do Comité Central da FRETELIN, estou ao abrigo dos requisitos do próprio Movimento que engloba indiscriminadamente diversas opções políticas. Porém, a Constituição preceituará a total neutralidade das Forças Armadas. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Hoje em dia, pensarmos em fazer revolução é suicidarmos-nos insensatamente; hoje em dia, pensarmos em termos de erguer o comunismo como a fogueira que se ateia na pradaria é iludirmo-nos não só com o falhado ostracismo chinês como elevarmo-nos em bicos de pés para nos equipararmos aos países do Leste. Já vimos assim que no estertor da nossa própria agonia, continuávamos cegos arranjando mais inimigos, enquanto os ditos "aliados naturais" se quedavam ao silêncio das suas revoluções. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">O objectivo último que perseguimos é Libertação da nossa Pátria e a independência para o nosso Povo! Nada mais desejamos quando aceitamos todos estes sacrifícios que a guerra colocou perante nós. Nós não ambicionamos nem glórias nem poderes, porque estamos plenamente conscientes das nossas extremas limitações - a única ambição que possuímos é a de garantir ao Povo Maubere, pela Libertação da Pátria, o exercício dos seus direitos fundamentais, como Povo e como ser humano, dentro da Comunidade do Mundo Livre! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;"><b>Patriotas e Nacionalistas!</b></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">A guerra continua tremendamente dura, tremendamente difícil! Para aumentar mais ainda as nossas dificuldades de resistência, o bárbaro ocupante já dispõe, em cada concelho, de mais de um batalhão de naturais armados, denominados "SAKA". </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Eu sei que, sob a ameaça e repressão inimigas, ninguém pode isentar-se de ser mobilizado, porque constitui uma questão de vida e de morte aceitar ou recusar a pegar em armas, contra os seus próprios guerrilheiros. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Muitos "SAKA" já morreram, muitos morrerão ainda, deixando órfãos e viúvas das quais, os ocupacionistas procuram imediatamente aproveitar-se. O ocupante da nossa Pátria não se perturba em utilizar todos quantos podem agarrar em armas para apoiar os seus vinte batalhões que actuam em Timor Leste! O bárbaro ocupante está apostado em exterminar as gloriosíssimas FALINTIL! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Hoje, 7 de Dezembro de 1987, Benny Murdani ainda não pode afirmar que acabou de vez com a resistência armada mas sempre estamos conscientes de que Jacarta pode continuar a perseguir o seu objectivo! </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Os valorosos guerrilheiros do Povo Maubere continuam em pé, aceitando a sua própria exterminação e não se renderão! Aceitamos de cabeça erguida o desafio de Jacarta para o próximo ano - e sabemos que continuaremos a morrer mas… morreremos de pé. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Exigimos a Portugal que assuma, de vez, a hombridade política necessárias a fim de, no quadro das obrigações que a sua Constituição confere e no âmbito das resoluções da ONU, concernentes ao caso de Timor Leste, promova um novo enquadramento no diálogo com a Indonésia sob a mediação da ONU, processo em que devem estar presentes os representantes do Povo Maubere. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Apelamos aos governos da Austrália e da Nova Zelândia para reconsiderarem a sua posição e beneficiarem o Povo de Timor Leste de uma atitude mais compreensiva e justa, na mesma medida em que o caso da Nova Caledónia mereceu uma especial atenção destes dois governos. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Apelamos ao governo dos EUA assim como aos governos da Europa Ocidental no sentido de não mais considerarem Timor Leste uma potencial ameaça à estabilidade da área, pois que nos comprometemos desde já a impedir que tal aconteça, pelo que pedimos para favorecerem o Povo maubere com uma postura que o leve a encontrar a paz e a sua independência. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Apelamos aos países do Movimento dos Não-Alinhados para considerarem que apoiar a justa Luta do Povo Maubere é garantir ao próprio Movimento ideoneidade e pujança políticas que salvaguardarão os princípios adoptados em Bandung. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">Apelamos aos Povos do Mundo inteiro para se sensibilizarem com o sofrimento do Povo de Timor Leste, nestes longos e duríssimos doze anos de uma guerra de genocídio, promovida pelos assassinos ocupantes da Pátria. E pressionarem os seus governos a reverem as suas atitudes perante o problema de Timor Leste. </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">PÁTRIA OU MORTE! </p><div style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"> </div><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">RESISTIR É VENCER!</div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;"> </div><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">A LUTA CONTINUA EM TODAS AS FRENTES!</div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;">Quartel-General do Conselho Revolucionário de Resistência Nacional, em</div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;">Timor Leste, aos 7 de Dezembro de 1987.</div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;">A Presidência do CRRN</div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;">a) Kay Rala Xanana Gusmão</div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: center; font-family: trebuchet ms;">Cmdt-em-Chefe das FALINTIL</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;">** Nota explicativa -- Esta mensagem de Xanana Gusmão pressagia a viragem ideológica da Resistência Timorense. A FRETILIN, que tinha surgido como uma frente nacionalista abrangente, não ideológica, foi assumido posições cada vez mais doutrinárias com a chegada a Timor Leste, em Setembro de 1974, de estudantes universitários timorenses influenciados pelas doutrinas e slogans maoístas de então. Abílio Araújo e a sua esposa, Guilhermina Araújo, esta portuguesa, ambos estudantes de Economia, António Duarte Carvarino, estudante de Direito e Vicente Sa'he, estudante de Engenharia, foram os responsáveis pela radicalização ideológica da FRETILIN e a sua transformação em "Partido Marxista-Leninista". A criação do PML tinha sido decidida em 1977, mas só ganhou forma oficial em 1983. Abílio foi eleito Secretário-Geral.<br /> <br />Título: Xanana Gusmão<br />Autor: Xanana Gusmão<br />Editora: Edições Colibri, 1994<br />Pág. 83 a 92</p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /></p><div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"> </div><p style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><br /></p>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-85577549898504911802006-11-16T01:51:00.000+00:002007-02-28T02:31:20.612+00:00Constituição da RDTL<div style="text-align: justify; font-family: trebuchet ms;"><div style="text-align: center; font-weight: bold;">CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE<br /></div><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TIMOR-LESTE</span><br /></div><br /> <br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PREÂMBULO</span><br /></div><br /><br /> A independência de Timor-Leste, proclamada pela Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (FRETILIN) em 28 de Novembro de 1975, vê-se internacionalmente reconhecida a 20 de Maio de 2002, uma vez concretizada a libertação do povo timorense da colonização e da ocupação ilegal da Pátria Maubere por potências estrangeiras.<br /><br /> A elaboração e adopção da Constituição da República Democrática de Timor-Leste culmina a secular resistência do povo timorense, intensificada com a invasão de 7 de Dezembro de 1975.<br /><br /> A luta travada contra o inimigo, inicialmente sob a liderança da FRETILIN, deu lugar a formas mais abrangentes de participação política, com a criação sucessiva do Conselho Nacional de Resistência Maubere (CNRM), em 1987, e do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT), em 1998.<br /><br /> A Resistência desdobrou-se em três frentes.<br /><br /> A frente armada foi protagonizada pelas gloriosas Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL), cuja gesta histórica cabe exaltar.<br /><br /> A acção da frente clandestina, astutamente desencadeada em território hostil, envolveu o sacrifício de milhares de vidas de mulheres e homens, em especial jovens, que lutaram com abnegação em prol da liberdade e independência.<br /><br /> A frente diplomática, conjugadamente desenvolvida em todo o Mundo, permitiu abrir caminho para a libertação definitiva.<br /><br /> Na sua vertente cultural e humana, a Igreja Católica em Timor-Leste sempre soube assumir com dignidade o sofrimento de todo o Povo, colocando-se ao seu lado na defesa dos seus mais elementares direitos.<br /><br /> Esta Constituição representa, finalmente, uma sentida homenagem a todos os mártires da Pátria.<br /><br /> Assim, os Deputados da Assembleia Constituinte, legítimos representantes do Povo eleitos a 30 de Agosto de 2001,<br /><br /> Alicerçados ainda no acto referendário de 30 de Agosto de 1999, que, concretizado sob os auspícios da Organização das Nações Unidas, confirmou a vontade autodeterminada de independência;<br /><br /> Plenamente conscientes da necessidade de se erigir uma cultura democrática e institucional própria de um Estado de Direito onde o respeito pela Constituição, pelas leis e pelas instituições democraticamente eleitas sejam a sua base inquestionável;<br /><br /> Interpretando o profundo sentimento, as aspirações e a fé em Deus do povo de Timor-Leste;<br /><br /> Reafirmam solenemente a sua determinação em combater todas as formas de tirania, opressão, dominação e segregação social, cultural ou religiosa, defender a independência nacional, respeitar e garantir os direitos humanos e os direitos fundamentais do cidadão, assegurar o princípio da separação de poderes na organização do Estado e estabelecer as regras essenciais da democracia pluralista, tendo em vista a construção de um país justo e próspero e o desenvolvimento de uma sociedade solidária e fraterna.<br /><br /> A Assembleia Constituinte, reunida na sessão plenária de 22 de Março de 2002, aprova e decreta a seguinte Constituição da República Democrática de Timor-Leste:<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PARTE I</span><br /><span style="font-weight: bold;">PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS</span><br /></div><br /><div style="text-align: center; font-weight: bold;">Artigo 1.º<br />(A República)<br /></div>1. A República Democrática de Timor-Leste é um Estado de direito democrático, soberano, independente e unitário, baseado na vontade popular e no respeito pela dignidade da pessoa humana.<br />2. O dia 28 de Novembro de 1975 é o dia da Proclamação da Independência da República Democrática de Timor-Leste.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 2.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Soberania e constitucionalidade)</span><br /></div>1. A soberania reside no povo, que a exerce nos termos da Constituição.<br />2. O Estado subordina-se à Constituição e às leis.<br />3. As leis e os demais actos do Estado e do poder local só são válidos se forem conformes com a Constituição.<br />4. O Estado reconhece e valoriza as normas e os usos costumeiros de Timor-Leste que não contrariem a Constituição e a legislação que trate especialmente do direito costumeiro.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 3.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Cidadania)</span><br /></div>1. Na República Democrática de Timor-Leste existe cidadania originária e cidadania adquirida.<br />2. São cidadãos originários de Timor-Leste, desde que tenham nascido em território nacional:<br />a) Os filhos de pai ou mãe nascidos em Timor-Leste;<br />b) Os filhos de pais incógnitos, apátridas ou de nacionalidade desconhecida;<br />c) Os filhos de pai ou mãe estrangeiros que, sendo maiores de dezassete anos, declarem, por si, querer ser timorenses.<br />3. São cidadãos originários de Timor-Leste, ainda que nascidos em território estrangeiro, os filhos de pai ou mãe timorenses.<br />4. A aquisição, perda e reaquisição de cidadania, bem como o seu registo e prova, são regulados por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 4.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Território)</span><br /></div>1. O território da República Democrática de Timor-Leste compreende a superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitados pelas fronteiras nacionais, que historicamente integram a parte oriental da ilha de Timor, o enclave de Oe-Cusse Ambeno, a ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco.<br />2. A lei fixa e define a extensão e o limite das águas territoriais, a zona económica exclusiva e os direitos de Timor-Leste na zona contígua e plataforma continental.<br />3. O Estado não aliena qualquer parte do território timorense ou dos direitos de soberania que sobre ele exerce, sem prejuízo da rectificação de fronteiras.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 5.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Descentralização)</span><br /></div>1. O Estado respeita, na sua organização territorial, o princípio da descentralização da administração pública.<br />2. A lei define e fixa as características dos diferentes escalões territoriais, bem como as competências administrativas dos respectivos órgãos.<br />3. Oe-Cusse Ambeno e Ataúro gozam de tratamento administrativo e económico especial.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 6.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Objectivos do Estado)</span><br /></div>O Estado tem como objectivos fundamentais:<br />a) Defender e garantir a soberania do país;<br />b) Garantir e promover os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;<br />c) Defender e garantir a democracia política e a participação popular na resolução dos problemas nacionais;<br />d) Garantir o desenvolvimento da economia e o progresso da ciência e da técnica;<br />e) Promover a edificação de uma sociedade com base na justiça social, criando o bem-estar material e espiritual dos cidadãos;<br />f) Proteger o meio ambiente e preservar os recursos naturais;<br />g) Afirmar e valorizar a personalidade e o património cultural do povo timorense;<br />h) Promover o estabelecimento e o desenvolvimento de relações de amizade e cooperação entre todos os povos e Estados;<br />i) Promover o desenvolvimento harmonioso e integrado dos sectores e regiões e a justa repartição do produto nacional;<br />j) Criar, promover e garantir a efectiva igualdade de oportunidades entre a mulher e o homem.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 7.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Sufrágio universal e multipartidarismo)</span><br /></div>1. O povo exerce o poder político através do sufrágio universal, livre, igual, directo, secreto e periódico e através das demais formas previstas na Constituição.<br />2. O Estado valoriza o contributo dos partidos políticos para a expressão organizada da vontade popular e para a participação democrática do cidadão na governação do país.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 8.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Relações internacionais)</span><br /></div>1. A República Democrática de Timor-Leste rege-se nas relações internacionais pelos princípios da independência nacional, do direito dos povos à autodeterminação e independência, da soberania permanente dos povos sobre as suas riquezas e recursos naturais, da protecção dos direitos humanos, do respeito mútuo pela soberania, integridade territorial e igualdade entre Estados e da não ingerência nos assuntos internos dos Estados.<br />2. A República Democrática de Timor-Leste estabelece relações de amizade e cooperação com todos os outros povos, preconizando a solução pacífica dos conflitos, o desarmamento geral, simultâneo e controlado, o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva e a criação de uma nova ordem económica internacional, capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos.<br />3. A República Democrática de Timor-Leste mantém laços privilegiados com os países de língua oficial portuguesa.<br />4. A República Democrática de Timor-Leste mantém laços especiais de amizade e cooperação com os países vizinhos e os da região.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 9.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Recepção do direito internacional)</span><br /></div>1. A ordem jurídica timorense adopta os princípios de direito internacional geral ou comum.<br />2. As normas constantes de convenções, tratados e acordos internacionais vigoram na ordem jurídica interna mediante aprovação, ratificação ou adesão pelos respectivos órgãos competentes e depois de publicadas no jornal oficial.<br />3. São inválidas todas as normas das leis contrárias às disposições das convenções, tratados e acordos internacionais recebidos na ordem jurídica interna timorense.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 10.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Solidariedade)</span><br /></div>1. A República Democrática de Timor-Leste é solidária com a luta dos povos pela libertação nacional.<br />2. A República Democrática de Timor-Leste concede asilo político, nos termos da lei, aos estrangeiros perseguidos em função da sua luta pela libertação nacional e social, defesa dos direitos humanos, democracia e paz.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 11.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Valorização da resistência)</span><br /></div>1. A República Democrática de Timor-Leste reconhece e valoriza a resistência secular do Povo Maubere contra a dominação estrangeira e o contributo de todos os que lutaram pela independência nacional.<br />2. O Estado reconhece e valoriza a participação da Igreja Católica no processo de libertação nacional de Timor-Leste.<br />3. O Estado assegura protecção especial aos mutilados de guerra, órfãos e outros dependentes daqueles que dedicaram as suas vidas à luta pela independência e soberania nacional e protege todos os que participaram na resistência contra a ocupação estrangeira, nos termos da lei.<br />4. A lei define os mecanismos para homenagear os heróis nacionais.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 12.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(O Estado e as confissões religiosas)</span><br /></div>1. O Estado reconhece e respeita as diferentes confissões religiosas, as quais são livres na sua organização e no exercício das actividades próprias, com observância da Constituição e da lei.<br />2. O Estado promove a cooperação com as diferentes confissões religiosas, que contribuem para o bem-estar do povo de Timor-Leste.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 13.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Línguas oficiais e línguas nacionais)</span><br /></div>1. O tétum e o português são as línguas oficiais da República Democrática de Timor-Leste.<br />2. O tétum e as outras línguas nacionais são valorizadas e desenvolvidas pelo Estado.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 14.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Símbolos nacionais)</span><br /></div>1. Os símbolos nacionais da República Democrática de Timor-Leste são a bandeira, o emblema e o hino nacional.<br />2. O emblema e o hino nacional são aprovados por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 15.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Bandeira Nacional)</span><br /></div>1. A Bandeira Nacional é rectangular e formada por dois triângulos isósceles de bases sobrepostas, sendo um triângulo preto com altura igual a um terço do comprimento que se sobrepõe ao amarelo, cuja altura é igual a metade do comprimento da bandeira. No centro do triângulo de cor preta fica colocada uma estrela branca de cinco pontas, que simboliza a luz que guia. A estrela branca apresenta uma das pontas virada para a extremidade superior esquerda da bandeira. A parte restante da bandeira tem a cor vermelha.<br />2. As cores representam:<br />Amarelo – os rastos do colonialismo;<br />Preto – o obscurantismo que é preciso vencer;<br />Vermelho – a luta pela libertação nacional;<br />Branco – a paz.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PARTE II</span><br /><span style="font-weight: bold;">DIREITOS, DEVERES, LIBERDADES E GARANTIAS FUNDAMENTAIS</span><br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">PRINCÍPIOS GERAIS</span><br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 16.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Universalidade e igualdade)</span><br /></div>1. Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres.<br />2. Ninguém pode ser discriminado com base na cor, raça, estado civil, sexo, origem étnica, língua, posição social ou situação económica, convicções políticas ou ideológicas, religião, instrução ou condição física ou mental.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 17.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Igualdade entre mulheres e homens)</span><br /></div>A mulher e o homem têm os mesmos direitos e obrigações em todos os domínios da vida familiar, cultural, social, económica e política.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 18.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Protecção da criança)</span><br /></div>1. A criança tem direito a protecção especial por parte da família, da comunidade e do Estado, particularmente contra todas as formas de abandono, discriminação, violência, opressão, abuso sexual e exploração.<br />2. A criança goza de todos os direitos que lhe são universalmente reconhecidos, bem como de todos aqueles que estejam consagrados em convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas pelo Estado.<br />3. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozam dos mesmos direitos e da mesma protecção social.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 19.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Juventude)</span><br /></div>1. O Estado promove e encoraja as iniciativas da juventude na consolidação da unidade nacional, na reconstrução, na defesa e no desenvolvimento do país.<br />2. O Estado promove, na medida das suas possibilidades, a educação, a saúde e a formação profissional dos jovens.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 20.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Terceira idade)</span><br /></div>1. Todos os cidadãos de terceira idade têm direito a protecção especial por parte do Estado.<br />2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal através de uma participação digna e activa na vida da comunidade.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 21.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Cidadão portador de deficiência)</span><br /></div>1. O cidadão portador de deficiência goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres dos demais cidadãos, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontre impossibilitado em razão da deficiência.<br />2. O Estado, dentro das suas possibilidades, promove a protecção aos cidadãos portadores de deficiência, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 22.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Timorenses no estrangeiro)</span><br /></div>Os cidadãos timorenses que se encontrem ou residam no estrangeiro gozam da protecção do Estado para o exercício dos direitos e estão sujeitos aos deveres que não sejam incompatíveis com a ausência do país.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 23.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Interpretação dos direitos fundamentais)</span><br /></div>Os direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer outros constantes da lei e devem ser interpretados em consonância com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 24.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Leis restritivas)</span><br /></div>1. A restrição dos direitos, liberdades e garantias só pode fazer-se por lei, para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos e nos casos expressamente previstos na Constituição.<br />2. As leis restritivas dos direitos, liberdades e garantias têm, necessariamente, carácter geral e abstracto, não podem diminuir a extensão e o alcance do conteúdo essencial dos dispositivos constitucionais e não podem ter efeito retroactivo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 25.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Estado de excepção)</span><br /></div>1. A suspensão do exercício dos direitos, liberdades e garantias fundamentais só pode ter lugar declarado o estado de sítio ou o estado de emergência nos termos previstos na Constituição.<br />2. O estado de sítio ou o estado de emergência só podem ser declarados em caso de agressão efectiva ou iminente por forças estrangeiras, de grave perturbação ou ameaça de perturbação séria da ordem constitucional democrática ou de calamidade pública.<br />3. A declaração do estado de sítio ou do estado de emergência é fundamentada, com especificação dos direitos, liberdades e garantias cujo exercício fica suspenso.<br />4. A suspensão não pode prolongar-se por mais de trinta dias, sem impedimento de eventual renovação fundamentada por iguais períodos de tempo, quando absolutamente necessário.<br />5. A declaração do estado de sítio em caso algum pode afectar os direitos à vida, integridade física, cidadania e não retroactividade da lei penal, o direito à defesa em processo criminal, a liberdade de consciência e de religião, o direito a não ser sujeito a tortura, escravatura ou servidão, o direito a não ser sujeito a tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante e a garantia de não discriminação.<br />6. As autoridades estão obrigadas a restabelecer a normalidade constitucional no mais curto espaço de tempo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 26.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Acesso aos tribunais)</span><br /></div>1. A todos é assegurado o acesso aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos.<br />2. A justiça não pode ser denegada por insuficiência de meios económicos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 27.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Provedor de Direitos Humanos e Justiça)</span><br /></div>1. O Provedor de Direitos Humanos e Justiça é um órgão independente que tem por função apreciar e procurar satisfazer as queixas dos cidadãos contra os poderes públicos, podendo verificar a conformidade dos actos com a lei, bem como prevenir e iniciar todo o processo para a reparação das injustiças.<br />2. Os cidadãos podem apresentar queixas por acções ou omissões dos poderes públicos ao Provedor de Direitos Humanos e Justiça, que as apreciará, sem poder decisório, dirigindo aos órgãos competentes as recomendações necessárias.<br />3. O Provedor de Direitos Humanos e Justiça é eleito pelo Parlamento Nacional, por maioria absoluta dos Deputados, para um mandato de quatro anos.<br />4. A actividade do Provedor de Direitos Humanos e Justiça é independente dos meios graciosos e contenciosos previstos na Constituição e nas leis.<br />5. Os órgãos e os agentes da administração têm o dever de colaboração com o Provedor de Direitos Humanos e Justiça.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 28.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito de resistência e de legítima defesa)</span><br /></div>1. Todos os cidadãos têm o direito de não acatar e de resistir às ordens ilegais ou que ofendam os seus direitos, liberdades e garantias fundamentais.<br />2. A todos é garantido o direito de legítima defesa, nos termos da lei.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS PESSOAIS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 29.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito à vida)</span><br /></div>1. A vida humana é inviolável.<br />2. O Estado reconhece e garante o direito à vida.<br />3. Na República Democrática de Timor-Leste não há pena de morte.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 30.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito à liberdade, segurança e integridade pessoal)</span><br /></div>1. Todos têm direito à liberdade, segurança e integridade pessoal.<br />2. Ninguém pode ser detido ou preso senão nos termos expressamente previstos na lei vigente, devendo sempre a detenção ou a prisão ser submetida à apreciação do juiz competente no prazo legal.<br />3. Todo o indivíduo privado de liberdade deve ser imediatamente informado, de forma clara e precisa, das razões da sua detenção ou prisão, bem como dos seus direitos, e autorizado a contactar advogado, directamente ou por intermédio de pessoa de sua família ou de sua confiança.<br />4. Ninguém pode ser sujeito a tortura e a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 31.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Aplicação da lei criminal)</span><br /></div>1. Ninguém pode ser submetido a julgamento senão nos termos da lei.<br />2. Ninguém pode ser julgado e condenado por um acto que não esteja qualificado na lei como crime no momento da sua prática, nem sofrer medida de segurança cujos pressupostos não estejam expressamente fixados em lei anterior.<br />3. Não podem aplicar-se penas ou medidas de segurança que no momento da prática do crime não estejam expressamente previstas na lei.<br />4. Ninguém pode ser julgado e condenado mais do que uma vez pelo mesmo crime.<br />5. A lei penal não se aplica retroactivamente, a menos que a nova lei beneficie o arguido.<br />6. Qualquer pessoa injustamente condenada tem direito a justa indemnização, nos termos da lei.<br /><div style="text-align: center;"><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 32.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Limites das penas e das medidas de segurança)</span><br /></div>1. Na República Democrática de Timor-Leste não há prisão perpétua, nem penas ou medidas de segurança de duração ilimitada ou indefinida.<br />2. Em caso de perigosidade por anomalia psíquica, as medidas de segurança poderão ser sucessivamente prorrogadas por decisão judicial.<br />3. A responsabilidade penal é insusceptível de transmissão.<br />4. Os condenados aos quais sejam aplicadas pena ou medida de segurança privativas da liberdade mantêm a titularidade dos direitos fundamentais, salvas as limitações inerentes ao sentido da condenação e às exigências próprias da respectiva execução.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 33.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Habeas corpus)</span><br /></div>1. Toda a pessoa ilegalmente privada da liberdade tem direito a recorrer à providência do habeas corpus.<br />2. O habeas corpus é interposto, nos termos da lei, pela própria ou por qualquer outra pessoa no gozo dos seus direitos civis.<br />3. O pedido de habeas corpus é decidido pelo juiz no prazo de oito dias em audiência contraditória.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 34.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Garantias de processo criminal)</span><br /></div>1. Todo o arguido se presume inocente até à condenação judicial definitiva.<br />2. O arguido tem o direito de escolher defensor e a ser assistido por ele em todos os actos do processo, determinando a lei os casos em que a sua presença é obrigatória.<br />3. É assegurado a qualquer indivíduo o direito inviolável de audiência e defesa em processo criminal.<br />4. São nulas e de nenhum efeito todas as provas obtidas mediante tortura, coacção, ofensa à integridade física ou moral e intromissão abusiva na vida privada, no domicílio, na correspondência ou em outras formas de comunicação.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 35.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Extradição e expulsão)</span><br /></div>1. A extradição só pode ter lugar por decisão judicial.<br />2. É vedada a extradição por motivos políticos.<br />3. Não é permitida a extradição por crimes a que corresponda na lei do Estado requisitante pena de morte ou de prisão perpétua, ou sempre que fundadamente se admita que o extraditando possa vir a ser sujeito a tortura ou tratamento desumano, degradante ou cruel.<br />4. O cidadão timorense não pode ser expulso ou expatriado do território nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 36.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito à honra e à privacidade)</span><br /></div>Todo o indivíduo tem direito à honra, ao bom nome e à reputação, à defesa da sua imagem e à reserva da sua vida privada e familiar.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 37.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Inviolabilidade do domicílio e da correspondência)</span><br /></div>1. O domicílio, a correspondência e quaisquer meios de comunicação privados são invioláveis, salvos os casos previstos na lei em matéria de processo criminal.<br />2. A entrada no domicílio de qualquer pessoa contra sua vontade só pode ter lugar por ordem escrita da autoridade judicial competente, nos casos e segundo as formas prescritas na lei.<br />3. A entrada no domicílio de qualquer pessoa durante a noite, contra a sua vontade, é expressamente proibida, salvo em caso de ameaça grave para a vida ou para a integridade física de alguém que se encontre no interior desse domicílio.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 38.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Protecção de dados pessoais)</span><br /></div>1. Todos os cidadãos têm o direito de acesso aos dados pessoais informatizados ou constantes de registos mecanográficos e manuais que lhes digam respeito, podendo exigir a sua rectificação e actualização, e o direito de conhecer a finalidade a que se destinam.<br />2. A lei define o conceito de dados pessoais e as condições aplicáveis ao seu tratamento.<br />3. É expressamente proibido, sem o consentimento do interessado, o tratamento informatizado de dados pessoais relativos à vida privada, às convicções políticas e filosóficas, à fé religiosa, à filiação partidária ou sindical e à origem étnica.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 39.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Família, casamento e maternidade)</span><br /></div>1. O Estado protege a família como célula base da sociedade e condição para o harmonioso desenvolvimento da pessoa.<br />2. Todos têm direito a constituir e a viver em família.<br />3. O casamento assenta no livre consentimento das partes e na plena igualdade de direitos entre os cônjuges, nos termos da lei.<br />4. A maternidade é dignificada e protegida, assegurando-se a todas as mulheres protecção especial durante a gravidez e após o parto e às mulheres trabalhadoras direito a dispensa de trabalho por período adequado, antes e depois do parto, sem perda de retribuição e de quaisquer outras regalias, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 40.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade de expressão e informação)</span><br /></div>1. Todas as pessoas têm direito à liberdade de expressão e ao direito de informar e ser informados com isenção.<br />2. O exercício da liberdade de expressão e de informação não pode ser limitado por qualquer tipo de censura.<br />3. O exercício dos direitos e liberdades referidos neste artigo é regulado por lei com base nos imperativos do respeito da Constituição e da dignidade da pessoa humana.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 41.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade de imprensa e dos meios de comunicação social)</span><br /></div>1. É garantida a liberdade de imprensa e dos demais meios de comunicação social.<br />2. A liberdade de imprensa compreende, nomeadamente, a liberdade de expressão e criação dos jornalistas, o acesso às fontes de informação, a liberdade editorial, a protecção da independência e do sigilo profissional e o direito de criar jornais, publicações e outros meios de difusão.<br />3. Não é permitido o monopólio dos meios de comunicação social.<br />4. O Estado assegura a liberdade e a independência dos órgãos públicos de comunicação social perante o poder político e o poder económico.<br />5. O Estado assegura a existência de um serviço público de rádio e de televisão que deve ser isento, tendo em vista, entre outros objectivos, a protecção e divulgação da cultura e das tradições da República Democrática de Timor-Leste e a garantia da expressão do pluralismo de opinião.<br />6. As estações emissoras de radiodifusão e de radiotelevisão só podem funcionar mediante licença, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 42.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade de reunião e de manifestação)</span><br /></div>1. A todos é garantida a liberdade de reunião pacífica e sem armas, sem necessidade de autorização prévia.<br />2. A todos é reconhecido o direito de manifestação, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 43.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade de associação)</span><br /></div>1. A todos é garantida a liberdade de associação, desde que não se destine a promover a violência e seja conforme com a lei.<br />2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação ou a nela permanecer contra sua vontade.<br />3. São proibidas as associações armadas, militares ou paramilitares e as organizações que defendam ideias ou apelem a comportamentos de carácter racista ou xenófobo ou que promovam o terrorismo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 44.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade de circulação)</span><br /></div>1. Todo o indivíduo tem o direito de se movimentar e fixar residência em qualquer ponto do território nacional.<br />2. A todo o cidadão é garantido o direito de livremente emigrar, bem como o direito de regressar ao país.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 45.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade de consciência, de religião e de culto)</span><br /></div>1. A toda a pessoa é assegurada a liberdade de consciência, de religião e de culto, encontrando-se as confissões religiosas separadas do Estado.<br />2. Ninguém pode ser perseguido nem discriminado por causa das suas convicções religiosas.<br />3. É garantida a objecção de consciência, nos termos da lei.<br />4. É garantida a liberdade do ensino de qualquer religião no âmbito da respectiva confissão religiosa.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 46.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito de participação política)</span><br /></div>1. Todo o cidadão tem o direito de participar, por si ou através de representantes democraticamente eleitos, na vida política e nos assuntos públicos do país.<br />2. Todo o cidadão tem o direito de constituir e de participar em partidos políticos.<br />3. A constituição e a organização dos partidos políticos são reguladas por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 47.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito de sufrágio)</span><br /></div>1. Todo o cidadão maior de dezassete anos tem o direito de votar e de ser eleito.<br />2. O exercício do direito de sufrágio é pessoal e constitui um dever cívico.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 48.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito de petição)</span><br /></div>Todo o cidadão tem o direito de apresentar petições, queixas e reclamações, individual ou colectivamente, perante os órgãos de soberania ou quaisquer autoridades, para defesa dos seus direitos, da Constituição, das leis ou do interesse geral.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 49.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Defesa da soberania)</span><br /></div>1. Todo o cidadão tem o direito e o dever de contribuir para a defesa da independência, soberania e integridade territorial do país.<br />2. O serviço militar é prestado nos termos da lei.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO III</span><br /><span style="font-weight: bold;">DIREITOS E DEVERES ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 50.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito ao trabalho)</span><br /></div>1. Todo o cidadão, independentemente do sexo, tem o direito e o dever de trabalhar e de escolher livremente a profissão.<br />2. O trabalhador tem direito à segurança e higiene no trabalho, à remuneração, ao descanso e às férias.<br />3. É proibido o despedimento sem justa causa ou por motivos políticos, religiosos e ideológicos.<br />4. É proibido o trabalho compulsivo, sem prejuízo do disposto na legislação sobre a execução de penas.<br />5. O Estado promove a criação de cooperativas de produção e apoia as empresas familiares como fontes de emprego.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 51.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito à greve e proibição do lock-out)</span><br /></div>1. Os trabalhadores têm direito a recorrer à greve, sendo o seu exercício regulado por lei.<br />2. A lei define as condições de prestação, durante a greve, de serviços necessários à segurança e manutenção de equipamentos e instalações, bem como de serviços mínimos indispensáveis para acorrer à satisfação de necessidades sociais impreteríveis.<br />3. É proibido o lock-out.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 52.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Liberdade sindical)</span><br /></div>1. O trabalhador tem direito a organizar-se em sindicatos e associações profissionais para defesa dos seus direitos e interesses.<br />2. A liberdade sindical desdobra-se, nomeadamente, na liberdade de constituição, liberdade de inscrição e liberdade de organização e regulamentação interna.<br />3. Os sindicatos e as associações sindicais são independentes do Estado e do patronato.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 53.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direitos dos consumidores)</span><br /></div>1. Os consumidores têm direito à qualidade dos bens e serviços consumidos, a uma informação verdadeira e à protecção da saúde, da segurança e dos seus interesses económicos, bem como à reparação de danos.<br />2. A publicidade é disciplinada por lei, sendo proibidas todas as formas de publicidade oculta, indirecta ou enganosa.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 54.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito à propriedade privada)</span><br /></div>1. Todo o indivíduo tem direito à propriedade privada, podendo transmiti-la em vida e por morte, nos termos da lei.<br />2. A propriedade privada não deve ser usada em prejuízo da sua função social.<br />3. A requisição e a expropriação por utilidade pública só têm lugar mediante justa indemnização, nos termos da lei.<br />4. Só os cidadãos nacionais têm direito à propriedade privada da terra.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 55.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Obrigações do contribuinte)</span><br /></div>Todo o cidadão com comprovado rendimento tem o dever de contribuir para as receitas públicas, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 56.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Segurança e assistência social)</span><br /></div>1. Todos os cidadãos têm direito à segurança e à assistência social, nos termos da lei.<br />2. O Estado promove, na medida das disponibilidades nacionais, a organização de um sistema de segurança social.<br />3. O Estado apoia e fiscaliza, nos termos da lei, a actividade e o funcionamento das instituições de solidariedade social e de outras de reconhecido interesse público sem carácter lucrativo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 57.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Saúde)</span><br /></div>1. Todos têm direito à saúde e à assistência médica e sanitária e o dever de as defender e promover.<br />2. O Estado promove a criação de um serviço nacional de saúde universal, geral e, na medida das suas possibilidades, gratuito, nos termos da lei.<br />3. O serviço nacional de saúde deve ser, tanto quanto possível, de gestão descentralizada e participativa.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 58.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Habitação)</span><br /></div>Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 59.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Educação e cultura)</span><br /></div>1. O Estado reconhece e garante ao cidadão o direito à educação e à cultura, competindo-lhe criar um sistema público de ensino básico universal, obrigatório e, na medida das suas possibilidades, gratuito, nos termos da lei.<br />2. Todos têm direito a igualdade de oportunidades de ensino e formação profissional.<br />3. O Estado reconhece e fiscaliza o ensino privado e cooperativo.<br />4. O Estado deve garantir a todos os cidadãos, segundo as suas capacidades, o acesso aos graus mais elevados do ensino, da investigação científica e da criação artística.<br />5. Todos têm direito à fruição e à criação culturais, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 60.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Propriedade intelectual)</span><br /></div>O Estado garante e protege a criação, produção e comercialização da obra literária, cientifica e artística, incluindo a protecção legal dos direitos de autor.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 61.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Meio ambiente)</span><br /></div>1. Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o proteger e melhorar em prol das gerações vindouras.<br />2. O Estado reconhece a necessidade de preservar e valorizar os recursos naturais.<br />3. O Estado deve promover acções de defesa do meio ambiente e salvaguardar o desenvolvimento sustentável da economia.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PARTE III</span><br /><span style="font-weight: bold;">ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">TÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">PRINCÍPIOS GERAIS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 62.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Titularidade e exercício do poder político)</span><br /></div><div style="text-align: center;">O poder político radica no povo e é exercido nos termos da Constituição.<br /></div><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 63.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Participação política dos cidadãos)</span><br /></div>1. A participação directa e activa de mulheres e homens na vida política constitui condição e instrumento fundamental do sistema democrático.<br />2. A lei promove a igualdade no exercício dos direitos cívicos e políticos e a não discriminação em função do sexo no acesso a cargos políticos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 64.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Princípio da renovação)</span><br /></div>Ninguém pode exercer a título vitalício ou por períodos indeterminados qualquer cargo político.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 65.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Eleições)</span><br /></div>1. Os órgãos eleitos de soberania e do poder local são escolhidos através de eleições, mediante sufrágio universal, livre, directo, secreto, pessoal e periódico.<br />2. O recenseamento eleitoral é obrigatório, oficioso, único e universal, sendo actualizado para cada eleição.<br />3. As campanhas eleitorais regem-se pelos seguintes princípios:<br />a) Liberdade de propaganda eleitoral;<br />b) Igualdade de oportunidades e de tratamento das diversas candidaturas;<br />c) Imparcialidade das entidades públicas perante as candidaturas;<br />d) Transparência e fiscalização das contas eleitorais.<br />4. A conversão dos votos em mandatos obedece ao sistema de representação proporcional.<br />5. O processo eleitoral é regulado por lei.<br />6. A supervisão do recenseamento e dos actos eleitorais cabe a um órgão independente, cujas competências, composição, organização e funcionamento são fixados por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 66.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Referendo)</span><br /></div>1. Os cidadãos recenseados no território nacional podem ser chamados a pronunciar-se em referendo sobre questões de relevante interesse nacional.<br />2. O referendo é convocado pelo Presidente da República, por proposta de um terço e deliberação aprovada por uma maioria de dois terços dos Deputados ou por proposta fundamentada do Governo.<br />3. Não podem ser sujeitas a referendo as matérias da competência exclusiva do Parlamento Nacional, do Governo e dos Tribunais definidas constitucionalmente.<br />4. O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento.<br />5. O processo de referendo é definido por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 67.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Órgãos de soberania)</span><br /></div>São órgãos de soberania o Presidente da República, o Parlamento Nacional, o Governo e os Tribunais.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 68.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Incompatibilidades)</span><br /></div>1. A titularidade dos cargos de Presidente da República, Presidente do Parlamento Nacional, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Presidente do Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas, Procurador-Geral da República e membro do Governo é incompatível entre si.<br />2. A lei define outras incompatibilidades.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 69.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Princípio da separação dos poderes)</span><br /></div>Os órgãos de soberania, nas suas relações recíprocas e no exercício das suas funções, observam o princípio da separação e interdependência dos poderes estabelecidos na Constituição.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 70.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Partidos políticos e direito de oposição)</span><br /></div>1. Os partidos políticos participam nos órgãos do poder político de acordo com a sua representatividade democrática, baseada no sufrágio universal e directo.<br />2. É reconhecido aos partidos políticos o direito à oposição democrática, assim como o direito a serem informados, regular e directamente, sobre o andamento dos principais assuntos de interesse nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 71.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Organização administrativa)</span><br /></div>1. O governo central deve estar representado a nível dos diversos escalões administrativos do território.<br />2. Oe-Cusse Ambeno rege-se por uma política administrativa e um regime económico especiais.<br />3. Ataúro goza de um estatuto económico apropriado.<br />4. A organização político-administrativa do território da República Democrática de Timor-Leste é definida por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 72.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Poder local)</span><br /></div>1. O poder local é constituído por pessoas colectivas de território dotadas de órgãos representativos, com o objectivo de organizar a participação do cidadão na solução dos problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento local, sem prejuízo da participação do Estado.<br />2. A organização, a competência, o funcionamento e a composição dos órgãos de poder local são definidos por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 73.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Publicidade dos actos)</span><br /></div>1. São publicados no jornal oficial os actos normativos produzidos pelos órgãos de soberania.<br />2. A falta de publicidade dos actos previstos no número anterior ou de qualquer acto de conteúdo genérico dos órgãos de soberania e do poder local implica a sua ineficácia jurídica.<br />3. A lei determina as formas de publicidade dos demais actos e as consequências da sua falta.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">PRESIDENTE DA REPÚBLICA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">ESTATUTO, ELEIÇÃO E NOMEAÇÃO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 74.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Definição)</span><br /></div>1. O Presidente da República é o Chefe do Estado, símbolo e garante da independência nacional, da unidade do Estado e do regular funcionamento das instituições democráticas.<br />2. O Presidente da República é o Comandante Supremo das Forças Armadas.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 75.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Elegibilidade)</span><br /></div>1. Podem ser candidatos a Presidente da República os cidadãos timorenses que cumulativamente:<br />a) Tenham cidadania originária;<br />b) Possuam idade mínima de 35 anos;<br />c) Estejam no pleno uso das suas capacidades;<br />d) Tenham sido propostos por um mínimo de cinco mil cidadãos eleitores.<br />2. O Presidente da República tem um mandato com a duração de cinco anos e cessa as suas funções com a posse do novo Presidente eleito.<br />3. O mandato do Presidente da República pode ser renovado uma única vez.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 76.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Eleição)</span><br /></div>1. O Presidente da República é eleito por sufrágio universal, livre, directo, secreto e pessoal.<br />2. A eleição do Presidente da República faz-se pelo sistema de maioria dos votos validamente expressos, excluídos os votos em branco.<br />3. Se nenhum dos candidatos obtiver mais de metade dos votos, proceder-se-á a segunda volta, no trigésimo dia subsequente ao da primeira votação.<br />4. À segunda volta concorrerão apenas os dois candidatos mais votados que não tenham retirado a candidatura.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 77.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Posse e juramento)</span><br /></div>1. O Presidente da República é investido pelo Presidente do Parlamento Nacional e toma posse, em cerimónia pública, perante os Deputados e os representantes dos outros órgãos de soberania.<br />2. A posse efectua-se no último dia do mandato do Presidente da República cessante ou, no caso de eleição por vacatura, no oitavo dia subsequente ao dia da publicação dos resultados eleitorais.<br />3. No acto de investidura o Presidente da República presta o seguinte juramento:<br />“Juro, por Deus, pelo Povo e por minha honra, cumprir com lealdade as funções em que sou investido, cumprir e fazer cumprir a Constituição e as leis e dedicar todas as minhas energias e capacidades à defesa e consolidação da independência e da unidade nacionais”.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 78.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Incompatibilidades)</span><br /></div>O Presidente da República não pode exercer qualquer outro cargo político ou função pública a nível nacional e, em nenhum caso, assumir funções privadas.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 79.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Responsabilidade criminal e obrigações constitucionais)</span><br /></div>1. O Presidente da República goza de imunidade no exercício das suas funções.<br />2. O Presidente da República responde perante o Supremo Tribunal de Justiça por crimes praticados no exercício das suas funções e pela violação clara e grave das suas obrigações constitucionais.<br />3. A iniciativa do processo cabe ao Parlamento Nacional, mediante proposta de um quinto e deliberação aprovada por maioria de dois terços de todos os Deputados.<br />4. O acórdão é proferido pelo Plenário do Supremo Tribunal de Justiça no prazo máximo de trinta dias.<br />5. A condenação implica a destituição do cargo e a impossibilidade de reeleição.<br />6. Por crimes estranhos ao exercício das suas funções, o Presidente da República responde igualmente perante o Supremo Tribunal de Justiça, verificando-se a destituição do cargo apenas em caso de condenação em pena de prisão efectiva.<br />7. Nos casos previstos no número anterior, a imunidade é igualmente levantada por iniciativa do Parlamento Nacional em conformidade com o disposto no n.° 3 do presente artigo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 80.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Ausência)</span><br /></div>1. O Presidente da República não pode ausentar-se do território nacional sem prévio consentimento do Parlamento Nacional ou, não estando este reunido, da sua Comissão Permanente.<br />2. O não cumprimento do disposto no n.º 1 do presente artigo determina a perda do cargo, nos termos do disposto no artigo anterior.<br />3. As viagens privadas com uma duração inferior a quinze dias não carecem de consentimento do Parlamento Nacional, devendo, de todo o modo, o Presidente da República dar prévio conhecimento da sua realização ao Parlamento Nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 81.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Renúncia ao mandato)</span><br /></div>1. O Presidente da República pode renunciar ao mandato em mensagem dirigida ao Parlamento Nacional.<br />2. A renúncia torna-se efectiva com o conhecimento da mensagem pelo Parlamento Nacional, sem prejuízo da sua ulterior publicação em jornal oficial.<br />3. Se o Presidente da República renunciar ao cargo, não poderá candidatar-se nas eleições imediatas nem nas que se realizem no quinquénio imediatamente subsequente à renúncia.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 82.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Morte, renúncia ou incapacidade permanente)</span><br /></div>1. Em caso de morte, renúncia ou incapacidade permanente do Presidente da República, as suas funções são interinamente assumidas pelo Presidente do Parlamento Nacional, que toma posse perante os Deputados e os representantes dos outros órgãos de soberania e é investido pelo Presidente do Parlamento Nacional em exercício.<br />2. A incapacidade permanente é declarada pelo Supremo Tribunal de Justiça, ao qual cabe igualmente verificar a morte e a perda do cargo do Presidente da República.<br />3. A eleição do novo Presidente da República por morte, renúncia ou incapacidade permanente deve ter lugar nos noventa dias subsequentes à sua verificação ou declaração.<br />4. O Presidente da República é eleito para um novo mandato.<br />5. Em caso de recusa de tomada de posse, morte ou incapacidade permanente do Presidente eleito, aplicam-se as disposições do presente artigo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 83.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Casos excepcionais)</span><br /></div>1. Quando a morte, renúncia ou incapacidade permanente ocorrerem na pendência de situações excepcionais de guerra ou emergência prolongada ou de insuperável dificuldade de ordem técnica ou material, a definir por lei, que impossibilitem a realização da eleição do Presidente da República por sufrágio universal nos termos do artigo 76.º, este será eleito pelo Parlamento Nacional de entre os seus membros, nos 90 dias subsequentes.<br />2. Nos casos referidos no número anterior o Presidente da República eleito cumprirá o tempo remanescente do mandato interrompido, podendo candidatar-se nas novas eleições.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 84.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Substituição e interinidade)</span><br /></div>1. Durante o impedimento temporário do Presidente da República, assumirá funções o Presidente do Parlamento Nacional ou, no impedimento deste, o seu substituto.<br />2. O mandato de Deputado do Presidente do Parlamento Nacional ou do seu substituto fica automaticamente suspenso durante o tempo em que exerce, por substituição ou interinamente, o cargo de Presidente da República.<br />3. A função de Deputado do Presidente da República substituto ou interino será temporariamente preenchida, em conformidade com o Regimento do Parlamento Nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><br /><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">COMPETÊNCIA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 85.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência própria)</span><br /></div>Compete exclusivamente ao Presidente da República:<br />a) Promulgar os diplomas legislativos e mandar publicar as resoluções do Parlamento Nacional que aprovem acordos e ratifiquem tratados e convenções internacionais;<br />b) Exercer as competências inerentes às funções de comandante Supremo das Forças Armadas;<br />c) Exercer o direito de veto relativamente a qualquer diploma legislativo, no prazo de 30 dias a contar da sua recepção;<br />d) Nomear e empossar o Primeiro-Ministro indigitado pelo partido ou aliança dos partidos com maioria parlamentar, ouvidos os partidos políticos representados no Parlamento Nacional;<br />e) Requerer ao Supremo Tribunal de Justiça a apreciação preventiva e a fiscalização abstracta da constitucionalidade das normas, bem como a verificação da inconstitucionalidade por omissão;<br />f) Submeter a referendo questões de relevante interesse nacional, nos termos do artigo 66.º;<br />g) Declarar o estado de sítio ou o estado de emergência, mediante autorização do Parlamento Nacional, ouvidos o Conselho de Estado, o Governo e o Conselho Superior de Defesa e Segurança;<br />h) Declarar a guerra e fazer a paz, mediante proposta do Governo, ouvidos o Conselho de Estado e o Conselho Superior de Defesa e Segurança, sob autorização do Parlamento Nacional;<br />i) Indultar e comutar penas, ouvido o Governo;<br />j) Conferir, nos termos da lei, títulos honoríficos, condecorações e distinções.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 86.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência quanto a outros órgãos)</span><br /></div>Compete ao Presidente da República relativamente aos outros órgãos:<br />a) Presidir ao Conselho Superior de Defesa e Segurança;<br />b) Presidir ao Conselho de Estado;<br />c) Marcar, nos termos da lei, o dia das eleições para o Presidente da República e para o Parlamento Nacional;<br />d) Requerer a convocação extraordinária do Parlamento Nacional, sempre que imperiosas razões de interesse nacional o justifiquem;<br />e) Dirigir mensagens ao Parlamento Nacional e ao país;<br />f) Dissolver o Parlamento Nacional, em caso de grave crise institucional que não permita a formação de governo ou a aprovação do Orçamento Geral do Estado por um período superior a sessenta dias, com audição prévia dos partidos políticos que nele tenham assento e ouvido o Conselho de Estado, sob pena de inexistência jurídica do acto de dissolução, tendo em conta o disposto no artigo 100.º;<br />g) Demitir o Governo e exonerar o Primeiro-Ministro, quando o seu programa tenha sido rejeitado pela segunda vez consecutiva pelo Parlamento Nacional;<br />h) Nomear, empossar e exonerar os membros do Governo, sob proposta do Primeiro-Ministro, nos termos do n.o 2 do artigo 106.º;<br />i) Nomear dois membros para o Conselho Superior de Defesa e Segurança;<br />j) Nomear o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e empossar o Presidente do Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas;<br />k) Nomear o Procurador-Geral da República para um mandato de quatro anos;<br />l) Nomear e exonerar os Adjuntos do Procurador-Geral da República nos termos do n.º 6 do artigo 133.º;<br />m) Nomear e exonerar, sob proposta do Governo, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, o Vice-Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e os Chefes de Estado-Maior das Forças Armadas, ouvido, nos últimos casos, o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas;<br />n) Nomear cinco membros do Conselho de Estado;<br />o) Nomear um membro para o Conselho Superior da Magistratura Judicial e o Conselho Superior do Ministério Público.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 87.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência nas relações internacionais)</span><br /></div>Compete ao Presidente da República, no domínio das relações internacionais:<br />a) Declarar a guerra, em caso de agressão efectiva ou iminente, e fazer a paz, sob proposta do Governo, ouvido o Conselho Superior de Defesa e Segurança e mediante autorização do Parlamento Nacional ou da sua Comissão Permanente;<br />b) Nomear e exonerar embaixadores, representantes permanentes e enviados extraordinários, sob proposta do Governo;<br />c) Receber as cartas credenciais e aceitar a acreditação dos representantes diplomáticos estrangeiros;<br />d) Conduzir, em concertação com o Governo, todo o processo negocial para a conclusão de acordos internacionais na área da defesa e segurança.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 88.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Promulgação e veto)</span><br /></div>1. No prazo de trinta dias contados da recepção de qualquer diploma do Parlamento Nacional para ser promulgado como lei, o Presidente da República promulga-o ou exerce o direito de veto, solicitando nova apreciação do mesmo em mensagem fundamentada.<br />2. Se o Parlamento Nacional, no prazo de noventa dias, confirmar o voto por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, o Presidente da República deverá promulgar o diploma no prazo de oito dias a contar do dia da sua recepção;<br />3. Será, porém, exigida a maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, para a confirmação dos diplomas que versem matérias previstas no artigo 95.º.<br />4. No prazo de quarenta dias contados da recepção de qualquer diploma do Governo para ser promulgado, o Presidente da República promulga-o ou exerce o direito de veto, comunicando por escrito ao Governo o sentido de veto.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 89.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Actos do Presidente da República interino)</span><br /></div>O Presidente da República interino não pode praticar os actos previstos nas alíneas f), g), h), i), j), k), l), m), n) e o) do artigo 86.º<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO III</span><br /><span style="font-weight: bold;">CONSELHO DE ESTADO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 90.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Conselho de Estado)</span><br /></div>1. O Conselho de Estado é o órgão de consulta política do Presidente da República, que a ele preside.<br />2. O Conselho de Estado integra:<br />a) Os ex-Presidentes da República que não tenham sido destituídos;<br />b) O Presidente do Parlamento Nacional;<br />c) O Primeiro-Ministro;<br />d) Cinco cidadãos eleitos pelo Parlamento Nacional de harmonia com o princípio da representação proporcional, pelo período correspondente à duração da legislatura, que não sejam membros de órgãos de soberania;<br />e) Cinco cidadãos designados pelo Presidente da República, pelo período correspondente à duração do seu mandato, que não sejam membros de órgãos de soberania.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 91.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência, organização e funcionamento do Conselho de Estado)</span><br /></div>1. Compete ao Conselho de Estado:<br />a) Pronunciar-se sobre a dissolução do Parlamento Nacional;<br />b) Pronunciar-se acerca da demissão do Governo;<br />c) Pronunciar-se sobre a declaração de guerra e a feitura da paz;<br />d) Pronunciar-se nos demais casos previstos na Constituição e, em geral, aconselhar o Presidente da República no exercício das suas funções, quando este lho solicitar.<br />e) Elaborar o seu Regimento interno.<br />2. As reuniões do Conselho de Estado não são públicas.<br />3. A lei define a organização e o funcionamento do Conselho de Estado.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO III</span><br /><span style="font-weight: bold;">PARLAMENTO NACIONAL</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">ESTATUTO E ELEIÇÃO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 92.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Definição)</span><br /></div>O Parlamento Nacional é o órgão de soberania da República Democrática de Timor-Leste, representativo de todos os cidadãos timorenses com poderes legislativos, de fiscalização e de decisão política.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 93.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Eleição e composição)</span><br /></div>1. O Parlamento Nacional é eleito por sufrágio universal, livre, directo, igual, secreto e pessoal.<br />2. O Parlamento Nacional é constituído por um mínimo de cinquenta e dois e um máximo de sessenta e cinco deputados.<br />3. A lei estabelece as regras relativas aos círculos eleitorais, às condições de elegibilidade, às candidaturas e aos procedimentos eleitorais.<br />4. Os Deputados do Parlamento Nacional têm um mandato de cinco anos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 94.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Imunidades)</span><br /></div>1. Os Deputados não respondem civil, criminal ou disciplinarmente pelos votos e opiniões que emitirem no exercício das suas funções.<br />2. A imunidade parlamentar pode ser levantada de acordo com as disposições do Regimento do Parlamento Nacional.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">COMPETÊNCIA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 95.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência do Parlamento Nacional)</span><br /></div>1. Compete ao Parlamento Nacional legislar sobre as questões básicas da política interna e externa do país.<br />2. Compete exclusivamente ao Parlamento Nacional legislar sobre:<br />a) As fronteiras da República Democrática de Timor-Leste, nos termos do artigo 4.º;<br />b) Os limites das águas territoriais e da zona económica exclusiva e os direitos de Timor-Leste à zona contígua e plataforma continental;<br />c) Símbolos nacionais, nos termos do n.º 2 do artigo 14.º;<br />d) Cidadania;<br />e) Direitos, liberdades e garantias;<br />f) Estado e capacidade das pessoas e direito da família e das sucessões;<br />g) A divisão territorial;<br />h) A lei eleitoral e o regime do referendo;<br />i) Os partidos e associações políticas;<br />j) Estatuto dos Deputados;<br />k) Estatuto dos titulares dos órgãos do Estado;<br />l) As bases do sistema de ensino;<br />m) As bases do sistema de segurança social e de saúde;<br />n) A suspensão das garantias constitucionais e a declaração do estado de sítio e do estado de emergência;<br />o) A política de defesa e segurança;<br />p) A política fiscal;<br />q) Regime orçamental.<br />3. Compete-lhe também:<br />a) Ratificar a nomeação do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e a eleição do Presidente do Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas;<br />b) Deliberar sobre o relatório de actividades do Governo;<br />c) Eleger um membro para o Conselho Superior de Magistratura Judicial e o Conselho Superior do Ministério Público;<br />d) Deliberar sobre o Plano e o Orçamento do Estado e o respectivo relatório de execução;<br />e) Fiscalizar a execução orçamental do Estado;<br />f) Aprovar e denunciar acordos e ratificar tratados e convenções internacionais;<br />g) Conceder amnistias;<br />h) Dar assentimento à deslocação do Presidente da República em visita de Estado;<br />i) Aprovar revisões à Constituição por maioria de dois terços dos Deputados;<br />j) Autorizar e confirmar a declaração do estado de sítio e estado de emergência;<br />k) Propor ao Presidente da República a sujeição a referendo de questões de interesse nacional.<br />4. Compete ainda ao Parlamento Nacional:<br />a) Eleger o seu Presidente e demais membros da Mesa;<br />b) Eleger cinco membros para o Conselho do Estado;<br />c) Elaborar e aprovar o seu Regimento;<br />d) Constituir a Comissão Permanente e criar as restantes comissões parlamentares.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 96.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Autorização legislativa)</span><br /></div>1. O Parlamento Nacional pode autorizar o Governo a legislar sobre as seguintes matérias:<br />a) Definição de crimes, penas, medidas de segurança e respectivos pressupostos;<br />b) Definição do processo civil e criminal;<br />c) Organização judiciária e estatuto dos magistrados;<br />d) Regime geral da função pública, do estatuto dos funcionários e da responsabilidade do Estado;<br />e) Bases gerais da organização da administração pública;<br />f) Sistema monetário;<br />g) Sistema financeiro e bancário;<br />h) Definição das bases de uma política para a defesa do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável;<br />i) Regime geral de radiodifusão, televisão e demais meios de comunicação de massas;<br />j) Serviço militar ou cívico;<br />k) Regime geral da requisição e da expropriação por utilidade pública;<br />l) Meios e formas de intervenção, expropriação, nacionalização e privatização dos meios de produção e solos por motivo de interesse público, bem como critérios de fixação, naqueles casos, de indemnizações.<br />2. As leis de autorização legislativa devem definir o objecto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, que pode ser prorrogada.<br />3. As leis de autorização legislativa não podem ser utilizadas mais de uma vez e caducam com a demissão do Governo, com o termo da legislatura ou com a dissolução do Parlamento Nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 97.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Iniciativa da lei)</span><br /></div>1. A iniciativa da lei pertence:<br />a) Aos Deputados;<br />b) Às Bancadas Parlamentares;<br />c) Ao Governo.<br />2. Não podem ser apresentados projectos ou propostas de lei ou de alteração que envolvam, no ano económico em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do Estado previstas no Orçamento ou nos Orçamentos Rectificativos.<br />3. Os projectos e as propostas de lei rejeitados não podem ser renovados na mesma sessão legislativa em que tiverem sido apresentados.<br />4. Os projectos e propostas de lei que não tiverem sido votados não carecem de ser renovados na sessão legislativa seguinte, salvo termo de legislatura.<br />5. As propostas de lei caducam com a demissão do Governo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 98.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Apreciação parlamentar de actos legislativos)</span><br /></div>1. Os diplomas legislativos do Governo, salvo os aprovados no exercício da sua competência legislativa exclusiva, podem ser submetidos a apreciação do Parlamento Nacional, para efeitos de cessação de vigência ou de alteração, a requerimento de um quinto dos Deputados, nos trinta dias subsequentes à publicação, descontados os períodos de suspensão do funcionamento do Parlamento Nacional.<br />2. O Parlamento Nacional pode suspender, no todo ou em parte, a vigência do diploma legislativo até à sua apreciação.<br />3. A suspensão caduca decorridas dez reuniões plenárias sem que o Parlamento Nacional tenha apreciado o diploma.<br />4. Se for aprovada a cessação da sua vigência, o diploma deixa de vigorar desde o dia em que a resolução for publicada no jornal oficial e não pode voltar a ser publicado no decurso da mesma sessão legislativa.<br />5. Se, requerida a apreciação, o Parlamento Nacional não se tiver sobre ela pronunciado ou, havendo deliberado introduzir emendas, não tiver votado a respectiva lei até ao termo da sessão legislativa em curso, desde que decorridas quinze reuniões plenárias, considerar-se-á caduco o processo.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO III</span><br /><span style="font-weight: bold;">ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 99.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Legislatura)</span><br /></div>1. A legislatura compreende cinco sessões legislativas e cada sessão legislativa tem a duração de um ano.<br />2. O período normal de funcionamento do Parlamento Nacional é definido pelo Regimento.<br />3. O Parlamento Nacional reúne-se ordinariamente por convocação do seu Presidente.<br />4. O Parlamento Nacional reúne extraordinariamente sempre que assim for deliberado pela Comissão Permanente, requerido por um terço dos Deputados ou convocado pelo Presidente da República para tratar de assuntos específicos.<br />5. No caso de dissolução, o Parlamento Nacional eleito inicia nova legislatura, cuja duração é acrescida do tempo necessário para se completar o período correspondente à sessão legislativa em curso à data da eleição.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 100.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Dissolução)</span><br /></div>1. O Parlamento Nacional não pode ser dissolvido nos seis meses posteriores à sua eleição, no último semestre do mandato do Presidente da República ou durante a vigência do estado de sítio ou do estado de emergência, sob pena de inexistência jurídica do acto de dissolução.<br />2. A dissolução do Parlamento Nacional não prejudica a subsistência do mandato dos Deputados até à primeira reunião do Parlamento após as subsequentes eleições.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 101.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Participação dos membros do Governo)</span><br /></div>1. Os Membros do Governo têm o direito de comparecer às reuniões plenárias do Parlamento Nacional e podem usar da palavra, nos termos do Regimento.<br />2. Haverá sessões de perguntas ao Governo formuladas pelos Deputados, nos termos regimentais.<br />3. O Parlamento Nacional ou as suas comissões podem solicitar a participação de membros do Governo nos seus trabalhos.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO IV</span><br /><span style="font-weight: bold;">COMISSÃO PERMANENTE</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 102.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Comissão Permanente)</span><br /></div>1. A Comissão Permanente funciona durante o período em que se encontrar dissolvido o Parlamento Nacional, nos intervalos das sessões e nos restantes casos previstos na Constituição.<br />2. A Comissão Permanente é presidida pelo Presidente do Parlamento Nacional e composta pelos Vice-Presidentes e por Deputados indicados pelos partidos, de acordo com a respectiva representatividade no Parlamento.<br />3. Compete à Comissão Permanente, nomeadamente:<br />a) Acompanhar a actividade do Governo e da Administração;<br />b) Coordenar as actividades das comissões do Parlamento Nacional;<br />c) Promover a convocação do Parlamento Nacional sempre que tal se mostre necessário;<br />d) Preparar e organizar as sessões do Parlamento Nacional;<br />e) Dar assentimento à deslocação do Presidente da República nos termos do artigo 80.º;<br />f) Dirigir as relações entre o Parlamento Nacional e os parlamentos e instituições análogas de outros países;<br />g) Autorizar a declaração do estado de sítio e do estado de emergência.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO IV</span><br /><span style="font-weight: bold;">GOVERNO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">DEFINIÇÃO E ESTRUTURA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 103.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Definição)</span><br /></div>O Governo é o órgão de soberania responsável pela condução e execução da política geral do país e o órgão superior da Administração Pública.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 104.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Composição)</span><br /></div>1. O Governo é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos Secretários de Estado.<br />2. O Governo pode incluir um ou mais Vice-Primeiro-Ministros e Vice-Ministros.<br />3. O número, as designações e as atribuições dos ministérios e secretarias de Estado são definidos por diploma legislativo do Governo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 105.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Conselho de Ministros)</span><br /></div>1. O Conselho de Ministros é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Vice-Primeiro-Ministros, se os houver, e pelos Ministros.<br />2. O Conselho de Ministros é convocado e presidido pelo Primeiro-Ministro.<br />3. Podem ser convocados para participar nas reuniões do Conselho de Ministros, sem direito a voto, os Vice-Ministros, se os houver, e os Secretários de Estado.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">FORMAÇÃO E RESPONSABILIDADE</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 106.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Nomeação)</span><br /></div>1. O Primeiro-Ministro é indigitado pelo partido mais votado ou pela aliança de partidos com maioria parlamentar e nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos políticos representados no Parlamento Nacional.<br />2. Os restantes membros do Governo são nomeados pelo Presidente da República, sob proposta do Primeiro-Ministro.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 107.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Responsabilidade do Governo)</span><br /></div>O Governo responde perante o Presidente da República e o Parlamento Nacional pela condução e execução da política interna e externa, nos termos da Constituição e da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 108.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Programa do Governo)</span><br /></div>1. Nomeado o Governo, este deve elaborar o seu programa, do qual constarão os objectivos e as tarefas que se propõe realizar, as medidas a adoptar e as principais orientações políticas que pretende seguir nos domínios da actividade governamental.<br />2. O Primeiro-Ministro submete o programa do Governo, aprovado em Conselho de Ministros, à apreciação do Parlamento Nacional, no prazo máximo de trinta dias a contar da data do início de funções do Governo.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 109.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Apreciação do programa do Governo)</span><br /></div>1. O programa do Governo é submetido à apreciação do Parlamento Nacional e, se este não se encontrar em funcionamento, é obrigatoriamente convocado para o efeito.<br />2. O debate do programa do Governo não pode exceder cinco dias e até ao seu encerramento qualquer grupo parlamentar pode pedir a sua rejeição ou o Governo solicitar um voto de confiança.<br />3. A rejeição do programa do Governo exige a maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 110.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Solicitação de voto de confiança)</span><br /></div>O Governo pode solicitar ao Parlamento Nacional a aprovação de um voto de confiança sobre uma declaração de política geral ou sobre qualquer assunto de relevante interesse nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 111.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Moções de censura)</span><br /></div>1. O Parlamento Nacional pode votar moções de censura ao Governo sobre a execução do seu programa ou assunto de relevante interesse nacional, por iniciativa de um quarto dos Deputados em efectividade de funções.<br />2. Se a moção de censura não for aprovada, os seus signatários não podem apresentar outra durante a mesma sessão legislativa.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 112.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Demissão do Governo)</span><br /></div>1. Implicam a demissão do Governo:<br />a) O início da nova legislatura;<br />b) A aceitação pelo Presidente da República do pedido de demissão apresentado pelo Primeiro-Ministro;<br />c) A morte ou impossibilidade física permanente do Primeiro-Ministro;<br />d) A rejeição do programa do Governo pela segunda vez consecutiva;<br />e) A não aprovação de um voto de confiança;<br />f) A aprovação de uma moção de censura por uma maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.<br />2. O Presidente da República só pode demitir o Primeiro-Ministro nos casos previstos no número anterior e quando se mostre necessário para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 113.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Responsabilidade criminal dos membros do Governo)</span><br /></div>1. O membro do Governo acusado definitivamente por um crime punível com pena de prisão superior a dois anos é suspenso das suas funções, para efeitos de prosseguimento dos autos.<br />2. Em caso de acusação definitiva por crime punível com pena de prisão até dois anos, caberá ao Parlamento Nacional decidir se o membro do Governo deve ou não ser suspenso, para os mesmos efeitos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 114.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Imunidades dos membros do Governo)</span><br /></div>Nenhum membro do Governo pode ser detido ou preso sem autorização do Parlamento Nacional, salvo por crime a que corresponda pena de prisão cujo limite máximo seja superior a dois anos e em flagrante delito.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO III</span><br /><span style="font-weight: bold;">COMPETÊNCIA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 115.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência do Governo)</span><br /></div>1. Compete ao Governo:<br />a) Definir e executar a política geral do país, obtida a sua aprovação no Parlamento Nacional;<br />b) Garantir o gozo dos direitos e liberdades fundamentais aos cidadãos;<br />c) Assegurar a ordem pública e a disciplina social;<br />d) Preparar o Plano e o Orçamento Geral do Estado e executá-los depois de aprovados pelo Parlamento Nacional;<br />e) Regulamentar a actividade económica e a dos sectores sociais;<br />f) Preparar e negociar tratados e acordos e celebrar, aprovar, aderir e denunciar acordos internacionais que não sejam da competência do Parlamento Nacional ou do Presidente da República;<br />g) Definir e executar a política externa do país;<br />h) Assegurar a representação da República Democrática de Timor-Leste nas relações internacionais;<br />i) Dirigir os sectores sociais e económicos do Estado;<br />j) Dirigir a política laboral e de segurança social;<br />k) Garantir a defesa e consolidação do domínio público e do património do Estado;<br />l) Dirigir e coordenar as actividades dos ministérios e restantes instituições subordinadas ao Conselho de Ministros;<br />m) Promover o desenvolvimento do sector cooperativo e o apoio à produção familiar;<br />n) Apoiar o exercício da iniciativa económica privada;<br />o) Praticar os actos e tomar as providências necessárias ao desenvolvimento económico-social e à satisfação das necessidades da comunidade timorense;<br />p) Exercer quaisquer outras competências que lhe sejam atribuídas pela Constituição ou pela lei.<br />2. Compete ainda ao Governo relativamente a outros órgãos:<br />a) Apresentar propostas de lei e de resolução ao Parlamento Nacional;<br />b) Propor ao Presidente da República a declaração de guerra ou a feitura da paz;<br />c) Propor ao Presidente da República a declaração do estado de sítio ou do estado de emergência;<br />d) Propor ao Presidente da República a sujeição a referendo de questões de relevante interesse nacional;<br />e) Propor ao Presidente da República a nomeação de embaixadores, representantes permanentes e enviados extraordinários.<br />3. É da exclusiva competência legislativa do Governo a matéria respeitante à sua própria organização e funcionamento, bem como à da administração directa e indirecta do Estado.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 116.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência do Conselho de Ministros)</span><br /></div>Compete ao Conselho de Ministros:<br />a) Definir as linhas gerais da política governamental, bem como as da sua execução;<br />b) Deliberar sobre o pedido de voto de confiança ao Parlamento Nacional;<br />c) Aprovar as propostas de lei e de resolução;<br />d) Aprovar os diplomas legislativos, bem como os acordos internacionais não submetidos ao Parlamento Nacional;<br />e) Aprovar os actos do Governo que envolvam aumento ou diminuição das receitas ou despesas públicas;<br />f) Aprovar os planos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 117.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência dos membros do Governo)</span><br /></div>1. Compete ao Primeiro-Ministro:<br />a) Chefiar o Governo;<br />b) Presidir ao Conselho de Ministros;<br />c) Dirigir e orientar a política geral do Governo e coordenar a acção de todos os Ministros, sem prejuízo da responsabilidade directa de cada um pelos respectivos departamentos governamentais;<br />d) Informar o Presidente da República sobre os assuntos relativos à política interna e externa do Governo;<br />e) Exercer as demais funções atribuídas pela Constituição e pela lei.<br />2. Compete aos Ministros:<br />a) Executar a política definida para os seus ministérios;<br />b) Assegurar as relações entre o Governo e os demais órgãos do Estado, no âmbito do respectivo ministério.<br />3. Os diplomas legislativos do Governo são assinados pelo Primeiro-Ministro e pelos Ministros competentes em razão da matéria.<br /><br /><div style="text-align: center;"><br /><span style="font-weight: bold;">TÍTULO V</span><br /><span style="font-weight: bold;">TRIBUNAIS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">TRIBUNAIS E MAGISTRATURA JUDICIAL</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 118.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Função jurisdicional)</span><br /></div>1. Os tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo.<br />2. No exercício das suas funções, os tribunais têm direito à coadjuvação das outras autoridades.<br />3. As decisões dos tribunais são de cumprimento obrigatório e prevalecem sobre todas as decisões de quaisquer autoridades.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 119.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Independência)</span><br /></div>Os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à Constituição e à lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 120.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Apreciação de inconstitucionalidade)</span><br /></div>Os Tribunais não podem aplicar normas contrárias à Constituição ou aos princípios nela consagrados.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 121.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Juízes)</span><br /></div>1. A função jurisdicional é exclusiva dos juízes, investidos nos termos da lei.<br />2. No exercício das suas funções, os juízes são independentes e apenas devem obediência à Constituição, à lei e à sua consciência.<br />3. Os juízes são inamovíveis, não podendo ser suspensos, transferidos, aposentados ou demitidos, senão nos termos da lei.<br />4. Para a garantia da sua independência os juízes não podem ser responsabilizados pelos seus julgamentos e decisões, salvo nos casos previstos na lei.<br />5. A lei regula a organização judiciária e o estatuto dos magistrados judiciais.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 122.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Exclusividade)</span><br /></div>Os juízes em exercício não podem desempenhar qualquer outra função pública ou privada, exceptuada a actividade docente ou de investigação científica de natureza jurídica, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 123.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Categorias de tribunais)</span><br /></div>1. Na República Democrática de Timor-Leste existem as seguintes categorias de tribunais:<br />a) Supremo Tribunal de Justiça e outros tribunais judiciais;<br />b) Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas e tribunais administrativos de primeira instância;<br />c) Tribunais militares.<br />2. São proibidos tribunais de excepção e não haverá tribunais especiais para o julgamento de determinadas categorias de crime.<br />3. Podem existir tribunais marítimos e arbitrais.<br />4. A lei determina a constituição, a organização e o funcionamento dos tribunais previstos nos números anteriores.<br />5. A lei pode institucionalizar instrumentos e formas de composição não jurisdicional de conflitos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 124.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Supremo Tribunal de Justiça)</span><br /></div>1. O Supremo Tribunal de Justiça é o mais alto órgão da hierarquia dos tribunais judiciais e o garante da aplicação uniforme da lei, com jurisdição em todo o território nacional.<br />2. Ao Supremo Tribunal de Justiça compete também administrar justiça em matérias de natureza jurídico-constitucional e eleitoral.<br />3. O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça é nomeado para um mandato de quatro anos pelo Presidente da República, de entre os juízes do Supremo Tribunal de Justiça.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 125.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Funcionamento e composição)</span><br /></div>1. O Supremo Tribunal de Justiça funciona:<br />a) Em secções, como tribunal de primeira instância, nos casos previstos na lei;<br />b) Em plenário, como tribunal de segunda e única instância, nos casos expressamente previstos por lei.<br />2. O Supremo Tribunal de Justiça é composto por juízes de carreira, por magistrados do Ministério Público ou por juristas de reconhecido mérito, em número a ser estabelecido por lei, sendo:<br />a) Um eleito pelo Parlamento Nacional;<br />b) E os demais designados pelo Conselho Superior da Magistratura Judicial.<br /><br />Artigo 126.º<br />(Competência constitucional e eleitoral)<br />1. Ao Supremo Tribunal de Justiça compete, no domínio das questões jurídico-constitucionais:<br />a) Apreciar e declarar a inconstitucionalidade e ilegalidade dos actos legislativos e normativos dos órgãos do Estado;<br />b) Verificar previamente a constitucionalidade e a legalidade dos diplomas legislativos e dos referendos;<br />c) Verificar a inconstitucionalidade por omissão;<br />d) Decidir, em sede de recurso, sobre a desaplicação de normas consideradas inconstitucionais pelos tribunais de instância;<br />e) Verificar a legalidade da constituição de partidos políticos e suas coligações e ordenar o seu registo ou extinção, nos termos da Constituição e da lei;<br />f) Exercer todas as outras competências que lhe sejam atribuídas na Constituição ou na lei.<br />2. No domínio específico das eleições, cabe ao Supremo Tribunal de Justiça:<br />a) Verificar os requisitos legais exigidos para as candidaturas a Presidente da República;<br />b) Julgar em última instância a regularidade e validade dos actos do processo eleitoral, nos termos da lei respectiva;<br />c) Validar e proclamar os resultados do processo eleitoral.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 127.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Elegibilidade)</span><br /></div>1. Só podem ser membros do Supremo Tribunal de Justiça juízes de carreira, magistrados do Ministério Público ou juristas de reconhecido mérito que sejam cidadãos nacionais.<br />2. Além dos requisitos referidos no numero anterior, a lei pode definir outros.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 128.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Conselho Superior da Magistratura Judicial)</span><br /></div>1. O Conselho Superior da Magistratura Judicial é o órgão de gestão e disciplina dos magistrados judiciais, a quem compete a nomeação, colocação, transferência e promoção de juízes.<br />2. O Conselho Superior da Magistratura Judicial é presidido pelo Juiz Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e composto pelos seguintes vogais:<br />a) Um designado pelo Presidente da República;<br />b) Um eleito pelo Parlamento Nacional;<br />c) Um designado pelo Governo;<br />d) Um eleito pelos magistrados judiciais de entre os seus pares.<br />3. A lei regula a competência, a organização e o funcionamento do Conselho Superior da Magistratura Judicial.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 129.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas)</span><br /></div>1. O Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas é o órgão superior da hierarquia dos tribunais administrativos, fiscais e de contas, sem prejuízo da competência própria do Supremo Tribunal de Justiça.<br />2. O Presidente do Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas é eleito para um mandato de quatro anos de entre e pelos respectivos juízes.<br />3. Compete ao Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas, como instância única, a fiscalização da legalidade das despesas públicas e o julgamento das contas do Estado.<br />4. Compete ao Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas e aos tribunais administrativos e fiscais de primeira instância:<br />a) Julgar as acções que tenham por objecto litígios emergentes das relações jurídicas administrativas e fiscais;<br />b) Julgar os recursos contenciosos interpostos das decisões dos órgãos do Estado e dos seus agentes;<br />c) Exercer as demais competências atribuídas por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 130.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Tribunais Militares)</span><br /></div>1. Compete aos tribunais militares julgar em primeira instância os crimes de natureza militar.<br />2. A competência, a organização, a composição e o funcionamento dos tribunais militares são estabelecidos por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 131.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Audiências dos tribunais)</span><br /></div>As audiências dos tribunais são públicas, salvo quando o próprio tribunal decidir o contrário, em despacho fundamentado, para salvaguarda da dignidade das pessoas, da moral pública e da segurança nacional ou para garantir o seu normal funcionamento.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">MINISTÉRIO PÚBLICO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 132.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Funções e estatuto)</span><br /></div>1. O Ministério Público representa o Estado, exerce a acção penal, assegura a defesa dos menores, ausentes e incapazes, defende a legalidade democrática e promove o cumprimento da lei.<br />2. O Ministério Público constitui uma magistratura hierarquicamente organizada, subordinada ao Procurador-Geral da República.<br />3. No exercício das suas funções, os magistrados do Ministério Público estão sujeitos a critérios de legalidade, objectividade, isenção e obediência às directivas e ordens previstas na lei.<br />4. O Ministério Público goza de estatuto próprio, não podendo os seus agentes ser transferidos, suspensos, aposentados ou demitidos senão nos casos previstos na lei.<br />5. A nomeação, colocação, transferência e promoção dos agentes do Ministério Público e o exercício da acção disciplinar competem à Procuradoria-Geral da República.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 133.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Procuradoria-Geral da República)</span><br /></div>1. A Procuradoria-Geral da República é o órgão superior do Ministério Público, com a composição e a competência definidas na lei.<br />2. A Procuradoria-Geral da República é dirigida pelo Procurador-Geral da República, o qual é substituído nas suas ausências e impedimentos nos termos da lei.<br />3. O Procurador-Geral da República é nomeado para um mandato de quatro anos pelo Presidente da República, nos termos fixados na lei.<br />4. O Procurador-Geral da República responde perante o Chefe do Estado e presta informação anual ao Parlamento Nacional.<br />5. O Procurador-Geral da República deve solicitar ao Supremo Tribunal de Justiça a declaração de inconstitucionalidade com força obrigatória geral de norma que haja sido julgada inconstitucional em três casos concretos.<br />6. Os Adjuntos do Procurador-Geral da República são nomeados, demitidos e exonerados pelo Presidente da República, ouvido o Conselho Superior do Ministério Público.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 134.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Conselho Superior do Ministério Público)</span><br /></div>1. O Conselho Superior do Ministério Público é parte integrante da Procuradoria-Geral da República.<br />2. O Conselho Superior do Ministério Público é presidido pelo Procurador-Geral da República e composto pelos seguintes vogais:<br />a) Um designado pelo Presidente da República;<br />b) Um eleito pelo Parlamento Nacional;<br />c) Um designado pelo Governo;<br />d) Um eleito pelos magistrados do Ministério Público de entre os seus pares.<br />3. A lei regula a competência, a organização e o funcionamento do Conselho Superior do Ministério Público.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">CAPÍTULO III</span><br /><span style="font-weight: bold;">ADVOCACIA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 135.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Advogados)</span><br /></div>1. O exercício da assistência jurídica e judiciária é de interesse social, devendo os advogados e defensores nortear-se por este princípio.<br />2. Os advogados e defensores têm por função principal contribuir para a boa administração da justiça e a salvaguarda dos direitos e legítimos interesses dos cidadãos.<br />3. O exercício da advocacia é regulado por lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 136.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Garantias no exercício da advocacia)</span><br /></div>1. O Estado deve garantir, nos termos da lei, a inviolabilidade dos documentos respeitantes ao exercício da profissão de advogado, não sendo admissíveis buscas, apreensões, arrolamentos e outras diligências judiciais sem a presença do magistrado judicial competente e, sempre que possível, do advogado em questão.<br />2. Os advogados têm o direito de comunicar pessoalmente e com garantias de confidencialidade com os seus clientes, especialmente se estes se encontrarem detidos ou presos em estabelecimentos civis ou militares.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO VI</span><br /><span style="font-weight: bold;">ADMNISTRAÇÃO PÚBLICA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 137.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Princípios gerais da Administração Pública)</span><br /></div>1. A Administração Pública visa a prossecução do interesse público, no respeito pelos direitos e interesses legítimos dos cidadãos e das instituições constitucionais.<br />2. A Administração Pública é estruturada de modo a evitar a burocratização, aproximar os serviços das populações e assegurar a participação dos interessados na sua gestão efectiva.<br />3. A lei estabelece os direitos e garantias dos administrados, designadamente contra actos que lesem os seus direitos e interesses legítimos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><br /><span style="font-weight: bold;">PARTE IV</span><br /><span style="font-weight: bold;">ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA E FINANCEIRA</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">TÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">PRINCÍPIOS GERAIS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 138.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Organização económica)</span><br /></div>A organização económica de Timor-Leste assenta na conjugação das formas comunitárias com a liberdade de iniciativa e gestão empresarial e na coexistência do sector público, do sector privado e do sector cooperativo e social de propriedade dos meios de produção.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 139.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Recursos naturais)</span><br /></div>1. Os recursos do solo, do subsolo, das águas territoriais, da plataforma continental e da zona económica exclusiva, que são vitais para a economia, são propriedade do Estado e devem ser utilizados de uma forma justa e igualitária, de acordo com o interesse nacional.<br />2. As condições de aproveitamento dos recursos naturais referidas no número anterior devem servir para a constituição de reservas financeiras obrigatórias, nos termos da lei.<br />3. O aproveitamento dos recursos naturais deve manter o equilíbrio ecológico e evitar a destruição de ecossistemas.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 140.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Investimentos)</span><br /></div>O Estado deve promover os investimentos nacionais e criar condições para atrair investimentos estrangeiros, tendo em conta os interesses nacionais, nos termos da lei.<br /><br />Artigo 141.º<br />(Terras)<br />São regulados por lei a propriedade, o uso e a posse útil das terras, como um dos factores de produção económica.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">SISTEMA FINANCEIRO E FISCAL</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 142.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Sistema financeiro)</span><br /></div>O sistema financeiro é estruturado por lei de modo a garantir a formação, captação e segurança das poupanças, bem como a aplicação dos meios financeiros necessários ao desenvolvimento económico e social.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 143.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Banco central)</span><br /></div>1. O Estado deve criar um banco central nacional co-responsável pela definição e execução da política monetária e financeira.<br />2. A lei define as funções e a relação entre o banco central, o Parlamento Nacional e o Governo, salvaguardando a autonomia de gestão da instituição financeira.<br />3. O banco central tem a competência exclusiva de emissão da moeda nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 144.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Sistema fiscal)</span><br /></div>1. O Estado deve criar um sistema fiscal que satisfaça as necessidades financeiras e contribua para a justa repartição da riqueza e dos rendimentos nacionais.<br />2. Os impostos e as taxas são criados por lei, que fixa a sua incidência, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 145.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Orçamento Geral do Estado)</span><br /></div>1. O Orçamento Geral do Estado é elaborado pelo Governo e aprovado pelo Parlamento Nacional.<br />2. A lei do Orçamento deve prever, com base na eficiência e na eficácia, a discriminação das receitas e a discriminação das despesas, bem como evitar a existência de dotações ou fundos secretos.<br />3. A execução do Orçamento é fiscalizada pelo Tribunal Superior Administrativo, Fiscal e de Contas e pelo Parlamento Nacional.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PARTE V</span><br /><span style="font-weight: bold;">DEFESA E SEGURANÇA NACIONAIS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 146.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Forças Armadas)</span><br /></div>1. As forças armadas de Timor-Leste, FALINTIL-FDTL, compostas exclusivamente de cidadãos nacionais, são responsáveis pela defesa militar da República Democrática de Timor-Leste e a sua organização é única para todo o território nacional.<br />2. As FALINTIL-FDTL garantem a independência nacional, a integridade territorial e a liberdade e segurança das populações contra qualquer agressão ou ameaça externa, no respeito pela ordem constitucional.<br />3. As FALINTIL-FDTL são apartidárias e devem obediência, nos termos da Constituição e das leis, aos órgãos de soberania competentes, sendo-lhes vedada qualquer intervenção política.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 147.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Polícia e forças de segurança)</span><br /></div>1. A polícia defende a legalidade democrática e garante a segurança interna dos cidadãos, sendo rigorosamente apartidária.<br />2. A prevenção criminal deve fazer-se com respeito pelos direitos humanos.<br />3. A lei fixa o regime da polícia e demais forças de segurança.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 148.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Conselho Superior de Defesa e Segurança)</span><br /></div>1. O Conselho Superior de Defesa e Segurança é o órgão consultivo do Presidente da República para assuntos relativos à defesa e soberania.<br />2. O Conselho Superior de Defesa e Segurança é presidido pelo Presidente da República e deve incluir entidades civis e militares, sendo as civis representadas em maior número.<br />3. A composição, a organização e o funcionamento do Conselho Superior de Defesa e Segurança são definidos por lei.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PARTE VI</span><br /><span style="font-weight: bold;">GARANTIA E REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">TÍTULO I</span><br /><span style="font-weight: bold;">GARANTIA DA CONSTITUIÇÃO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 149.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Fiscalização preventiva da constitucionalidade)</span><br /></div>1. O Presidente da República pode requerer ao Supremo Tribunal de Justiça a apreciação preventiva da constitucionalidade de qualquer diploma que lhe tenha sido enviado para promulgação.<br />2. A apreciação preventiva da constitucionalidade pode ser requerida no prazo de vinte dias a contar da data de recepção do diploma, devendo o Supremo Tribunal de Justiça pronunciar-se no prazo de vinte e cinco dias, o qual pode ser reduzido pelo Presidente da República por motivo de urgência.<br />3. Em caso de pronúncia pela inconstitucionalidade, o Presidente da República remete cópia do acórdão ao Governo ou ao Parlamento Nacional, solicitando a reformulação do diploma em conformidade com a decisão do Supremo Tribunal de Justiça.<br />4. O veto por inconstitucionalidade do diploma do Parlamento Nacional enviado para promulgação pode ser ultrapassado nos termos do artigo 88.º, com as devidas adaptações.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 150.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Fiscalização abstracta da constitucionalidade)</span><br /></div>Podem requerer a declaração de inconstitucionalidade:<br />a) O Presidente da República;<br />b) O Presidente do Parlamento Nacional;<br />c) O Procurador-Geral da República, com base na desaplicação pelos tribunais em três casos concretos de norma julgada inconstitucional;<br />d) O Primeiro-Ministro;<br />e) Um quinto dos Deputados;<br />f) O Provedor de Direitos Humanos e Justiça.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 151.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Inconstitucionalidade por omissão)</span><br /></div>O Presidente da República, o Procurador-Geral da República e o Provedor de Direitos Humanos e Justiça podem requerer junto do Supremo Tribunal de Justiça a verificação de inconstitucionalidade por omissão de medidas legislativas necessárias para concretizar as normas constitucionais.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 152.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Fiscalização concreta da constitucionalidade)</span><br /></div>1. Cabe recurso para o Supremo Tribunal de Justiça das decisões dos tribunais:<br />a) Que recusem a aplicação de qualquer norma com fundamento na sua inconstitucionalidade;<br />b) Que apliquem normas cuja inconstitucionalidade tenha sido suscitada durante o processo.<br />2. O recurso previsto na alínea b) do número anterior só pode ser interposto pela parte que tenha suscitado a questão da inconstitucionalidade.<br />3. A lei regula o regime de admissão dos recursos.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 153.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça)</span><br /></div>Os acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça não são passíveis de recurso e são publicados no jornal oficial, detendo força obrigatória geral, nos processos de fiscalização abstracta e concreta, quando se pronunciem no sentido da inconstitucionalidade.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">TÍTULO II</span><br /><span style="font-weight: bold;">REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 154.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Iniciativa e tempo de revisão)</span><br /></div>1. A iniciativa da revisão constitucional cabe aos Deputados e às Bancadas Parlamentares.<br />2. O Parlamento Nacional pode rever a Constituição decorridos seis anos sobre a data da publicação da última lei de revisão.<br />3. O prazo de seis anos para a primeira revisão constitucional conta-se a partir da data da entrada em vigor da presente Constituição.<br />4. O Parlamento Nacional, independentemente de qualquer prazo temporal, pode assumir poderes de revisão constitucional por maioria de quatro quintos dos Deputados em efectividade de funções.<br />5. As propostas de revisão devem ser depositadas no Parlamento Nacional cento e vinte dias antes do início do debate.<br />6. Apresentado um projecto de revisão constitucional, nos termos do número anterior, quaisquer outros terão de ser apresentados no prazo de trinta dias.<br /><br />Artigo 155.º<br />(Aprovação e promulgação)<br />1. As alterações da Constituição são aprovadas por maioria de dois terços dos deputados em efectividade de funções.<br />2. A Constituição, no seu novo texto, é publicada conjuntamente com a lei de revisão.<br />3. O Presidente da República não pode recusar a promulgação da lei de revisão.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 156.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Limites materiais da revisão)</span><br /></div>1. As leis de revisão constitucional têm que respeitar:<br />a) A independência nacional e a unidade do Estado;<br />b) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;<br />c) A forma republicana de governo;<br />d) A separação dos poderes;<br />e) A independência dos Tribunais;<br />f) O multipartidarismo e o direito de oposição democrática;<br />g) O sufrágio livre, universal, directo, secreto e periódico dos titulares dos órgãos de soberania, bem como o sistema de representação proporcional;<br />h) O princípio da desconcentração e da descentralização administrativa;<br />i) A Bandeira Nacional;<br />j) A data da proclamação da independência nacional.<br />2. As matérias constantes das alíneas c) e i) podem ser revistas através de referendo nacional, nos termos da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 157.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Limites circunstanciais da revisão)</span><br /></div>Durante o estado de sítio ou de emergência não pode ser praticado nenhum acto de revisão constitucional.<br /><br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">PARTE VII</span><br /><span style="font-weight: bold;">DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS</span><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Artigo 158.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Tratados, acordos e alianças)</span><br /></div>1. A confirmação, adesão e ratificação das convenções, tratados, acordos ou alianças bilaterais ou multilaterais, anteriores à entrada em vigor da Constituição, são decididas, caso a caso, pelos órgãos competentes respectivos.<br />2. A República Democrática de Timor-Leste não fica vinculada por nenhum tratado, acordo ou aliança, celebrado anteriormente à entrada em vigor da Constituição, que não seja confirmado ou ratificado ou a que não haja adesão, nos termos do n.º 1.<br />3. A República Democrática de Timor-Leste não reconhece quaisquer actos ou contratos relativos aos recursos naturais referidos no n.º 1 do artigo 139.º celebrados ou praticados antes da entrada em vigor da Constituição que não sejam confirmados, subsequentemente a esta, pelos órgãos competentes.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 159.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Línguas de trabalho)</span><br /></div>A língua indonésia e a inglesa são línguas de trabalho em uso na administração pública a par das línguas oficiais, enquanto tal se mostrar necessário.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 160.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Crimes graves)</span><br /></div>Os actos cometidos entre 25 de Abril de 1974 e 31 de Dezembro de 1999 que possam ser considerados crimes contra a humanidade, de genocídio ou de guerra são passíveis de procedimento criminal junto dos tribunais nacionais ou internacionais.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 161.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Apropriação ilegal de bens)</span><br /></div>A apropriação ilegal de bens móveis e imóveis, anterior à entrada em vigor da Constituição, é considerada crime e deve ser resolvida nos termos da Constituição e da lei.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 162.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Reconciliação)</span><br /></div>1. Compete à Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação o desempenho das funções a ela conferidas pelo Regulamento da UNTAET n.º 2001/10.<br /><br />2. As competências, o mandato e os objectivos da Comissão podem, sempre que necessário, ser redefinidos pelo Parlamento Nacional.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 163.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Organização judicial transitória)</span><br /></div>1. A instância judicial colectiva existente em Timor-Leste, integrada por juízes nacionais e internacionais, com competência para o julgamento dos crimes graves cometidos entre 1 de Janeiro e 25 de Outubro de 1999 mantém-se em funções pelo tempo estritamente necessário para que sejam concluídos os processos em investigação.<br />2. A organização judiciária existente em Timor-Leste no momento da entrada em vigor da Constituição mantém-se em funcionamento até à instalação e início em funções do novo sistema judiciário.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 164.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Competência transitória do Supremo Tribunal de Justiça)</span><br /></div>1. Depois da entrada em funções do Supremo Tribunal de Justiça e enquanto não forem criados os tribunais referidos no artigo 129.º, as respectivas competências são exercidas pelo Supremo Tribunal de Justiça e demais tribunais judiciais.<br />2. Até à instalação e início de funções do Supremo Tribunal de Justiça todos os poderes atribuídos pela Constituição a este tribunal são exercidos pela Instância Judicial Máxima da organização judiciária existente em Timor-Leste.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 165.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Direito anterior)</span><br /></div>São aplicáveis, enquanto não forem alterados ou revogados, as leis e os regulamentos vigentes em Timor-Leste em tudo o que não se mostrar contrário à Constituição e aos princípios nela consignados.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 166.°</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Hino Nacional)</span><br /></div>Enquanto a lei ordinária não aprovar o hino nacional nos termos do n.° 2 do artigo 14.°, será executada nas cerimónias nacionais a melodia “Pátria, Pátria, Timor-Leste a nossa nação”.<br />Artigo 167.º<br />(Transformação da Assembleia Constituinte)<br />1. A Assembleia Constituinte transforma-se em Parlamento Nacional com a entrada em vigor da Constituição da República.<br />2. O Parlamento Nacional tem no seu primeiro mandato, excepcionalmente, oitenta e oito Deputados.<br />3. O Presidente da Assembleia Constituinte mantém-se em funções até que o Parlamento Nacional proceda à eleição do seu Presidente, em conformidade com a Constituição.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 168.°</span><br /><span style="font-weight: bold;">(II Governo Transitório)</span><br /></div>O Governo nomeado ao abrigo do Regulamento da UNTAET n.° 2001/28 mantém-se em funções até que o primeiro Governo Constitucional seja nomeado e empossado pelo Presidente da República, em conformidade com a Constituição.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 169.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Eleição presidencial de 2002)</span><br /></div>O Presidente da República eleito ao abrigo do Regulamento da UNTAET n.º 2002/01 assume as competências e cumpre o mandato previsto na Constituição.<br /><br /><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;">Artigo 170.º</span><br /><span style="font-weight: bold;">(Entrada em vigor da Constituição)</span><br /></div>A Constituição da República Democrática de Timor-Leste entra em vigor no dia 20 de Maio de 2002.<br /><br /><br />Aos 22 de Março de 2002, a Assembleia Constituinte da República Democrática de Timor-Leste, eleita em 30 de Agosto de 2001, aprovou a presente Constituição, a qual vai ser assinada pelos seus oitenta e oito Deputados:<br /><br /><br /><div style="text-align: center;">Presidente da Assembleia Constituinte,<br />Francisco Guterres ‘Lú-Olo’<br />(<span style="font-weight: bold;">Fretilin</span>)<br /><br />Vice-Presidente,<br />Francisco Xavier do Amaral<br />(<span style="font-weight: bold;">ASDT</span>)<br /><br />Vice-Presidente,<br />Arlindo Marçal<br />(<span style="font-weight: bold;">PDC</span>)<br /><br />Deputados<br /><br /><span style="font-weight: bold;">ASDT</span><br />Afonso Noronha<br />Feliciano Alves Fátima<br />Jacinto de Andrade<br />Maria da Costa Valadares<br />Pedro Gomes<br /><br /><span style="font-weight: bold;">FRETILIN</span><br />Adalgisa Maria Soares Ximenes<br />Adaljiza Albertina Xavier Reis Magno<br />Adérito de Jesus Soares<br />Alfredo da Silva<br />Ana Maria Pessoa Pereira da Silva Pinto<br />António Cardoso Machado<br />António Cepeda<br />Arão Nóe de Jesus da Costa Amaral<br />Armindo da Conceição Freitas<br />Augusto da Conceição Amaral<br />Cipriana da Costa Pereira<br />Constância de Jesus<br />Elias Freitas<br />Elizario Ferreira<br />Flávio Maria da Silva<br />Francisco Carlos Soares<br />Francisco Kalbuadi Lay<br />Francisco Lelan<br />Francisco M.C.P. Jerónimo<br />Francisco Miranda Branco<br />Gervásio Cardoso de Jesus da Silva<br />Gregório Saldanha<br />Jacinto Maia<br />Jacob Martins dos Reis Fernandes<br />Januário Soares<br />Jerónimo da Silva<br />Joaquim Amaral<br />Joaquim Barros Soares<br />Joaquim dos Santos<br />José Andrade da Cruz<br />Josefa A. Pereira Soares<br />José Maria Barreto Lobato Gonçalves<br />José Maria dos Reis Costa<br />José Soares<br />José Manuel da Silva Fernandes<br />Judit Ximenes<br />Lourdes Maria Mascarenhas Alves<br />Luisa da Costa<br />Madalena da Silva<br />Manuel Sarmento<br />Marí Alkatiri<br />Maria Avalziza Lourdes<br />Maria Genoveva da Costa Martins<br />Maria José da Costa<br />Maria Solana da Conceição Soares Fernandes<br />Maria Teresa Lay Correia<br />Maria Teresinha da Silva Viegas e Costa<br />Mario Ferreira<br />Miguel Soares<br />Norberto José Maria do Espírito Santo<br />Osório Florindo<br />Rosária Maria Corte-Real de Oliveira<br />Rui António da Cruz<br />Vicente Soares Faria<br /><br /><span style="font-weight: bold;">Independente</span><br />António da Costa Lelan<br /><br /><span style="font-weight: bold;">KOTA</span><br />Clementino dos Reis Amaral<br />Manuel Tilman<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PD</span><br />Aquilino Ribeiro Fraga Guterres ‘Ete Uco’<br />Eusébio Guterres, SH<br />Samuel Mendonça<br />Ir. Mariano Sabino Lopes ‘Assa Nami’<br />Paulo Alves Sarmento ‘Tuloda’<br />Dr. Paulo Assis Belo ‘Funu Mata’<br />Rui Meneses da Costa, SE ‘Lebra’<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PDC</span><br />António Ximenes<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PL</span><br />Armando da Silva<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PNT</span><br />Aires Francisco Cabral<br />Aliança da Conceição Araújo<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PPT</span><br />Ananias do Carmo Fuka<br />Jacob Xavier<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PSD</span><br />Fernando Dias Gusmão<br />Leandro Isac<br />Lucia Maria Lobato<br />Mario Viegas Carrascalão<br />Milena Pires<br />Vidal de Jesus “Riak Leman”<br /><br /><span style="font-weight: bold;">PST</span><br />Pedro Martires da Costa<br /><br /><span style="font-weight: bold;">UDC/PDC</span><br />Vicente da Silva Guterres<br /><br /><span style="font-weight: bold;">UDT</span><br />João Viegas Carrascalão<br />Quitéria da Costa<br /></div><br /></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-54823477152041316182006-11-15T16:35:00.000+00:002007-03-06T16:49:19.010+00:00Carta aberta a todos os timorenses - 05 Dezembro 2000<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >CNRT/Congresso Nacional </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Presidência</span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" > </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >CARTA ABERTA A TODOS OS TIMORENSES</span><br /></div><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Queridos compatriotas</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Não foi surpresa nenhuma, quando tomei conhecimento ontem, de regresso da visita a todo o Distrito de Cova Lima, do conteúdo das notícias publicadas no Sydney Morning Herald. Compreendo que os jornalistas têm o direito de fazer notícias e o direito de aparecerem sempre diferentes dos outros</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Contudo, a notícia deturpou as coisas e é por isso que venho aclarar a todos os timorenses.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">1. Como todos sabem, a FRETILIN saiu do CNRT, logo depois do Congresso, porque o Congresso foi considerado, por políticos e democratas, como tendo sido manipulado para eu continuar como Presidente do CNRT e, somando-se a isso, o facto de não ter havido nenhum vice-Presidente do CNRT. A UDT também não quis participar no Conselho Permanente do CNRT/CN, por razões de competências ou não competências daquele Órgão.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O Conselho Nacional estava a demorar a ser constituído, para imediatamente começar os seus trabalhos. Face a isto, porque estavam previstos 7 lugares para o CNRT e porque só havia 6 partidos para participar, como representantes do CNRT, eu ofereci-me para preencher o outro lugar.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas, antes da tomada de posse do CN, o CCN reuniu pela última vez, para aumentar o número de membros do CN. já que a FRETILIN e a UDT estavam dispostas a participar (UDT dentro do CNRT, e FRETILIN fora do CNRT).</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O meu erro foi não ter, desde aí, retirado o nome como candidato para o CN.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">2. Desde o inicio do funcionamento do CN, não pude compatibilizar as minhas actividades de Presidente do CNRT com as funções de Presidente do CN.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Esta última responsabilidade estava a ser posta em causa pelos trabalhos que devo realizar como Presidente do CNRT e que me é exigido nesta fase de definição do processo político de transição. Porque eu tinha programas de saídas para os distritos da parte ocidental do território, eu continuava ausente de um órgão criado para debater assuntos importantíssimos da vida nacional.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Assim, solicitei aos membros do CN que considerassem, EM TEMPO OPORTUNO, o meu pedido de demissão, por materialmente não me sentir capaz para assumir as duas responsabilidades ao mesmo tempo. REPITO: O meu erro foi não ter retirado o meu nome da lista dos candidatos, depois de a FRETILIN e a UDT terem aparecido para participar no CN.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O meu pedido de demissão foi, quanto a mim, uma posição transparente e natural em qualquer contexto político democrático. Se eu tentasse, por todos os meios, reter a minha posição no CN, sem ir às suas sessões e com mira talvez de receber algum pagamento por ser Presidente do órgão, concordo que tat atitude é que deveria ser posta em causa não o contrário. Digo não o contrário, pela simples razão de que Tirnor Lorosa’e tem a felicidade de poder contar com inúmeros quadros e filhas e filhos com enormes capacidades. O Conselho Nacional, em particular, é constituído por membros que já provaram, neste curto espaço de tempo, a sua dedicação e empenhamento e, diariamente, têm revelado vontade e determinação em trabalhar na preparação institucional da independência do nosso País.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">3 - A minha ausência do CN não só não faz absolutamente falta alguma, como não</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">dignifica este mesmo órgão, que todos consideramos vital nesta fase de transição para a independência.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">É absolutamente incorrecto que o pedido de demissão foi uma reacção minha à negativa por parte do CN à calendarizaçâo do processo político proposto pela Presidência do CNRT.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Considero que, nesta fase do nosso processo político, a assistência que devo dar à população é extremamente importante.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Eu compreendo e todos sabemos que um partido é constituído para disputar o poder político, e é esta a sua essência. Contudo. existe uma situação que muita gente não quer ter em conta e que é a situação generalizada de más condições de vida da população: muita gente ainda sem um tecto, muita gente sem assistência médica, pouquíssimas salas de aula sem carteiras, uma economia parada na maior parte do país com a população sem capacidade de vender os seus produtos, etc., etc.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mesmo assim, alguns grupos políticos já se lançaram a criar confusão no povo, alguns grupos já iniciaram o recenseamento da população, outros obrigam a população a aderir, utilizando possivel acção de retaliação das FALINTIL como ameaça. Alguns grupos recrutam os milícias, regressados. prometendo que não haverá justiça quando eles estiverem no poder.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Numa situação ainda de muita fome para a população, outros grupos semeiam bandeiras em todo o lado, semeando também um ambiente de conflituosidade no seio da população. A violência, a mentira, a exploração psicológica e emocional do povo estão a ganhar forma. A tensão política existente faz-nos lembrar os alvores democráticos de 1974. Nós prevemos que a actual corrida ao poder, por parte dos partidos, que até já estão a tentar controlar a população para esse efeito, vai levar, no próximo ano, a uma repetição do que aconteceu em 1975.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O CNRT é a única força mobilizadora do povo para a unidade e estabilidade, para um ambiente de paz e harmonia entre todos os timorenses. Sabemos que a ‘unidade nacional* em termos de partidos não será conseguida, como sempre foi aparente, durante todos os anos da luta, em termos de liderança timorense e todos sabem disso.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Mas o CNRT sabe que pode continuar a apelar ao povo para defender o seu direito básico, nesta fase dificil: o direito de viver em tranquilidade, o direito de não ver repetidos erros que provocaram a divisão do povo, que provocaram violência e mortandade.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E eu estou empenhado nesta missão do CNRT de esclarecer o povo para se prevenir das consequências que a luta ao poder pode provocar.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Iniciei, na semana passada, um conjunto de visitas aos distritos, começando por OeKusi e Sobonaro, Maliana, Balibó e Lolotoe, terminando em Suai, Fohorém, Fatumea e Fatu Lulik.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">E tenho programas para percorrer os distritos de Ermera, Sarne, Ainaro e Manatuto.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Por causa destas visitas, eu não podia estar presente nas sessões do Conselho Nacional e tem-se já provado que este Órgão tem funcionado com capacidade e está à altura das suas enormes responsabilidades. As filhas e os filhos do nosso Povo, que estão no CN, não estão influenciados de maneira nenhuma pelas minhas constantes ausências. Mas estas constantes ausências, por imperativo dos superiores interesses do nosso povo, não dignificam o Órgão máximo constituído nesta fase de transição.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O CN, assim como o Gabinete, devem ser as forjas para a nova liderança timorense, e o que o nosso Povo necessita é de lideres capazes de perceber as necessidades do povo e não apenas engajados na corrida ao poder.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Como Presidente do CNRT, tenho as seguintes áreas sob a minha responsabilidade:</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">- acompanhamento do processo político </span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">- trabalhos com vista à consciencialização democrática da população e fortalecimento da sociedade civil</span><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">- defesa</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Espero, com esta explanação, ter aclarado a deturpação da notícia que surgiu no SMH.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Na sociedade democrática que queremos construir, tenho vindo a afirmar e a esclarecer ao povo que temos que deixar que novos líderes se afirmem, porque as exigências da independência são maiores e mais difíceis do que uma luta armada.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">O meu pedido de resignação do Conselho Nacional deve ser visto neste contexto. O país precisa de democratas e não de autocratas. Para a independéncia, o povo precisa de chefes qualificados e o meu empenhamento politico deve ser dirigido a criar condições para a afirmação de tantos outros que existem sobretudo nos partidos históricos.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Continuo a preferir pintar e escrever, pois no mínimo terei tempo e dinheiro para construir urna palapa para mim.</span><br /><br /><span style="font-family:trebuchet ms;">Até lá, desejo reafirmar que o Povo, as suas dificuldades e as suas aspirações estão, como sempre estiveram, em primeiro lugar nas minhas opções. Mas servir o Povo não significará que me tenho que acomodar às ambições dos partidos Os partidos têm o dever de saber o que é melhor para o Povo que tanto sofreu, obrigando-se assim a não violar o direito do povo de viver em paz, em harmonia e tolerância.</span><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >Díli, 5 de Dezembro de 2000 </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >KAY RALA XANANA GUSMÃO </span><br /><span style="font-weight: bold;font-family:trebuchet ms;" >PRESIDENTE DO CNRT/CN<br /><br /><br /></span></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37065550.post-44193830357139650812006-11-14T16:42:00.000+00:002007-03-06T16:44:43.712+00:00LETTER TO THE EAST TIMORESE 05 December 2000<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">CNRT/Congresso Nacional </span><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">Presidency </span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">LETTER TO THE EAST TIMORESE</span><br /></div><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Dear Fellow Countrymen.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">It came as no surprise to me to learn about the Sydney Morning Herald article when I returned from a visit to Cova Lima district. Journalists have a right to publish news and the right to try to be different from others.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">However, the article distorted reality and that is why I wish to clarify the situation to alI East Tímorese:</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">1. As you alI know, FRETILIN left CNRT right after the Congress because the Congress was considered by politicians and democrats as a manipulation for the continuation of my Presidency of CNRT; adding to this is the fact that they had no Vice-CNRT President. Likewise, UDT did not wish to participate in the CNRT/CN Permanent Council and questioned the functions that body was to take up.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">It took quite some time for the National Council to be established but it did start its proceedings immediately. Given the situation and because there were 7 seats for CNRT and only six partes to take them I, as CNRT representative, offered myself to take up the remaining seat.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Just before the NC was inaugurated, the NCC met for the last time to decide on increasíng the overall number of members of the National Council so to include FRETILIN and UDT who were willing to participate (UDT as a member of CNRT and FRETILIN as an organisation outside CNRT).</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">My mistake was to keep my name in that list of candidates to the NC.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">2. Ever since the NC began functioning, I have not been able to ensure the compatibility of both my offices, CNRT President and NC Speaker.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">My responsibilities as Speaker were being jeopardised by my duties as CNRT President which demand of me during this phase that I must work to assist in the detinition of this transitional period*s political process. Because I scheduled visits to the western districts I was absent from a body which was established to debate extremely important national issues.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Because I felt that I could not bear both responsibilities at the same time, I requested that the NC members consider my resignation, IN DUE TIME. I REPEAT: my mistake was to keep my name on the list of candidates after FRETILIN and UDT accepted membership of the NC.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">It is my personal opinion that in any democratic political situation my resignation was a natural and transparent step. If I had tried, by alI means, to keep my office in the NC without attending the working sessions and with the sole aim of receiving a salary for being the Speaker, I thought this attitude should be questioned rather than the opposite.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I took the opposite decision because I know Timor Lorosa*e is fortunate ín having so many skilled sons and daughters. The National Council, in particular, has rnembers who have proved during this brief period to be dedicated and committed and, on a daily basis, demonstrate their wiII and determination to prepare the institutions for the independence af our country.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">3. My regular absences from lhe NC, which can be overcome, do not dignify this body that we alI consider of crucial importance during this stage of the transition towards independence.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">It is simply not correct to state that my request to resign came as a personal reaction to the refusal by the NC to accept the calendar for lhe political process proposed by the CNRT Presidency.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">It is my point of view that at this stage of the political process the assistance that I may provide to the population is of utmost importance.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I understand and we alI know that a political party is established to gain political power, that is their essential nature. However, we find ourselves in a situation which many would rather not take into consideration, which is that of the widespread poor living conditions of the population: there are still many people without she!ter, many people without any medical assistance, only a handfuI of schools with tables and chairs, an economy which is not active in most of the country and a population with no capacity to channel and sell their products, etc., etc.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Notwithstanding, some political groups have already begun to confuse the people by starting to register the population, others compel them lo sign up for membership and threaten them with retaliation by FALINTIL. Some groups recruit recently returned militia rnembers with promises of exemption from legal action if such groups ever reach power.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">At a time when some of our population is still facing hunger, other groups fly flags everywhere while at the same time spreading the winds of conflict amidst the population. Violence, lies and the psychological and emotional abuse of our people is starting to occur. The existing political tension reminds us of the dernocratic awakening of 1974. We see that the present race for power by the parties who are already trying to control the population may next year lead to a repetition of the events of 1975.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">The CNRT is the only force able to mobilise the people towards unity and stability, for a clirnate of peace and harmony among alI East Timorese. We know that ‘national unity* by political parties will not be achieved at the level of the East Timorese leadership, as was made clear during all the years of our struggle - and we all know that.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">But the CNRT knows that I can continue to appeal to the people to defend their basic rights during this difficult stage: the right to live in tranquility, the right not to be subjected to the same mistakes that divided the people and which provoked violence and death in the past.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I am committed to this mission at the CNRT: to explain things clearly to the people so as to prevent consequences resulting from the power struggle.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Last week, I made some visits to the districts begining with Oe-kusi, Bobonaro, Maliana, Balibó and Lololoe and ending with Suai, Fohorém, Fatumea and Fatu Lulik.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I could not attend the National Council sessions because of these visits and this body had proved itself skilfully and Iived up to its responsibility. The sons and daughters of our people who are sitting on lhe NC are, by no means, being affected by my regular absence. But these regular absences that are imperative to the supreme interests of our peopte and are more irnportant than everything else, do not dignify this, the highest body that was established during this transitional phase.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">The NC and the Cabinet must be the moulds that cast the new East Timorese leadership and our people need leaders able to understand their needs rather than be merely engaged in a race for power.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">As lhe CNRT President, I bear the following responsibilities:</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">- oversight of the political process</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">- carnpaigning for the democratic awareness of the population and strengthening of civil society</span><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">- defence</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I hope that this explanation clarifies the distortion made by the SMH article.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I have stated and explained to the people that in the democratic society that we want to build we must create the conditions for new leaders to assert themselves because the demands of independence are much greater and harder than those of lhe armed struggle.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">My requesl to resign from the Nalional Council must be looked at within this context. The country needs democrats not autocrats. The people needs qualified leaders for independence and my political engagement must be directed towards creating the conditions for so many others to assert themselves, most of whom come from the historical political parties.</span><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">I still prefer to paint and to write, for at least these aclivities will give me enough time and the material conditions to build a ‘palapa* (traditional palm house) as my home.</span><br /><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms;">Until then, I wish to reaffirm to the People that their difficulties and aspirations are, as they always have been, my foremost concern. However, to serve the People does not have to mean that I must accommodale myself to the ambitions of the political parties. Political parties have the duty to know what is best for a People who have suffered so much and must, therefore, uphold the duty to not violate the righl of the People to live in peace, harmony and tolerance.</span><br /><br /><br /><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">Díli, 5 December 2000 </span><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">KAY RALA XANANA GUSMÂO </span><br /><span style="font-family: trebuchet ms; font-weight: bold;">CNRT/CN PRESIDENT<br /><br /><br /></span></div>Anti Malai Azulhttp://www.blogger.com/profile/15406101503082144222noreply@blogger.com