sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Mensagem de Xanana Gusmão de 07 de Dezembro de 1987 **

Mensagem de 7 de Dezembro de 1987 **

Patriotas e nacionalistas! Povo de Timor Leste!

Ao comemoramos o 12º aniversário da cobarde e vergonhosa invasão da nossa Pátria pelas criminosas forças de ocupação indonésias, todos devemos saber reflectir sobre as causas profundas desta guerra imposta ao Povo Maubere!

Tanto sofrimento, tanta morte, tanta dor já foram bastantes para concordarmos que é tempo mais que oportuno para varrermos definitivamente os obstáculos que ainda contribuem para prolongar esta penosa situação.

O dia 7 de Dezembro de 1975 não apareceu por acaso. As causas próximas foram o contra-golpe levado a cabo FRETILIN com o posterior total controle da situação; todavia, os motivos remontavam-se a uma base política que seria, ela mesma, o ponto noddal da história destes doze anos de guerra. Desde que a FRETILIN assumira uma ideologia de esquerda "tornou-se" positivamente numa ameaça potencial aos interesses estratégicos dos poderosos.

Hoje, mais do que nunca, os mais variados problemas que nos acompanham, surgem com matizes demasiados negras no horizonte de esperança da nossa luta! Os sofrimentos destes doze duríssimos anos abriram feridas profundas no nosso corpo e na nossa consciência de patriotas e de filhos de Timor Leste! Muitas perguntas emergem exigindo respostas e muitos pontos de vista surgem requerendo solução, o que reflecte a inquietação e ansiedade de todos… enquanto o tempo roda e nos arremessa, com a própria violência da guerra, a novos tempos sempre e cada vez mais difíceis.

Para alguns a abnegação na certeza de estarem defendendo uma justa causa renova-se com o seu próprio suor- estes aceitam a morte como condição da sua Luta, como sacrifício exigido pela Pátria! Outros assustaram-se imediatamente com a mínima pressão do ocupante e preferiam engordar-se com o "super-mi" indonésio, desde que foram beneficiados com umas rupias de consolação para promoverem a pseudo defesa de uma identidade qualquer e pregar que o povo sofre por causa da guerra, enquanto se vão escudando nas sua vestes brancas de cobardia que os afastou definitivamente deste mar de suor e lágrimas que afundam o nosso Povo! Os restantes interrogam-se sobre um futuro (que não só se avizinha como cada vez mais se afasta) especulando vitórias fáceis ou retraindo-se sob o espectro de um fim demasiado doloroso! E enquanto uns vivem a actual situação sob a óptica do inimigo que continuára a fazer o que pode e o que quer, outros procuram manter ainda o que possuem de força política e moral para poderem pensar pelo menos que morremos todos, abandonados por todos, mas MORREMOS DE PÉ, como se exprimiu muito objectivamente o mui querido Monsenhor Martinho Lopes!

Enfim, Patriotas de Timor Leste!

Doze anos de uma imensa e ininterrupta actividade das forças ocupacionistas sobre as gloriosíssimas FALINTIL e doze anos de brutal repressão sobre o heróico e indefeso Povo Maubere, actuaram profundamente sobre a nossa consciência e sobre o nosso pensamento, acentuando a nossa fragilidade e a nossa pequenez e devolvendo-nos os nossos próprios esforços.

O povo de Timor Leste deu sobejas provas do seu elevado patriotismo, deu largas provas da sua determinação, provas da firmeza de princípios que sempre o nortearam na sua Luta, da audácia de opções que o conduziram a uma resistência tão tenaz à ocupação militar indonésia. Mas, nesta longa e difícil caminhada, muitos extenuados; não é porque lhes falte o desejo de ver a Pátria Libertada mas porque se lhes diminui a força moral para manterem a cabeça erguida. Isto não é mais que o resultado do próprio prolongamento da guerra, não é mais do que sinal do enfraquecimento moral perante as enormes dificuldades que foram e continuam a ser uma constante irremovível na nossa resistência contra a ocupação estrangeira da nossa Pátria.

Todavia, doze anos depois, o Povo de Timor Leste é quem não vergou a sua consciência maubere e, esmagado na sua própria fraqueza, continua, na calada de repressão inimiga, a conservar intactas as supremas e legítimas aspirações por que se bateu!

Patriotas e Nacionalistas! Povo de timor Leste!

O dia de hoje merece uma devida reflexão, merece uma melhor clarificação do pensamento, merece uma reanálise da orientação política assumida até hoje. O dia de hoje deve poder marcar nesta denodada resistência de doze anos, um novo e significado sinal de mudança de posturas. Se bem que quaisquer mudanças podem ser tomadas como expressão da nossa própria debilidade, desejamos apenas aclarar que elas podem ou devem sobretudo revelar a percepção que detemos agora sobre a realidade, isto é, devem poder afirmar que nos tornámos, enfim, mais realistas!

A realidade de que nos apercebemos não é já a capacidade esmagadora das forças ocupacionistas; a realidade; a realidade de que tomamos contacto não se limita já à constante negação aos nossos direitos nem essa realidade se circunscreve à nossa incapacidade, em todos os planos, de fazer face à conspiração internacional!

A realidade de que falamos nunca se apartou, num só momento que fosse, do indiscutível patriotismo do Povo Maubere, um povo pequeno e indefeso, oprimido e esquecido, mas que não se vende ao "programa de desenvolvimento" com que Jacarta se esforça por comprar a anuência da comunidade internacional para favorecer assim a aneação criminosa e pela força de Timor Leste! Essa realidade é apenas um componente de singular importância da Luta do Povo de Timor e coloca-se no plano ideológico.

É essencialmente sobre este ponto que me debruçarei mais adiante e constitui o teor desta mensagem de Luta!

Patriotas e Nacionalistas! Povo de Timor Leste!

A) Cometemos demasiados e enormes erros políticos que não podemos, após doze anos longos e duríssimos anos de uma guerra, condenada a não ter fim para permitir o desinteresse e esquecimento da Comunidade internacional, alhearmo-nos simplesmente deles e, muito menos, deixarmo-nos de considerá-los sobretudo nas suas consequências.

Logo desde o início, a Direcção da FRETILIN padeceu de um estrondoso infantilismo político que procurou desafiar o mundo, obsecada das nossas "capacidades" não existentes. Em nenhuma altura, foram consideradas as relações conjunturais tanto da área como com o resto do mundo e nos presumíamos, desde então, "heróis" de uma revolução sangrenta, de uma revolução popular que levaria de avalanche todas as forças contrárias.

Os nossos antecessores viam no marxismo a "solução imediata" para os problemas de um povo incrivelmente subdesenvolvido. Os nossos antecessores olhavam pelo maoísmo uma senda fulgurante para um processo revolucionário de "portas fehadas" que "surpreenderia" o mundo com as "inegáveis capacidades criadoras" de um povo ainda remetido como está a métodos artesanais de produção.

Estávamos, na verdade, embalados com um fantasioso processo revolucionário já apelidado de "mauberismo". Esse infantilismo político e impensado aventureirismo, que guiaram o Movimento desde 1974, não permitiram margem alguma para desprezarmos, já na altura, todo o extremismo político que seria, dali em diante, a nossa própria sentença.

Só esse insensato radicalismo que, não atendendo às nossas próprias condições concretas e às circundantes, nos tornou intoleravelmente prepotentes, levou-nos a tomar muitos compatriotas no mesmo pé de igualdade com o criminoso agressor da pátria! Cometemos crimes contra os nossos próprios irmãos e, perante uma guerra difícil, perdemos mais tempo a prender e assassinar compatriotas do que a pensar efectivamente numa defesa capaz da Pátria, cujos resultados se tornaram, por si só, evidentes em 1978!

B) Nós próprios, que só viemos a aprender o marxismo nas montanhas de Timor Leste, fomos influenciados por uma frenesim revolucionária que nos levaria a materializar o sonho dos antecessores: criar um partido marxista-leninista na RDTL!

Com o desenvolvimento da própria situação e com a gradual compreensão de que o verdadeiro problema de fundo era o problema político interno que permanecia no nosso pensamento e na nossa acção (tendo-nos até permitido ainda em 1982, elevar aos ares vozes sumidas de um processo revolucionário, posto em causa tanto pelo Ocidente como pelo Leste), procurámos, também gradualmente, abarcar toda a situação na sua complexidade.

Entretanto, já aí, a nova Direcção da Luta considerou que era uma obrigação política proceder a uma mudança de comportamento, embora permanecesse alimentando o mesmo radicalismo no plano da ideia. Em 1984, porém, a Direcção da Luta teve que reconsiderar que a criação de um partido marxista só exprima, na prática, maior endurecimento das posturas anteriormente adoptadas, pelo que o criado "Partido marxista-Leninsta FRETILIN" deixou prática e definitavamente de actuar como organização partidária viva, cedendo de novo a capacidade de conduzir o processo de libertação da Pátria à FRETILIN, como movimento nacionalista não necessariamente comunista!

Era já pensamento nosso esvaziar da Luta toda a carga superior à capacidade dos nossos ombros de transportar! No ano passado numa mensagem dirigida á Comissão da UDT, em Lisboa, procurámos fazer ver a todos que as gloriosíssimas FALINTIL estariam fora do jogo político-partidário, afirmando por isso que as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste no futuro não permitirão a qualquer partido político subverter a ordem estabelecida e instaurar um regime à sua conta pela via de supressão de outros. Quisemos fazer entender também que as FALINTIL só terão uma sublime missão a cumprir: a defesa da Pátria de todos nós e a manutenção da ordem interna, instaurada por uma constituição que proclame a defesa pelas liberdades individuais e colectivas e o respeito pelos interesses de todos os cidadãos e camadas sociais de Timor Leste. Para que as gloriosas FALINTIL possam vir a cumprir plenamente a sua missão dentro da estrutura do governo, seja qual dor a tendência política do executivo, necessário se tornava afirmar desde já a neutralidade das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste!

Não sendo os verdadeiros mentores da criação do "PML-FRETILIN", porque demos apenas seguimento a um processo que recebêramos dos antecessores, devemos dizer que, na altura, estávamos ainda deslumbrados com a visão de um milagroso processo de redenção da humanidade, que a "humanidade" fechada os olhos à exterminação do Povo Maubere no genocídio levado a cabo pelas assassinadas forças de ocupação indonésia.

Tomámos demasiado tarde consciência disso e este facto deveu-se somente a uma mais que evidente inexperiência política; hoje não nos consideramos plenamente capacitados neste campo, todavia, o que podemos afirmar é que já podemos ver com outros olhos e compreender mais objectivamente a realidade. E esta realidade só podia ou só devia reflectir

1) Antes de tudo, reconhecimento dos grandes erros de condução do Processo de Libertação da Pátria, cometidos pelos nossos antecessores;

2 ) Logo a seguir, o "mea culpa" dos nossos próprios erros de análise, que nos remeteu ao mesmo nível do infantilismo político dos nossos antecessores;

3) E, depois proceder à correcção gradual dos procedimentos políticos anteriormente adoptados;

4) Para, finalmente, extirpar toda e qualquer tendência de nos mantermos amarrados a um sistema amarrados a um sistema rígido de concepções sobre a Luta do nosso Povo!

Patriotas e nacionalistas!

Ao longo dos últimos nove anos de guerra, pudemos verificar nós próprios, com maior evidência dos factos, que o patriotismo do povo de Timor Leste não é nenhum produto ocasional do "25 de Abril" em Portugal compreender mais profundamente que esta noção, este sentimento, é qualquer coisa viva que vejo sendo transmitida de geração em geração, sempre evocada anualmente nas suas festas tradicionais que o colonialista português designava por "estilos" e, pelas quais, o nosso Povo era obrigado a pagar licença mas que hoje nem pode fazê-lo.

Se o mundo ainda concebe que, sob a Direcção da FRETILIN, o Povo de Timor Leste tem vindo a resisitir com uma bravura incomparável e com uma indesmentível entrega de si mesmo, isto foi porque estava ou está impulsionado pela ideologia comunista, devo declarar que não é verdade, não se negando todavia os efeitos benéficos de carácter de Liberdade e expressão usufruída e de democracia, que permituiu a todos reconhecer quão profundo era e depois se tornou muito mais evidente o fosso político que existia com relação ao período colonial português e sob o jugo da ocupação militar indonésia. Não negamos que, na difícil situação que se seguiu à perda das "Bases de Apoio", nas montanhas, foram os princípios e métodos de organização assumidos pela FRETILIN, que permitiram as necessárias condições políticas básicas para reavivarmos a chama da resistência, quase a desaparecer no plano da oposição armada.

Nenhum povo lutou, até hoje em dia, sem uma Direcção e sem os mínimos moldes de organização. Nas condições em que se processava e se processa a resistência Maubere, a FRETILIN, por obrigações políticas que determinaram o surgimento da ASDT, devia, como fez, colocar-se à testa do Povo de Timor Leste na defesa da Pátria!

Como muitos, até dada altura e mesmo como membro do Comité Central da FRETILIN, participámos na Luta sob o ideal da Independência Nacional, que procurámos vincar na última mensagem alusiva a 20 de Maio deste ano! Desde os princípios de 1976, na onda de depurações com massacres a muitos nacionalistas (depurações que se estenderam até 1978), também a muitos se colocou o dilema de ou ser contestatário para ser preso e assassinado como reaccionário e traidor da Pátria ou optar pela política de seguidismo, já que o espírito de combate na defesa da pátria era a motivação política e moral para não aceitarmos morrer como outros tão horrorosamente!

A supressão de toda e qualquer outra opção política acabou por criar, no nosso seio, divisionismo fatal e um receio notório, em todos os níveis da estrutura organizacional, de se exprimirem mais livremente" acerca dos pontos de vista errados dos membros do Comité Central, que se remetiam a esclarecimentos extenuantes sobre preceitos marxistas enquanto a prática de fazer a guerra estava entregue ao espírito de iniciativa, mais ou menos descontrolado e inconsequente, de comandantes de pelotões e de companhias - tendo sido este o tom negativamente geral do período das Bases de Apoio. Fazer revolução, que era a nossa própria condenação, numa guerra que não podíamos suportar, era a demonstração clara da cegueira política.

O Ocidente coloca-se ao lado da Indonésia enquanto os países do Leste não mexeriam um dedo, chamando-nos, com toda a certeza, de desmedidos aventureiros!

Doze anos depois, temos que reconhecer com amargura os efeitos que uma estratégia política mal traçada proporcionou ao Povo Maubere e o levou à desastrosa situação a que ainda ninguém conseguiu pôr fim!

Nós viemos reconhecendo, ao longo destes anos, que o que move o povo de Timor Leste à Luta não é fazer uma Revolução nem em grandes nem pequenas proporções- o objectivo do Povo Maubere é libertar a Pátria da ocupação estrangeira para poder viver livre e independente. O Povo Maubere só aspira a liberdade, só aspira a sua independência como condição básica para exercer os seus direitos, para viver ele mesmo como ele é, como ele pensa e como ele age. Por isto tudo quanto disse:

  1. Eu declaro publicamente a minha total e convicta rejeição a teorias que promovam supressão das liberdades democráticas em Timor Leste!

  2. Eu declaro publicamente que as FALINTIL ASWAIN não permitirão que se instaure em Timor Leste um regime de esquerda que não só venha a provocar mutilações internas como desestabilize toda a área em que Timor Leste está inserido.

Sempre viemos lutando sob a bandeira de FRETELIN e, ainda sob ela, lutaremos até ao fim! O que eu pretendo realçar é que, como membro do Comité Central da FRETELIN, estou ao abrigo dos requisitos do próprio Movimento que engloba indiscriminadamente diversas opções políticas. Porém, a Constituição preceituará a total neutralidade das Forças Armadas.

Hoje em dia, pensarmos em fazer revolução é suicidarmos-nos insensatamente; hoje em dia, pensarmos em termos de erguer o comunismo como a fogueira que se ateia na pradaria é iludirmo-nos não só com o falhado ostracismo chinês como elevarmo-nos em bicos de pés para nos equipararmos aos países do Leste. Já vimos assim que no estertor da nossa própria agonia, continuávamos cegos arranjando mais inimigos, enquanto os ditos "aliados naturais" se quedavam ao silêncio das suas revoluções.

O objectivo último que perseguimos é Libertação da nossa Pátria e a independência para o nosso Povo! Nada mais desejamos quando aceitamos todos estes sacrifícios que a guerra colocou perante nós. Nós não ambicionamos nem glórias nem poderes, porque estamos plenamente conscientes das nossas extremas limitações - a única ambição que possuímos é a de garantir ao Povo Maubere, pela Libertação da Pátria, o exercício dos seus direitos fundamentais, como Povo e como ser humano, dentro da Comunidade do Mundo Livre!

Patriotas e Nacionalistas!

A guerra continua tremendamente dura, tremendamente difícil! Para aumentar mais ainda as nossas dificuldades de resistência, o bárbaro ocupante já dispõe, em cada concelho, de mais de um batalhão de naturais armados, denominados "SAKA".

Eu sei que, sob a ameaça e repressão inimigas, ninguém pode isentar-se de ser mobilizado, porque constitui uma questão de vida e de morte aceitar ou recusar a pegar em armas, contra os seus próprios guerrilheiros.

Muitos "SAKA" já morreram, muitos morrerão ainda, deixando órfãos e viúvas das quais, os ocupacionistas procuram imediatamente aproveitar-se. O ocupante da nossa Pátria não se perturba em utilizar todos quantos podem agarrar em armas para apoiar os seus vinte batalhões que actuam em Timor Leste! O bárbaro ocupante está apostado em exterminar as gloriosíssimas FALINTIL!

Hoje, 7 de Dezembro de 1987, Benny Murdani ainda não pode afirmar que acabou de vez com a resistência armada mas sempre estamos conscientes de que Jacarta pode continuar a perseguir o seu objectivo!

Os valorosos guerrilheiros do Povo Maubere continuam em pé, aceitando a sua própria exterminação e não se renderão! Aceitamos de cabeça erguida o desafio de Jacarta para o próximo ano - e sabemos que continuaremos a morrer mas… morreremos de pé.

Exigimos a Portugal que assuma, de vez, a hombridade política necessárias a fim de, no quadro das obrigações que a sua Constituição confere e no âmbito das resoluções da ONU, concernentes ao caso de Timor Leste, promova um novo enquadramento no diálogo com a Indonésia sob a mediação da ONU, processo em que devem estar presentes os representantes do Povo Maubere.

Apelamos aos governos da Austrália e da Nova Zelândia para reconsiderarem a sua posição e beneficiarem o Povo de Timor Leste de uma atitude mais compreensiva e justa, na mesma medida em que o caso da Nova Caledónia mereceu uma especial atenção destes dois governos.

Apelamos ao governo dos EUA assim como aos governos da Europa Ocidental no sentido de não mais considerarem Timor Leste uma potencial ameaça à estabilidade da área, pois que nos comprometemos desde já a impedir que tal aconteça, pelo que pedimos para favorecerem o Povo maubere com uma postura que o leve a encontrar a paz e a sua independência.

Apelamos aos países do Movimento dos Não-Alinhados para considerarem que apoiar a justa Luta do Povo Maubere é garantir ao próprio Movimento ideoneidade e pujança políticas que salvaguardarão os princípios adoptados em Bandung.

Apelamos aos Povos do Mundo inteiro para se sensibilizarem com o sofrimento do Povo de Timor Leste, nestes longos e duríssimos doze anos de uma guerra de genocídio, promovida pelos assassinos ocupantes da Pátria. E pressionarem os seus governos a reverem as suas atitudes perante o problema de Timor Leste.

PÁTRIA OU MORTE!

RESISTIR É VENCER!

A LUTA CONTINUA EM TODAS AS FRENTES!

Quartel-General do Conselho Revolucionário de Resistência Nacional, em

Timor Leste, aos 7 de Dezembro de 1987.

A Presidência do CRRN

a) Kay Rala Xanana Gusmão

Cmdt-em-Chefe das FALINTIL


** Nota explicativa -- Esta mensagem de Xanana Gusmão pressagia a viragem ideológica da Resistência Timorense. A FRETILIN, que tinha surgido como uma frente nacionalista abrangente, não ideológica, foi assumido posições cada vez mais doutrinárias com a chegada a Timor Leste, em Setembro de 1974, de estudantes universitários timorenses influenciados pelas doutrinas e slogans maoístas de então. Abílio Araújo e a sua esposa, Guilhermina Araújo, esta portuguesa, ambos estudantes de Economia, António Duarte Carvarino, estudante de Direito e Vicente Sa'he, estudante de Engenharia, foram os responsáveis pela radicalização ideológica da FRETILIN e a sua transformação em "Partido Marxista-Leninista". A criação do PML tinha sido decidida em 1977, mas só ganhou forma oficial em 1983. Abílio foi eleito Secretário-Geral.

Título: Xanana Gusmão
Autor: Xanana Gusmão
Editora: Edições Colibri, 1994
Pág. 83 a 92