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Estimados leitores
Desculpem, não ter podido fazer uma revisão ao que foi escrito na semana passada, e havia umas gafes ortográficas, falta de nomes como do Senhor Lucas, membro do Comité Central, do Grupo de Rai Los, UNMIT, em vez da UNOTIL, etc..
A continuação de hoje é sobre os pontos do n.º 4, que não foram examinados por mim, na semana passada, e são:
vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo
ix) assim, deixar pairar um sentimento de injustiça e de ilegitimidade governativa
x) no cômputo geral, provocar a crise de Liderança a todos os níveis, decepando-a da nação, induzir a quebra de autoridade do Estado e a hipoteca da soberania
vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo
1. Quando analisamos um processo em desenvolvimento, isto é, analisamos um processo no seu fenómeno de crescimento, podemos encontrar fases bruscas de mudança que ressaltam aos olhos e nos pedem uma indagação, nem que seja por questões de curiosidade... perceptiva. O desejo de indagação provém da necessidade de responder aos porquês que surgem à nossa cabeça, sobre essa mudança.
Mesmo em fenómenos da natureza, tentamos sempre buscar uma explicação, se não científica, que pelo menos, satisfaça a nossa vontade de olhar e compreender as coisas. Quando se trata de fenómenos sociais, as coisas são um bocado mais complexas, mas por essa razão, as análises têm que ser ‘exaustivas’ quanto possível, para não cairmos no subjectivismo das nossas (in)conclusões, como normalmente acontece aos que analisam para seu próprio contento. E quando se trata de fenómenos políticos, eu diria que não é tão complicado assim, porque a medida normalmente é entre o que se pensa serem princípios, serem valores, e o que se faz, se pratica, em termos de defesa desses princípios e desses valores (- isto... é na minha pobre opinião, de uma pessoa que não percebe nem aprendeu política, a não ser o Manual Político da Fretilin, de 1975 a 1985).
Com a crise, aparecem pessoas, como eu, a tentar dar um ar da sua graça, como pretensiosos decifradores da Constituição, numa ousada aventura de nos colocarmos em bicos de pés, para parecermos mais altos, mais competentes, do que as distintas pessoas que escreveram essa Constituição, durante a Assembleia Constituinte! Com a crise, um pedaço do nosso mundo tem vindo a proclamar, alto e bom som, o ‘estado de direito democrático’, como o fino menú na sua ... invariável... linguagem política! E o termo ‘estado de direito democrático’ é ‘despejado’ sobre todo o resto do mundo, como a arma fundamental da defesa da Constituição, que eles escreveram e só eles entendem!
Mas, como disse, em análises do desenvolvimento político de uma sociedade, uma coisa é clara: se há compromisso, na prática, para com os valores e princípios que sabemos recitar, ou se não há! O ‘se não há’, é no sentido de, que não praticamos, que vamos violando, que vamos simulando respeito, que vamos enganando, que vamos aproveitando as oportunidades para distorcer o sentido e a essência desses princípios e desses valores.
Em todas as sociedades, é sempre muito mais fácil ‘conhecer-se’ um mau político, um político ambicioso, um político desonesto, um político arrogante, um político corrupto, um político insensível, em suma, os políticos que pensam que os governados ...são todos uma cambada de cegos, de iletrados, de pobretanas de espírito... como eles, esses políticos e governantes, às vezes são! Ainda bem e graças a Deus, que isto não acontece aqui no nosso Estado... de direito democrático, onde as pessoas são honestas e vão à missa, todos os domingos!
E, normalmente, nessas sociedades de ‘direito democrático’, o dom de interpretação, daquilo que eles próprios escrevem, é pertença, é património, é patente desses sumos e das sumas - (não se trata aqui de nenhuma mixórdia frutícola, que sabemos importar, nem daquelas obesidades humanas que, em Japão, ganham muito dinheiro a empurrar uns aos outros)! Ser ‘sumo’, aqui, é pertencer ao nível mais alto que deve ser reconhecido aos políticos de relevo, quanto mais não sejam, históricos, com experiências do além do mar... que nos cerca! Nisto, eu curvo-me, perante a suma sapiência dos doutores do CCF e seus afins!
No processo de desenvolvimento do ‘histórico partido’, salta-nos aos nossos assombrados olhos uma particularidade muito importante: no Congresso de Maio de 2006, foi expressa pelos Organizadores do Congresso, a vontade de modificar o mecanismo das eleições, de voto directo e secreto para o de braço no ar. E que, para essa possibilidade se tornar real, bastava que 10% dos delegados ao Congresso aceitassem. Inquestionável, tanto no que respeita à vontade da alteração quanto aos votos pela alteração!
Antes de aparecer a Lei dos Partidos, o I Congresso do Partido optou pelo voto secreto e directo, dando um magnífico exemplo político na questão de direitos dos cidadãos e democracia. A Lei dos Partidos é feita, por eles, aprovada pela maioria deles, e todos nós aplaudimos a defesa dos princípios democráticos. E a Lei foi publicada... mas para regular os outros partidos.
O que nos espicaçou a curiosidade, de meros observadores, é do porquê dessa mudança! Porquê, de repente, houve a necessidade de alterar os Estatutos do Partido? Existem outros factores de relevância que, se tivessem sido tomados em conta, não advogariam pela alteração dos Estatutos. 1-A Fretilin provou, nas eleições para chefes comunitários, que têm não só bases sólidas em todo o território, mas que os quadros do Partido trabalharam intensa e intensivamente nessa consolidação. 2 -O Partido tinha já o Governo, tinha a maioria dos funcionários, tinha os administradores de Distrito e dos sub-distritos, tinha a maioria esmagadora dos chefes de suco, conselhos de suco e chefes de aldeia.
Qual foi a necessidade de alterar o mecanismo de voto?
A) Será que os dirigentes máximos do Partido não acreditavam na estrondosa vitória, nas recentes eleições para chefes comunitários?
B) Será que os dirigentes máximos do Partido não apreciaram o incansável trabalho, a profunda dedicação e a inexcedível entrega dos quadros médios e inferiores do Partido, que permitiram essa retumbante vitória? E esses quadros médios foram os... delegados ao Congresso!!!
C) Ou será que o grupo da mudança era uma séria ameaça?
D) Ou será que os delegados ao Congresso não eram pessoas para se confiar?
E) Uma última pergunta seria: Será que os líderes máximos do Partido histórico estavam já a ver, dentro da Fretilin, ‘algum plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, ‘com acções próprias de uma conspiração muito bem urdida e bem executada’... ‘decepar a Liderança’?
E, para isso, houve a absoluta necessidade de se fazer uma ‘pressão política’ sobre os ‘servidores do Estado’, que constituíam a maioria dos Delegados? Politicamente, chama-se a isso: insegurança! Politicamente também, se pode chamar a isso: medo de perder, em competições com meios honestos.
Mas, o mais intrigante para a nossa diminuta capacidade de voar para as mesmas alturas de análise... dos sumos e das sumas, é o Estatuto ‘plasmar’ que ‘de futuro, as eleições para Presidente e Secretário-Geral’ virem a ser por voto directo e secreto dos militantes. Como, neste País, ninguém sabe do seu próprio futuro, podemos aventar que no III Congresso do Partido histórico, em 2011, haverá uma outra alteração histórica aos Estatutos do Partido histórico. Porque, a conclusão a que podemos chegar é a de que os Estatutos podem ser modificados, segundo as necessidades de momento.
Assim, na pobre compreensão deste humilde servidor do Estado (servidor, porque recebe dinheiro do Estado), quando a Lei diz que ‘os titulares de todos Órgãos da Direcção serão eleitos, por voto directo e secreto, pelos filiados ou pela assembleia que os represente’:
a) Voto directo e secreto pelos filiados, é o que os Estatutos da Fretilin dizem: ‘De futuro, as eleições... serão por voto secreto e directo dos militantes’ e,
b) como regra democrática básica, o voto directo e secreto ‘pela assembleia que represente’, seria no II Congresso de Maio de 2006. Costuma-se dizer que ‘não há regras, sem excepções’, mas esta excepção de ‘braço no ar’ não estava nem implícita na Lei dos Partido políticos, porque dizia respeito às regras democráticas fundamentais. Os Estatutos aprovados, no Congresso de Maio de 2006, tornaram peremptória, explícita, esta ‘excepção’... às regras democráticas básicas... de voto directo e secreto.
Por isso, eu argumentei a ‘favor da ilegitimidade da sua liderança’! Todos sabemos que o Tribunal de Recursos argumentou a favor da legitimidade da Liderança da Fretilin, decisão a que me curvo com respeito pela independência,idoneidade e imparcialidade deste Órgão de Soberania, nesta República Democrática. Eu, Kay Rala Xanana Gusmão, sou um cidadão livre que expresso as minhas opiniões, desde que o meu pobre raciocínio seja molestado por atrivos de desonestidade dos actos políticos de órgãos de soberania.
2. Fui eu quem desferiu esse golpe! Ainda bem que os ilustres doutores do CCF classificaram de ‘contundente’, porque realmente eu até duvidava se a mensagem levava algum peso político. Agora, fico satisfeito, porque foi... contundente!
Os senhores doutores do CCF esquecem-se de que nós, os outros, vivemos em Timor, desde 1974! E os senhores doutores, uns já estavam fora a estudar ainda, outros foram uns dias antes do 7 de Dezembro de 1975! E só voltaram em fins de 1999! Eu conheço alguns que, em 2001, foram chamados a fazer parte do Governo de transição e a resposta foi de ‘só regressaria/m, se fosse/m ministro/s!’
Não sabem, coitados, que o povo percebe as manobras políticas dos políticos! Para o Povo é também... uma experiência histórica de 24 anos! Mas o mais desolador é o facto de muitos veteranos e históricos, que andaram a resistir (se andaram!) durante 24 anos, em Timor-Leste, tivessem pura e simplesmente esquecido os sofrimentos e os sacrifícios de todo o Povo.
Ficaram encantados com o poder! O ‘Partido no poder’ garantiu-lhes, a cada um, a migalha do poder. Podem mandar, podem ter condutores, podem ser respeitados, podem ser importantes, podem ter bisnis! E é incrível: esses, que sempre estiveram cá dentro, não têm ideia de que o Povo acompanha os seus passos, o povo analisa a sua trajectória política (que faz saltos impressionantes), o povo percebe os seus sonhos e segue as suas ambições, tanto individuais como colectivas em termos de Partido.
O Poder cega! – é um ditado antigo, e porque é antigo, tem a garantia histórica da irrefutabilidade! O ‘Partido no poder’ cegou as pessoas, pelo menos num sentido! Essas pessoas só sabem olhar para outros, porque ficaram impedidas, pela disciplina partidária, de olharem para si mesmas!
O ‘Partido no poder’ concebeu um conceito revolucionário: O Governo é o Partido, o Estado é o Partido! O Partido no poder tem que ser forte, porque só assim, o Governo é forte, e só assim o Estado é forte! E o Partido no poder só pode ser a Fretilin, porque é histórica!
Senhores doutores do CCF! Não brinquemos a politiquices de bem-me-queres e mal-me-queres, pensando que o resto dos timorenses não sabe olhar para mais de um palmo do nariz. O Povo desdenha os belos ‘narizes afunilados’ de sobranceria intelectual e o povo fica impressionado com outros narizes, e são em maior número, que só cheiram posições e... não fazem muita coisa, em resposta à confiança política, que se lhes emprestou. Não trabalham, porque trabalham para o partido!.... Estão no poder ou, no mínimo, sentem que pertencem ao ‘partido no poder’ e eles todos vestem a história, na sua pele!
Estimados leitores
Eu sei que os ilustres doutores do CFF tomaram a minha ‘Mensagem à Fretilin’, como o ‘golpe contundente’ que desferi ‘ao partido no poder’. A responsabilidade é TODA MINHA!
A minha Mensagem foi para dizer aos timorenses que todos devemos respeitar, isto é, não distorcer o longo e difícil processo político histórico que teve lugar em Timor, depois do 25 de Abril de 1974. No diálogo de Alto Nível, realizado em 22 de Novembro, no Hotel Timor, um participante teve a ligeireza do pensamento de recordar o processo político da história recente de Timor. E falou de conflitos, citando o de 1975, o de 1977 e o de 1984.
Ele não foi profundo nessa análise, porque um analista não indica apenas os acontecimentos como se de uma contagem numérica de eventos se tratasse. Um analista indica os motivos, as razões, as causas e foi isso que faltou ao analista, que teve a amabilidade de me proporcionar mais este pormenor, para hoje juntar aqui.
1 - O conflito de Agosto de 1975, foi político e que descambou em militar, porque só, com armas, se podia impôr os objectivos políticos e ideológicos. Foi provocado pela UDT, motivada pela necessidade de contêr o esquerdismo revolucionário da Fretilin. A ASDT foi criada em Maio de 1974, os jovens universitários em Portugal, envolvidos com o MRPP e ideologicamente marxistas, por influência da situação política de então em Portugal e sobretudo das lutas de libertação na África, voltaram a Timor e ‘pressionaram’ pela mudança, em 11 de Setembro ainda de 1974, da ASDT para Fretilin, onde a palavra ‘revolução’ era a moto da luta!
A UDT, anunciou na meia-noite do dia 10 de Agosto de 1975, o ‘GOLPE REVOLUCIONÁRIO ANTI-COMUNISTA’! A bandeira era o ‘anti-comunismo’.
2 - O conflito de Julho de 1977 não apareceu por si mesmo, como que de repente. Eu fui membro do Comité Central da Fretilin e participei em todas as reuniões do CCF, desde Março de 1976. Para se compreender o Julho de 1977, não se deve perder de vista as outras duas reuniões, onde se via o distanciamento entre os militares e os civis/políticos e do Presidente da Fretilin dos restantes membros da DOPI (Departamento de Orientação Política e Ideológica), que eram os membros do Comité Central mais seniores, os que percebiam da política e, sobretudo, tinham decoradas, na boca, as máximas doutrinárias para impressionar os outros.
O Senhor Xavier do Amaral foi enxovalhado, ideologicamente, na reunião de Soibada, de Maio de 1976, onde se organizou a Resistência Político-Militar, em termos estruturais e de comando, tanto no campo político como sobretudo no militar. Em Maio de 1977, para a Reunião de Laline, ele, Senhor Xavier do Amaral não quis pura e simplesmente aparecer, para evitar estar presente na Declaração pelo Comité Central da Fretilin, de que a Ideologia da Fretilin seria a partir dali, o Marxismo-Leninismo, mas de tendência Maoísta.
Depois da Reunião de Laline, teve que se ir buscar as razões que o povo podiaentender para o prender: TRAIDOR DA PÁTRIA! Não se disse ao Povo que o Xavier era anti-marxista, disse-se ao Povo que o Xavier era reaccionário e, portanto, inimigo do Povo!
(Na Ponta-Leste, Aquiles não era pró-integração, apenas não queria que o forçassem a ser revolucionário. O Pai do Nunura, foi espancado de tal ordem em Baguia, que perdeu a vista, ficou cego... supostamente elemento da rede do Aquiles!)
Aqui, quero lembrar a todos os que, mesmo estando mais de 24 anos no mato e eu só estive 17 anos, não tinham a mesma capacidade que eu de acompanhar o processo, porque eles não eram membros do CCF e eu era membro do Comité Central da Fretilin, desde Setembro de 1975. Na Reunião do CCF em Laline, em Maio de 1977, o Nicolau Lobato passou por uma grave crise e não aparecia nas reuniões. Felizmente, soube ultrapassar a crise e acomodou-se à Revolução! Se não fosse isso, eu posso garantir que o Nicolau teria sido também, como foi o Xavier do Amaral, apelidado de traidor. Os marxistas não aceitavam que ele, Nicolau, ainda rezasse antes de comer; os marxistas ficaram escandalizados, porque em Soibada, durante aquela semana de reuniões, às vezes o Nicolau ia à missa e comungar! E colocaram a ele, para escolher entre: ser crente ou ser marxista! Ultrapassada a crise, no dia do anúncio oficial de que a ideologia da Fretilin era o Marxismo-Leninismo, todos aplaudiram quando, solenemente, Nicolau declarou que ‘as suas plantações de café, a partir daquele dia, passariam para o Estado!’
E, portanto, em 1977, o conflito foi também ideológico mas já dentro do próprio Partido e a bandeira era ‘Morte aos reaccionários e traidores do Povo’! Por isso é que todos assistimos ao enorme ‘desmantelamento’ da rede do Xavier, imaginária, deve-se dizer! TÃO IMAGINÁRIA, COMO A CONSPIRAÇÃO QUE O CCF,do Congresso de Maio de 2006, ESTÁ A MANIPULAR!
3 -Em 1984, as causas remotas eram a inactividade das forças, a falta de planeamento de actuações, na Região Central, onde estava o Estado-Maior General das Forças e o Comando da Brigada Vermelha! O Ten-Cor. Falur e o Major Ular podem desmentir-me se, depois da saída deles de Loi Huno e de Krarás, em Agosto de 1983, se praticou uma só acção militar contra o TNI, por iniciativa nossa! Nenhuma! E foram morrendo os guerrilheiros e perdendo armas.
Quando eu passei para a Região Central, para discutir sobre a reestruturação das Forças, quem me foi receber em ....... foi o Cmdt. Mau Kalo (agora Major Mau Kalo), informando-me de que os membros superiores do Comando tinham dispersado e movimentado para a Fronteira. Sucedeu que, também imediatamente a seguir, o TNI, com vários batalhões, desencadeou uma grande operação em toda a área, que paralisou todos os nossos movimentos, por semanas.
Houve a reunião de Março, no litoral sul, onde se procedeu à Restruturação do Comando das Forças, em toda a Região Central, para se dar maior iniciativa de acção aos comandantes de companhias, a fim de se quebrar aquele clima, de descrença e desmotivação, no seio do comando e das forças. Dessa reestruturação, é que também assegurei a Chefia do Estado-Maior, ficando o (então colaborador do EMF) Vice-Chefe do Estado Maior. Acabou-se com a ‘Brigada Vermelha’, que só dava segurança ao seu Cmdt. Mauk Moruk, ao invés de actuar sobre o inimigo.
A reacção do Kilik e do Mauk Moruk, seguido depois de Olo Gari, em resposta à reestruturação, onde foram ‘despromovidos’, optou por uma confrontação ideológica entre ‘revolução e não revolução’, entre ‘marxismo e não marxismo’, porque pensaram, era a única maneira de ‘obter apoio dos guerrilheiros’, na oposição à reestruturação.
Doutra forma, em termos de operacionalidade das forças, a sua oposição não tinha bases nenhumas.
Este ‘conflito’, que foi motivado por reestruturações que tinham que ser tomadas, que não podiam ser adiadas, incluindo passar o ‘Comissário Lere’ para ‘Comandante Lere’, já que o problema era ‘cuidar das nossas forças’ vs ‘cuidar dos nossos quadros’, tomou o carácter ideológico, apenas, por conveniência dos intervenientes.
Eu aqui, quero expressar o meu total apreço aos quadros civis e militares, que de uma ou doutra forma, estiveram envolvidos em defesa da unidade das forças, desde o António Campos a Sibi Sama, desde Konis a Ruak, mas sobretudo ao Cmdt da Companhia Fera Lafaek, em cujo agrupamento aconteceu o drama, que felizmente não produziu uma só gota de sangue.
Conflito que não era, mas que se encapou de carácter ideológico, porque, em todo o período de cessar fogo, nas nossas reuniões, começámos a dar ideia de que o pluripartidarismo deveria ser o nosso sistema político, depois da guerra, de preferência ao monolitismo ideológico que nos fazia reféns e nos tornava inimigos uns dos outros.
ix) assim, deixar pairar um sentimento de injustiça e de ilegitimidade governativa
Peço aos estimados leitores para regressarem para a edição anterior, para verem os pontos:
vii) camuflar, tanto quanto possível, de modo a que o derrube do Primeiro Ministro não fosse entendido como um golpe mas sim um acto em conformidade com os poderes constitucionais do Presidente da República
viii) para isso, a) pressionar no sentido do Primeiro Ministro apresentar o seu pedido de demissão e b) simular respeito pela Constituição na formação do novo Governo, chamando-o mesmo de II Governo Constitucional
Portanto, o ponto ix) é fase, apenas, da estruturação analítica do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo constitucional, eleito democraticamente’. Depois daqueles actos todos cometidos , nos pontos anteriores vii) e viii), deixei pairar, na sociedade e no ambiente violento e prenhe de manifestações, um ‘sentimento de injustiça’.
Isto tudo significa que o que o Presidente da República devia ter feito era entrar, imediatamente, em compromissos políticos com o ‘partido no poder’. Teríamos resolvido tudo, imediatamente! Teria satisfeito os governantes, ao declarar que nada aconteceu de especial, que estava tudo perfeito, que o respeito pela ordem constitucional democrática estava garantido, com as F-FDTL a sair dos quartéis em defesa da Constituição e que a PNTL estava a cumprir as ordens do Ministro do Interior, para a defesa das instituições democráticas.
E o Presidente da República acrescentaria que o êxodo da população para o interior era apenas em ‘piquenique’, que as pessoas entenderam fazer, para não se envolverem em políticas. E que um esforço global do Estado... de direito democrático... era para assegurar a lei e ordem e reestabelecer a estabilidade no país.
Caríssimos leitores
Se quiserem ter a paciência de repassar os olhos para aquele ‘estado de crise’, todos podemos ver que, das instituições do Estado, só o (celebérrimo) Gabinete da Crise funcionava, já que as reuniões eram em casa do Primeiro Ministro, para além de ¬e a verdade seja dita - o Ministério de Trabalho e Solidariedade! Também só os Tribunais continuaram a trabalhar, sem interrupção, conforme o comunicado do Tribunal de Recurso, aquando da petição do grupo de mudança da Fretilin. E, felizmente para os doutores do CCF poderem incluir nas suas análises, o golpista do Presidente da República, que trabalhava para os interesses do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo constitucional, eleito democraticamente’!
Nesse compromisso político, o Presidente da República diria, ao mundo, que as instituições do Estado estavam a funcionar normalmente e o ‘partido no poder’ estava com o controle sobre tudo e sobre todos! (Eu não teria tido a carga de trabalho de ter que chamar os partidos, um por um, para apelar para retomarem as actividades, já em Junho!!!)
E tudo teria ficado sem nenhum ‘sentimento de injustiça’ a pairar nas mentes das pessoas! As lições que estou a aprender dos ilustres doutores do CCF, não me valerão muito, na medida em que só tenho uns parcos 7 meses de mandato! Mas o próximo Presidente da República terá que ser capaz de responder às exigências do ‘partido no poder’.
x) No cômputo geral, provocar a crise de Liderança a todos os níveis, decepando-a da nação, induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania.
Inteligente descrição! Isto, caríssimos leitores, não é praticar políticas de meia-tigela! Esta gesta política histórica é de primeira qualidade!
1. ‘Provocar a crise de Liderança’!!! Liderança de quê? Do Partido? Não, porque não houve mexidas, até houve reforço de Liderança, com a eleição gratuita de um Vice-Presidente do Partido! Do Estado, claro que, por medo de perder a cadeira presidencial, o Presidente da República continua a receber o seu salário! Dos Tribunais, o Presidente do Tribunal de Recurso esteve sempre activo e ninguém o incomodou! O Parlamento Nacional está tal como está, porque o Presidente do Partido recusou ser ‘Presidente da República, interino’, por vacatura do lugar, que lhe foi oferecido por mim!
Liderança do Governo... oh!, sim!, aqui está a chave do problema! Mas o Secretário-Geral do Partido devia estar mais satisfeito, porque apesar de estar em descanso temporário até Maio 2007, recebe todos os dias os seus Ministros, que vão em consulta, pelo que continua a deter os cordelinhos do processo!
De todos os níveis....! Em 31 de Agosto, tive o prazer de ir a Maubara, convidado pelo Governo, para também falar aos administradores de distritos e subdistritos e, contei, estavam todos lá, não faltou nenhum! A reunião foi frutífera, porque no dia 1 de Setembro, a Senhora Dra. Ana Pessoa, Ministra de Estado e de Administração Estatal, teve a oportunidade de anunciar: ‘Camaradas! Eu não podia dar este encontro de trabalho por terminado, se não cumpro o que prometi ao camarada Secretário Geral do Partido, que iria passar um ‘CD’ para vós verdes o documentário, que prova a inocência do nosso camarada Secretário-Geral do Partido’. E os camaradas administradores aceitaram rigorosamente a disciplina do partido e apreciaram o CD, que tinha como ‘entré’ as delícias da festa do aniversário do Rogério Lobato. Os camaradas administradores prometeram passar também nos distritos e sub-distritos, para que a população venha a saber que o camarada Secretário-Geral do Partido foi derrubado, num golpe, como Primeiro Ministro e tudo foi produto de ‘um plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ e o ‘actor interno’ principal de ‘uma conspiração bem urdida’ é o Presidente da República!
2. ‘Decepando-a da nação’! Eu cada vez sinto que tenho razão nas minhas lucubrações políticas! Com o ‘partido (ainda) no poder’, com o Parlamento ainda com a maioria constitucional automática, com o Governo, ainda cheio dessas velhas caras todas... decepou-se a Liderança da Nação!!! Como pôde isso acontecer?
A resposta é só esta: segundo os Estatutos, aprovados no Congresso de Maio de 2006, o Secretário-Geral é indigitado para Primeiro Ministro, e porque o actual Primeiro Ministro nem é membro do Partido, o Governo é inconstitucional, porque... o actual Governo não tem cabeça, isto é, não tem Chefe! O Primeiro-Ministro inconstitucional, Dr. Ramos-Horta, sabe desse problema político, porque disse no Diálogo do Alto Nível, em 22, no Hotel Timor: De todos os que estão aqui, eu sou o que menos legitimidade tenho, não fui eleito, não pertenço ao Partido eleito, fiz parte do I Governo constitucional, por generosidade apenas do ex-Primeiro Ministro!
Quem decepou a Nação da sua Liderança? Eu fui ao dicionário do ‘português escolar’, e decepar é cortar a cabeça! Eu fiz um ‘golpe constitucional’, nas palavras do Dr. Abrão Vasconcelos, eu ‘derrubei o Governo’, eu ‘simulei respeito pela Constituição’ e, portanto, eu ‘Decepei a Nação da sua Liderança’! Cortei a cabeça da liderança da Nação; mas, aquí, é preciso notar-se: a liderança é uma pessoa singular! O Secretário-Geral da Fretilin!
3. ‘Induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania’!!!
Eu sinceramente, não consigo acompanhar os ziguezagues da análise dos ilustres membros do CCF! Os estimados leitores podem todos concordar comigo, porque lembram-se bem de que o Estado esteve sempre no controle das operações. O plano operacional do Gabinete da Crise estava sendo posto em prática, no terreno, com um Chefe de Operações comandando todo e qualquer único participante dessas operações... desde o ‘dia primeiro’ ao ‘dia último’! O Gabinete da Crise estava a funcionar maravilhosamente durante toda a Crise, em representação do Estado!
Dia 24 de Maio, o Estado estava lá em Caicoli, no Palácio das Cinzas: O Presidente do Parlamento, o Primeiro Ministro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Ministro da Defesa e o Ministro do Interior! Não havia nenhuma quebra... da autoridade do Estado! Só no dia 25 de Maio, é que, RECONHEÇO, ‘induzi a quebra de autoridade’ do Governo, porque esse Governo não conseguiu, afinal, evitar que as duas instituições andassem aos tiros. Devia ter sido isso mesmo, nesse fatídico dia 25 de Maio. (Fatídico, não por aquilo que aconteceu, mas porque eu ‘induzi a quebra da autoridade do Estado’.)
Reunimos, em 24 como disse atrás, para ver se havia necessidade ou não de chamar pela intervenção das forças internacionais! Havia autoridade.. do Estado! Depois, concordámos que devíamos pedir! Havia autoridade... do Estado!
Quem hipotecou a soberania? Não foi o Estado todo? E porquê só depois se chegou a esta conclusão? Porquê não me ouviram? Eu não tinha dito que eu não concordava com pedido de intervenção de forças estrangeiras? E não tinha dito e repetido que, como Estado, devíamos saber resolver os nossos próprios problemas?
QUEM HIPOTECOU A SOBERANIA?
Só os ilustres doutores do CCF é que devem responder a esta pergunta! E eu posso ajudar: Foi o vosso camarada Presidente do Partido, Senhor Lu Olo, foi o vosso camarada Secretário-Geral do Partido, Dr. Mari Alkatiri, foi o vosso camarada Vice-Presidente do Partido, Sr. Rogério e o vossocamarada Dr. Roque Rodrigues. Eles HIPOTECARAM A SOBERANIA DO PAÍS!
Se não foram eles, eu sou o Chefão do Estado e aceito as responsabilidades: Eu hipotequei a soberania nacional, ao chamar sòzinho, os meus ‘cunhados australianos’, como um participante teve a gentileza de se referir, numa das Sessões do Diálogo do Nível Médio, no Hotel Timor.
Estimados leitores
E o documento prossegue assim: “Por isso, a crise por nós vivida resultou de acções conjugadas e próprias de uma conspiração muito bem urdida e bem executada. O objectivo central do plano de conspiração reduz-se na investida contra a liderança nacional histórica de modo a decepar a Nação da mesma e assim, induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania nacional.
A arma fundamental utilizada foi, e é, a desinformação e a contra-informação, por um lado, usando rumores, boatos e alegações de toda a natureza e, por outro, actos de violência contra pessoas e bens de modo a aprofundar o conflito intergrupais ou interregionais, falsamente entendido como inter-étnicos.”
1 - Neste palavreado barato dos ilustres doutores do CCF, se não vivêssemos em Timor, teríamos pensado que somos uma sociedade sofisticadíssima nos nossos actos, nos nossos comportamentos, nas nossas intenções. O Governo, esse tal I Coverno constitucional, sim tinha um método sofisticado de informações, utilizando o Telcom, auscultando as conversas de ‘adversários’ , implementando um mecanismo de mensagens, não sei se pagas, como qualquer outro contribuinte ou ‘grátis’ (pelo menos, muitos receberam ‘mobiles’e cartões) para se comunicarem directamente com o ‘partido no poder’.
É sabido de todos, que o ‘partido no poder’ tem utilizado as facilidades ‘do poder’ para desencadear tudo quanto, hoje, tenta acusar outras pessoas de fazer. Mas os ilustres doutores do CCF julgaram que impressionaram a sociedade com a linguagem estilizada que possuem, quando escrevem em sua defesa!!! Só posso garantir é uma coisa: podem ter impressionado os vossos doutores de segundo grau, que estão no Parlamento Nacional e no Governo, os doutores de terceiro grau que vos ‘adoram’, porque lhes destes emprego sem pedir nada em troca, sem pedir que eles trabalhem para o Povo e eles estão satisfeitos com a única missão de vos informar sobre as actividades de outros partidos políticos nas suas áreas e se os comandantes e agentes da polícia são fiéis ao vosso Partido ou não.
Sois, ilustres doutores do CCF, eleitos transparentemente em Maio de 2006, em social-política timorense, demasiado ingénuos – vós não reparais que os que dizem ‘sim’ nas vossas reuniões, fazem-no ou porque não percebem as vossas demasiado altas dissertações insossas, as quais só têm como único objectivo, reforçar a carcaça de cágado, de que vos revestis, ou porque querem assegurar os privilégios que vós concedestes a eles, fazendo-os sentir-se dentro do ‘partido no poder’. O mal destes últimos doutores, vossos camaradas, é esquecerem-se de que o povo os tem sob os seus olhos e a ‘justiça popular’ não será o enforcamento nem o ‘rama ambon’. Eles sabem disso e eu quero lembrar a eles que eles nunca se esqueçam da frase que todos, quanto estivemos aqui, em Timor, sabemos: os ‘pegawai ABS’ (‘asal bapak senang = basta que o chefe fique satisfeito’), porque eles pertencem a esta categoria de funcionários ‘abs’... do partido!
2 – ‘Contra a liderança nacional histórica’! Isto só revela que, contra tudo e contra todos, o Partido deve defender, a bem ou a mal, esse ‘estatuto’ de liderança nacional histórica! A melhor defesa deste estatuto é assumirem com clareza e transparência, os princípios e valores, por vós ‘plasmados’, na Constituição. Só necessitais desta condição, para continuares a ser ‘liderança nacional histórica’. Nunca pensem que por serdes ‘liderança nacional histórica’, nós os outros devemos aguentar com os vossos excessos, as vossas intolerâncias, as vossas manobras, os vossos erros. Vós conspirastes contra vós mesmos! Vós estais a exigir de outros uma avenida asfaltada e larga, sem obstáculos para as vossos desvairos políticos. O povo timorense não é povo que deixastes em 1975! E, vós, os doutores de segundo grau, que hoje sentis que estais ‘no poder’, porque também ‘vestis’ a camisola da história, queremos dizer apenas que as camisolas podem ficar sujas, podem ficar velhas, podem ficar rotas, quando não tomais cuidado em lavar, em cerzir os pequenos buracos. A vossa história está a ser escrita por vós mesmas, não por outros. Só conhecereis a vossa história, se fordes humildes o suficiente para reconhecer que a conspiração é vossa... sobre vós mesmos!
A etapa fundamental na execução do plano passa pela necessidade de, em primeiro lugar, desacreditar as instituições de defesa e segurança do país e dividir a liderança nacional, colocando uns contra outros.
Para dividir a Liderança usaram-se todas as armas. Deu-se a entender que a luta pelo poder era a razão fundamental do conflito. Por fim, goradas todas as tentativa anteriores, recorreu-se a alegações sobre práticas de crimes para lançar a ‘semente de desconfiança’ num terreno já de si fértil de profunda crise institucional.
Devemos diferenciar ‘a luta pelo poder’, quando não se está ainda no poder e ‘a luta pelo poder’, quando já se está no ‘poder’ e se tenta ‘consolidar’ esse ‘poder’, por quaisquer meios. Os que não estamos no ‘poder’, podemos perceber que houve ‘utilização de meios’ menos lícitos, para ‘consolidar o poder’. Mas, eu sei que estou apenas a ‘lançar’ mais uma ‘semente de desconfiança’... no ‘terreno... já fértil de profunda crise institucional’. Bom, admitem que houve já ‘profunda crise institucional’... em que instituição, precisamente, é isto que não nos foi dado saber!
Tudo isto ficou como uma simples retórica, uma simples demagogia, que servem para serem encadernados como ‘lições da história e fases de evolução histórica do Partido histórico’, para os militantes do Partido.
Não existindo crimes, eles foram criados pelos serviços de contra-informação, utilizando a média nacional e estrangeira. Como exemplo, temos o dito ‘massacre’ de Tasi Tolu, ‘os esquadrões de morte’, ‘a importação ilegal de armas e distribuição de armas pela Fretilin’, etc., factos esses que encheram páginas de jornais e tempos de antena de televisões e rádios, que invadiram as nossas mentes, mas que hoje se provaram ser absolutamente falsos.
Aqui, deixo que tanto a Provedoria de Justiça e dos Direitos Humanos e a Justiça, que se tem ùltimamente, afirmado imparcial, independente e soberana, nos seus actos, podem fazer as melhores conclusões.
Só posso fazer uns comentários sobre:
a) importação ilegal de armas – este é um assunto que compete ao Governo responder e não ao Presidente da República. Na reunião do Conselho de Estado, de 21 de Junho de 2006, interpelei o Primeiro-Ministro sobre o assunto. O Primeiro-Ministro respondeu, mais ou menos, nestes termos: ‘Quando eu soube dessa notícia, mandei imediatamente o Ministro Roque Rodrigues fazer uma investigação, mas até hoje, ele ainda não me entregou nenhum relatório sobre isso!’. Que mais é que eu posso acrescentar a isso?
b) distribuição ilegal de armas pela Fretilin – fui eu que fiz esta acusação! O Grupo de Rai Lós e o Grupo do Gleno, são os casos (mais) conhecidos. Deve-se dizer que foi
o I Governo constitucional que distribuiu ou o Partido? Os ilustres doutores do CCF definam claramente e eu pedirei desculpas, tanto ao I Governo constitucional como ao Partido histórico. A história do Partido (histórico) está prenhe destas violentas histórias, tenhamos isso em muito boa conta!
Mas, deixemos que a Provedoria de Justiça e dos Direitos Humanos e a Justiça, que ultimamente se tem reafirmado, alto e bom som, que é independente, imparcial e soberana nos seus actos poderá vir a provar. Eu estou pronto a ir à prisão, por difamação ao ´histórico Partido’.
Mais uma vez, a média, em particular, certa média australiana, teve aqui um papel determinante na acção concertada própria de uma conspiração.
Mas os objectivos dessas acções não foram totalmente atingidos. Queriam:
i. derrube do Governo
ii. a dissolução do Parlamento Nacional
iii. o controle do Judiciário, colocando todo o sistema ao serviço dos conspiradores
iv. o estabelecimento de um ‘Governo de Unidade Nacional’ e adiamento das eleições
v. a desagregação das F-FDTL
vi. a domesticação da Fretilin, colocando na sua liderança elementos mais manipuláveis
OBJECTIVOS DA CRISE, em suma! É preciso ter-se estômago para digerir isto. Caríssimos leitores, tenho andado com diarreia, nos últimos tempos. Fui ao médico e ele disse-me que não havia vírus de nenhuma espécie, era mais resultado de pressões psicológicas! Pedi um medicamento e o bom homem disse-me: ‘Resigna e o seu estômago vai trabalhar normal’! Eu vou pensar nisso muito seriamente.
Eu vou perguntar aos cientistas se o cérebro também tem estômago! Porque há pessoas que pensam com a barriga! Agora também percebo porque é que muitos timorenses, sobretudo os que governam, não resistem à tendência à obesidade... pensam com a barriga! Quando a barriga está cheia, exultam de satisfação porque ‘está tudo sob controle’, mas se a barriga ficou um bocado vazia, ‘as pessoas conspiram’.
A utilização da expressão ‘elementos mais manipuláveis’ faz rir! Nós, de fora do Partido, sentimos isso mesmo da categoria de doutores instrumentalizados de segundo e terceiro grau do ‘partido no poder’ – como constatação que temos do... resultado da fraqueza dos timorenses quando se encontram no ‘poder’. Fazem tudo para ‘poder’ manter a posição de ‘confiança política’, que mereceram por... capacidade profissional, que não têm.
Acredita-se na possibilidade da entrada em execução do ‘Plano B’ que se crê ser de acção mais selectiva de terrorismo, por um lado, e de utilização mais cuidadosa e extensiva de medidas políticas, administrativas e económicas e de justiça para reduzir ainda mais a autoridade do estado, decepar a nação da sua liderança histórica, incitar as populações para obter a sua reacção generalizada e criar um clima de instabilidade social e política de modo a declarar Timor-Leste um estado falhado e assim intervir com mais forças ainda em nome das necessidades humanitárias e da segurança regional e internacional.”
A análise terminou com a chave de ouro! Isto faz lembrar também que, no Diálogo de Alto Nível, de 22 de Novembro, no Hotel Timor, um participante colocou surpreendentemente esta questão: OBJECTIVOS DA CRISE! Sòmente, não houve causas; houve apenas Objectivos! Estamos todos a aprender e devo confessar, eu aprendi imenso: a conhecer as pessoas, a conhecer os cometimentos, a conhecer os compromissos, a conhecer o carácter, a conhecer as astúcias, a conhecer a linguagem, a conhecer os sentimentos, a conhecer as inteligências e o seu oposto, as contra-inteligências. Enfim, a vida é uma constante aprendizagem!
Em todo este pequeno trabalho, de humilde tentativa de rebate à importantíssima Análise dos ilustres doutores do CCF, fiquei sob um estado psicológico tremendo e agora, devo confessar, vivo intensamente a Teoria da Conspiração e ando sob uma pressão tão ‘contundente’ que, só me sinto livre, se afirmo assim: CHEGUEI Á CONCLUSÃO QUE A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO EXISTE E QUE EU SOU ACTOR PRINCIPAL!
Por causa disso, por esta experiência pessoal, eu posso dizer que compreendo o porquê de os ilustres doutores do CCF estarem tão certos de que havia uma ‘conspiração bem urdida’. Sabem porquê, caríssimos leitores? Eles assumem que a Teoria existe! Eles necessitam de viver artificialmente essa conspiração, porque só assim eles se ilibam de qualquer pequeníssimo reparo! Faz lembrar da história de uma pessoa do campo que veio à cidade e que, andando pelas ruas, a apreciar o movimento das pessoas, sentiu que a barriga lhe estava a dar sinal de expulsão daquilo que comera na noite anterior. Não sabia onde ir, mas era urgente tomar uma decisão, para não borrar as calças. Sentou-se na valeta próxima e fechou os olhos... sentiu-se sòzinho, livre dos olhos da multidão de transeuntes! Os nossos ilustres doutores pensam que nós, os ocasionais transeuntes da história deles, não vemos, só porque eles decidiram que não somos providos da capacidade de ver! E, em política, casos assim acontecem amiúde!
Díli, 25 de Novembro de 2006.
O Presidente da República,
Kay Rala Xanana Gusmão
Clique em baixo para ler:
A teoria das conspirações I
A teoria das conspirações II
A teoria das conspirações III
A teoria das conspirações IV
Estimados leitores
Desculpem, não ter podido fazer uma revisão ao que foi escrito na semana passada, e havia umas gafes ortográficas, falta de nomes como do Senhor Lucas, membro do Comité Central, do Grupo de Rai Los, UNMIT, em vez da UNOTIL, etc..
A continuação de hoje é sobre os pontos do n.º 4, que não foram examinados por mim, na semana passada, e são:
vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo
ix) assim, deixar pairar um sentimento de injustiça e de ilegitimidade governativa
x) no cômputo geral, provocar a crise de Liderança a todos os níveis, decepando-a da nação, induzir a quebra de autoridade do Estado e a hipoteca da soberania
vi) desferir um golpe contundente ao partido no poder, argumentar a favor da ilegitimidade da sua liderança, para criar maior margem de manobra no estabelecimento do novo Governo
1. Quando analisamos um processo em desenvolvimento, isto é, analisamos um processo no seu fenómeno de crescimento, podemos encontrar fases bruscas de mudança que ressaltam aos olhos e nos pedem uma indagação, nem que seja por questões de curiosidade... perceptiva. O desejo de indagação provém da necessidade de responder aos porquês que surgem à nossa cabeça, sobre essa mudança.
Mesmo em fenómenos da natureza, tentamos sempre buscar uma explicação, se não científica, que pelo menos, satisfaça a nossa vontade de olhar e compreender as coisas. Quando se trata de fenómenos sociais, as coisas são um bocado mais complexas, mas por essa razão, as análises têm que ser ‘exaustivas’ quanto possível, para não cairmos no subjectivismo das nossas (in)conclusões, como normalmente acontece aos que analisam para seu próprio contento. E quando se trata de fenómenos políticos, eu diria que não é tão complicado assim, porque a medida normalmente é entre o que se pensa serem princípios, serem valores, e o que se faz, se pratica, em termos de defesa desses princípios e desses valores (- isto... é na minha pobre opinião, de uma pessoa que não percebe nem aprendeu política, a não ser o Manual Político da Fretilin, de 1975 a 1985).
Com a crise, aparecem pessoas, como eu, a tentar dar um ar da sua graça, como pretensiosos decifradores da Constituição, numa ousada aventura de nos colocarmos em bicos de pés, para parecermos mais altos, mais competentes, do que as distintas pessoas que escreveram essa Constituição, durante a Assembleia Constituinte! Com a crise, um pedaço do nosso mundo tem vindo a proclamar, alto e bom som, o ‘estado de direito democrático’, como o fino menú na sua ... invariável... linguagem política! E o termo ‘estado de direito democrático’ é ‘despejado’ sobre todo o resto do mundo, como a arma fundamental da defesa da Constituição, que eles escreveram e só eles entendem!
Mas, como disse, em análises do desenvolvimento político de uma sociedade, uma coisa é clara: se há compromisso, na prática, para com os valores e princípios que sabemos recitar, ou se não há! O ‘se não há’, é no sentido de, que não praticamos, que vamos violando, que vamos simulando respeito, que vamos enganando, que vamos aproveitando as oportunidades para distorcer o sentido e a essência desses princípios e desses valores.
Em todas as sociedades, é sempre muito mais fácil ‘conhecer-se’ um mau político, um político ambicioso, um político desonesto, um político arrogante, um político corrupto, um político insensível, em suma, os políticos que pensam que os governados ...são todos uma cambada de cegos, de iletrados, de pobretanas de espírito... como eles, esses políticos e governantes, às vezes são! Ainda bem e graças a Deus, que isto não acontece aqui no nosso Estado... de direito democrático, onde as pessoas são honestas e vão à missa, todos os domingos!
E, normalmente, nessas sociedades de ‘direito democrático’, o dom de interpretação, daquilo que eles próprios escrevem, é pertença, é património, é patente desses sumos e das sumas - (não se trata aqui de nenhuma mixórdia frutícola, que sabemos importar, nem daquelas obesidades humanas que, em Japão, ganham muito dinheiro a empurrar uns aos outros)! Ser ‘sumo’, aqui, é pertencer ao nível mais alto que deve ser reconhecido aos políticos de relevo, quanto mais não sejam, históricos, com experiências do além do mar... que nos cerca! Nisto, eu curvo-me, perante a suma sapiência dos doutores do CCF e seus afins!
No processo de desenvolvimento do ‘histórico partido’, salta-nos aos nossos assombrados olhos uma particularidade muito importante: no Congresso de Maio de 2006, foi expressa pelos Organizadores do Congresso, a vontade de modificar o mecanismo das eleições, de voto directo e secreto para o de braço no ar. E que, para essa possibilidade se tornar real, bastava que 10% dos delegados ao Congresso aceitassem. Inquestionável, tanto no que respeita à vontade da alteração quanto aos votos pela alteração!
Antes de aparecer a Lei dos Partidos, o I Congresso do Partido optou pelo voto secreto e directo, dando um magnífico exemplo político na questão de direitos dos cidadãos e democracia. A Lei dos Partidos é feita, por eles, aprovada pela maioria deles, e todos nós aplaudimos a defesa dos princípios democráticos. E a Lei foi publicada... mas para regular os outros partidos.
O que nos espicaçou a curiosidade, de meros observadores, é do porquê dessa mudança! Porquê, de repente, houve a necessidade de alterar os Estatutos do Partido? Existem outros factores de relevância que, se tivessem sido tomados em conta, não advogariam pela alteração dos Estatutos. 1-A Fretilin provou, nas eleições para chefes comunitários, que têm não só bases sólidas em todo o território, mas que os quadros do Partido trabalharam intensa e intensivamente nessa consolidação. 2 -O Partido tinha já o Governo, tinha a maioria dos funcionários, tinha os administradores de Distrito e dos sub-distritos, tinha a maioria esmagadora dos chefes de suco, conselhos de suco e chefes de aldeia.
Qual foi a necessidade de alterar o mecanismo de voto?
A) Será que os dirigentes máximos do Partido não acreditavam na estrondosa vitória, nas recentes eleições para chefes comunitários?
B) Será que os dirigentes máximos do Partido não apreciaram o incansável trabalho, a profunda dedicação e a inexcedível entrega dos quadros médios e inferiores do Partido, que permitiram essa retumbante vitória? E esses quadros médios foram os... delegados ao Congresso!!!
C) Ou será que o grupo da mudança era uma séria ameaça?
D) Ou será que os delegados ao Congresso não eram pessoas para se confiar?
E) Uma última pergunta seria: Será que os líderes máximos do Partido histórico estavam já a ver, dentro da Fretilin, ‘algum plano bem traçado e que vinha sendo implementado’, ‘com acções próprias de uma conspiração muito bem urdida e bem executada’... ‘decepar a Liderança’?
E, para isso, houve a absoluta necessidade de se fazer uma ‘pressão política’ sobre os ‘servidores do Estado’, que constituíam a maioria dos Delegados? Politicamente, chama-se a isso: insegurança! Politicamente também, se pode chamar a isso: medo de perder, em competições com meios honestos.
Mas, o mais intrigante para a nossa diminuta capacidade de voar para as mesmas alturas de análise... dos sumos e das sumas, é o Estatuto ‘plasmar’ que ‘de futuro, as eleições para Presidente e Secretário-Geral’ virem a ser por voto directo e secreto dos militantes. Como, neste País, ninguém sabe do seu próprio futuro, podemos aventar que no III Congresso do Partido histórico, em 2011, haverá uma outra alteração histórica aos Estatutos do Partido histórico. Porque, a conclusão a que podemos chegar é a de que os Estatutos podem ser modificados, segundo as necessidades de momento.
Assim, na pobre compreensão deste humilde servidor do Estado (servidor, porque recebe dinheiro do Estado), quando a Lei diz que ‘os titulares de todos Órgãos da Direcção serão eleitos, por voto directo e secreto, pelos filiados ou pela assembleia que os represente’:
a) Voto directo e secreto pelos filiados, é o que os Estatutos da Fretilin dizem: ‘De futuro, as eleições... serão por voto secreto e directo dos militantes’ e,
b) como regra democrática básica, o voto directo e secreto ‘pela assembleia que represente’, seria no II Congresso de Maio de 2006. Costuma-se dizer que ‘não há regras, sem excepções’, mas esta excepção de ‘braço no ar’ não estava nem implícita na Lei dos Partido políticos, porque dizia respeito às regras democráticas fundamentais. Os Estatutos aprovados, no Congresso de Maio de 2006, tornaram peremptória, explícita, esta ‘excepção’... às regras democráticas básicas... de voto directo e secreto.
Por isso, eu argumentei a ‘favor da ilegitimidade da sua liderança’! Todos sabemos que o Tribunal de Recursos argumentou a favor da legitimidade da Liderança da Fretilin, decisão a que me curvo com respeito pela independência,idoneidade e imparcialidade deste Órgão de Soberania, nesta República Democrática. Eu, Kay Rala Xanana Gusmão, sou um cidadão livre que expresso as minhas opiniões, desde que o meu pobre raciocínio seja molestado por atrivos de desonestidade dos actos políticos de órgãos de soberania.
2. Fui eu quem desferiu esse golpe! Ainda bem que os ilustres doutores do CCF classificaram de ‘contundente’, porque realmente eu até duvidava se a mensagem levava algum peso político. Agora, fico satisfeito, porque foi... contundente!
Os senhores doutores do CCF esquecem-se de que nós, os outros, vivemos em Timor, desde 1974! E os senhores doutores, uns já estavam fora a estudar ainda, outros foram uns dias antes do 7 de Dezembro de 1975! E só voltaram em fins de 1999! Eu conheço alguns que, em 2001, foram chamados a fazer parte do Governo de transição e a resposta foi de ‘só regressaria/m, se fosse/m ministro/s!’
Não sabem, coitados, que o povo percebe as manobras políticas dos políticos! Para o Povo é também... uma experiência histórica de 24 anos! Mas o mais desolador é o facto de muitos veteranos e históricos, que andaram a resistir (se andaram!) durante 24 anos, em Timor-Leste, tivessem pura e simplesmente esquecido os sofrimentos e os sacrifícios de todo o Povo.
Ficaram encantados com o poder! O ‘Partido no poder’ garantiu-lhes, a cada um, a migalha do poder. Podem mandar, podem ter condutores, podem ser respeitados, podem ser importantes, podem ter bisnis! E é incrível: esses, que sempre estiveram cá dentro, não têm ideia de que o Povo acompanha os seus passos, o povo analisa a sua trajectória política (que faz saltos impressionantes), o povo percebe os seus sonhos e segue as suas ambições, tanto individuais como colectivas em termos de Partido.
O Poder cega! – é um ditado antigo, e porque é antigo, tem a garantia histórica da irrefutabilidade! O ‘Partido no poder’ cegou as pessoas, pelo menos num sentido! Essas pessoas só sabem olhar para outros, porque ficaram impedidas, pela disciplina partidária, de olharem para si mesmas!
O ‘Partido no poder’ concebeu um conceito revolucionário: O Governo é o Partido, o Estado é o Partido! O Partido no poder tem que ser forte, porque só assim, o Governo é forte, e só assim o Estado é forte! E o Partido no poder só pode ser a Fretilin, porque é histórica!
Senhores doutores do CCF! Não brinquemos a politiquices de bem-me-queres e mal-me-queres, pensando que o resto dos timorenses não sabe olhar para mais de um palmo do nariz. O Povo desdenha os belos ‘narizes afunilados’ de sobranceria intelectual e o povo fica impressionado com outros narizes, e são em maior número, que só cheiram posições e... não fazem muita coisa, em resposta à confiança política, que se lhes emprestou. Não trabalham, porque trabalham para o partido!.... Estão no poder ou, no mínimo, sentem que pertencem ao ‘partido no poder’ e eles todos vestem a história, na sua pele!
Estimados leitores
Eu sei que os ilustres doutores do CFF tomaram a minha ‘Mensagem à Fretilin’, como o ‘golpe contundente’ que desferi ‘ao partido no poder’. A responsabilidade é TODA MINHA!
A minha Mensagem foi para dizer aos timorenses que todos devemos respeitar, isto é, não distorcer o longo e difícil processo político histórico que teve lugar em Timor, depois do 25 de Abril de 1974. No diálogo de Alto Nível, realizado em 22 de Novembro, no Hotel Timor, um participante teve a ligeireza do pensamento de recordar o processo político da história recente de Timor. E falou de conflitos, citando o de 1975, o de 1977 e o de 1984.
Ele não foi profundo nessa análise, porque um analista não indica apenas os acontecimentos como se de uma contagem numérica de eventos se tratasse. Um analista indica os motivos, as razões, as causas e foi isso que faltou ao analista, que teve a amabilidade de me proporcionar mais este pormenor, para hoje juntar aqui.
1 - O conflito de Agosto de 1975, foi político e que descambou em militar, porque só, com armas, se podia impôr os objectivos políticos e ideológicos. Foi provocado pela UDT, motivada pela necessidade de contêr o esquerdismo revolucionário da Fretilin. A ASDT foi criada em Maio de 1974, os jovens universitários em Portugal, envolvidos com o MRPP e ideologicamente marxistas, por influência da situação política de então em Portugal e sobretudo das lutas de libertação na África, voltaram a Timor e ‘pressionaram’ pela mudança, em 11 de Setembro ainda de 1974, da ASDT para Fretilin, onde a palavra ‘revolução’ era a moto da luta!
A UDT, anunciou na meia-noite do dia 10 de Agosto de 1975, o ‘GOLPE REVOLUCIONÁRIO ANTI-COMUNISTA’! A bandeira era o ‘anti-comunismo’.
2 - O conflito de Julho de 1977 não apareceu por si mesmo, como que de repente. Eu fui membro do Comité Central da Fretilin e participei em todas as reuniões do CCF, desde Março de 1976. Para se compreender o Julho de 1977, não se deve perder de vista as outras duas reuniões, onde se via o distanciamento entre os militares e os civis/políticos e do Presidente da Fretilin dos restantes membros da DOPI (Departamento de Orientação Política e Ideológica), que eram os membros do Comité Central mais seniores, os que percebiam da política e, sobretudo, tinham decoradas, na boca, as máximas doutrinárias para impressionar os outros.
O Senhor Xavier do Amaral foi enxovalhado, ideologicamente, na reunião de Soibada, de Maio de 1976, onde se organizou a Resistência Político-Militar, em termos estruturais e de comando, tanto no campo político como sobretudo no militar. Em Maio de 1977, para a Reunião de Laline, ele, Senhor Xavier do Amaral não quis pura e simplesmente aparecer, para evitar estar presente na Declaração pelo Comité Central da Fretilin, de que a Ideologia da Fretilin seria a partir dali, o Marxismo-Leninismo, mas de tendência Maoísta.
Depois da Reunião de Laline, teve que se ir buscar as razões que o povo podiaentender para o prender: TRAIDOR DA PÁTRIA! Não se disse ao Povo que o Xavier era anti-marxista, disse-se ao Povo que o Xavier era reaccionário e, portanto, inimigo do Povo!
(Na Ponta-Leste, Aquiles não era pró-integração, apenas não queria que o forçassem a ser revolucionário. O Pai do Nunura, foi espancado de tal ordem em Baguia, que perdeu a vista, ficou cego... supostamente elemento da rede do Aquiles!)
Aqui, quero lembrar a todos os que, mesmo estando mais de 24 anos no mato e eu só estive 17 anos, não tinham a mesma capacidade que eu de acompanhar o processo, porque eles não eram membros do CCF e eu era membro do Comité Central da Fretilin, desde Setembro de 1975. Na Reunião do CCF em Laline, em Maio de 1977, o Nicolau Lobato passou por uma grave crise e não aparecia nas reuniões. Felizmente, soube ultrapassar a crise e acomodou-se à Revolução! Se não fosse isso, eu posso garantir que o Nicolau teria sido também, como foi o Xavier do Amaral, apelidado de traidor. Os marxistas não aceitavam que ele, Nicolau, ainda rezasse antes de comer; os marxistas ficaram escandalizados, porque em Soibada, durante aquela semana de reuniões, às vezes o Nicolau ia à missa e comungar! E colocaram a ele, para escolher entre: ser crente ou ser marxista! Ultrapassada a crise, no dia do anúncio oficial de que a ideologia da Fretilin era o Marxismo-Leninismo, todos aplaudiram quando, solenemente, Nicolau declarou que ‘as suas plantações de café, a partir daquele dia, passariam para o Estado!’
E, portanto, em 1977, o conflito foi também ideológico mas já dentro do próprio Partido e a bandeira era ‘Morte aos reaccionários e traidores do Povo’! Por isso é que todos assistimos ao enorme ‘desmantelamento’ da rede do Xavier, imaginária, deve-se dizer! TÃO IMAGINÁRIA, COMO A CONSPIRAÇÃO QUE O CCF,do Congresso de Maio de 2006, ESTÁ A MANIPULAR!
3 -Em 1984, as causas remotas eram a inactividade das forças, a falta de planeamento de actuações, na Região Central, onde estava o Estado-Maior General das Forças e o Comando da Brigada Vermelha! O Ten-Cor. Falur e o Major Ular podem desmentir-me se, depois da saída deles de Loi Huno e de Krarás, em Agosto de 1983, se praticou uma só acção militar contra o TNI, por iniciativa nossa! Nenhuma! E foram morrendo os guerrilheiros e perdendo armas.
Quando eu passei para a Região Central, para discutir sobre a reestruturação das Forças, quem me foi receber em ....... foi o Cmdt. Mau Kalo (agora Major Mau Kalo), informando-me de que os membros superiores do Comando tinham dispersado e movimentado para a Fronteira. Sucedeu que, também imediatamente a seguir, o TNI, com vários batalhões, desencadeou uma grande operação em toda a área, que paralisou todos os nossos movimentos, por semanas.
Houve a reunião de Março, no litoral sul, onde se procedeu à Restruturação do Comando das Forças, em toda a Região Central, para se dar maior iniciativa de acção aos comandantes de companhias, a fim de se quebrar aquele clima, de descrença e desmotivação, no seio do comando e das forças. Dessa reestruturação, é que também assegurei a Chefia do Estado-Maior, ficando o (então colaborador do EMF) Vice-Chefe do Estado Maior. Acabou-se com a ‘Brigada Vermelha’, que só dava segurança ao seu Cmdt. Mauk Moruk, ao invés de actuar sobre o inimigo.
A reacção do Kilik e do Mauk Moruk, seguido depois de Olo Gari, em resposta à reestruturação, onde foram ‘despromovidos’, optou por uma confrontação ideológica entre ‘revolução e não revolução’, entre ‘marxismo e não marxismo’, porque pensaram, era a única maneira de ‘obter apoio dos guerrilheiros’, na oposição à reestruturação.
Doutra forma, em termos de operacionalidade das forças, a sua oposição não tinha bases nenhumas.
Este ‘conflito’, que foi motivado por reestruturações que tinham que ser tomadas, que não podiam ser adiadas, incluindo passar o ‘Comissário Lere’ para ‘Comandante Lere’, já que o problema era ‘cuidar das nossas forças’ vs ‘cuidar dos nossos quadros’, tomou o carácter ideológico, apenas, por conveniência dos intervenientes.
Eu aqui, quero expressar o meu total apreço aos quadros civis e militares, que de uma ou doutra forma, estiveram envolvidos em defesa da unidade das forças, desde o António Campos a Sibi Sama, desde Konis a Ruak, mas sobretudo ao Cmdt da Companhia Fera Lafaek, em cujo agrupamento aconteceu o drama, que felizmente não produziu uma só gota de sangue.
Conflito que não era, mas que se encapou de carácter ideológico, porque, em todo o período de cessar fogo, nas nossas reuniões, começámos a dar ideia de que o pluripartidarismo deveria ser o nosso sistema político, depois da guerra, de preferência ao monolitismo ideológico que nos fazia reféns e nos tornava inimigos uns dos outros.
ix) assim, deixar pairar um sentimento de injustiça e de ilegitimidade governativa
Peço aos estimados leitores para regressarem para a edição anterior, para verem os pontos:
vii) camuflar, tanto quanto possível, de modo a que o derrube do Primeiro Ministro não fosse entendido como um golpe mas sim um acto em conformidade com os poderes constitucionais do Presidente da República
viii) para isso, a) pressionar no sentido do Primeiro Ministro apresentar o seu pedido de demissão e b) simular respeito pela Constituição na formação do novo Governo, chamando-o mesmo de II Governo Constitucional
Portanto, o ponto ix) é fase, apenas, da estruturação analítica do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo constitucional, eleito democraticamente’. Depois daqueles actos todos cometidos , nos pontos anteriores vii) e viii), deixei pairar, na sociedade e no ambiente violento e prenhe de manifestações, um ‘sentimento de injustiça’.
Isto tudo significa que o que o Presidente da República devia ter feito era entrar, imediatamente, em compromissos políticos com o ‘partido no poder’. Teríamos resolvido tudo, imediatamente! Teria satisfeito os governantes, ao declarar que nada aconteceu de especial, que estava tudo perfeito, que o respeito pela ordem constitucional democrática estava garantido, com as F-FDTL a sair dos quartéis em defesa da Constituição e que a PNTL estava a cumprir as ordens do Ministro do Interior, para a defesa das instituições democráticas.
E o Presidente da República acrescentaria que o êxodo da população para o interior era apenas em ‘piquenique’, que as pessoas entenderam fazer, para não se envolverem em políticas. E que um esforço global do Estado... de direito democrático... era para assegurar a lei e ordem e reestabelecer a estabilidade no país.
Caríssimos leitores
Se quiserem ter a paciência de repassar os olhos para aquele ‘estado de crise’, todos podemos ver que, das instituições do Estado, só o (celebérrimo) Gabinete da Crise funcionava, já que as reuniões eram em casa do Primeiro Ministro, para além de ¬e a verdade seja dita - o Ministério de Trabalho e Solidariedade! Também só os Tribunais continuaram a trabalhar, sem interrupção, conforme o comunicado do Tribunal de Recurso, aquando da petição do grupo de mudança da Fretilin. E, felizmente para os doutores do CCF poderem incluir nas suas análises, o golpista do Presidente da República, que trabalhava para os interesses do ‘plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ para ‘derrubar o Governo constitucional, eleito democraticamente’!
Nesse compromisso político, o Presidente da República diria, ao mundo, que as instituições do Estado estavam a funcionar normalmente e o ‘partido no poder’ estava com o controle sobre tudo e sobre todos! (Eu não teria tido a carga de trabalho de ter que chamar os partidos, um por um, para apelar para retomarem as actividades, já em Junho!!!)
E tudo teria ficado sem nenhum ‘sentimento de injustiça’ a pairar nas mentes das pessoas! As lições que estou a aprender dos ilustres doutores do CCF, não me valerão muito, na medida em que só tenho uns parcos 7 meses de mandato! Mas o próximo Presidente da República terá que ser capaz de responder às exigências do ‘partido no poder’.
x) No cômputo geral, provocar a crise de Liderança a todos os níveis, decepando-a da nação, induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania.
Inteligente descrição! Isto, caríssimos leitores, não é praticar políticas de meia-tigela! Esta gesta política histórica é de primeira qualidade!
1. ‘Provocar a crise de Liderança’!!! Liderança de quê? Do Partido? Não, porque não houve mexidas, até houve reforço de Liderança, com a eleição gratuita de um Vice-Presidente do Partido! Do Estado, claro que, por medo de perder a cadeira presidencial, o Presidente da República continua a receber o seu salário! Dos Tribunais, o Presidente do Tribunal de Recurso esteve sempre activo e ninguém o incomodou! O Parlamento Nacional está tal como está, porque o Presidente do Partido recusou ser ‘Presidente da República, interino’, por vacatura do lugar, que lhe foi oferecido por mim!
Liderança do Governo... oh!, sim!, aqui está a chave do problema! Mas o Secretário-Geral do Partido devia estar mais satisfeito, porque apesar de estar em descanso temporário até Maio 2007, recebe todos os dias os seus Ministros, que vão em consulta, pelo que continua a deter os cordelinhos do processo!
De todos os níveis....! Em 31 de Agosto, tive o prazer de ir a Maubara, convidado pelo Governo, para também falar aos administradores de distritos e subdistritos e, contei, estavam todos lá, não faltou nenhum! A reunião foi frutífera, porque no dia 1 de Setembro, a Senhora Dra. Ana Pessoa, Ministra de Estado e de Administração Estatal, teve a oportunidade de anunciar: ‘Camaradas! Eu não podia dar este encontro de trabalho por terminado, se não cumpro o que prometi ao camarada Secretário Geral do Partido, que iria passar um ‘CD’ para vós verdes o documentário, que prova a inocência do nosso camarada Secretário-Geral do Partido’. E os camaradas administradores aceitaram rigorosamente a disciplina do partido e apreciaram o CD, que tinha como ‘entré’ as delícias da festa do aniversário do Rogério Lobato. Os camaradas administradores prometeram passar também nos distritos e sub-distritos, para que a população venha a saber que o camarada Secretário-Geral do Partido foi derrubado, num golpe, como Primeiro Ministro e tudo foi produto de ‘um plano bem traçado e que vinha sendo implementado’ e o ‘actor interno’ principal de ‘uma conspiração bem urdida’ é o Presidente da República!
2. ‘Decepando-a da nação’! Eu cada vez sinto que tenho razão nas minhas lucubrações políticas! Com o ‘partido (ainda) no poder’, com o Parlamento ainda com a maioria constitucional automática, com o Governo, ainda cheio dessas velhas caras todas... decepou-se a Liderança da Nação!!! Como pôde isso acontecer?
A resposta é só esta: segundo os Estatutos, aprovados no Congresso de Maio de 2006, o Secretário-Geral é indigitado para Primeiro Ministro, e porque o actual Primeiro Ministro nem é membro do Partido, o Governo é inconstitucional, porque... o actual Governo não tem cabeça, isto é, não tem Chefe! O Primeiro-Ministro inconstitucional, Dr. Ramos-Horta, sabe desse problema político, porque disse no Diálogo do Alto Nível, em 22, no Hotel Timor: De todos os que estão aqui, eu sou o que menos legitimidade tenho, não fui eleito, não pertenço ao Partido eleito, fiz parte do I Governo constitucional, por generosidade apenas do ex-Primeiro Ministro!
Quem decepou a Nação da sua Liderança? Eu fui ao dicionário do ‘português escolar’, e decepar é cortar a cabeça! Eu fiz um ‘golpe constitucional’, nas palavras do Dr. Abrão Vasconcelos, eu ‘derrubei o Governo’, eu ‘simulei respeito pela Constituição’ e, portanto, eu ‘Decepei a Nação da sua Liderança’! Cortei a cabeça da liderança da Nação; mas, aquí, é preciso notar-se: a liderança é uma pessoa singular! O Secretário-Geral da Fretilin!
3. ‘Induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania’!!!
Eu sinceramente, não consigo acompanhar os ziguezagues da análise dos ilustres membros do CCF! Os estimados leitores podem todos concordar comigo, porque lembram-se bem de que o Estado esteve sempre no controle das operações. O plano operacional do Gabinete da Crise estava sendo posto em prática, no terreno, com um Chefe de Operações comandando todo e qualquer único participante dessas operações... desde o ‘dia primeiro’ ao ‘dia último’! O Gabinete da Crise estava a funcionar maravilhosamente durante toda a Crise, em representação do Estado!
Dia 24 de Maio, o Estado estava lá em Caicoli, no Palácio das Cinzas: O Presidente do Parlamento, o Primeiro Ministro, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, o Ministro da Defesa e o Ministro do Interior! Não havia nenhuma quebra... da autoridade do Estado! Só no dia 25 de Maio, é que, RECONHEÇO, ‘induzi a quebra de autoridade’ do Governo, porque esse Governo não conseguiu, afinal, evitar que as duas instituições andassem aos tiros. Devia ter sido isso mesmo, nesse fatídico dia 25 de Maio. (Fatídico, não por aquilo que aconteceu, mas porque eu ‘induzi a quebra da autoridade do Estado’.)
Reunimos, em 24 como disse atrás, para ver se havia necessidade ou não de chamar pela intervenção das forças internacionais! Havia autoridade.. do Estado! Depois, concordámos que devíamos pedir! Havia autoridade... do Estado!
Quem hipotecou a soberania? Não foi o Estado todo? E porquê só depois se chegou a esta conclusão? Porquê não me ouviram? Eu não tinha dito que eu não concordava com pedido de intervenção de forças estrangeiras? E não tinha dito e repetido que, como Estado, devíamos saber resolver os nossos próprios problemas?
QUEM HIPOTECOU A SOBERANIA?
Só os ilustres doutores do CCF é que devem responder a esta pergunta! E eu posso ajudar: Foi o vosso camarada Presidente do Partido, Senhor Lu Olo, foi o vosso camarada Secretário-Geral do Partido, Dr. Mari Alkatiri, foi o vosso camarada Vice-Presidente do Partido, Sr. Rogério e o vossocamarada Dr. Roque Rodrigues. Eles HIPOTECARAM A SOBERANIA DO PAÍS!
Se não foram eles, eu sou o Chefão do Estado e aceito as responsabilidades: Eu hipotequei a soberania nacional, ao chamar sòzinho, os meus ‘cunhados australianos’, como um participante teve a gentileza de se referir, numa das Sessões do Diálogo do Nível Médio, no Hotel Timor.
Estimados leitores
E o documento prossegue assim: “Por isso, a crise por nós vivida resultou de acções conjugadas e próprias de uma conspiração muito bem urdida e bem executada. O objectivo central do plano de conspiração reduz-se na investida contra a liderança nacional histórica de modo a decepar a Nação da mesma e assim, induzir a quebra da autoridade do Estado e a hipoteca da soberania nacional.
A arma fundamental utilizada foi, e é, a desinformação e a contra-informação, por um lado, usando rumores, boatos e alegações de toda a natureza e, por outro, actos de violência contra pessoas e bens de modo a aprofundar o conflito intergrupais ou interregionais, falsamente entendido como inter-étnicos.”
1 - Neste palavreado barato dos ilustres doutores do CCF, se não vivêssemos em Timor, teríamos pensado que somos uma sociedade sofisticadíssima nos nossos actos, nos nossos comportamentos, nas nossas intenções. O Governo, esse tal I Coverno constitucional, sim tinha um método sofisticado de informações, utilizando o Telcom, auscultando as conversas de ‘adversários’ , implementando um mecanismo de mensagens, não sei se pagas, como qualquer outro contribuinte ou ‘grátis’ (pelo menos, muitos receberam ‘mobiles’e cartões) para se comunicarem directamente com o ‘partido no poder’.
É sabido de todos, que o ‘partido no poder’ tem utilizado as facilidades ‘do poder’ para desencadear tudo quanto, hoje, tenta acusar outras pessoas de fazer. Mas os ilustres doutores do CCF julgaram que impressionaram a sociedade com a linguagem estilizada que possuem, quando escrevem em sua defesa!!! Só posso garantir é uma coisa: podem ter impressionado os vossos doutores de segundo grau, que estão no Parlamento Nacional e no Governo, os doutores de terceiro grau que vos ‘adoram’, porque lhes destes emprego sem pedir nada em troca, sem pedir que eles trabalhem para o Povo e eles estão satisfeitos com a única missão de vos informar sobre as actividades de outros partidos políticos nas suas áreas e se os comandantes e agentes da polícia são fiéis ao vosso Partido ou não.
Sois, ilustres doutores do CCF, eleitos transparentemente em Maio de 2006, em social-política timorense, demasiado ingénuos – vós não reparais que os que dizem ‘sim’ nas vossas reuniões, fazem-no ou porque não percebem as vossas demasiado altas dissertações insossas, as quais só têm como único objectivo, reforçar a carcaça de cágado, de que vos revestis, ou porque querem assegurar os privilégios que vós concedestes a eles, fazendo-os sentir-se dentro do ‘partido no poder’. O mal destes últimos doutores, vossos camaradas, é esquecerem-se de que o povo os tem sob os seus olhos e a ‘justiça popular’ não será o enforcamento nem o ‘rama ambon’. Eles sabem disso e eu quero lembrar a eles que eles nunca se esqueçam da frase que todos, quanto estivemos aqui, em Timor, sabemos: os ‘pegawai ABS’ (‘asal bapak senang = basta que o chefe fique satisfeito’), porque eles pertencem a esta categoria de funcionários ‘abs’... do partido!
2 – ‘Contra a liderança nacional histórica’! Isto só revela que, contra tudo e contra todos, o Partido deve defender, a bem ou a mal, esse ‘estatuto’ de liderança nacional histórica! A melhor defesa deste estatuto é assumirem com clareza e transparência, os princípios e valores, por vós ‘plasmados’, na Constituição. Só necessitais desta condição, para continuares a ser ‘liderança nacional histórica’. Nunca pensem que por serdes ‘liderança nacional histórica’, nós os outros devemos aguentar com os vossos excessos, as vossas intolerâncias, as vossas manobras, os vossos erros. Vós conspirastes contra vós mesmos! Vós estais a exigir de outros uma avenida asfaltada e larga, sem obstáculos para as vossos desvairos políticos. O povo timorense não é povo que deixastes em 1975! E, vós, os doutores de segundo grau, que hoje sentis que estais ‘no poder’, porque também ‘vestis’ a camisola da história, queremos dizer apenas que as camisolas podem ficar sujas, podem ficar velhas, podem ficar rotas, quando não tomais cuidado em lavar, em cerzir os pequenos buracos. A vossa história está a ser escrita por vós mesmas, não por outros. Só conhecereis a vossa história, se fordes humildes o suficiente para reconhecer que a conspiração é vossa... sobre vós mesmos!
A etapa fundamental na execução do plano passa pela necessidade de, em primeiro lugar, desacreditar as instituições de defesa e segurança do país e dividir a liderança nacional, colocando uns contra outros.
Para dividir a Liderança usaram-se todas as armas. Deu-se a entender que a luta pelo poder era a razão fundamental do conflito. Por fim, goradas todas as tentativa anteriores, recorreu-se a alegações sobre práticas de crimes para lançar a ‘semente de desconfiança’ num terreno já de si fértil de profunda crise institucional.
Devemos diferenciar ‘a luta pelo poder’, quando não se está ainda no poder e ‘a luta pelo poder’, quando já se está no ‘poder’ e se tenta ‘consolidar’ esse ‘poder’, por quaisquer meios. Os que não estamos no ‘poder’, podemos perceber que houve ‘utilização de meios’ menos lícitos, para ‘consolidar o poder’. Mas, eu sei que estou apenas a ‘lançar’ mais uma ‘semente de desconfiança’... no ‘terreno... já fértil de profunda crise institucional’. Bom, admitem que houve já ‘profunda crise institucional’... em que instituição, precisamente, é isto que não nos foi dado saber!
Tudo isto ficou como uma simples retórica, uma simples demagogia, que servem para serem encadernados como ‘lições da história e fases de evolução histórica do Partido histórico’, para os militantes do Partido.
Não existindo crimes, eles foram criados pelos serviços de contra-informação, utilizando a média nacional e estrangeira. Como exemplo, temos o dito ‘massacre’ de Tasi Tolu, ‘os esquadrões de morte’, ‘a importação ilegal de armas e distribuição de armas pela Fretilin’, etc., factos esses que encheram páginas de jornais e tempos de antena de televisões e rádios, que invadiram as nossas mentes, mas que hoje se provaram ser absolutamente falsos.
Aqui, deixo que tanto a Provedoria de Justiça e dos Direitos Humanos e a Justiça, que se tem ùltimamente, afirmado imparcial, independente e soberana, nos seus actos, podem fazer as melhores conclusões.
Só posso fazer uns comentários sobre:
a) importação ilegal de armas – este é um assunto que compete ao Governo responder e não ao Presidente da República. Na reunião do Conselho de Estado, de 21 de Junho de 2006, interpelei o Primeiro-Ministro sobre o assunto. O Primeiro-Ministro respondeu, mais ou menos, nestes termos: ‘Quando eu soube dessa notícia, mandei imediatamente o Ministro Roque Rodrigues fazer uma investigação, mas até hoje, ele ainda não me entregou nenhum relatório sobre isso!’. Que mais é que eu posso acrescentar a isso?
b) distribuição ilegal de armas pela Fretilin – fui eu que fiz esta acusação! O Grupo de Rai Lós e o Grupo do Gleno, são os casos (mais) conhecidos. Deve-se dizer que foi
o I Governo constitucional que distribuiu ou o Partido? Os ilustres doutores do CCF definam claramente e eu pedirei desculpas, tanto ao I Governo constitucional como ao Partido histórico. A história do Partido (histórico) está prenhe destas violentas histórias, tenhamos isso em muito boa conta!
Mas, deixemos que a Provedoria de Justiça e dos Direitos Humanos e a Justiça, que ultimamente se tem reafirmado, alto e bom som, que é independente, imparcial e soberana nos seus actos poderá vir a provar. Eu estou pronto a ir à prisão, por difamação ao ´histórico Partido’.
Mais uma vez, a média, em particular, certa média australiana, teve aqui um papel determinante na acção concertada própria de uma conspiração.
Mas os objectivos dessas acções não foram totalmente atingidos. Queriam:
i. derrube do Governo
ii. a dissolução do Parlamento Nacional
iii. o controle do Judiciário, colocando todo o sistema ao serviço dos conspiradores
iv. o estabelecimento de um ‘Governo de Unidade Nacional’ e adiamento das eleições
v. a desagregação das F-FDTL
vi. a domesticação da Fretilin, colocando na sua liderança elementos mais manipuláveis
OBJECTIVOS DA CRISE, em suma! É preciso ter-se estômago para digerir isto. Caríssimos leitores, tenho andado com diarreia, nos últimos tempos. Fui ao médico e ele disse-me que não havia vírus de nenhuma espécie, era mais resultado de pressões psicológicas! Pedi um medicamento e o bom homem disse-me: ‘Resigna e o seu estômago vai trabalhar normal’! Eu vou pensar nisso muito seriamente.
Eu vou perguntar aos cientistas se o cérebro também tem estômago! Porque há pessoas que pensam com a barriga! Agora também percebo porque é que muitos timorenses, sobretudo os que governam, não resistem à tendência à obesidade... pensam com a barriga! Quando a barriga está cheia, exultam de satisfação porque ‘está tudo sob controle’, mas se a barriga ficou um bocado vazia, ‘as pessoas conspiram’.
A utilização da expressão ‘elementos mais manipuláveis’ faz rir! Nós, de fora do Partido, sentimos isso mesmo da categoria de doutores instrumentalizados de segundo e terceiro grau do ‘partido no poder’ – como constatação que temos do... resultado da fraqueza dos timorenses quando se encontram no ‘poder’. Fazem tudo para ‘poder’ manter a posição de ‘confiança política’, que mereceram por... capacidade profissional, que não têm.
Acredita-se na possibilidade da entrada em execução do ‘Plano B’ que se crê ser de acção mais selectiva de terrorismo, por um lado, e de utilização mais cuidadosa e extensiva de medidas políticas, administrativas e económicas e de justiça para reduzir ainda mais a autoridade do estado, decepar a nação da sua liderança histórica, incitar as populações para obter a sua reacção generalizada e criar um clima de instabilidade social e política de modo a declarar Timor-Leste um estado falhado e assim intervir com mais forças ainda em nome das necessidades humanitárias e da segurança regional e internacional.”
A análise terminou com a chave de ouro! Isto faz lembrar também que, no Diálogo de Alto Nível, de 22 de Novembro, no Hotel Timor, um participante colocou surpreendentemente esta questão: OBJECTIVOS DA CRISE! Sòmente, não houve causas; houve apenas Objectivos! Estamos todos a aprender e devo confessar, eu aprendi imenso: a conhecer as pessoas, a conhecer os cometimentos, a conhecer os compromissos, a conhecer o carácter, a conhecer as astúcias, a conhecer a linguagem, a conhecer os sentimentos, a conhecer as inteligências e o seu oposto, as contra-inteligências. Enfim, a vida é uma constante aprendizagem!
Em todo este pequeno trabalho, de humilde tentativa de rebate à importantíssima Análise dos ilustres doutores do CCF, fiquei sob um estado psicológico tremendo e agora, devo confessar, vivo intensamente a Teoria da Conspiração e ando sob uma pressão tão ‘contundente’ que, só me sinto livre, se afirmo assim: CHEGUEI Á CONCLUSÃO QUE A TEORIA DA CONSPIRAÇÃO EXISTE E QUE EU SOU ACTOR PRINCIPAL!
Por causa disso, por esta experiência pessoal, eu posso dizer que compreendo o porquê de os ilustres doutores do CCF estarem tão certos de que havia uma ‘conspiração bem urdida’. Sabem porquê, caríssimos leitores? Eles assumem que a Teoria existe! Eles necessitam de viver artificialmente essa conspiração, porque só assim eles se ilibam de qualquer pequeníssimo reparo! Faz lembrar da história de uma pessoa do campo que veio à cidade e que, andando pelas ruas, a apreciar o movimento das pessoas, sentiu que a barriga lhe estava a dar sinal de expulsão daquilo que comera na noite anterior. Não sabia onde ir, mas era urgente tomar uma decisão, para não borrar as calças. Sentou-se na valeta próxima e fechou os olhos... sentiu-se sòzinho, livre dos olhos da multidão de transeuntes! Os nossos ilustres doutores pensam que nós, os ocasionais transeuntes da história deles, não vemos, só porque eles decidiram que não somos providos da capacidade de ver! E, em política, casos assim acontecem amiúde!
Díli, 25 de Novembro de 2006.
O Presidente da República,
Kay Rala Xanana Gusmão
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